Seguindo em Frente

E Tudo Mudou...


Como sempre, eu estava sentada na varanda da nova casa, pensando como seria minha vida no amanhã. E se acontecesse algo com meus pais? E se eles tivessem que se mudar outra vez? Eu não ia suportar outro lugar. Já havia um ano que estava naquele inferno que chamam de "escola". Na maioria das vezes eu pediria ajuda a minha confiável babá, ou para a minha divertida amiga Marceline, mas eu estava decidida. Iria encarar tudo de frente, seja lá o que vier. E sim, sou uma garota dramática. Escutei a porta abrindo. Era a minha babá, Sarah.

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– Bom dia, docinho!

– Oi Sarah. Trouxe o meu café?

– Aqui está.

Eu senti o cheiro dos waffles com cobertura de caramelo e aquele leite quentinho com marshmellows flutuando sobre a borda.

– Adivinhou outra vez, não foi?

– Você vive me pedindo a mesma coisa, já não era hora de eu fazer um café decente!

Sarah conseguia me fazer rir mesmo nas horas mais difíceis. Era como um dom especial...

– Menina! Nunca vi você se vestir assim!

– Sarah, tá muito frio! No meu vocabulário não existe só a palavra moda, sabia? Além do que, eu nunca me dei bem com essa coisa mesmo...

– Uma menina como você só tinha que ter a palavra dramática mesmo. E olha o seu cabelo! Ele já vem com a opção "arrumação instantânia" nele!

– Nada de zombar do meu cabelo.

Fiquei muda por um momento. Tomei meu café tranquilamente, sem meus pais ficarem me azucrinando. Sarah foi ver um pouco de TV e o meu celular tocou. Era Marceline. Porque diachos eu levei meu celular pra varanda se eu queria ficar no silêncio? Tive que atender, né.

– Oi amorzinho!

– Oi Mar.

– Uau, que frieza hein.

– Desculpa. Tô chateada hoje.

– Eu não. Vai ser o nosso primeiro dia na escola! Tô tão ansiosa pra rever a Melanie outra vez!

– O que deu naquela menina que não passou o número do telefone pra gente?

– Ah, disso eu não sei. Ela só avisou que ia viajar com os tios, lembra?

– Sim. Vai com que roupa hoje?

– Como é o primeiro dia, vou com uma coisa bem chamativa. Só não te conto que é capaz de copiar tá?

– Confiança nível 100 né? E você me conhece muito bem. Vou fazer de tudo pra conseguir passar mais um ano invisível.

– Uhum... tenho que ir desligando, minha mãe tá querendo que eu faça escovinha e o escambau pra escola hoje.

– Então tá, até a tarde.

– Até, beijos.

Eu desliguei meu celular e suspirei. Eu tinha mania de falar sozinha, e isso é bem normal pra mim, desconsiderando o fato que Sarah me chama de louca toda vez que faço isso.

– Bom, vamos lá.

Eu fui o mais cautelosa possível na hora da escolha de roupa. Já que ia passar o resto do ano sendo a garota invisível, tinha que causar boa impressão em quem reparasse em mim. Escolhi a roupa com mais moustache que existe. Eu amo eles. Fui ao encontro da Marceline, que estava com aquela roupa linda dela. Blusa marrom e calça jeans.

– Como sempre, estilosa né? Para de me esculachar com as suas roupas lindas!

– Haha! Olha quem fala, a dona do bigode!

– Para, cachorra!

Nós duas fomos andando até o portão da escola, rindo e contando piadas. Só que uma coisa me chamou muita atenção: o fato de eu não ter avistado Melanie em lugar nenhum. Ela é meio que o ímã que nos junta. Já era pra ela ter voltado de viagem...

– OI SUAS LINDAS!

Uma coisa enorme pulou em mim e na Marceline. Era a Melanie! Nunca vi ela ser tão animada assim, normalmente ela nem consegue pronunciar uma palavra na frente de outras pessoas.

– Desculpa a demora, meus tios quiseram comprar uma roupa nova pra mim.

– Primeiro dia?

– Claro!

Melanie morava com os tios, já que o pai vivia ocupado, e a mãe... Bem, dizem que a mãe sofreu um acidente e faleceu quando Melanie ainda era um bebê. A mesma coisa aconteceu comigo, e com a Marceline, mas no caso dela foi com o pai. Mas mesmo assim elas conseguiam ter um bom senso de humor. Nós entramos na escola e fomos direto pra aula de latim, a melhor aula que existe (pelo menos pra mim, Marceline nunca gostou de latim... e nem de matéria nenhuma).

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– Bom dia, turma.

– Bom dia, sr. Turner. - respondeu a turma em coro.

Quem é o sr. Turner? Simplesmente o melhor professor que temos, não só por ser nosso professor de latim, mas sim por ser gentil. Consegui acertar todas as perguntas, eu era muito boa. Nós estudamos mitologia grega, o que foi divertido, pois ele ficava fazendo umas coreografias na sala de aula imitando os guerreiros gregos. No final da aula, o professor me chamou, junto com a Melanie e a Marceline.

– Olha garotas, eu quero que vocês melhorem muito mais na minha matéria.

Marceline era a mais atrevida entre nós três, então começou "aquela" discussão com o professor.

– Mas senhor Turner, a gente faz de tudo pra se esforçar. Você não espera que a gente seja "tão bom quanto", você quer que sejamos "tão melhor quanto"! Isso já é um abuso, sabia?

– Pra você não, Marceline. Quero que todas vocês se esforcem muito. Um dia vão precisar usar isso pra vida real. E isso não vai demorar.

O sr. Turner saiu, com a sua cadeira de rodas. Eu não te contei? Ele anda com uma cadeira de rodas. Alguns acham que ele sofreu um acidente de carro, outros acham que ele tem problema nas pernas. Mas o que ele quis dizer com "usar a mitologia pra vida real?"

O sinal tocou, finalmente. "TOMORROW IS FRIDAY!", gritamos todas juntas na saída. Havíamos combinado de fazer várias coisas. Só que uma ação inesperada fez a gente cancelar tudo:

– Minha mãe vai ter um bebê. - disse Marceline.

Eu fiquei tipo: "WHAT?!"

– Mas Mel, como assim a sua mãe ganhou um filho do nada?

– Ah é? Então me digam, a quanto tempo vocês não veem a minha mãe?

– Um ano, mais ou menos. Ela foi trabalhar fora, não?

– Sim! Por isso!

– Ahn, tá explicado agora.

- Não, não tá nada explicado.

- Como assim?

- Nesse tempo todo que ela ficou fora, ela diz ter reencontrado meu pai...

- Como assim, do nada? Ele não tinha fugido de casa? - perguntou Melanie.

- Não exatamente... Ele saiu porque teve problemas para resolver fora do país.

- Hm... E sua mãe não te contou nada? Não fez um vídeo-chat pra você ver seu pai, alguma coisa???

- Não, ela só telefonou e me contou tudo. Eu fiquei tão pasma na hora que nem tive reação alguma.

Eu fiquei calada, resolvi não falar mais nada, isso a estava incomodando de certa forma. Fomos caminhando lentamente até em casa da Marceline para parabenizar a mãe dela, só que quando estávamos na porta da casa dela, um tremor fez a gente cair no chão.

– A rua tá muito deserta né?... - Melanie havia razão. Só tinha folhas voando, nenhum sinal de vida além de inocentes árvores.

Não sei se foi impressão minha, ou havia dois pares de olhos ameaçadores observando a gente. E posso afirmar que não foi o nosso professor de latim ninja, que estava nos seguindo o caminho inteiro junto com um garoto loiro que eu reconheci como Austin, o nerd da sala.

– Oi garotas! - disse Austin com um sorriso tão doce que quase fez Melanie desmaiar.

Eu ainda não contei disso também? Melanie tem uma queda por esse garoto desde que ele entrou na escola, à uns 3 anos, ela só tinha olhos pra ele. E ela tinha razão, ele era realmente um garoto muito lindo. Só que se eu contasse isso pra ela, ia apanhar, na certa.

– Austin, não está na hora para brincadeiras! - o Turner parecia irritado. - Temos que tirar as garotas da cidade!

– PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER! - pela primeira vez na vida eu tive um ataque do coração. - ACABAMOS DE CHEGAR AQUI E JÁ VAMOS NOS MUDAR OUTRA VEZ? - Marceline me segurou para eu não desmaiar.

– Tenha calma, senhorita. Austin vai... -

No exato momento em que o sr. Turner iria completar a frase, um bicho pulou no meio do nada. Uma hidra. Duas cabeças apenas.

– HIDRA! - Austin gritou o óbvio para que todos acordassem do susto.

O animal tinha cerca de 5 metros, e cuspia uma "chuvarada" de fogo em cima da gente. Mas uma coisa de intrigava mais: ele mantinha o foco na Marceline. Turner também me surpreendeu ao jogar uma pulseira prateada para ela.

– VALEU SENHOR, MAS ACHO QUE TÔ PRECISANDO DE UMA MÃOZINHA AGORA NÉ!

No exato momento a hidra deu uma cabeçada nela, Melanie o agarrou pelo pescoço e ficou em pé em uma cabeça, como se estivesse surfando. Ela colocou o bracelete e por acaso apertou uma joiazinha que ficava no meio dele, e depois Melanie caiu. Caiu de pé. A ponto de virar churrasquinho, mas alguma coisa estava bloquando o fogo, deixando a hidra quase sem fôlego. Marceline ajustou o olhar e viu que tinha um escudo de prata preso no pulso. Bastou um desvio que o animal jogou ela longe, deixando-a desacordada. Antes de ir ajudar a minha amiga, o professor me jogou um pendrive laranja. Mas o que... Um pendrive???

– Tá de brincadeira né?

Fiquei sem resposta, com todos lutando contra a hidra. Examinei o troço mais de perto e vi que tinha um pequeno botãozinho pra mostrar a entradinha USB. Foi só eu aperta que aquilo virou uma adaga. Parecia feita de ferro celestial, e não me pergunte como eu suspeitei disso! Só lembro que investi contra o peito da hidra, ouvi um rincho e desmaiei.