Tricks of Fate

"Eu já disse que amo o seu sotaque?"


Acordei atordoada, vendo o sol entrar por uma fresta da janela. Esfreguei os olhos com uma certa relutância em me levantar, até que o sol bateu novamente no meu rosto e uma lembrança me veio à cabeça: Madison.

Levantei da cama num pulo e comecei a procurar alguma coisa que indicasse as horas – meu celular, por exemplo. Encontrei-o sob a mochila, vendo que não passava muito das sete horas da manhã.

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Andei até o banheiro e lavei o rosto, vendo o meu reflexo diante do espelho. Deslizei a ponta do indicador pelas olheiras roxas sob os meus olhos. Definitivamente, aquele sonho no meio da noite não me fizera muito bem. Soltei um bocejo involuntário, percebendo que a única coisa que me faria acordar seria um banho gelado.

Peguei uma muda de roupa na mochila e voltei ao banheiro, tirando a roupa que eu vestia e entrando sob a água gelada do chuveiro. Senti a minha pele se arrepiar quase instantaneamente, ao mesmo tempo que a escoriação no lado do meu quadril começava a arder.

Tomei um banho rápido e me enrolei na toalha que havia ali, secando o meu corpo e o cabelo e vestindo a minha roupa íntima, seguida de uma camiseta branca e jeans. Voltei ao quarto com os pés descalços e dobrei a camiseta do Superman e a calça xadrez, colocando-as ao lado da mochila. Me joguei na cama e comecei a mirar o teto. Os pensamentos bagunçados passeavam na minha cabeça, mas eu estava sem nenhuma vontade de organizá-los. Deslizei os dedos pelo meu braço, sentindo o leve alto relevo que a frase presente ali – Love is madness – causava. Na minha cabeça, vieram algumas lembranças de Maddy, e embalada com elas, senti o sono me envolver rapidamente.

. . .

Acordei pela terceira vez naquele dia com algumas batidas na porta do quarto, acompanhadas da voz de Robert. Me levantei meio cambaleante e andei até lá, abrindo a porta enquanto esfregava os olhos.

– Bom dia, tio. – Murmurei.

– Bom dia, Victoria. Você acabou de acordar ou...? – Ele perguntou, olhando-me de cima a baixo.

– Eu acordei, tomei um banho e acabei pegando no sono de novo. – Dei de ombros.

– Entendo. – Ele fez uma pausa. – Bom, eu fiz um café da manhã. Você disse que queria visitar Madison logo de manhã, e são nove horas agora. Nós podemos ir na hora que você quiser.

Assenti, assimilando lentamente as palavras.

– E se você quiser dormir mais, eu acho uma boa ideia. Ao que me parece, você ainda não acordou completamente.

– Não, não. Nós podemos ir ao hospital agora?

Ele sorriu.

– Podemos, Victoria. Mas antes você vai comer alguma coisa.

– Tudo bem. – Respondi. – Vamos lá. Me deixa só calçar alguma coisa.

– Estou esperando. – Ele deu um sorriso de canto.

Calcei os tênis que eu usara no dia anterior e segui o meu tio até a cozinha.

– Onde está Miranda? – Perguntei ao chegarmos no cômodo.

– Ela foi embora hoje cedo. Tinha que trabalhar. – Ele deu de ombros.

– Ah, que pena. Ela é legal.

– Fico feliz que goste dela, Victoria. – Ele sorriu.

Retribuí o sorriso e nós nos sentamos na mesa.

Depois de terminarmos o café, Robert foi arrumar a cozinha enquanto eu subia para escovar os dentes. Aproveitei para pegar o meu celular sobre a cama antes de descer novamente à sala.

– Vamos, Victoria? – Meu tio perguntou e eu assenti.

Felizmente, o hospital não era tão longe do East, então demoramos relativamente pouco para chegar lá.

Subimos até o andar onde Maddy estava, e na salinha de espera no fim do corredor encontramos o Dr. Marshall.

– Bom dia. – O meu tio falou.

– Bom dia Sr... Mitchell, certo?

Meu tio assentiu.

– Madison já acordou? – Perguntei, quase como uma criança ansiosa.

– Ainda não, mas pode ser que ela acorde por agora. Você pode vê-la depois de... – Antes que o médico terminasse de falar, uma mulher magra de cabelos claros surgiu no corredor. Era Eva, a mãe de Madison.

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– Dr. Marshall! – Ela chamou antes de desviar o olhar na nossa direção. – Ah, oi Robert... – O meu tio deu um aceno de cabeça. – EVictoria.

A sra. Eva Dale nunca me tivera como uma de suas pessoas favoritas, mas desde a última vez que ela viera para Fort Lauderdale, há seis meses, ela tinha uma especial hostilidade por mim, pela relação entre eu e Maddy e por morarmos juntas no apartamento que ela havia comprado para a filha.

– Oi, Sra. Dale. – Respondi do modo mais simpático que consegui. – É bom revê-la, mesmo em circunstâncias tão... desagradáveis. Onde estão o Sr. Dale e Will?

Antes que ela respondesse, um homem veio andando no corredor contrário ao lado de um garoto mais alto do que eu lembrava.

– Victoria! – Ele exclamou, tirando a mão do pai do ombro e correndo o resto do caminho do corredor até a sala de espera.

– William! Não corra no hospital! – Eva exclamou e ele ignorou, me abraçando.

– Hey, garoto. – Sorri, bagunçando seus cabelos. – Você já está quase da minha altura!

– Daqui a pouco eu te passo, Victoria. – Ele sorriu e passou a mão pelo cabelo, arrumando-o.

Era absurda a semelhança entre Will e Madison, e eu estremeci ao mirar seus olhos cinzentos e o sorriso branco.

– E o skate? Continua praticando?

– Não. – Sua expressão se apagou um pouco. – Minha mãe não deixa. Ela diz que é muito perigoso.

– Bom, eu não posso negar. – Dei de ombros, lembrando da escoriação no meu quadril. – Mas você tem os instrumentos de segurança. Eu vou ver se consigo convencer ela, ok?

– Ok. – Ele sorriu, um sorriso alegre e inocente como os de Madison.

– William, vamos. – Eva chamou, fazendo-nos olhar em sua direção. – Já vimos Madison, o médico falou que o melhor agora é que ela descanse. – Ela continuou, dizendo a última frase enquanto lançava um olhar para mim. – E nós precisamos arrumar as coisas no hotel.

– Tudo bem. – Ele respondeu, desanimado.

– Depois a gente combina de passear, Will. Quando a Maddy ficar boa a gente pode até ir na pista de skate, se a sua mãe deixar. – Dei uma piscada e ele esboçou um sorriso.

– Ok. Tchau, Victoria.

– Tchau, garoto. – Dei um sorriso e baguncei novamente o seu cabelo, fazendo-o arrumá-lo de novo enquanto seguia os pais pelo corredor que levava à saida do hospital.

Logo que eles saíram do meu campo de visão, me voltei para onde estavam meu tio e o Dr. Marshall. Depois de alguns poucos momentos de conversa, ele concedeu a permissão para que eu visitasse Madison.

– Me acompanhe, Victoria. – O médico disse e eu assenti, seguindo-o pelo corredor até o quarto onde Maddy estava. – Qualquer coisa, me chame.

– Tudo bem. – Respondi e ele saiu do quarto.

Puxei uma cadeira que estava ali e me sentei ao lado da cama, pegando uma mão de Maddy entre as minhas. Ela parecia tão cansada como no dia anterior, mas o seu rosto parecia ter adquirido alguma cor.

Acariciei gentilmente o seu rosto e o cabelo, vendo o seu perto subir e descer com a respiração leve.

Madison

Despertei lentamente, sentindo dor em alguns lugares do corpo e na cabeça. Percebi que uma mão segurava a minha e alguma coisa acariciava o meu cabelo.

– Maddy, minha pequena. Você vai acordar logo, não vai? Eu estou com saudade dos seus olhos, Maddy. E do seu sorriso. – Senti dedos delicados tocarem os meus lábios e sorri, abrindo os olhos.

– Eu já disse que amo o seu sotaque, Vick? – Minha voz não passava de um sussurro rouco, mas Victoria ouviu e abriu um sorriso radiante.

– Maddy, você acordou! – Ela exclamou num tom de voz empolgado. O seu sotaque britânico, que não havia desaparecido mesmo depois de tanto tempo vivendo nos Estados Unidos, parecia ainda mais pronunciado.

Abri um sorriso.

– Eu dormi por quanto tempo?

– São dez da manhã de sábado, então umas quatorze, quinze horas.

– Achei que tivesse sido mais.

– Eu fiquei preocupada com você, pequena. Você precisa melhorar logo, ok? Will quer passear conosco. Na pista de skate.

Arregalei os olhos ao ouvir o nome do meu irmão.

– Will? Você quer dizer... Will?

– É, Maddy. Seus pais e o seu irmão estão aqui. Não no hospital, eles acabaram de ir embora. Mas eles vieram para Fort Lauderdale te ver.

– Minha mãe também? – Perguntei, me lembrando da hostilidade que ela nutria por minha namorada.

Ela sorriu.

– Sim, Maddy. E ela está preocupada com você. Acho que ela ficará feliz em saber que você acordou.

Sorri quase sem querer e Victoria passou a mão pelo meu rosto em uma carícia delicada.

– Eu te amo tanto, Maddy.

Levantei com alguma dificuldade a minha mão direita – a que não estava engessada – e toquei o rosto dela, deslizando as costas dos dedos pela sua bochecha.

Antes que eu respondesse, ouvimos a porta do quarto se abrir e uma enfermeira loira entrar.

– Vejo que você acordou, Madison. – Ela sorriu.

A mão de Vick saiu do meu rosto e segurou a minha mão.

– O que você está sentindo? Alguma dor?

Mordi o lábio inferior, desviando rapidamente o olhar para Victoria, que me olhava preocupada. Eu não queria preocupá-la ainda mais, mas não tinha opção.

– Acho que já deu o meu tempo. Você recebeu muitas visitas hoje, precisa descansar. Mais tarde eu volto, ok? – Assenti. – Eu te amo, pequena.

Sorri.

– Eu também te amo, Vick.

Ela se inclinou para beijar o meu rosto, mas eu me virei e fiz que nossos lábios se tocassem demoradamente.

Victoria

A enfermeira adentrara o quarto e eu percebi que teria que sair. Falei para Maddy que voltaria mais tarde e me inclinei para dar-lhe um beijo casto no rosto, mas ela se virou e eu senti a maciez dos seus lábios nos meus.

Não foi nada além de um toque pouco demorado, mas desde a hora em que Robert me ligara, no dia anterior, pareciam ter passado dias ou semanas. E assim, ao sentir novamente o toque e o sabor dos lábios de Madison nos meus foi como se algo irreal se tornasse de repente real aos olhos e ao toque dos dedos.

Saí levemente atordoada do quarto, depois de dar um aceno de cabeça à enfermeira. Andei até a sala de espera com os olhos no chão e a cabeça longe dali – em Madison. E assim, a minha surpresa foi grande ao chegar na sala branca e ver Yuri, Tom, Sienna, Kori, Amber e Louie espalhados pelas cadeiras brancas.

– Tori! – Yuri foi o promeiro a se manifestar dos seis olhares curiosos e aflitos sobre mim. – O que aconteceu? Maddy está bem?

Eu estava atordoada pelo beijo de Madison e surpresa com a presença daquelas sete pessoas ali, então demorei algum tempo para assimilar as palavras de Yuri.

– Como... como vocês souberam? – Gaguejei.

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– Foi Robert. – Yuri deu de ombros. – Ele nos avisou hoje mais cedo. Bom, na verdade ele avisou para a minha mãe e ela repassou a informação. De qualquer forma, nos deixou preocupados.

– Robert só falou sobre o acidente. O que aconteceu com Madison? – Tom tomou a palavra.

– Ela está bem. – Respondi, vendo as expressões aflitas se acalmarem. – O acidente foi grave, mas ela se feriu pouco. E já acordou, também. Acabei de falar com ela. – Acabei sorrindo ao ver a última frase.

– Madison acordou? – Era Robert que perguntava, chegando à sala de espera com um copo na mão. Assenti em resposta. – Isso é ótimo!