Toda a minha vida eu esperei por isso
Será que eu me atrevo
A deixar pra lá?
Eu estou tão assustada
Oh eu vou
Porque você
Me vê por dentro
Me faz nova
Oh obrigada
Por me deixar entrar no seu mundo
Onde dói
Eu te prometo
Esse sonho é verdade
Eu só quero dizer
Obrigada
Nós estamos voando sobre os telhados
Nunca estivemos tão alto antes
Ninguém vai nos ouvir
Thank You - Kerli

*-*-*-*-*

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Vamos.

Sorrimos os dois. Sorriso de tensão. Estamos riscando um fósforo dentro de uma mina de dinamite.

- Mas vamos amanhã. A gente não pode se precipitar. Temos que planejar cada passo dessa viagem.

- Ok.

Nos aprontamos para dormir. Já era tarde. Muito conveniente que amanhã seja sábado; apesar de estar com sono, não sei nem se vou conseguir dormir de tanto nervoso, expectativa e ansiedade.

Apenas disse uma outra coisa antes de entrar no meu quarto.

- Hey, Maria... Sobre esse seu método de conscientizar as pessoas a não fazer alguma coisa... Você está fazendo isso muito errado.

POV MARIA

A expectativa e a ansiedade em relação ao que estamos prestes a fazer confundem-se com medo, nervoso, incerteza, sanidade e excitação. Tudo misturado. Apesar disso, consegui manter a calma e a lucidez enquanto planejava o esquema de ação com Tom.

- Você tem alguma ideia de pra quando quer ir? Vamos os dois juntos, ou você vai sozinha? – perguntou.

- Tenho que ir sozinha. É melhor. E enquanto eu mexo no que for necessário, você retorna a si mesmo. Nossas lembranças estarão nas suas mãos.

- Tudo bem. Vou pedir desde já que você tome cuidado... Avalie bem o que você vai fazer. E daí, quando você volta?

- Para o presente, para hoje mesmo. Ou amanhã... Calma. A que horas nós vamos?

- Melhor à noite.

- A gente tem que configurar a geringoncinha para que a relação entre o tempo que vamos ficar ausentes e o tempo que vamos passar lá permita que nos mantenhamos seguros.

- Certo. Temos também que combinar um código, pra eu poder saber quando você estará de volta. O que mais?...

- Eu já sei o que vou fazer. Agora precisamos de uns cálculos.

Boa parte do sábado foi gasta com a organização do ato. Calculamos e configuramos o controle para a hora certa, criamos um código (baseado, por minha insistência, em frases que ele mesmo dissera em entrevistas há muito tempo atrás), misturamos suco de maracujá com chá de camomila e permanecemos mais juntos do que nunca.

Mas não era só isso. Tinha uma última preocupação que espremia meu coração e não me deixou manter a calma quando a noite caiu: Lucas. Tomamos o cuidado de mantê-lo alheio às negociações, mas agora era vinda a hora de desatar um dos lados do nó.

- Filho – disse-lhe ao entrar no quarto a fim de aprontá-lo para dormir. Sentei-me na cama e chamei-o. – Vem cá no colo.

Abracei-o e afaguei seus cabelos, dando-lhe um beijo no topo da cabeça.

- Você sabe que a mãe te ama, certo? Você é a coisa mais importante que eu tenho na vida. É por você que eu vivo... que eu me mantenho em pé... E você é o melhor filho do mundo, tá? – deixei uma lágrima silenciosa escorrer pelo meu rosto. – Você sabe que eu estou sempre com você, não importa o que aconteça... E que sem você minha vida acaba. Eu te amo muito, muito, muito... Lembre-se sempre disso, ok? Mamãe te ama. Eu te amo muito mais do que eu posso dizer.

- Eu também te amo, mãe. Mas por que você tá chorando?

- Não é nada, meu amor, só um dos meus acessos de rinite – menti. Nunca foi tão difícil contar uma mentira. – Agora dorme, tá? Boa noite. Dorme bem. Bons sonhos. Amo você.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Abracei-o de novo e deixei o quarto, sem tirar os olhos dele, lutando para não desabar no choro. Pude livrar-me das lágrimas de volta à sala, no abraço de Tom. De longe, a pior parte disso tudo é ter que deixar o meu filhinho. Serviu pra eu me acalmar um pouco – e agora só me resta esperar que ele esteja bem quando eu voltar.

Enfim, logo chegou a hora de agir. Repassamos o procedimento rapidamente, uma última vez. Apertamos as mãos um do outro. Demos um abraço mais apertado ainda.

- Tome cuidado – Tom instruiu.

Então, com as mãos unidas e os dedos entrelaçados, engolimos em seco e apertamos juntos o fatídico botão vermelho.

Conseguíramos configurar o aparelho de modo que conseguíssemos visualizar o instante exato pelo qual passaríamos. Pairamos pelos momentos em que eu discutia com Bill no acostamento da ponte da rodovia. Tom observou quando eu entrei no carro e Bill fez a mesma coisa. Ali estava ele, ali está ele. Reconheci a minha deixa, respirei fundo, olhei nos olhos do gêmeo mais velho e soltei sua mão.

Tom se foi, e eu era um fantasma sendo sugado ao meu próprio corpo, dispondo de poucos minutos para, pela primeira vez na vida, tentar fazer a coisa certa. Pisquei. Um barulho ensurdecedor invadiu meus ouvidos enquanto cada pulso frenético do meu coração me unia com as minhas lembranças. Meu carro já tinha batido no dele quando me vi fundida com elas.

Livrei-me do airbag e não pensei duas vezes. Saí do carro e fui ao encontro de Bill. Talvez eu tenha perdido algum tempo quando abri a porta do outro carro, desafivelei o cinto de segurança e o vi novamente. Bill.

- Não pode ser... Não pode ter sido agora, o coração dele ainda estava batendo...

Prendi a respiração.

- Reaja, Bill. Eu lembro que você... Vamos, eu estou aqui, EU VIM TE TRAZER DE VOLTA, PORQUE EU AMO VOCÊ! – gritei. Minhas mãos não agiam, era como se eu não as tivesse.

- N-não... – ele murmurou. No mesmo milésimo de segundo, voltei a sentir os braços e fiz a única coisa que estava ao meu alcance: abracei-o e puxei-o para fora do carro um instante depois de ele pisar no acelerador – não, não pode ser... NÃO! – caí no chão e rolei abraçada a ele. Dor insuportável no corpo todo enquanto ele gritava – ISSO NÃO PODE SER VERDADE!

Paramos de rolar. Saí de cima de seu corpo e me ajoelhei ao seu lado, acariciando sua face.

- Abra os olhos – sussurrei. – Eu estou aqui. Eu te amo, Bill Kaulitz. Como jamais amei e jamais vou amar outra pessoa.

- Mari... – ele disse com dificuldade, abrindo uma frestinha dos olhos. – É você...?

- Sim, Bill. Eu estou aqui. – não deixei meus olhos lacrimejarem, eu precisava continuar vendo-o.

- Vem aqui... mais perto de mim.

Pus o cabelo atrás da orelha, aproximei-me de seu rosto e o abracei, deixando-me chorar, porque eu conseguira salvá-lo. Bill trouxe uma das mãos e enterrou-a em meus cabelos. Sequei as lágrimas com a manga da blusa e me entreguei ao seu beijo.

Nesse momento, separei-me do meu corpo – o tempo havia se esgotado – e, ouvindo novo trovão, desapareci dali.

MARIA OFF

Acordei num sobressalto no avião, no meio da madrugada.

- Tom? Tudo bem? – pergunta Bill ao meu lado.

- Tudo ok. Foi só um calafrio. – nada estranho, desde que eu nunca perdi o medo de avião. – Que dia é hoje?

- Sete de dezembro. Digo, oito. Madrugada. Entre sábado e domingo.

- Ano de 2024, certo?

- Hã, certo. Tudo bem com a sua cabeça?

- Acho que está.

Sete de dezembro de 2024. Eu conheço essa data. Mas oito, não. Reconheci a situação – estávamos voltando de um festival na Austrália -, e tratei de ocupar o resto do trajeto (já que dormir eu definitivamente não iria) recapitulando os principais acontecimentos dos últimos quatro anos, já pincelando a esperancinha de ouvir um certo código quando chegarmos em casa.

Começando pelo mês de outubro de 2020, em que eu juro que quase infartei ao tomar consciência do que estava acontecendo. Nunca fiquei tão nervoso e preocupado na vida. Sentia que tinha um rolo compressor tentando me tirar os pulmões e o coração pela boca. Em seguida, nunca me senti tão aliviado quando Bill entrou no quarto do hotel, junto com a Maria, já no começo da noite. Não pude evitar correr até ele e abraçá-lo, justificando que apenas me dera uma vontade súbita de fazê-lo. Fui retribuído. Aquele estado de onisciência já havia se extinguido, mas deixara o nervosismo que se dissolveu quando troquei um olhar cúmplice com ela.

Que o meu irmão e a minha amiga retardada nunca deixaram de amar um ao outro, nunca me foi surpresa. Depois do reencontro, deram um tempo a si mesmos, até para se reacostumarem (à distância, já que estávamos em turnê). Bill não escondeu de ninguém – só da imprensa, claro – que desde fevereiro do ano seguinte estava namorando com ela, de longe. Não tinha um dia em que não passavam duas horas conversando por vídeo durante o dia e mais duas horas no telefone à noite. Eu também falava com ela, quando conseguia arrancar o aparelho da mão do Bill.

Antes da metade de 2022, nós voltamos a encontrá-la, em LA. Tenho certeza de que foi nessa ocasião que os dois foram para a cama (sim, porque eu tinha ido bater perna junto com o Georg e, quando voltei, encontrei a porta trancada – a saída foi dormir no chão do quarto do Hagen). Bom, essa parte não me diz respeito. Na verdade, foi a Maria que me contou, noutra ocasião, mas eu dispensei os detalhes.

Maria voltou à Alemanha rapidamente no fim de agosto de 2023, a trabalho. Bill esteve com ela, mas eu não a vi. Em compensação, trouxe-me a notícia de que ela voltaria no fim do ano, de férias, com o filho. Eu ainda não tinha visto o Lucas depois do nosso retorno, então fiquei particularmente ansioso; já o Bill ficou completamente ansioso e empolgado. No começo, Lucas ficou marrento com nós dois (principalmente com o meu irmão); mas logo se afeiçoou a nós, ficou alucinado quando lhe contamos a história de como conhecemos sua mãe e da nossa carreira, e por fim não quis ir embora no fim do mês, entre o Natal e o Ano Novo.

O começo de 2024 foi igual ao da outra vez: Maria teve que brigar na justiça pela guarda do filho. Não estive lá de ilustríssimo hóspede e também não houvera psicanálise ou tarja preta; o crápula do pai do garoto apelou para a relação de Bill e Maria (com a qual, a essa altura, a mídia já se deliciara e já se satisfizera), dizendo que “poderíamos afetar a boa educação do menino”. Ela estava mais forte e ganhou, claro; mas quando veio, em julho, morar definitivamente conosco, na Alemanha, era visível o quanto Lucas havia sofrido com aquilo tudo. Foi por aí que o Bill se aproximou de verdade dele. Tratava-o como se fosse o pai dele e, quando soube que ele só tinha o nome da mãe nos documentos, resolveu sê-lo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Por último, lembro-me de que falamos ao telefone com a Maria ontem, pouco antes da viagem. E hoje, logo que pousamos, Bill passou num lugar antes de irmos pra casa.

POV BILL

A primeira coisa que fiz ao chegar em casa (tirando que precisei ir ao banheiro) foi ir direto ao quarto do Lucas e entregar-lhe o que estava dentro do envelope. Acordei-o com um leve chacoalhão.

- Oi, Bill. Quer dizer, pai. – falou, sonolento. Sorri ao lembrar que ele tinha me perguntado, antes de irmos para a Austrália, se podia me chamar de pai.

- Trouxe um negócio pra você. – estendi-lhe o envelope.

Ele bocejou, sentou-se na cama e abriu. Tirou o papel lá de dentro e leu linha por linha. Arregalou os olhos pra mim quando terminou. Percebi que Tom entrava no quarto e convidei:

- Quer contar pro Tom o que tá escrito aí?

- Isso é um documento... – começou. – O meu documento. E aqui diz que o Bill é o meu pai.

- Isso mesmo – confirmei. – Na verdade, o Tom já sabia. A partir de hoje eu sou o seu pai.

Trocamos abraços e socos e fomos ao quarto ao lado contar a novidade à Maria – e, claro, saber o que ela tinha dito ontem ao telefone que precisava me contar.

BILL OFF

POV MARIA

Acordei com um sopro no ouvido que se transformou em beijos descendo pelo meu maxilar e terminando nos meus lábios.

- Bom dia – ouvi um sussurro. Abri os olhos e vi o sorriso mais lindo do mundo.

- Bill! – agarrei-me a ele, beijando-o e abraçando-o sem esconder a emoção de perceber que tudo tinha dado certo. Tom estava ao lado, com Lucas junto, me segurei para não pular e abraçar o meu menino também. Eu só não sei o que está acontecendo.

- A gente tem uma coisa pra te mostrar – disse Bill. Lucas me entregou uma folha de papel e algumas peças se encaixaram quando terminei de ler.

- Meu Deus, Bill, você registrou o Lucas como seu filho?

- É. – respondeu. – Era o mínimo que eu podia fazer por ele. Eu adoro esse garoto, isso não é segredo pra ninguém. Sempre o tratei como meu filho e agora ele o é.

Eu apenas sorri, ainda meio desorientada. Precisava ficar a sós com Tom e tive uma ideia:

- Vocês querem trazer alguma coisa pra eu comer? Tô morrendo de fome.

Bill e Lucas voaram para fora do quarto, prontamente. Tom ia indo atrás, mas antes que cruzasse a porta eu o chamei:

- Tom... tem um buraco na sua camiseta. – falei em inglês.

- Não se preocupe, seu inglês é perfeito – ele voltou, sorrindo.

- Isso é mentiraaa, mentiraaa – prossegui, vendo que ele entendeu o recado.

- Você disse, vamos ser amigos?

- Não tente ser alguma coisa que you don’t are.

- Você não perde uma, hein? Bem-vinda de volta.

- Obrigada, Tom. Perdi muita coisa?

- Mais ou menos. Mas tem uma coisa em especial que eu preciso te dizer antes que o Bill volte aí.

- Então apure.

- É uma grande ironia que eu tenha que lhe comunicar isso, mas lá vai: você tá grávida.