Me Perdoe...

OneShot



– Lass. - Chamei


No momento, estava andando pelos corredores da guilda, que ficava nas proximidades do reino Serdin. Tinha ido até a cobertura da casa em forma de torre checar as condições climáticas antes de sair em missão e na volta, passei por uma porta aberta que dava numa sala bem extensa onde encontrei Lass treinando. Ele corria e partia bonecos de palha com a katana. Admito, ele é rápido, quase chego a invejar sua velocidade. Eu disse "QUASE". Acostei-me na passagem e fiquei a observá-lo por um tempo. Claro, ele me viu assim que passei pela porta mas preferiu me ignorar. Foi quando percebi que diminuía o ritmo que o chamei.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele grunhiu em resposta. Considerei aquilo com o "o quê?" sem vontade que ele costuma usar como resposta para os que odeia menos.

– Parece frustrado, algo o incomoda? - Perguntei sério, tenho a impressão de quê num tom preocupado até.

– No momento, sua presença. - Respondeu sem vontade ao abainhar a katana. Não trocava olhares comigo, sabe-se-lá para onde as orbes azuis miravam.

Entrei de vez na sala, a dobra da parede já estava deixando minhas costas dormentes. Fui me enconstar na parede interna da sala e voltei ao silêncio, observando de braços cruzados. Eu o deixei realmente desconfortável, o que é pessímo para um guerreiro. Alguém de sua calunha não deveria se distrair com coisas desse tipo.

Mudou seu treino, agora lançava peças de metal (shurikens, eu acho) contra a parede em paralelo. Como a sala era redonda, não tinha muito onde mirar. Resolvi brincar com ele um pouco. Quando ele lançou uma nova rodada de peças, saquei minhas Scarlets penduradas em meu cinto e atirei. Atingi as estrelas metálicas em cheio, apenas o esperado de mim, não? Lass ficou bastante irritado.

– Qual é o seu problema? - Virou-se para mim e disse enquanto eu soprava a fumaça do cano de minhas armas - Não tem mais o que fazer?

– Você é lento, estou te ajudando. - Falei, cínico - Que tal ser um pouco mais ágil e atingir a parede antes que meus disparos interrompam seu ataque?

– Não lembro de ter pedido sua ajuda. - Me deu as costas.

– Devia ser grato por ter um irmão tão prestativo.

– Também não me lembro de considerá-lo meu irmão. Vá embora.

– Você não se lembra de muita coisa. - Resmunguei em pensamento.


Dei de ombros ao me desencostar da parede. Estava realmente decidido a ir embora e deixá-lo em paz. Mas não pude. Não ao ver o quão ele expunha a guarda. Se estivessemos em posições opostas, como inimigos que seremos um dia, ele já estaria morto.


Tomei um rápido impulso para frente, indo atrás dele. Com sua velocidade, achei que desviaria milímetros antes de ser alcançado. Mas não o fez. Somente virou o rosto pouco antes de eu golpeá-lo com uma forte cotovelada bem no topo da cabeça.

Não pensei que era tão fraco a ponto de cair desmaiado só com aquilo.

O que aconteceu com Lass?

~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~

Minha cabeça dói... É uma dor aguda mas não sinto sangrar. Sinto-me deitado em algo macio, um colchão talvez. Não parece ser o do meu quarto, ele não é tão confortável assim. Já falei com a Comandante diversas vezes para trocá-lo e nada.

"Abra os olhos" ouvi uma voz dizer... Era grossa e autoritária. Reconheço mas não consigo nomeá-la. "Não me faça jogar água fria em você, Lass". Ah sim, não sei como esqueci disso.

– Lu...pus... - gemi ao tentar abrir os olhos, parecia haver uma luz forte apontada diretamente para meu rosto. Tentei me mover mas parecia imobilizado; algo segurava firmemente meus pulsos. Fiz um esforço e consegui abrir meus olhos. Minha primeira visão foi aquele brilho escarlate focado em mim e a palidez daquele rosto, muito próximo ao meu, que era contrastada pelo cabelo castanho desgrenhado. Sim, Lupus.

Ele estava, de fato, me imobilizando, de quatro sobre mim. Quis me debater mas não o fiz. Senti que não o deveria fazer. Permaneci paralizado esperando respostas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~

"Por que ele não reage?" pensei. "Já não basta ter estado tão desconcentrado mais cedo, por que não se move, sequer me questiona?"

– Lass, o que aconteceu com você? - Novamente, disse num tom sério e preocupado.

– Você me trouxe até aqui, diga você. - Ele não parecia interessado em meus motivos.

Passei um tempo analisando quieto. Detesto admitir, mas sua expressão me dava calafrios. Não era assustadora, muito pelo contrário, Lass me era totalmente...

– Submisso.

– O que?

O modo como estava posicionado, completamente vulnerável. Eu poderia apontar uma arma para ele que duvído que reagiria. O que mais me surpreendeu foi seu rosto. Diferente de antes (ou de sempre) quanto ele evita trocar olhares comigo, ele me encarava fixamente, com expectativa. Pude ver em sua boca, como os lábios pareciam livres daquela maneira que precede um beijo.

– Lass, o que acha que eu vou fazer?

– C-como assim? - Ele gaguejou? Não posso acreditar. Aproximei meu rosto um pouco mais e pra minha surpresa, ele corou! - Lupus? - E sussurrou como uma garotinha envergonhada! O que diabos houve com o La... Não... Não pode...

Tomei distância de seu rosto e soltei seus pulsos mas ele não se moveu, continuou "esperando" quieto. Tirei uma de minhas luvas e levei a mão nua à seu abdomem. Ao sentir o toque, ele gemeu ao fechar os olhos com força. Deslizei minha palma por toda a área exposta e sua unica reação foi manter aquela expressão tímida e conter gemidos.

– Ziddler e Cazeaje... - Comecei, hesitante. Voltei a mover minha mão, agora para baixo, até tocar o interior de umas de suas coxas. Ele enrigeceu a área. - domesticaram muito bem o seu corpo, não foi?


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~

"Ziddler e Cazeaje"

Só de ouvir aqueles nomes nojentos tive terríveis recordações. Apesar disso, o que Lupus disse não deixava de ser verdade.

"Quem diria que uma aberração como você teria esse tipo de utilidade" - Eram palavras do circense macabro.
"Lass, meu querido, embora não seja o tipo de corpo a qual estou acostumada, ainda posso fazer uma bom uso dele, huhuhu" - Palavras que a rainha das trevas dizia ao analizar minha imagem refletida num espelho trincado.


Os dizeres daqueles dois demônios repetiam-se vezes e vezes em minha cabeça, embora me recusasse a lembrar as cenas.



Meu subconsiente estava sendo tomado por estas péssimas lembranças, e por causa delas, eu era incapaz de reagir. Por algum motivo, a presença de Lupus era tão opressora quanto a daqueles dois.


Desde nosso primeiro encontro ele tem me chamado de "irmãozinho" mas eu não consigo consiliar a idéia de termos, em parte, o mesmo sangue. Há algo sobre Lupus que minha mente se recusa a lembrar.

Essas lembranças e sensações não me são estranhas, apenas não entendia o porquê de Lupus estar naquela posição. O que ele quer de mim afinal?


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~

– Você realmente não pretente reagir? - Fiquei ajoelhado sobre ele, de braços cruzados apenas a observar - Vai ficar parado e permitir que eu o estupre?

– É isso que você quer? - Ele falou de um jeito como se estivesse me provocando, um tom de voz detestável - Vá em frente, eu não tenho o dia todo.

Não me contive ao acertar um gancho direto em seu queixo.

– Messa suas palavras, seu pirralho.

Ele ficou com o rosto tombado para o lado, agora com o hematoma que lhe provoquei. Abaixou o olhar e não disse mais nada. Lass não reagiria.

Lass...


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~


O que há com Lupus? O que há com essa expressão preocupada em seu rosto? Por que a orbe escarlate parece tão opaca?


Antes que fizesse uma dessas perguntas, ele me ergueu pelas abas de meu colete, até que pudesse ficar sentado e me abraçou. Agarrou-se firme às minhas costas e cabeça

– Me perdoe, Lass. Me perdoe. - Disse acariciando ternamente meu cabelo.

– Já levei golpes piores.

– Não pelo soco, você o mereceu. Me perdoe por deixar que tudo isso acontecesse à você.

– Não sei do quê...

Uma lembrança, que eu nem sabia, que tinha me veio como um flash.


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~


"Lupus-nii?" - Dizia uma criança encapuzada. O brilho azul de seus olhos era a única coisa visível naquele caminho escuro - "Onde estamos indo?"
"Não faça barulho, Lass" respondeu o garoto mais alto, também ocultado por uma capa com capuz. Este andava alguns passos na frente do menor, o guiando pela mão.

Os dois se conheciam havia pouco tempo, quando o pai de Lupus (que também era o de Lass) trouxe o pequeno albino de estranhas marcas na face e apresentou os dois como meio-irmãos. Embora Lupus não desse atenção para Lass, o pequeno parecia ter se apegado à ele e o acompanhava em seus treinos de tiro. O mais velho não admitia mas tinha se afeiçoado ao novo irmão.
Poucos dias depois, o pai deles sumiu deixando os meninos para trás. Mesmo sem entender os motivos "do velho", Lupus precisava seguir com o negócio da familia. Ainda assim, não quis expor Lass ao perigo da profissão e procurava por um abrigo para ele durante seu trabalho.

Numa noite fria, os dois partiram por uma trilha enevoada numa floresta seca que levava à um acampamento circense pouco iluminado. Ao chegarem lá, foram recebidos pelo Mestre de Cerimônias.

"Jovem caçador, Lupus Wild, eu estava a sua espera" Disse o ser sombrio de barriga inchada.
"Não vim pra conversar, Ziddler. Só quero saber se posso deixá-lo sob seus cuidados por um tempo" Indicou o menor, que olhava timida e assustadamente para o cenário. Mantinha a mão livre perto da boca.
"Oh sim, já ouvi muito a seu respeito pequeno mestiço" Aproximou-se, fazendo o pequeno se esconder atrás do irmão "Fique tranquilo jovem caçador, cuidarei muito bem do pequenino. Este circo e seus membros são como uma grande família"
"Lupus-nii..."
"Escute Lass" Virou-se para o albino, se ajoelhou para que seus olhos estivessem na mesma altura e então segurou firme em seus ombros e disse: "Eu não posso levá-lo comigo. Fique aqui e me espere. Voltarei o mais rápido possível"
"Certo..."

Lupus deu um sorriso triste ao se levantar. "Trate-o bem" foram suas últimas palavras antes de desaparecer na névoa. Partiu tão depressa que não pôde ouvir o grito de pavor que fora proferido em seguida.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~


Pela maneira como Lass parou, supus que ele havia se lembrado.


– Eu fiquei tão obsecado com a busca pelo velho que me esqueci completamente de você.

– Huh, e espera que eu o perdoe assim tão fácil? - Ele não se moveu e falava seco.

– Não. - abrecei-o com mais força - Apenas quero que saiba que estou arrependido pelo que fiz.

Ele não disse mais nada e ficamos daquele jeito por um tempo. Tive a impressão de que ele moveria os braços e recuou.

Pouco depois, senti algo pontiagudo e gelado espetando minha nuca. Lass me ameaçava com uma kunai. Ri.

– Me solte, verme.

– Lento - Eu já tinha o cano da Scarlet apontado para sua cabeça. – Arrisque rasgar minha garganta e seus miolos vão decorar a parede.

– Tch - Ele recuou com a arma. Ri ao fazer o mesmo.

Soltei-o e me levantei, saindo da cama e indo para fora do quarto. Claro que ao lhe dar as costas ele lançou aquela kunai contra mim. Desviei-a com um tiro sem sequer me virar.

– Lento.

– Diga a verdade, o que realmente pretendia me trazendo aqui?

– Por que? Não achou que eu iria violentá-lo, achou? Faça-me o favor, Lass. Por mais que você se negue a aceitar, o sangue daquele maldito ainda corre em nós dois.

– E o que isso tem a ver?

– Você é meu irmão - Vire para ele e lhe lancei um olhar sério - Nunca atentaria contra você desta forma. Quando chegar a hora de nos confrontarmos, será de uma forma mais... "honrosa".

Saí e o deixei para trás gritando "volte aqui seu verme!". Lass ainda não está pronto, e após este acontecimento, não sei se quero que ele chegue a estar.

– Huh - Bufei ao sair em disparada da guilda - Ele costumava ser tão fofo.


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~


"Lass, não importa o que aconteça, vou fazer de tudo para te proteger."
"Promete?" perguntou o pequeno, estendendo a mão em punho com o dedo mindinho esticado.
"Sim" riu o mais velho "Eu prometo" disse selando a promessa.


~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~//~~

– Realmente espero que possa me perdoar um dia, e então eu poderei derrotá-lo sem arrependimentos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.