Sabe aquele momento em que você está calmamente atravessando um rio de fogo no Inferno com outro demônio, um anjo e um ser do Limbo, derrota um Cérbero e de repente alguém te sequestra do nada? Claro que não. Mas foi o quê aconteceu comigo (por que, vida cruel??).

Não durou mais de um segundo. Na verdade, me espantaria se houvesse durado esse tanto. ELE era conhecido pela rapidez.

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- O quê você quer comigo, Lanista?

- Poderia ser um pouquinho mais delicada, Taus? Estou tentando te ajudar.

A armadura negra que estava sentada à minha frente pulou de seu cavalo com dificuldade e me segurou pela cintura para que eu fizesse o mesmo.

Acariciei o focinho do garanhão cor de piche enquanto ele sacudia a crina de fogo, mandando um olhar afetuoso e arroxeado. Era o cavalo mais bonito que você poderia ver em toda sua vida. Na verdade, cavalos demoníacos são bem conhecidos pela sua beleza. Dizem que o carvão de gente queimada (e que depois vira carvão) é bem rica em nutrientes, o que deixa o pelo dos cavalos sedoso. Sim, esse tipo de coisa é natural no inferno, ok? Não, eu não como cinzas de condenados.

- Obrigada por me transportar, Seuk.

- O cavalo você agradece e a mim não?? – Lanista fingiu um tom mau-humorado enquanto tirava seu capacete. Não tinha mudado nada. A barba negra e espessa continuava cobrindo a maior parte de seu rosto e os olhos chocolate apresentavam o brilho de sempre. E continuava usando a armadura brega à lá Idade Média que reluzia demais naquele fogo dos infernos e que frequentemente cegava as pessoas. Sorri para ele. Até que tinha sentido saudades.

- O cavalo não teve culpa, mas tenho certeza que os machões que estavam na barca comigo estão tendo um filho por sua causa.

- Eles todos não cabiam. – Deu de ombros.

- E por que não me avisou lá mesmo?

- Longa história. Na verdade, não devíamos estar discutindo agora. O Chefe não quer que percebam, mas a paciência dele está no limite, vocês têm que sair logo daqui.

- Não podemos, viemos resgatar uma amiga minha.

- Aquela branquela mais de cedo?

- Você sabe onde ela está? – Eu pulei em cima do velho.

- ... Não.

- Não minta para mim!!

- Ok, eu sei!! Mas não posso deixar você ir atrás dela. Pelo seu pai.

- Aposto que meu pai não gostaria que eu abandonasse um amigo meu.

- Muito menos que a filha dele morresse. Você sabe o que ajudar humanos trouxe pra sua família. Não há nada de bom nisso. Por favor, vá embora.

- Não posso. Me leve de volta à barca. O pessoal de lá é forte, de verdade.

Lanista, o amigo de infância do meu pai – que foi morto por desobedecer o Chefe e se recusar a castigar um humano que ele via como inocente, só pra caso de informação – suspirou pesadamente.

- Maldita seja a sua família, não é grande na hierarquia daqui, quase não tem poderes e ainda quer bancar a heroína. Bando de suicidas. Vamos. Vamos resgatar sua amiga.

Não consegui conter meu sorriso ao montar novamente Seuk e segurar Lanista, novamente na sua armadura, pela cintura. Abracei-o, enquanto ele passava a mão em meus cabelos.

Toquei minha gargantilha, meu lado humano, desejando que Sam, Dan e Carlos não se preocupassem. Com uma prece silenciosa a arranquei, voltando à minha forma original enquanto Seuk, o cavalo demoníaco, galopava com todas as forças, deixando um rastro de chamas atrás dele.

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- Sam, o que aconteceu com Taus? – Perguntou Carlos, perturbado.

- Nada, ela está bem aq- Me interrompi quando vi que o banco ao meu lado estava vazio.

Um silêncio desconfortável pairou acima de nós, Taus havia sumido misteriosamente e ninguém havia percebido o sumiço dela. Nem eu. Uma sensação estranha e perigosa se instalou em meu peito.

- Melhor voltarmos. – Dan sugeriu. – Quem sabe encontramos alguma pista.

Como se uma gota de orvalho caísse num lago, a insegurança no meu coração foi dissipada.

- Não. – Falei determinado. – Você conhece o caminho, certo? Continue em frente.

--x—

- Sin, o Chefe quer vê-la logo para uma conferência com a Chamas Felizes Ltda., temos que consertar a câmara de fogo da Ala 131313, que está quebrada há uma semana. – Ouvi um suspiro prolongado enquanto quem falava rabiscava o papel. – Os condenados dessa ala estão tendo que ir pra câmara de decapitação enquanto isso, e todos sabemos como a câmara de decapitação é muito mais cara e demorada do que simplesmente tacar fogo em todo mundo, certo?

Não sei se eu devia sentir calafrios ou rir dessa situação. Acho que foram os dois. Mas Sin respondeu séria:

- Fale para ele que daqui a pouco estou indo. Preciso primeiro checar a quantidade de trabalhadores no regulador foguesquemático das celas AXL.48.

- Hm... Boa sorte com isso aí. Sempre dá um trabalhão.

- Hunf, já estou acostumada. – Sin provavelmente jogou seus cabelos para trás num movimento brusco, já que quase fui jogada para fora do bolso de sua camisa. Ela voltou a andar enquanto quem quer que tivéssemos encontrado continuava calado.

- Então você não perdoa ninguém nunca, né? – Zombei sarcástica quando um bom tempo havia passado.

- Arg, cale sua boca ou te jogo numa poça de lava.

- Sim, sim, Madame “Tenha Medo que eu Fico Bravinha”.

Ela se sacudiu, quase me fazendo cair de novo.

- Ooops, escorreguei aqui. – Ela deixou claro a falsidade na voz.

- Então, afinal, vai me contar ou não o porquê de estar me tirando daqui?

- Foi porque eu já trouxe você até aqui. Agora posso fazer o que eu quiser.

- Hm... Acho que isso fez as coisas fazerem menos sentido ainda...

- Você não precisa achar sentido, só eu.

- Faz sentido. Então... é, hum... Obrigada.

- Não estou fazendo por você.

- Mas mesmo assim estou sendo salva.

- De nada.

Sin parou de repente e bateu no bolso, provavelmente para me manter quieta.

- Ah... C-Chefe. O que faz aqui?