Harry Potter.

Capítulo 36


Saí correndo do escritório de Dumbledore. Não parei nem por um segundo. Se eu parasse de correr, não alcançaria Harry. Se eu parasse de correr, eu começaria a chorar.

Cheguei no saguão e vi Rony e Hermione sentados na escada, abraçados, encarando a enorme porta de Hogwarts.

- Onde ele está? - perguntei

Os dois se viraram para mim, com rostos inchados e bochechas molhadas.

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- Ele já foi, não foi? - perguntei, começando a chorar

Rony se levantou.

- Ele disse que já havia conversado com você. - disse Rony - Eu não entendo...

- Ele me mostrou as malditas lembranças e partiu antes que eu saísse da Penseira. - respondi

- Lizzie, deve haver alguma explicação para isso. - disse Rony - Harry não faria isso.

- MAS ELE FEZ E NÓS NUNCA SABEREMOS O PORQUÊ, NÃO É RONALD? - gritei - A EXPLICAÇÃO ESTÁ TÃO MORTA QUANTO ELE.

Comecei a chorar com mais intensidade e Rony me abraçou. Fechei os olhos e enterrei meu rosto em seu peito.

- Eu sinto muito. - disse Rony

- Eu sinto muito também, Ron. - murmurei

Me desvencilhei de Rony e sentei ao lado de Hermione, que chorava silenciosamente.

- Eu sinto muito, Lizzie. - disse Mione - Sobre a verdade. Não era para você descobrir desse jeito.

Assenti.

- Ele é uma mula teimosa. - eu disse - Ele nunca deveria ter dado atenção a aquele sonho.

Hermione assentiu.

Fui até uma pedra que estava no chão e a chutei. Não foi uma boa ideia. Senti uma dor lancinante nos dedos e comecei a chorar mais. Senti minha meia ficar molhada. A pedra quase nem se mexeu, no entanto.

- Oh, Lizzie. - disse Mione me puxando para junto dela novamente - Precisamos ficar fortes.

Ela tirou meu sapato e lançou um feitiço nos meu dedos, que pararam de doer. Com outro feitiço, ela limpou o sangue do meu pé e da minha meia.

Me aninhei no abraço dela e Rony sentou ao meu lado.

- Você é um cara esperto, Rony Weasley. - murmurei - Você sabe como se declarar, em uma guerra.

Rony soltou um riso e segurou minha mão.

Ele não respondeu. Apenas ficou segurando minha mão, com ternura.

As lágrimas ainda corriam pelo meu rosto, mas ali, entre os dois, eu me sentia segura.

- Lizzie, Ron, Mione! - escutei alguém dizer

Me virei e vi Neville vindo em nossa direção.

- As mandrágoras foram um sucesso. A explosão da ponte também. - ele disse contente - Vocês viram Harry?

Ele se ajoelhou na minha frente.

- Vocês estão chorando. -ele murmurou - Sinto muito, não percebi.

- Tudo bem, Nev. - eu disse - Harry... Harry.... Ele foi...

Mordi meu lábio para não chorar e conseguir terminar a frase, mas Neville já havia entendido e lágrimas saíram de seus olhos.

Olhei para o horizonte novamente e vi várias figuras se aproximando. Consegui reconhecer algumas, da distância em que eu estava. Voldemort, Bellatrix, Narcisa, Lúcio e Hagrid, que carregava o corpo sem vida de Harry.

- Oh não. -murmurei, me levantando

Neville me segurou, com firmeza.

- Não os deixem ver suas lágrimas, Lizzie. - disse ele - É o que eles querem. Limpe seu rosto, vá lá e seja a Alice que eu conheço. Sarcástica e inconveniente, quando se trata de conversar com Comensais da Morte.

Assenti.

Ele limpou minhas lágrimas com os dedos e beijou minha testa.

- Vem comigo. - ele disse, segurando minha mão.

Fomos andando para o pátio. Ao olhar para trás, vi que muitos nos acompanhavam. Neville e eu paramos no meio e cruzei meus braços.

Eu estava absolutamente furiosa. Se eu já estava muito brava com Harry, eu não conseguia nem imaginar como a raiva de Voldemort cabia no meu corpo.

Lá estava ele. Parecendo muito contente consigo mesmo. Se Voldemort tivesse sobrancelhas, elas estariam franzidas para mim.

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- Harry Potter está morto. - disse Voldemort e sua voz ecoou para todo o castelo

Voldemort riu e os comensais o seguiram.

- O Eleito! O Menino-Que-Sobreviveu! - disse Voldemort. - Morto.

- NÃO - escutei McGonagall gritar

Eu nunca havia escutado a professora fazer um som parecido com aquele. Ouvir tal som quebrou meu coração.

- Entenderam agora, seus iludidos? - continuou Voldemort - Harry Potter sempre foi um garoto. Uma criança nunca seria páreo para mim.

Ouvi Hagrid soluçar mas não o olhei. Se eu me virasse para Hagrid e Harry meu autocontrole se esvairia.

Como se pudesse ler meus pensamentos, Voldemort sorriu.

- Coloque-o aos meus pés, Hagrid. - disse Voldemort - Que é o lugar dele.

Hagrid colocou o corpo inerte no chão e me arrisquei a olhar para ele. Desviei o olhar logo. Eu não conseguia encará-lo. Me foquei em encarar Voldemort.

- Quem resistir a mim será exterminado. Quem se curvar a mim será poupado, assim como o resto de sua família. Não há mais motivos para lutarmos.

- É claro que há. - eu disse

Voldemort sorriu para mim.

- Você estava demorando para abrir essa sua adorável boquinha, hoje. - disse ele - Não nos conhecemos muito bem, querida, mas sei muito sobre você.

Ele riu.

- Olhe ao seu redor, Alice. - ele continuou - Seus amigos estão machucados, estão cansados. Seu amor está morto aos meus pés. Você lutaria pelo que?

- Eu lutarei porque meus amigos estão machucados e cansados. - eu disse - Eu lutarei porque meu amor está morto aos seus pés.

Ele soltou um muxoxo.

- Você não conhece o amor, não é, Tom? - ri - Você não poderia entender.

— Sua nojenta… - começou Bellatrix, mas se conteve ao olhar para Voldemort

Ele assumiu uma expressão furiosa, ao escutar seu nome, mas pareceu se controlar.

- Amor é para fracos, Alice. Olha o que o amor fez a Harry Potter. - ele disse - Mas eu conheço a clemência. Se aproxime, Alice.

Neguei.

- Eu disse, se aproxime.— ele disse lançando um Crucio em mim.

Ainda assim não fui.

Ele lançou outro Crucio em mim e eu deixei escapar um gritinho. Depois, ele apelou para a Maldição Imperius. Tentei resistir, mas sucumbi depois de algum segundos.

Ele me obrigou a andar até ele e me sentar no chão. Voldemort levitou o corpo de Harry e colocou sua cabeça em meu colo.

- Pronto. - disse Voldemort - Uma prova de minha misericórdia. Você pode ficar um pouco com ele, até eu decidir como matá-la.

- Posso, milorde? - perguntou Bellatrix - Me daria uma enorme alegria matar essa fedelha.

- Também te amo, Bella. - sorri

Voldemort chutou minhas costas.

- Ah, a propósito. - ele disse - Harry pediu para que lhe dizer uma coisa.

Mordi a parte interior da minha boca.

"Harry Potter, se você tiver dito que me ama, eu vou te matar uma segunda vez." pensei

- Leite, mel, canela e um pouco de baunilha. - disse Voldemort

Ouvir aquilo foi pior que ouvir qualquer declaração de amor.

Agora eu tinha a receita que tanto queria, mas eu também sabia que nunca iria usá-la.

Olhei para baixo para esconder minhas lágrimas. Infelizmente, olhar para baixo significava encarar Harry.

Vi uma lágrima minha escapar e cair em sua bochecha. Limpei-a rapidamente com a ponta dos dedos. Harry ainda estava quente. Seu rosto ainda tinha a cor e a vivacidade de sempre. Enterrei minhas mãos em seus cabelos. Como eram pretos os cabelos de Harry Potter. Eu sabia que ele não conseguia sentir, mas comecei a fazer carinho no seu couro cabeludo.

- Draco! - disse Voldemort - Junte-se a nós.

Olhei para cima e vi Draco, no meio da multidão. Ele parecia não querer juntar-se a ninguém. Narcisa e Lucio, ao meu lado, estenderam a mão para o filho.

Draco se dirigiu até o grupo de comensais, lentamente.

- Bom garoto. - disse Voldemort dando um abraço desajeitado nele, com tapinhas nas costas.

Meu olhar encontrou o de Draco e ele fez uma expressão conhecida por mim. A expressão de quando ele pedia desculpas.

Ouvi um estampido, seguido de um gemido de dor, e Neville caiu no chão próximo a mim.

- Quem é esse? - perguntou Voldemort

- É Neville Longbottom. - disse Bellatrix - O garoto que andou dando trabalho esse ano.

Voldemort o encarou.

- Você é corajoso, rapaz. Estúpido, mas corajoso. - disse ele - Você tem sangue puro, não tem?

- E se eu tiver? - disse Neville, se levantando com dificuldade

- Você é corajoso e vem de uma linhagem nobre. - Voldemort deu de ombros - Você daria um ótimo Comensal da Morte.

Neville franziu a testa.

- Me juntarei a você quando o inferno congelar. - ele disse

Voldemort riu.

- Harry Potter está morto, rapaz. - disse Voldemort - Não adianta mais resistir.

- Isso é muito maior que Harry. - disse Neville - Por cause de você, eu perdi muitos entes queridos. Meus pais estão no hospital e ficarão lá para sempre. Eu não vou deixar de lutar porque Harry está morto. Lutarei com mais força, para vinga-lo.

Voldemort o encarou.

- Neville servirá de exemplo para quem ainda quiser se opor a mim. - disse Voldemort, levantando sua varinha

Arfei e apertei com força os cabelos de Harry.

- Isso está doendo, meu amor. - ouvi uma vozinha conhecida dizer

Olhei para baixo e vi Harry sorrindo parar mim.