Anti-social

Bom humor, ou apenas gripe


Acordei sendo chacoalhado, mas não abri os olhos.

─ Nm... ─ Resmunguei, me escondendo debaixo do cobertor.

─ Não durma sentado, ainda mais no sofá! ─ A garota reclamava, mas eu a empurrei para trás, colocando minha mão em seu rosto.

─ Ugh... ─ Esfreguei os olhos. ─ Já acabou aquele documentário sobre a 2ª revolução industrial?

─ Acabou faz tempo. ─ Ela se sentou, emburrada, de braços cruzados. ─ Só não te acordei antes porque eu dormi também.

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─ Então por quê escolheu aquele canal? ─ Suspirei pesado, e coloquei em um filme, não lembro qual.

O dia estava ficando cada vez mais frio e, para deixar mais legal ainda, o termostato estava quebrado. Estávamos cada um usando um cobertor grosso, em silêncio, assistindo à televisão, e meu pai no quarto dele, provavelmente usando o computador.

Olhei para Sarah. "Eu tenho que a mostrar a mensagem do pai dela. Não posso me esquecer..." Que droga, por quê eu estava enrolando tanto para dizer a notícia?

─ Erm... O seu pai me mandou um e-mail. ─ Falei de repente, não querendo mais atrasar o assunto. Se não, depois ela diria "Por quê não me disse antes?!" ou algo assim.

─ Sobre o quê? ─ Ela se virou para mim, tirando a atenção do filme. ─ ... Você deu seu e-mail para ele quando? Não consigo imaginar vocês dois trocando mensagens.

─ Não sei como ele o conseguiu, mas isso não importa. Ele pediu para você não evitar mais falar com ele e, bem... Ah, leia você mesma. ─ Abri a caixa de mensagens no celular e entreguei para ela, selecionando a segunda mensagem da lista(propagandas não contam).

Ela não levou muito tempo para ler, mas o fez com uma expressão estranha, algo como uma mistura de raiva com indignação e mais uma pitada de seriedade.

─ Aquele velho otário e ignorante! ─ Fiquei bobo ao vê-la falando do próprio pai assim, mas eu a apoiava, de qualquer maneira. ─ Nem me fala nada antes!

─ Bom, ele tentou te ligar, mas- ─ Comecei a explicar, mas fui interrompido.

─ NÃO IMPORTA! ELE NÃO TEM QUE DECIDIR AS COISAS POR MIM! ─ Ela gritou para mim com uma aura ameaçadora, o que, de certa forma, me deu medo. ─ E ele sabe que eu não quis me distanciar de ninguém e por isso fiquei, mas ele liga pra isso? NÃO.

─ Olha, eu acho que nós po- ─ Fui interrompido mais uma vez.

─ Aquele cara nunca pensa no que eu vou sentir, nunca! Sempre agiu ao seu próprio gosto! E eu admito que fiquei surpresa quando ele me deixou ficar aqui, mas eu sabia que ele tinha algum plano por trás disso! EU ODEIO ELE! ─ Ela continuava com uma aura assassina cada vez maior. "Tá, agora eu to ficando com bastante medo do que ela pode fazer."

─ Calma. ─ Coloquei as mãos em seus ombros, tentando amenizar a situação. ─ Se você não quiser ir, eu não tenho nenhum problema em deixar você morar aqui permanentemente. Meu pai também não.

Ela se ajeitou, e ficou com um olhar pensativo. ─ Dessa vez ele não vai ceder. Não é que eu não goste dos meus tios, mas... Eu não quero ficar longe de... T-Todo mundo.

─ Se você não quer ir, você não vai. ─ Falei.

─ Como não vou?

─ Eu não vou deixar. ─ Respondi, determinado, e com um sorriso no rosto. ─ Pode contar com isso. ─ Ela ficou corada e envergonhada, e eu ri. Aquilo nunca iria perder a graça.

─ AAAAAAAAAAAAAAATCHU! ─ Espirrei alto, com uma força de 250Km/h(pelo menos foi o que senti)

─ Eca, põe a mão na boca e no nariz, não sai cuspindo tudo! ─ Sarah me olhou com nojo.

─ Melhor sair do que ficar acumulado dentro do nariz. ─ Falei, rindo, depois me levantei. ─ Vou pro meu quarto, ok?

─ Tá. ─ Subi as escadas e fui direto para o dito cujo, me atirando em minha cama. "Que cansaço... E olha que eu fiquei sentado o dia todo."

Meu celular tremeu em meu bolso, e eu o peguei para ver o que era. Uma mensagem dele. Dizia "Já a avisou? Preciso saber se ela já está se arrumando para ir para as casas dos tios, porque em pouco tempo eles já se mudarão.".

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Ri. Ri lendo aquilo.

Ainda com um sorriso, respondi "Por quê não pergunta para ela?", enviei e desliguei o celular. Deitei-me com os braços atrás da nuca, e fiquei encarando o teto. Ouvi o barulho de patas andando pelo chão, e ficando cada vez mais próximo de mim. Olhei para o lado e vi Fênix com sua bolinha na boca, sentado, e abanando o rabo para mim.

─ Tem sorte de eu estar de bom humor hoje. ─ Peguei o objeto e taquei para o corredor. O cão me observou por alguns segundos, como se estivesse surpreso, e saiu correndo para pegá-la. Era engraçado vê-lo fazendo aquilo. Ele corria escorregando, atravessando tudo e todos apenas por causa de um brinquedo, que logo depois trazia de volta para ser lançado novamente. Era tão bobo, mas ele adorava. Quando ambos nos cansamos, eu acabei dormindo.

Sonhei com mãos. Isso mesmo, mãos. Mãos que caíam do céu. Por quê meus sonhos sempre tinham que ter algo estranho chovendo? Abri os olhos, e vi o rosto de Sarah bem à minha frente, e sua mão na minha testa.

─ AAAAAH! ─ Gritei, batendo a cabeça na madeira da cama. ─ Que susto! O que está fazendo?

─ Eu vim te chamar para jantar, mas o seu rosto estava vermelho, então eu estava checando se você estava com febre. E está. ─ Ela sacou um termômetro não sei da onde ─ Meça sua temperatura, vou pedir um remédio pro seu pai.

─ Não tem necessidade disso... ─ Reclamei.

─ TEM. ─ Ela deu a palavra final, apontando o objeto para mim como se fosse uma arma.

─ Tá, tá. ─ Dei-me por vencido e fiz o que mandara, enquanto a mesma ia buscar o tal remédio.

Não demorou muito, na verdade, acho que não se passou de um minuto, e ela voltou. Ficou cheia de seus cuidados exagerados, e eu comecei a ficar entediado.

Ela estava sentada ao meu lado, estávamos conversando sobre qualquer coisa. Nossos olhos se cruzaram, e não vi motivos mais para me segurar.

Dei uma boa inspirada de ar, e aproximei minha mão de seu queixo. Os olhos dela brilhavam, e ela parecia com muita vergonha, mas não queria sair dali. Nem eu.

Meu coração batia rápido novamente. Bom, pelo menos agora eu sabia o porquê. Dei um leve sorriso e acabei com a distância entre nossos lábios, os selando em um beijo.