– Desculpa Ichigo. – Falei pela quarta vez, abraçando-o fortemente. – Eu tive um sonho horrível e ...

– Pare de chorar Yuna...Vamos, levante-se. Foi só um pesadelo...

Levantei-me do chão e contei o sonho pra ele enquanto caminhávamos. Ele ficou contente e disse que aquilo só poderia ser sentimento de culpa por ter saído de casa. Mas ainda assim, eu não via motivo pra tentar matá-lo sonambulamente.

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– Como vamos comer? - Perguntei.

– Já pensei nisso. É bem simples: vamos pedir aos habitantes do povoado.

– E se não derem?

– Se não derem ficará complicado.

Naquele momento senti uma vontade verdadeira de esganar Ichigo. Como poderíamos sobreviver com o que dessem pra gente? Isso é impossível. Como nós, esses aldeões deveriam sobreviver do que colhessem e talvez fossem tão pobres quanto o nosso povoado. Se pelo menos fossem pobres e generosos já estava bom.

Caminhamos cerca de quatro horas quando avistamos uma casinha isolada num campo cercado. Chegamos lá, batemos na porta e uma senhorinha veio nos atender.

– O que querem crianças? - Ela perguntou levantando uma sobrancelha, sem sair de dentro de casa.

– Somos peregrinos...

Antes que eu terminasse de falar ela bateu a porta na nossa cara e disse para irmos embora que ela não tinha nada de valor e que parássemos de atormentar a vida dos outros.

– Ela deve ter tido uma experiência ruim com samurais. - Disse Ichigo justificando a aversão da velha perante a nós.

– Só ela?

Continuamos caminhando por mais alguns minutos e nos deparamos com uma enorme feira na rua principal de uma pequeníssima cidade. Havia comida por todo lado. Meus olhos brilharam, com certeza. Minha boca começou a salivar e as pernas criaram uma força que veio do além.

Corri até uma barraquinha e falei com um senhor bem velhinho.

– Olá senhor. Somos pe... - A partir daí não falei mais uma palavra porque Ichigo fez o favor de tomar a palavra.

– Estamos numa longa viagem, indo para o Tibet, pedir ajuda para as pequenas cidades, como essa e de onde estamos vindo. O senhor sabe mais que nós as dificuldades que temos que passar pela vida, mas é por isso, que deixamos nosso lar e estamos indo para lá.

O senhor abriu um sorriso desdentado e apertou a mão de Ichigo, servindo-nos com frutas e grãos.

– Vocês são muito corajosos, e você rapaz, fala como eu, quando era jovem... Espero que eu consiga ver as mudanças que vocês proporcionarão com essa longa caminhada.

Curvamo-nos frente ao senhor e agradecemos. Vimos a feira acabar e as pessoas irem aos poucos para suas casas. A tarde logo iria cair, mas fazia um calor infernal.

– Por que não disse àquele senhor que somos peregrinos? - perguntei.

– Não viu a reação daquela senhora? Ele poderia fazer a mesma coisa. Imagine uma vila inteira contra nós.

Permaneci quieta, concordando com ele. Passamos frente a um tipo de santuário onde havia oferendas. Entrei para ver se alguém nos observava.

– Desde quando é religiosa, Yuna?

– Eu só vim pegar os biscoitos.

Disse enrolando biscoitos num pano e guardando dentro do bolso da calça.

– Precisamos de cobertas. - Falou Ichigo - Para montarmos uma cabana, ou morreremos de frio.

Parei de mastigar por um momento, encarando a barraca de um feirante, morrendo de inveja do seu toldo. Como Ichigo conseguia pensar no frio da noite num calor escaldante como aquele?

– Yuna? Estou falando com você.

– Tenho uma ideia, mas não vai gostar.

– Já até imagino o que seja. - Ele bufou sentando do meu lado - De onde vamos roubar agora?

Apontei para o vilarejo do outro lado da rua onde uma infinidade de roupas e lençóis estendidos sobre o mesmo varal, secavam sobre o sol.

– Mas está tudo molhado agora.

– Eu sei. Por isso temos que ir dormir agora, para caminharmos pra bem longe daqui a noite, quando pegarmos.

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Ele me olhou de lado por bons segundos.

– Desde quando você é assim Yuna?

– Desde que eu preciso roubar para sobreviver. - Respondi tristemente à ele, na tentativa de justificar as injustiças cometidas.