- E aí?

- Falei com ele.

- E o que ele disse?

- Ele disse que trabalha como produtor de um musical da Broadway e que vai me ajudar a alavancar a minha carreira como diva dos palcos de teatro de Nova Iorque!

- Uau, Rachel, isso me parece bem legal.

- Não é? Fiquei tão feliz que mal consegui dormir essa noite. Quer dizer, tudo bem que não temos nada acertado ainda, já que ele ainda vai falar com o marido dele, coisas de networking ou qualquer que seja o nome disso, mas estou positiva de que vai dar tudo certo!

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Kurt encarava o rosto de Rachel incrédulo, imóvel. Suas sobrancelhas estavam erguidas numa expressão de surpresa, o que Rachel entendeu como sendo algum tipo de admiração por ela ter quase conseguido realizar um sonho. Contudo, a surpresa que o homem demonstrava era por um motivo completamente diferente, coisa que a mente de Rachel não conseguiria entender tão cedo.

- Essa sua cara... – ela começou a dizer, os olhos brilhando de excitação, sorrindo. - Você está assim porque está feliz com o meu sucesso, não é...?

- Claro que sim! – Kurt mentiu, abrindo os braços no ar. – Como não estaria?!

- Espera... Há algo de errado na sua fala. – Rachel correu os olhos por todo o corpo de Kurt e concluiu: - Você não está feliz por mim! Essa sua cara de surpresa é porque...

- Ah, então você entende!

-... você está com inveja!

- Não, é claro que você não entende.

- Mas Kurt, as mesmas oportunidades que existem pra mim existem pra você também! Blaine é um amigo que a gente tem de longa data, tenho certeza de que não vai nos deixar na mão!

- Ele nunca foi um amigo meu de longa data, Rachel.

- Isso é novo pra mim.

- Porque nós fomos namorados!

E só então Rachel compreendeu.

O homem à sua frente permaneceu a encará-la, agora visivelmente furioso. Essa uma expressão com a qual ela não se preocupava muito, uma vez que sabia que ataques de fúria duravam pouco, principalmente os de Kurt. No entanto, lembrar-se do motivo pelo qual procurara Blaine e lembrar-se também de que se esquecera de tratar com o homem o assunto que a levara até ele foi um baque e tanto. Primeiro, ela se sentiu tola por ter se esquecido de tão importante promessa, e em seguida se sentiu a pior pessoa do mundo, porque muito provavelmente acabara de magoar um amigo, o que nunca foi sua intenção.

Agora preciso consertar isso, pensou e mordeu o lábio, aflita.

- Você sabe como eu sou – começou a dizer.

- Eu sabia como você era, Rachel, porque imaginei que, depois de tanto tempo, você tivesse mudado! Pelo visto, nada disso aconteceu. A sua voz e sua mente egoístas continuam as mesmas.

- Me desculpe.

Kurt soltou um riso sarcástico e virou-se para o lado, pronto para deixar a mesa da lanchonete onde eles se encontravam.

- Espera! – Rachel pediu e agarrou a mão do amigo. Ele estava frio e seus dedos não se dobraram nos dela, tão tensos que estavam. – Existe alguma maneira de eu consertar isso?

- Existe. Deve existir – Kurt disse e seu olhar era tão frio quanto estava sua mão.

- Como?

- Você é quem sabe. Não fui eu que quebrei uma promessa, foi? O erro quem cometeu foi você, agora conserte.

Kurt se levantou e deu três passos em direção à saída do lugar. Rachel o chamou mais uma vez.

- Já conseguiu pensar numa maneira de consertar o que você fez? – ele perguntou, olhando para trás, sem se dar ao trabalho de girar o corpo inteiro.

- Não – Rachel disse, sem coragem de encará-lo. – É só que... Bem, você falou com o Finn?

Kurt fitou-a por alguns instantes, os olhos apertados, a boca aberta numa careta como se pronta para dizer o primeiro insulto que veio à sua mente. Justo como era, ele respirou fundo e só voltou a falar quando percebeu que não se deixaria levar pelo sentimento de vingança, evitando que Rachel sofresse com todos os insultos que merecia ouvir.

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- Eu falei – foi o que disse. – E ele disse que sente saudade de você, mas que tem medo da sua reação, já que até agora você só o tem evitado. – Engoliu em seco, contemplou o rosto cheio de expectativa de Rachel por mais um tempo e finalizou. – Acho melhor procurá-lo, se não quiser que ele perca todo o encanto que ainda tem.

A mulher assentiu, contente mas ao mesmo tempo triste. A notícia tinha sido boa, mas não tanto a ponto de conseguir fazê-la ignorar a decepção que fizera o amigo sofrer.

- Obrigada – ela disse de volta e procurou sorrir.

- De nada – Kurt finalizou e se retirou.

Rachel de fato queria procurar por Finn, mas sabia que antes precisava cumprir a promessa que fizera a Kurt: a de trazer Blaine de volta para os seus braços.

~//~

Finn estava na sala de sua casa com o celular na mão. Ele o havia apanhado há algum tempo para fazer uma ligação para Rachel, contudo, assim que retirou o celular do bolso, ele tocou. A princípio, o homem pensou que fosse Rachel, certo de que, àquela altura, Kurt já devia ter falado com ela toda a conversa que eles tiveram, mas, para sua decepção, era apenas o seu chefe, o tenente, que queria explicações sobre o porquê de ele ter que ficar tanto tempo fora.

Finn não sabia o que responder e, mais do que isso, também não sabia mentir – não que isso o tivesse impedido de ir adiante com uma história qualquer. Disse que precisava ver a mãe, que estava com problemas de saúde e precisava de um pouco de atenção. O relato, curto, saiu com palavras gaguejadas e vacilantes, já que aquela não era uma boca muito experiente em dizer mentiras. Ele era melhor em omitir fatos do que mascará-los com outros, por isso a dificuldade.

O tenente ouviu a história sem dizer palavra, mas não pareceu convencido. De qualquer forma, não insistiu em descobrir. Fosse o que fosse, Finn era suficientemente confiável para que qualquer história fosse tragada, imaginando que as faltas dele em todos aqueles dias tivessem uma boa razão. Terminou a ligação e deixou o homem mais uma vez sozinho na sala de estar, com um celular na mão, à espera de outra ligação.

Mas agora Finn não tinha mais coragem de ligar para Rachel. Tivera quando apanhara o celular, há quinze minutos, mas agora se sentia vacilante. Devia ter ignorado a ligação e feito o que o queria, mas não fez essa escolha e preferiu ouvir o que seu chefe tinha a dizer. Agora percebia que cometera um grande erro, já que lhe faltava a iniciativa necessária para voltar a falar com Rachel, como sempre falara desde muitos anos. E esse medo, pelo que ele podia compreender, era de ser rejeitado novamente, dor pela qual ele não queria passar.

Então ele se levantou do sofá em que estivera deitado e se dirigiu à cozinha, onde planejava tomar uma cerveja. Foi quando seu celular tocou, vibrando com uma alegria diferente em seu bolso. É Rachel, ele pensou e chegou a sorrir. Enfiou a mão no bolso da calça sem pensar duas vezes e verificou o nome que era mostrado no display.

RACHEL BERRY: CHAMANDO

Respirando fundo e agora sorrindo mais do que qualquer pessoa poderia entender como normal, ele apertou o botão de atender e levou o aparelho ao ouvido:

- Alô?! Rachel?! Senti muito sua falta! – disse e logo seu sorriso perdeu espaço para uma careta entristecida.

~//~

Na manhã seguinte, Blaine girava o próprio celular na mão, sentado em sua cadeira de costume, no mesmo Lima Bean de sempre. O notebook estava aberto à sua frente, uma página da internet para pesquisa aberta e um programa para edição de texto rodando. Fizera poucas coisas naquela manhã, além de tomar algumas goladas do seu próprio café, o que trouxe a sensação de estar sendo improdutivo. Pensou em ligar para Dave, seu namorado, e perguntar como as coisas andavam por lá, a fim de voltar a se sentir parte da produção do musical, mas refreou-se com o celular na mão.

Quer dizer, conversar com Dave era sempre muito agradável, mas Blaine não se sentia com vontade de fazer isso no momento, o que o preocupava muito. Mesmo que não ligasse para falar de trabalho, poderia apenas conversar e perguntar como é que ele estava, se estava conseguindo lidar bem com o seu afastamento ou se precisava de alguma coisa que ele poderia fazer em Lima. Se já não bastasse, tinha o pretexto de Rachel, de oferecê-la para um trabalho. Contudo, ainda assim, perdia a vontade de ouvir a voz do namorado. Sabia que o amava, mas havia um obstáculo diante disso.

Era a lembrança do encontro com Kurt na livraria do aeroporto. Aquela, até então, só tinha sido uma memória, apenas um aperitivo do que seria a Going Back In Time Party, no entanto encontrar Rachel fez com que ele se lembrasse melhor do que era fazer parte do Glee Club, o que fez com que desse ainda mais importância para a convivência com seus antigos amigos. Com meus antigos amores, ele se corrigiu e tomou mais um gole de seu café. Agora, ter encontrado Kurt não parecia apenas uma obra do acaso, mas do destino.

E ele sentia que, de alguma forma, decepcionara o homem que o amara – e que ele amara – por tanto tempo em sua vida. Perdera a vontade de falar com Dave, porque sabia que tinha assuntos a tratar com Kurt. Mesmo assim, tinha medo de falar com esse também.

Mas é algo que preciso fazer, ele pensou e respirou fundo, estralando o pescoço de um lado para o outro. Do contrário, como vou conseguir voltar a vê-lo na Going Back In Time Party?

Blaine passou o dedo na tela do celular e discou alguns números. Olhou a tela com a foto e o número de Kurt, os dois já antigos, e aguardou com ansiedade o retorno do outro lado da linha.

Não demorou muito e o “Olá!” tão típico de Kurt fez-se presente.