You Found Me
One shot.
I guess that you saw what nobody could see
You found me...
—
Aquele era o momento da sua vida.
Lembra-se de esperar o pai gritar com ela, ignorá-la para sempre, mandarem remover suas marcas — porque aquilo não seria "certo", não seria "natural"...
Lembra-se de esperar a mãe chorar copiosamente, os pais brigarem entre si, dedos apontados um ao outro, acusatórios, por não terem criado a filha da maneira correta.
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Mas essa era a grande vantagem sobre os shadowhunters: Eles não falavam, eles não se importavam.
Não que eles achassem natural — como de fato, Aline sabia ser, desde o princípio — eles simplesmente não falavam sobre isso.
O estilo de vida dos caçadores de sombras não se permitia preocupações excessivas com certas "fases" adolescentes.
Mas aquilo não era uma fase.
E decerto percebera o choque no olhar de seus pais quando finalmente dissera; quando teve coragem de admitir aquilo que, no fundo, soubera desde o início.
Mas eles nada mais responderam. Eles não se acusaram. Eles não a acusaram. Apenas o encarar fora suficiente.
Lembra-se de ter ouvido — ou teria imaginado? — um suspiro. E então a conversa se dera por encerrada.
A jovem se punha a pensar: Será que com Alec havia sido diferente?
Sim, Alec — o principal responsável por sua atitude naquele dia. O principal responsável por lhe trazer felicidade, alívio e autoaceitação — embora nem ele houvesse sabido.
Mas ela se lembraria de agradecê-lo, assim que tivesse a chance.
*
— Helen! — A outra jovem se virou ao ouvir seu nome sendo chamado pela voz mais doce do universo. A voz que fazia seu coração bater mais rápido apenas com um chamar.
Quando Aline sorria daquele jeito — um jeito que só havia mostrado para a loira — os olhinhos fechavam-se quase imperceptivelmente e ela parecia irremediavelmente mais jovem e ingênua. Helen suprimiu o súbito impulso de agarrá-la ali mesmo.
A brisa corria suave, e a caçadora de sombras colocou uma mecha dos longos cabelos loiros e ondulados para trás da orelha novamente enquanto a namorada se aproximava.
— Ei!! — Helen sorrira; tudo era sorrisos quando estava com Aline — Por que toda essa pressa?
— Porque cada minuto que eu passo longe de você parece uma eternidade — A outra respondeu, não sem corar enquanto finalizava a afirmação com um selinho na garota que amava.
Helen uniu suas mãos com as de Aline:
— Eu posso perceber isso — disse, ainda sorrindo — Mas temos a eternidade juntas, não precisa correr como uma louca.
As duas gargalharam.
Helen a arrastou para seu lugar preferido, próximo a uma árvore frondosa onde podia se ver praticamente toda Alicante. As meninas sentaram-se uma do lado da outra, ainda de mãos dadas. Helen pousou a cabeça no ombro de Aline enquanto a morena brincava com seu cabelo:
— No que você está pensando? — Aline perguntou de repente.
— Em como nos conhecemos... Em como... Em como você se 'declarou' pra mim — Helen deu uma risadinha.
Aline a encarou
— Oh, não. Não isso de novo. — Aline riu, apesar de parecer extremamente envergonhada — Eu já te pedi pra esquecer metade das coisas que te disse naquele dia...
— Como eu poderia esquecer as palavras mais doces que a garota mais doce do universo me disse um dia? — a loira apertou um pouco a mão da outra quando disse — Você mudou meu mundo, Aline. Você o mudou para melhor.
A morena encostou sua testa com a da namorada:
— Você também mudou meu mundo, Helen.
Sorriram.
— O que me lembra... — Helen a soltou por um instante, remexendo nos bolsos, ansiosa — Eu tenho algo pra te dar...
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— Ah, certo — Aline parecia ter tido a mesma ideia — Eu também tenho algo pra te dar.
— Sério?
— Sim. Que tal se mostrássemos uma à outra ao mesmo tempo?
— Ótima ideia.
— Certo? 3...
— ... 2...
— ...1!!! — Gritaram em uníssono quando as pequeninas e muito brancas mãos de Helen pareciam trazer, de fato, o mesmo que as mãos esguias de Aline continham.
Ambas soltaram um gritinho de excitação ao perceber que tiveram a mesma ideia — uma ideia maravilhosa, de fato.
— Você... Você trouxe o anel de sua família, Aline...
— ... E você da sua.
Mais risinhos. Ambas estavam coradas.
— Ma-mas... Eu só ia... Bom, certo eu ia propor, mas eu esperava que você pensasse nisso antes de... — Helen mordeu o lábio e colocou uma mecha do cabelo dourado para trás - coisa que, Aline percebera, ela sempre fazia quando parecia nervosa.
— Não há nada que se pensar — uma das mãos de Aline acariciava a bochecha da namorada com ternura enquanto a outra permanecia com o anel da família Penhallow em mãos. — Eu te quero comigo e te quero pra sempre. Não há mais nada a decidir sobre isso.
Ainda com os respectivos anéis em mãos elas se beijaram. O contato da brisa e os lábios quentes um no outro fizeram os corpos se arrepiarem. Helen segurou na manga de Aline enquanto a morena continuava a acariciar seu rosto conforme o contato tornava-se mais íntimo. Passaram o que parecera horas naquela dança de lábios e línguas que só os que se queriam demais sabiam dançar até precisarem de um pouco de oxigênio.
Relutantemente, se separaram.
Apesar de ambas estarem muito vermelhas e acaloradas pelo beijo, Helen sempre parecera mais envergonhada pela pele mais clara. Aline gargalhara beliscando de leve a bochecha da outra.
— Ai! — Ela sorrira de volta — Se puder me conceder esta honra, senhorita...
Aline estendeu a mão à namorada enquanto esta colocava o anel da família Blackthorn em seu dedo, inúmeras promessas contidas no simples gesto.
Ao terminar, estendera a própria mão e esperou Aline colocar-lhe o anel da família Penhallow porque agora lhe pertencia por direito — não só o anel, como sua antiga dona.
Selaram o compromisso com outro beijo, antes de recostarem uma na outra, costas para a árvore outra vez.
— Helen?
— Hm?
— Quando nos casarmos... Quem ficará com o sobrenome de quem?
— Isso realmente importa? — Helen a encarou, curiosa.
— Não — Aline respondeu, quase que de imediato — Na verdade, não importa nem um pouco.
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