Capítulo Único

Ela se virou na cama enquanto via o desenho da fumaça mesclar-se ao cheiro da luxúria que impregnava o ar. Tudo era interrogações que ela não queria responder, para não contestar... Sentia-se demasiado vazia em sua aventura de fã e sabia que ele, seu ídolo, conseguia ver através dela.

Uma lágrima bailou em seu rosto em pequenina supernova, espocando uma luz que ele, mesmo sentado de costas, não pôde deixar de notar:

– O que houve? – Virou-se-lhe, colocando a mão fria em seu ombro, como a realidade que lhe ardia os olhos.

– Depois disso, serei como um motivo de queda para ti... Seguramente, tão logo saia daqui, não será capaz sequer de dizer que me conhece.

Ele olhou-a demoradamente sem dizer nada. As sensações tão bem diluídas não lhe permitia entender. No entanto sentia, e já isso era ir demasiado longe para alguém como ele.

Ela sorriu, um sorriso difícil:

– Vai sair por aquela porta e antes de sentir a luz do sol, se três pessoas lhe perguntarem sobre como passou a noite, vai dizer que esteve sozinho.

Ele inspirou mais um trago antes de jogar o cigarro fora:

– Não tenho porque fazer isso.

Ela se encolheu cobrindo a cabeça para que a esperança não entrasse por seus ouvidos.

Ele se levantou e saiu, tinha que estar no saguão bem cedo porque a banda sairia de viagem.

Ao fechar a porta, deu-se com Naoki:

– Takumi.

– Naoki.

– Como passou a noite?

– Bem, estive revisando o arranjo da nova música.

– Que estranho. Podia jurar que te vi entrar com uma garota.

– Não, eu estava sozinho.

Desceram. No saguão, os demais os esperavam. Reira veio correndo, como costumava fazer:

– Vocês demoraram muito! O que estavam fazendo? Aposto que foi por culpa de alguma mulher...

– Deixa de besteiras, Reira... Eu estava sozinho...

Reira olhou-o de esguelha.

– Você sozinho é difícil de acreditar. Certamente estava com alguém – manifestou-se Ren, ácido.

– Não estou pedindo para que acredite – retrucou enquanto saíam do hotel.

E sentiu a luz do sol como um açoite no rosto. Lembrou-se do que sua menina havia dito, e nem toda costumeira frieza conseguiu congelar as duas lágrimas que caíram, beijando as feridas feitas pela aurora.