Terminado o curativo, o baixinho tremia feito vara verde. Encharcado de suor e pálido, deixou que eu saísse da sala, levando os restos do lanche, pra cair no choro. Yachiru ouviu e foi levar mais uma xícara de chá. Tive que esperar do lado de fora por umas boas duas hora, até o tampinha se acalmar. Claro que ele sabia que eu estava ouvindo atrás da porta, deve ter sido por isso que ele demorou pra parar de soluçar.

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Em prantos, o pequeno soltou o verbo. Começou a dizer coisas desconexas, tipo pedir emprego na loja do Urahara, ou ir caçar hollows em Marrocos... preferi sair de perto quando começou a chamar pela mãe. Mandei Ayasegawa bater um papo com o guri e me passar o relatório. Melhor que eu esperava, o janota me trouxe um gravador e eu pude tirar minhas próprias conclusões.

*Clique, ruido de fita cassete. Soluço copioso.*

- Pelo amor de Kami-sama, Yamada-kun, se continuar chorando desse jeito, vai acabar enrugando a cútis... - sorriso glitter estilo Clamp.

- *snifsnif* Eu, eu, erhn, aiaiai, gomen ne... - chorando litros de novo.

- Tá bom, vamos tentar de novo... só precisa acenar pra responder, certo? É por causa do taichou? - provável resposta afirmativa – Cê tá com medo dele, né?

- Mais ou menos... erhnnn, aiaiaiai, não consigo dizer, gomen ne! - soluçando litros de novo.

- Olha, eu trouxe uma pírula superduper relaxante pra você! *pírula de farinha* - cata e engole.

- Aaaaaaaah... arigatou... - aparentemente dopado – Yumichika-san, eu tô apavorado...

- Nota-se.

- ...eu não consigo chegar perto do Kenpachi-sama sem ter um mal estar, uma sensação totalmente desconfortável... e ao mesmo tempo, ele tem sido tão bom comigo... aiaiaiai, se ele souber o que eu imagino dele, é capaz de me fazer em pedacinhos! Buaaaaaaaaaaaaaa...

*Soluço copioso, ruido de fita cassete. Clique.*

De posse da informação, comecei a me movimentar rumo a novas estratégias. Do grego, estrategia, etc.

Dia seguinte, ou dois, fim do expediente, ele parecia mais tranquilo com seus botões. Resolvi esperá-lo com uma xícara de chá quente, no seu alojamento na Divisão. Cházinho, quentinho, pra ajudar a relaxar, foi um dia duro pro bichinho, pô. Perdeu a cor quando me viu, e balbuciou alguma coisa que lembra “euvoumataraqueleviadinhofrescoderímelcolorido”. Comecei a conversa de maneira racional e adulta.

- Sentaê, fedelho, te trouxe um chá!

- Hahahahai, Kekekempachi taichou!

- Cuidado, que ainda tá quente... - ele cuspiu o chá num jato, tossindo asfixiado – posso sentar aí perto? Tá bom, deixa eu começar de uma vez então. Você deve saber que não é qualquer mané que consegue me retalhar, então deve ter estranhado eu estar tão desastrado nos últimos tempos. Pra ser sincero, eu te confesso que tenho baixado a guarda. Tá cada vez mais chato ficar trancado dentro daquela divisão, sem um pingo de adrenalina, então eu passei a apreciar coisas mais sutis. Já deixou uma formiga passar horas na sua mão, sem matá-la, só pra ver pra onde vai? Sentir as patinhas percorrendo a pele, as antenas tateando, procurando uma saída segura... depois, quem estiver mais atento chega a sentir a felicidade e o alívio dela ao escapar das mãos pra uma folha verde próxima... Rodeando menos o assunto, eu vim te dizer que gosto cada vez mais da sua companhia, e ia gostar muito se você fosse me visitar de vez em quando, sem agulhas de suturas ou bandagens. Sem medo também, se puder. Enfim, com licença.

E saí. Não esperei reações ou respostas. Voltei às minhas tarefas. Francamente, achei que tinha matado o garoto de susto. Passada uma semana, perdi a fé em qualquer tipo de possibilidade, até ouvir o burburinho na portaria da Divisão.

Alguns imprestáveis de baixa patente tavam usando o meu bichinho como um boneco de trapo, jogando pra cima e pra baixo, se aproveitando da falta de massa do tampinha pra desmoralizar a 4ª Divisão sem ninguém pra reagir. Chorava feito uma menininha até eu intervir na situação.

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- MAS QUE PORRA É ESSA???

Deixaram o guri cair no chão sozinho. Chegou a quicar.

- Eu quero uma explicação pra esse rebu, por escrito, na minha mesa, no fim do dia, e AI daquele que arranjar confusão com os shinigamis da Quarta aqui dentro de novo. Não gosto de bater em moleque, mas se precisar eu arranco o couro das costas de um aqui e agora. Algum voluntário?

- Não, não, taichou, claro que não! - uníssono, nota de choro no fundo das vozes mais agudas.

- E que fique claro, aqui, na Décima Primeira, essa roupa preta não é pra moleque! Peguem essas caras fanfarronas e sumam daqui!

- HAI! - todos somem em shunpo, mesmo os que não dominam a técnica.

- Ora vejam só, como se esses fedelhos não precisassem de enfermaria depois dos treinos diários, esses ingratos... e você, que que tá fazendo aqui?

Demorou a responder. Demorou a respirar, pra dizer a verdade. Depois de um copo d\'água, conseguiu responder:

- Kenpachi-san, eu tive pensando... será que você tá precisando de uma formiga?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.