Evolet Potter

Capítulo 7


Enquanto levava lentamente uma colher de pudim à boca ouvia o que falavam ao meu redor.

_Ela defendeu o Potter. Pensei que ela o odiasse...

_Nem me diga...

_Ela nem estava na escola quando ele inventou essa historia...

_Tomara que a Umbridge arranque o coro de Sangue-Ruim dela na detenção._a ultima frase veio da Pansy Buldogue.

Olhei para a mesa da Grifinória e percebi Harry de cabeça baixa. Ele não comia, e isso por algum motivo me fez perder a fome.

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Levantei-me da mesa com raiva e sai do salão com passos apressados. Eu podia magoar o Harry o quanto quisesse, mas eles não. O irmão era meu! Não deles!

Cheguei ao Salão da Sonserina e fui para o dormitório das meninas. Me joguei na minha cama, parando apenas para tirar os sapatos e pegar o Boris de cima da cama de outra menina.

Deitei na cama e o coloquei ao meu lado.

Encarei seus olhinhos redondos.

_Quantas vezes a mamãe já disse pra você não dormir na cama desse povinho? Eles podem ter pulgas! _beijei seu narizinho rosa e depois olhei para o teto.

Boris veio se deitar em cima da minha barriga, e eu comecei a acariciar seu pêlo. Não sei exatamente quanto tempo fiquei assim, mas sei que adormeci.

(...)

Horrível.

Eu estava horrível.

Tinha dormido de maquiagem e parecia um panda.

O dia estava escuro e chovia forte. Coloquei minhas vestes normais, mas dessa vez acrescentei a capa e o cachecol verde e prata da Sonserina.

Deixei meus cabelos soltos, que estavam ainda mais lindos por causa do tempo. Passei um lápis de olho, um rímel, e um gloss incolor.

Fui até meu malão separar o material que iria usar e vi Boris todo encolhido no meio das minhas cobertas.

_Seu gato covarde. _sussurrei.

Ele me olhou, deu um miado apavorado, e depois entrou no meio do amontoado de verde e prata que era uma colcha.

Desci pra tomar o café.

(...)

Comecei a observar a sala do Prof. Flitwick.

Será mesmo que ele ainda estava falando sobre N.O.M.s?

_Vocês não podem se esquecer _continuou com a voz de rato, chacoalhando precariamente sobre a pilha de livros em que subia em cima pra enxergar por cima da mesa _é que os exames podem mudar seus futuros! Se ainda não decidiram suas carreiras, então agora é a hora! Vocês precisam provar o que valem!

Depois disso tivemos que agüentar mais um período de Herbologia, e a professora McGonagall nos dizendo a mesma coisa que Flitwick.

_Não vão conseguir passar nos exames se não se aplicarem. _ela disse seriamente. _Todos aqui nessa sala tem a mesma quantidade de capacidade de passar nos N.O.M.s...

_Mas é claro que a Sangue-Ruim cover da Sabe-Tudo-Granger tem mais chance. _Disse Buldogue friamente.

_Desculpe? _McGonagall perguntou confusa.

_Até onde eu sei, ela anda dando uma de inteligente pra tentar levar a fama da Granger.

Senti meu queixo cair.

_Que ótima fama! _disse asperamente. _E pra uma pessoa que tem absolutamente todas as aulas comigo, você anda meio desligadinha, querida.

Ela me olhou com ódio, e abriu a boca, mas McGonagall a cortou.

_Isso não está em questão. E senhorita Parkinson, creio eu que todas as pessoas têm a mesma capacidade de aprender. _dizendo isso ela retornou ao assunto nos N.O.M.s.

Terminando o assunto nós treinamos Feitiços de Desaparição. Consegui fazer minha lesma sumir na segunda tentativa, que ela disse ter sido a melhor que já viu, e pra minha infelicidade ela comentou que a Granger tinha conseguido na terceira.

Se eu já estava sendo comparada com a Sabe-Tudo, as coisas estavam ruins mesmo.

Mas como prêmio, ela me deixou sem dever de casa, e adicionou 10 pontos para a Sonserina.

A hora do almoço foi normal, mas eu não vi Harry, e percebi mesmo sem consciência que por incrível que pareça eu queria vê-lo. Hermione estava à mesa. Vermelha. Supus que fosse de raiva pela forma que ela cerrava os punhos e encarava a comida.

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Ela se virou e encontrou meu olhar. Ao invés de desviar, ela me fuzilou com os olhos e depois se levantou e saiu dali.

Acho que a Sabe-Tudo já sabia que eu sabia mais do que ela.

Nossa... isso soou estranho.

Desci o gramado do castelo em direção à cabana de Hagrid para a minha aula com a Profª Grubbly-Plank.

Hagrid havia sumido, e eu não sabia nem me interessava pelo por que.

Observei Malfoy, Crabbe, Goyle e a Buldogue olharem pro Harry e rirem. Pelos menos assim me deixavam em paz.

_Todos estão aqui? _a professora perguntou irritada.

Esperamos todos ficarem em volta de uma mesa e ela deu um suspiro.

_Alguém sabe me dizer o nome disso? _ela apontou os gravetos sobre a mesa.

Imediatamente minha mão se ergueu, mas percebi que não fui a única. Hermione também ergueu a dela.

Encaramos-nos por um momento, e eu estiquei ainda mais a mão. Ela também.

Buldogue teve um acesso de risos e Malfoy fez uma imitação dentuça de Hermione e começou a dar pulinhos.

De repente Buldogue gritou quando os gravetos saltaram no ar, e revelaram ser idênticos a minúsculos diabretes feitos de madeira.

Cada um com nodosos braços e pernas marrons, dois dedos em cada mão e cara achatada, onde brilhavam dois olhinhos de besouro.

Parvati e Lilá fizeram sons de impressionadas.

_Por favor, falem baixo. _a professora repreendeu. Ela espalhou algo parecido com arroz entre os bichos, que eu reconheci como bichos-de-conta, e eles atacaram a comida. _Então? Alguém sabe o nome deles?

Hermione ergueu a mão antes de mim e me olhou vitoriosa quando a professora apontou pra ela.

Claro que eu vou falar primeiro.

_Tronquilhos._disse amavelmente e Hermione me fuzilou com os olhos. _São guardiões de árvores e geralmente vivem em árvores próprias para as varinhas.

_Cinco pontos a mais para a Sonserina. _a professora disse. _São Tronquilhos, exatamente como a senhorita Potter disse. Alguém sabe o que eles comem?

Hermione abriu a boca, mas novamente fui mais rápida.

_Bichos-de-conta. _disse alta e rapidamente. Hermione encheu os olhos de lagrimas e me olhou com um ódio profundo. _E também ovos de fada, quando conseguem encontrar algum.

_Perfeito, garota! Mais cinco pontos! Agora, quando vocês precisarem de madeira de uma árvore em que há um tronquilho, levem bichos-de-conta para distraí-lo. Eles não parecem perigosos, mas quando irritados podem tentar arrancar seus olhos com os dedos, que como vemos são muito afiados. Tenho aqui bichos-de-conta para vocês se aproximarem deles, então se dividam em grupos de três. Quero um esboço de cada parte do corpo deles até o término da nossa aula.

Quando todos se aproximaram das criaturinhas, percebi que Harry foi para perto da professora, mas nem liguei.

Fui olhar os tronquilhos, e como eu já sabia, era um mais feio que o outro.

Fingi observar um tronquilho, mas na verdade prestava a atenção em Malfoy, que estava conversando com Harry. Não conseguia ouvir, mas acho que era uma discussão em voz baixa.

Malfoy deu as costas a ele enquanto ria e se afastou com um tronquilho enorme para perto de Crabbe e Goyle. Ele viu meu olhar e piscou pra mim.

Senti meu rosto esquentar, fiz uma careta de indiferença e peguei o primeiro que eu vi.

Esse era magrelinho e pequeno.

Coloquei o bichinho na grama, tentando ficar o mais afastada que o espaço permitia de Harry, e dei os bichos-de-conta pro bichinho parar quieto.

_É _ouvi Malfoy dizer a distancia. Ele dizia alto, então tenho certeza que era para se fazer ouvir _ papai conversou com o ministro, e parece que o Ministério realmente decidiu agir com rigor pra acabar com a porcaria de ensino daqui. Por isso, mesmo que aquele retardado supernutrido volte, ele será despedido na hora!

Fingi que não tinha ouvido, mas minha raiva aumentou quando ouvi os imbecis do Crabbe e do Goyle rindo.

Continuei tentando desenhar a cabeça do tronquilho, mas tava difícil.

Observei quando o tronquilho de Harry disparou para a floresta, e as risadas dos dois aumentarem.

Terminei meu desenho antes de todo mundo e por isso fiquei sem dever de casa.

Sorri cinicamente pra Granger, que estava com uma calma forçada.

Quando minhas aulas terminaram, corri até o Salão da Sonserina, joguei minha mochila sobre a cama de qualquer jeito, tomei um banho rapidinho, coloquei o uniforme, dei um beijo no Boris e desci correndo pro Salão Principal pra comer alguma coisa, já que teria detenções com a Sapona.

Consegui comer um pouco, mas estava dez minutos atrasada quando corri até a sala da Umbridge que ficava no terceiro andar.

Bati apressadamente na porta e ouvi uma voz melosa e arrastada:

_Entre.

Entrei olhando o ambiente.

As paredes eram todas cobertas por tecidos, vários vasos com flores secas estavam espalhados por lá, todos em cima de um paninho rosa. Em uma das paredes, dezenas de pratos decorativos com gatinhos estampados. Alguns brincavam, outros não. Cada um com um laço diferente.

Senti meu queixo cair com tanta viadisse, e só lembrei o porquê de estar ali quando ela me chamou.

_Pode se sentar senhorita Potter. _ela disse com a voz insuportavelmente infantil.

Ela usava vestes de flores claras que pareciam ser do mesmo tecido que o da parede às suas costas.

_A senhorita está atrasada. _disse com a voz doce.

A encarei por alguns segundos, depois me sentei mecanicamente ao lado do Harry.

Não o olhei nenhuma vez, mas senti que ele me olhava. Olhei para a mesa e vi dois pergaminhos, um pra mim, outro pro Harry.

_Professora, ér... antes de começarmos... hum... gostaria de lhe pedir um... favor. _Harry gaguejou e o encarei.

Ela estreitou os olhos.

_Ah, é?

_Eu sou do time de quadribol da Grifinória... e…tenho que participar dos testes para o novo goleiro… às cinco na sexta-feira... pensei se eu poderia faltar pra... cumprir... trocar...

Ele se silenciou. Pela cara dela era completamente obvio que o pedido foi em vão, então ele desistiu.

_Ah, não!_ela sorriu tão grande que me perguntei como não rasgou o rosto. _Não, não, não. _cantarolou. _Esse é o seu castigo por espalhar historias maldosas para chamar a atenção, senhor Potter. O senhor e a senhorita Potter estarão aqui amanhã, depois de manhã e sexta-feira também, exatamente às cinco horas. E cumprirão as detenções da forma que eu programar. É muito o bom o senhor ser privado de algo que queira fazer, afinal, isso reforçará sua lição. Encontrarei algo para reforçar a lição da senhorita Potter também. _ela sorriu pra mim.

Senti vontade de vomitar.

Não tinha mais o que tirar de mim. Já havia perdido minha escola, meus amigos, e minha família. Só me restava o Boris.

Harry por incrível que parece manteve a boca fechada, só a olhando nos olhos. Após um segundo, ele desviou, e ela sorriu ainda mais.

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_Agora, vocês dois vão escrever algumas frases pra mim.

_Não trouxe pena. _disse asperamente, e ela me encarou.

_Vão usar penas especiais. _ela me entregou uma longa pena preta com a ponta anormalmente aguda, e uma para o Harry _Escreverão: Não devo contar mentiras.

_Quantas vezes? _perguntamos juntos, nos entreolhamos, e depois desviamos os olhos.

_Tempo suficiente para a frase penetrar. _ela disse isso como se fosse uma criança contando uma travessura pro irmão mais velho que não iria dedurá-la à mãe. _Comecem.

Umbridge se sentou atrás de sua escrivaninha e começou a olhar papéis. Com toda a certeza deveres para corrigir.

Pigarreei.

_Onde está a tinta?_perguntei arqueando uma sobrancelha e Harry concordou com um aceno de cabeça.

Droga! Não era pra ele concordar comigo! Ele tem que me odiar. Assim eu o odeio em resposta e não fico como se fosse a má da historia.

_Não precisam de tinta. _ela disse com uma risadinha.

Nada bom.

Encostei a pena no papel, mas não escrevi. Esperei Harry terminar a frase, e quando terminou, ele soltou uma exclamação de dor. Observei com descrença enquanto a frase “Não devo contar mentiras” apareceu em sua mão direita com a própria caligrafia torta, depois sumiram, deixando apenas uma marca vermelha.

Olhei para Umbridge e ela sorria.

_Algum problema? _perguntou ao Harry.

_Nenhum. _ele sussurrou.

_E com você, querida? _ela me encarou, e eu a olhei chocada.

Neguei com a cabeça, incapaz de falar.

_Então escreva. _disse meigamente.

E foi isso que eu fiz.

Escrevi com minha letra cheia e pequena “Não devo contar mentiras” e mordi o lábio inferior quando as senti cortar a pele de minha mão direita. Observei com lagrimas nos olhos enquanto elas sumiam. E assim a detenção prosseguiu.

Fiquei horas escrevendo, mas não quis demonstrar fraqueza, porque senti que ela revezava olhares entre mim e Harry. Escrevi sem reclamar, sem parar, e acima de tudo, sem dar nenhum gemido de dor, nem o mais baixo que fosse.

Não fiz som algum.

_Tudo bem. _ela disse finalmente. _Senhor Potter, você primeiro. _ela disse com um sorriso esticando a mão pra ele.

Ele se levantou e eu o observei ir até ela.

Sua mão estava em carne viva, mas a minha estava pior.

As palavras na mão dele estavam apenas avermelhadas, mas ainda não estavam profundamente marcadas, mas as minhas estavam porque eu era muito mais branca que ele, e provavelmente as cicatrizes ficariam pra sempre.

_Acho que ainda não penetrou o suficiente. Mas nós temos amanhã. _ela sorriu e soltou a mão dele.

_Senhorita Potter? _ela me esticou a mão e eu me levantei vacilante.

Estiquei a mão pra ela, e me senti uma fraca quando vi minha mão tremendo.

_Hum... essa sim penetrou bastante... mas acho que seria bom se ficasse ainda mais marcada. Teremos amanhã. Podem sair. E lembrem-se: amanhã às cinco horas.

Saímos juntos da sala e ignoramos um ao outro. Eu estava apavorada, podia sentir minha pele fria e meus olhos arregalados. Meus dentes estavam cerrados com força e eu daria minha vida pra apostar que estava branca como papel.

Harry foi para um lado e eu para o outro, e assim que tive certeza de que não era mais vista, comecei a chorar e saí correndo.

Não agüentaria chegar até o Salão da Sonserina. Não queria que me vissem chorar.

Joguei-me aos pés de um pilar no meio de um corredor e comecei a soluçar.

_Ela não ta aqui, ela não ta aqui. _disse baixo pra mim mesma. _calma, calma.

Estiquei a mão em que minha própria letra marcara “Não devo contar mentiras” e soprei o machucado.

Sequei o rosto com a manga da camiseta e me levantei ainda vacilante.

Eu estava com fome, com frio, com sono, e mais ainda com medo.

Fui até o Salão me apoiando nas paredes. Não tinha sentido estar tão fraca, mas quando eu tinha medo, ficava assim.

Vi Malfoy sentado em um dos sofás. Ele arregalou os olhos quando me viu.

Desviei dele e fui em direção ao dormitório das meninas, mas ele segurou meu braço quando pisei na escada.

_O que aconteceu? _ele murmurou enquanto me puxava pra ir até o sofá.

Ele me sentou e se sentou ao meu lado, me olhando preocupado.

Neguei com a cabeça.

_Alguma coisa aconteceu. Você ta mais branca do que o normal, e sua boca ta roxa. Fora que seus olhos estão arregalados.

Continuei o fitando, tentando entender o que ele dizia. Inclinei a cabeça de lado e o observei.

_Evolet? Você esta bem? Pelo amor de Merlin! Não ficou louca nem nada, né? Sei que teve detenção com a Umbridge. Ela fez alguma coisa com você? Ela te machucou? Pelo amor de Merlin, me responde!

Ele me segurou pelos braços e os apertou. Mordi o lábio inferior e concordei com a cabeça.

Ele me envolveu com seus braços e eu continuei parada. Não correspondi o abraço, mas também não o neguei.

_Fala comigo. _ele sussurrou e beijou meu cabelo. _Já disse que você cheira bem?

Neguei com a cabeça.

_Você cheira bem.

O encarei e sorri debilmente.

_Eu sei. _sussurrei.

Minha voz estava falha e rouca.

Ele colocou as mãos no meu rosto, uma de cada lado da bochecha, e me fitou com seriedade.

_Você quer me contar o que aconteceu?

Neguei com a cabeça.

_Eu vou respeitar isso, vou ficar aqui com você, tudo bem? Mas amanhã você vai ter que me contar tudo. Promete?

O encarei.

_Não posso, Malfoy. Juro que não posso.

_Claro que você pode! Porque não poderia?! Não sei o que ela fez com você! Mas juro que se ela encostou em um fio de cabelo seu...

_Você não vai fazer nada. _sussurrei e ele se calou imediatamente. _Você não tem nada a ver com isso. Você nem é nada meu, Malfoy. O máximo que você pode fazer por mim no momento é fingir que eu não existo. É não dizer pra ninguém que me viu chegando a essa hora e o estado em que eu estava. Você promete?

Ele me fitou e negou com a cabeça.

_Vou contar ao Dumbledore.

_Você não tem esse direito.

_Tenho sim.

_Não. Você não vai!

_Vou sim, Evolet. Eu vou contar ao Dumbledore!

Senti meus olhos se enxerem de lagrimas, me levantei e corri em direção ao meu dormitório. Sabia que se um menino tentasse entrar ali a escada viraria um escorregador e ele escorregaria de volta.

Em silencio pra não acordar as pragas com quem eu dividia o dormitório, peguei meu pijama e fui tomar um banho.

Lavei bem meu cabelo usando apenas a mão esquerda e coloquei um pouco de água fria na direita, o que aliviou um pouco a dor.

Vesti meu pijama, sequei meu cabelo com a toalha – o que não adiantou nada – e fui até minha cama. Vi pela fresta de luz da janela os grandes e redondos olhos de Boris. Assim que me deitei, ele se aproximou de mim e lambeu meu rosto.

Isso era coisa que cachorro fazia, mas Boris sempre foi meio estranho.

Sua língua parecia uma lixa – toda língua de gato é assim – então não foi muito bom, mas senti uma lagrima solitária descer pelo meu rosto. Abracei meu bebe e o enchi de beijos.

_Amanhã é um novo dia. _sussurrei pra ele, que se ajeitou em cima da minha barriga.

De repente as palavras “Não devo contar mentiras” arderam na minha mão.

_E amanhã tem detenção.

Tirei o Boris da minha barriga, o coloquei na cama ao meu lado, meti o travesseiro na cara e gritei.