Carvão Em Pérolas

"And everybody hurts, sometimes..."*


Quando desci, o jantar já estava praticamente pronto. Coloquei a mesa e comemos. Para ser bem sincera, tenho tido poucas, se não nenhuma, notícia do Capitol desde que retornamos para o 12. Não vejo TV. Tento ocupar meu tempo com trabalhos no distrito e quando estou muito cansada, algum livro da vasta coleção de Haymitch (sim, eu me assustei ao saber o quanto ele gostava de ler). Peeta também não gostava de ver TV. Preferia pintar, cuidar do jardim ou cozinhar. Eu acredito que somente Haymitch fazia isso de vez em quando, até devido ao papel dele na rebelião, mas ele nos poupava da política que nós dois odiamos.

Por tudo isso, estranhei o interesse de Peeta nas novidades trazidas por Effie. Na verdade, aparentemente tudo estava indo bem, pois os Distritos estavam pacificados, a renda melhor distribuída, o que foi destruído estava sendo reerguido... No fim, Paylor havia sido uma boa escolha.

Comemos carne salgada, um delicioso purê de batatas que eram plantadas no meu quintal e uma salada de folhas e ervilhas temperadas que eu simplesmente adorava. Após o jantar preparei café e Peeta serviu os maravilhosos bolinhos de chocolate que trouxe da padaria.

“Peeta... Seu dom para cozinha é maravilhoso!”

“Obrigado, Effie.”

Eu ficava feliz por Peeta... Mas ainda estava profundamente preocupada, com o fato de eu ainda não ter achado meu ‘talento’.

“Tudo bem querida... Estamos felizes com sua visita... É bom ver seu lindo rosto sem tanta maquiagem... Mas agora pode dizer o que realmente lhe trouxe aqui.”

Haymitch disparou aquela frase tão tranquilamente, enquanto tirava sua famosa garrafinha do bolso e tomava um gole da bebida, que quase não percebemos todo o sarcasmo contido ali.

Effie praticamente saltou da cadeira após a última palavra de Haymitch. Peeta ergueu o olhar, mas não havia surpresa ali... Agora havia desconfiança. Eu também me assustei. Devo ter perdido a malícia que adquiri desde que fui tributo pela primeira vez.

Effie suspirou e iniciou seu discurso.

“Em primeiro lugar, eu realmente estava com saudades de vocês. E depois... Paylor pediu para que eu viesse convencê-los a participar do mês em comemoração pela vitória da rebelião... Vai fazer um ano, vocês sabem...”

De uma hora para outra meu sangue gelou e eu me senti sufocar. Não havia acabado, eles queriam me prender novamente, me usar como um animal em uma jaula... Como um pássaro... Um Mockingjay em uma gaiola...

“Katniss?”

A vozde Peeta chegou aos meus ouvidos como se ele estivesse a quilometros de distância. Senti meu corpo levantar-se da cadeira e andar para trás até encontrar a parede. Tudo em câmera lenta, Effie e Haymitch se levantavam e de repente, Peeta estava ao meu lado, seus braços ao meu redor. Foi quando eu me permiti respirar. Eu estava ofegante.

“Eu não vou.... Ninguém pode me obrigar eu não vou voltar eu não quero comemorar... Eu...”

E de repente eu estava chorando... Eu estava em pânico.

Peeta me abraçava e lentamente me conduziu para o sofá, me colocando em seu colo enquanto me embalava. Eu era uma criança nos braços dele. Haymitch caminhou até mim com um copo com água e Effie vinha atrás dele.

“Katniss, querida...”

Um ano da rebelião... Um ano sem Prim... Foi quando o pânico se transformou em fúria.Me levantei bruscamente e avancei um passo para Effie. Peeta me segurou. Eu apenas ergui meu dedo, á centímetros da face bonita de Effie.

“Acabou! Acabou, está me ouvindo? Eu não vou ser mais uma bonequinha para o Capitol! Fui o Mockingjay, fui sacrificada... Perdi pessoas importantes! Fiz minha parte, agora chega! Eu não devo nada a vocês! Eu só quero paz!!!”

Peeta ainda me abraçava e Haymitch se colocava entre Effie e eu, ela já estava se afastando também, vi piedade e horror em seus olhos azuis.

“Por favor, Kat... Se acalme, eu estou aqui, com você... Apenas respire, respire anjo...”

Eu me virei para ele e afundei meu rosto em seu peito. Mais uma vez ele sentou no sofá me abrigando e eu chorei.

“Peeta...” - a voz de Haymitch chegou até nossos ouvidos.

“Shhh, Haymitch. Vá para a cozinha e nos espere... Nos dê um minuto, sim?”

Não ouvi mais nada. Apenas meus soluços e senti as mãos de Peeta em meus cabelos. Eu queria dizer tanto a ele... Eu queria tanto e tantas coisas. Eu só queria ficar ali, protegida em seu peito para sempre.


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*Everybody hurts - R.E.M.