Better With You

Permanente


Eu estive distraída demais para notar – e com isso sinto um aperto no coração – que o nosso último ano em Hogwarts se aproximava rápido demais do fim.

Pequenas mudanças sutis, como o fim definitivo do inverno, uma excitação pré-provas, nostalgia e professores condescendentes me fizeram perceber isso. Era estranho realizar que aquele suporte tão constante que fora Hogwarts, sempre me sustentando, seria em breve arrancado de mim, junto de tudo o que considerei familiar em minha vida.

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Eu ainda manteria meus amigos por perto, definitivamente, mas não seria da mesma forma.

Eu nunca mais encontraria Remus na biblioteca, com o nariz enfiado em um livro e os olhos inchados de sono. Nunca mais veria Sirius desfilando no Lago Negro com seu uniforme de Quadribol, simplesmente porque sabia que ficava esplêndido nele. Nunca mais acordaria com a Marlene falando enquanto dormia, e por mais que isso sempre tenha me deixado doida, agora me faz rir com tristeza. Nunca mais teria Dorcas me contando fatos estranhos do mundo mágico no café da manhã, com os olhos azuis brilhando de excitação. Nunca mais teria Peter me informando quais pratos estavam mais saborosos naquele dia. E James...

Senti uma sensação engraçada ao constar que eu estava ansiosa por descobrir que papel ele teria em meu futuro. Não havíamos discutido amplamente o assunto, mas estava implícito. Sempre esteve.

Todos aqueles pensamentos, e o fato de que eu estava completamente inebriada por não só ser capaz de amar James Potter, como também por tê-lo feito em sigilo por tanto tempo, me incapacitaram de dormir.

Dignamente enrolada num roupão caminhei até a Sala Comunal, que naquele momento deveria estar deserta.

— Sirius – murmurei baixo demais para os meus próprios ouvidos, mas ele já parecia ciente da minha presença.

Ele estava estirado no sofá maior, com uma garrafa de uísque de fogo perdida a seus pés. Seus cabelos estavam bagunçados não da forma despretensiosa habitual, mas como se ele tivesse deslizado seus dedos por ele diversas vezes, estressado. Seus olhos eram vazios completamente vidrados, como se estivessem preocupados somente em refletir as chamas da lareira.

Eu não queria deixar transparecer que eu estava desconcertada e preocupada com o garoto inabalável que agora estava diante de mim, estilhaçado e inimaginavelmente vulnerável. Não queria deixá-lo desconfortável. Se ele estava ali desacompanhado e não com seus colegas, não procurava um ombro no qual chorar.

Ele também não se preocupou em se explicar, de qualquer forma.

O silêncio ao nosso redor era carregado de palavras omitidas, perturbador demais para ser mantido por muito tempo, onde a imaginação geralmente preenche as lacunas da pior forma possível.

Por sorte, eu não tive de pensar numa maneira agradável e inofensiva de quebrá-lo.

— Você está constrangida comigo – não era uma pergunta, era um fato.

— Como você sabe? – eu tinha certeza de que estava sentada completamente relaxada na poltrona, tomando todas as precauções para que o meu desconforto não fosse mais aparente do que voltar escada acima.

— Posso não ser nenhum James – ele diz com uma risada rouca – mas conheço você por sete anos, e convivo com uma enciclopédia ambulante sobre Lílian Evans.

Então Sirius finalmente escapa de seu torpor e me encara. Eu preferia que não o tivesse feito. Eles estavam intensos de uma forma que até então me era desconhecida, e isso por algum motivo me abalou. Como se Sirius Black fosse feito de infinitas camadas que ia descamando conforme sua vontade.

— Sei que quando está nervosa, constrangida, agitada ou sei lá qual seja o termo correto, você ficava incessantemente procurando por fios bagunçados para ajeitar atrás da orelha, como se houvesse algum.

E então ele sorriu cinicamente, e tomou mais um gole de sua bebida.

— Então já pode parar de tentar esconder sua pena, se isso te ajuda. Não que eu precise dela.

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Aí estava o Sirius com o qual todos estavam devidamente acostumados. Não é a mim que quero me ajudar, quis responder. Talvez ele tivesse razão, contudo. Não era da minha pena que ele precisava, mas do meu descaso.

Ele precisava de alguém com quem pudesse conversar sem compromissos, sem pressão, sem perguntas ou preocupação excessiva. Eu podia ser essa pessoa.

— Pode me passar a garrafa?

Sirius Black

Ergui uma sobrancelha, duvidoso. Apurei os ouvidos, quando Lily repetiu a pergunta lentamente, como se eu fosse uma criança teimosa:

— Pode. Me. Passar. A. Garrafa? Por favor? – acrescentou apressadamente depois, pois afinal aquela era Lílian Evans.

Ela pareceu um pouco contrariada por sua educação impecável ter deslizado em sua frase de efeito, o que foi divertido de observar. Seus olhos, apesar disso, permaneciam firmes.

Dei de ombros e ergui os braços em rendição, em seguida me inclinando para lhe entregar a garrafa.

Não voltei para o meu lugar.

Fiquei esperando que ela tomasse um gole, e observei atentamente enquanto ela lutava contra uma careta. Caí na gargalhada.

— O que foi? – Lily perguntou ofendida – O problema não é a bebida, mas o fato de ela estar quente.

— Certo, então passe para cá.

Foi o que ela fez, e assim eu matei o uísque, devolvi a garrafa de volta aos meus pés, como se fosse um bichinho de estimação.

Perceber que eu estava sem o conforto da bebida me causou uma sensação estranha, e novamente eu estava irritado, encarando as chamas de forma empática.

— Você é uma excelente companhia Sirius, realmente. Seu ânimo é contagiante.

— Se quer diversão então deveria procurar o James – respondi secamente com um riso forçado.

E eu só queria ser

Deixado

Em

Paz

Trinquei o maxilar involuntariamente, só percebendo quando a pressão exercida começou a incomodar. Droga, eu não conseguia deixar a maldita música trouxa ir embora da minha cabeça! Hotel California. Eu provavelmente só a ouvira uma vez durante toda a minha vida, e bem longe da Califórnia, mas lá estava ela... Seus versos se repetindo tantas vezes que já pareciam estar tatuados em minha pele.

Tatuagem. Eu gostaria de ter uma. Ou várias. Gostaria também de ter um violão comigo para tentar relembrar os acordes de Hotel California, e falhar, e ficar irritado comigo mesmo até ficar satisfeito.

Este poderia ser o paraíso ou poderia ser o inferno

Eu não sabia se seria capaz de ser o paraíso de Marlene, e definitivamente não queria ser seu inferno. Não mais do que eu já havia sido.

Ela tem uma porção de lindos, lindos rapazes, que ela chama de amigos

E ela poderia me trocar por qualquer um deles, pois eu a despedaçaria. Eu sei que iria, e sempre fui egoísta demais prolongando nossa brincadeira de gato e rato, mas já estava na hora de acabar com isso.

Alguns dançam para lembrar, alguns dançam para esquecer

No meu caso eu bebo para esquecer, mas será que existe alguma diferença?

E ainda aquelas vozes estão chamando da distância, te acordam no meio da noite

Sim, foram aquelas vozes que me despertaram. Consciência? Resquício de bom-senso? Eu tinha qualquer uma delas?

O caso é que eu sou inconsequente demais, e não preciso afundar ninguém comigo em meu barquinho. O ano está chegando ao fim e Lene finalmente terá a chance de recomeçar bem, bem longe de mim. Se eu for suficientemente corajoso, e serei.

— No que está pensando?

— Que eu preciso mijar. Também pensei vagamente que quero ter um vaso roxo na minha casa, quando eu tiver uma. Só por decoração, não me importa que flor esteja ali.

— Por que um vaso? – Lily perguntou com curiosidade genuína.

— Bom, pra começar um vaso é algo que ninguém nunca se atenta realmente a comprar, não é? A menos que você esteja planejando ficar, e queira comprar um vaso porque é isso que pessoas permanentes fazem quando querem um toque pessoal e decorativo em sua casa permanente.

— Se usar novamente a palavra permanente eu vou querer cinco galeões.

— Permanente – eu respondi, porque é assim que faço as coisas, e joguei cinco galeões em seu colo.

— Então aparentemente seu estado se resume a medo do futuro.

— Eu devo me preocupar em estar sendo analisado? – perguntei com as sobrancelhas arqueadas, mania incurável.

— Você sabe que você e James são uma equipe, há lugar pra você no futuro dele.

— Não, Lily. Quem deve acompanhá-lo quando o nosso ano terminar, agora é você – respondi mais irritado do que pretendia. Como ela podia não se tocar? – e não me leve a mal, estou extremamente feliz com isso, porque ele é mais que meu melhor amigo, é meu irmão. Mas não vou ser sombra de ninguém.

— Mas Sirius, você tem a...

— Ninguém! Eu não tenho ninguém, Lily.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que sou confuso e problemático para querer arrastar alguém comigo nesse emaranhado, principalmente a Marlene, que é alguém com quem me importo.

Dei uma risada seca, vazia de qualquer humor.

— Olhe bem para mim, Lily. Consegue me imaginar sendo um bom pai? – apontei para o meu próprio corpo, querendo ser enfático – Consegue me imaginar sendo responsável, prudente e... Adulto? Consegue me imaginar sendo o marido de que Lene precisa? Eu já sou tão quebrado, sempre fui. Sei que é por isso que James quis ser meu amigo, em primeiro lugar. Ele viu algo despedaçado em potencial, e foi em frente porque ele se acha um maldito “concerta-tudo”. Bom, tivemos sorte com o Remus.

Eu sabia que os meus olhos estavam novamente inundados por lágrimas, pois eu já não era mais capaz de distinguir o rosto de Lily. Não fazia diferença, contanto que eu não deixasse os soluços escaparem.

— Eu não sei do que ela precisa Sirius – Lily sussurrou, com uma mão apoiada em meu joelho – Mas sei o que ela quer, e ela quer muito você, e nada mais.

Então eu desmoronei.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.