Fogo e Gelo

Orgulho e preconceito


Castiel POV


Merda.

Todo dia era a mesma coisa. Discussões. E a maioria por minha causa, já que eu não queria ser um idiota como ele, meu pai, que vive apenas pra ganhar e nem gosta do que faz. E com certeza já traiu minha mãe inúmeras vezes, mas ela se recusava a acreditar. E foi pensando nisso que eu saí de casa e deixei meu pai falando sozinho. Melhor dizendo, gritando sozinho. Montei da minha velha Harley Davidson e fui pra escola, tentando aliviar a mente enquanto corria pelas ruas de NY com o máximo de velocidade possível.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Foi mais uma manhã como todas as outras. No intervalo, decidi tocar um pouco. O meu violão, como de costume, estava na sala do clube de música. Fui até lá rapidamente, querendo evitar Ambre e suas amigas idiotas. Ela sempre aparecia e me enchia o saco, com aquele aquele jeito fútil e nojento de garota mimada.

Mas aí me lembrei de uma coisa; voltei para a sala e peguei um colar que estava dentro da minha mochila. Eu o achei no chão do Midnight Club, depois do show. Alguém deixou cair, e eu iria perguntar se alguém sabe de quem é. Se não soubessem, daria pra qualquer garota por aí. Mas não era um colar normal – só agora reparei. Ele abre. E como a curiosidade sempre fala mais alto, abri e vi a foto de um cara... cabelo loiro platinado, olhos verdes... seria ele ? Se for... pobre garotinha ingênua, a dona desse colar.

Voltei para o meu caminho em direção á sala do clube e agradeci em pensamento ao chegar lá sem me deparar com a Ambre pelos corredores. Mas quando estava prestes a abrir a porta, ouvi um som... era de piano, com certeza. Uma música leve e cheia de sentimento. Bonita, devo dizer. Abri a porta, e era ela que estava ali. A garota dos olhos azuis como o céu, a doce criança. Ri de mim mesmo ao fazer alusão á essa música, mas logo me lembrei de que eu estava tentando evitá-la de qualquer maneira. Decidi não olhar mais pra ela durante as aulas, principalmente de frente. Porque aqueles olhos... porque ela tinha que ter os mesmos olhos ? Quando os encaro, tudo volta, uma enxurrada de memórias que venho tentando enterrar com tanto esforço. Eu estava conseguindo, mas então ela aparece e tudo vai por água abaixo. E aqueles olhos... não eram normais. Eles puxam, hipnotizam. Vidram. A presença dela incomodava. Porque me atraía, aquela presença suave, delicada e ao mesmo tempo marcante. Me aproximei um pouco e fiquei a vendo tocar. Ela tem habilidade... e além disso, ela tem o dom. Não qualquer dom, aquele de conseguir de transmitir todo o sentimento da música. E música é meu ponto fraco. Qualquer armadura se desfaz diante dela. Nada se assemelha ao poder da música. Eu sinto toda as minhas máscaras, minhas defesas se desmancharem quanto estou no palco, ou quando ouço algo bom, com essência. Aquelas coisas – posso chamar de sentimentos ? Ou emoções ? Eu não sei definir – dentro de nós que não conseguimos explicar sempre são traduzidas pela música. É, eu penso demais. Dizem que pessoas quietas tem a mente tumultuada. E eu sou assim. Sempre pensando, refletindo, questionando.

Logo eu reconheci a música e achei interessante ela conhecê-la. Talvez gostasse do filme. Mas não Castiel, você não vai conversar com ela. Você tem que ir embora Castiel, deixe a garota tocando sozinha, ela nem percebeu sua presença ainda. Vamos Castiel, mexa-se. É só se virar, e andar.

Droga.

Porque eu não saio do lugar ? É algum tipo de hipnose ?

Deve ser. Eu não consigo tirar meus olhos dela. E a melodia me prende mais ainda.

Parece que eu caí na armadilha... dei um sorriso de canto e resolvi ceder. Afinal, quando a música acabasse, ela se viraria, eu daria um sorriso de canto, poderia perguntar se o colar é dela e sair. Nada estranho, sem conversas, sem olhares prolongados, sem memórias, sem incômodos. Mas como sempre, eu me traía, fazendo justamente o contrário do que devia.

A música acabou, e como esperado, ela se virou e ao me ver, não conseguiu esconder a surpresa no olhar. Dei um sorriso de canto, mas logo voltei á minha expressão séria e habitual. Eu odiava quando ela me via assim, nesses momentos em que estou desarmado, sem minha armadura costumeira de frieza. Ela podia ver o Castiel com sentimentos, que eu tanto ansiava esconder. Ela ficou em silêncio, como se esperando o que dizer, e eu também. Droga, não me olha desse jeito garota.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu tentei me recompor ao velho Castiel frio. Qual o motivo disso ? Não quero me apegar á ninguém. Pra mim, todas as garotas são iguais. Só pensam em si mesmas, fazem de tudo para nos agradar e muitas vezes são descartáveis. Só havia uma garota diferente e ela é insubstituível. Mas talvez ela também fosse, e eu tenho medo disso. Não pode haver outra.

–- Você toca bem. - comentei, depois de um longo silêncio. Ela olhou para o chão e sorriu.

–- Obrigada. Bem, você deve ter vindo aqui pra treinar, então vou te deixar á vontade. - Ela abaixou o tampo do piano e se levantou. Mas antes que fosse, eu agarrei em seu braço, de leve. Que pele fria... a minha é quente, o que deu uma certa sensação de choque, de arrepio... e isso é bom.

Não, não é.

–- Espera. - Eu disse. Ela se virou. - Talvez você saiba de quem é. - Eu tirei o colar do bolso da calça e mostrei. Os olhos dela brilharam no mesmo instante e ela o agarrou num segundo.

–- Não acredito ! - Ela abriu um sorriso enorme e mal podia se conter. Por pouco não saiu saltitando. - Onde você o achou ?

–- Estava no chão do Midnight Club. Você deve ter deixado cair... afinal, você estava lá. - Pude perceber que ela ficou um tanto sem graça, e desviou o olhar para o chão. Não pude evitar de dar um sorriso de canto.

–- Bem, obrigada...

–- De nada. Mas me diga, esse garoto na foto é seu namorado ?

–- Sim, o Lysandre. Ele é lindo não é ? - Os olhos dela brilharam novamente.

Então era mesmo ele. Lysandre. Eu tinha receio até do nome.

–- Aquele que veio fazer intercâmbio pra cá... é, toma cuidado garotinha.

–- Cuidado com o quê ? - Opa, cutuquei a fera, e agora ela se enfezou. Endureceu o olhar e arqueou uma sobrancelha.

–- Você vai saber.

–- O que está insinuando ? Lysandre é uma ótima pessoa ! Você nem o conhece !

–- Você que pensa, garota. Continue ingênua assim e vai se ferrar muito ainda. - Pronto, automaticamente eu voltei ao modo habitual. Que é ? Todo mundo precisa de alguma proteção. Essa é a minha.

–- E você tem alguma moral pra falar dele ? Frio, grosso, mal-educado... o que você pensa que é ? - Ela me olhava nos olhos com um certo desafio. Aceitei e a olhei nos olhos.

–- Castiel Humpton. Agora saia daqui que eu preciso tocar.

–- Escuta aqui, você...

–- Escuta você. Não me conhece, não sabe nada sobre mim. Não me julgue. - Ela juntou as sobrancelhas e me encarou por alguns segundos com um olhar de indignação. Que garota petulante ! Talvez ela não fosse tão diferente... ela suspirou fundo e saiu da sala. A acompanhei com o olhar e fiquei alguns segundos encarando a porta quando ela saiu. Aqui estava eu, Castiel Humpton, afastando mais um garota. Era sempre assim, elas perdiam a paciência fácil, o que é bom.

E eu sou orgulhoso demais para demonstrar qualquer coisa, principalmente para pedir desculpas caso exagere. Garotas não merecem, elas pisam. Elas gostam de te esmiuçar com aqueles saltos enormes. Não sei se algum dia haverá alguém que irá tão fundo quanto Helena foi. Meus pensamentos, meu coração, ela desvendeu tudo, absolutamente tudo, e ainda foi capaz de consertar o que estava errado. Mas ela era diferente. Especial, única. Não haviam garotas como ela, ou melhores. Não haviam e se houvessem, que mantivessem distância. Não quero algo se for pra perder depois.

E talvez eu não tivesse mais um coração para ser desvendado. Talvez eu o tivesse perdido no meio do caminho. Talvez eu fosse um homem de lata que devolveu seu coração, depois de perceber que tê-lo só traz sofrimentos.

Fui até meu violão, sentei em uma cadeira e me ajeitei até ficar confortável. Mas antes de começar a tocar, olhei novamente para a porta. O perfume doce dela ainda estava no ar, a sua presença ainda podia ser sentida no ambiente. E contradizendo á mim mesmo, eu queria vê-la de novo. Aquela teimosia, o olhar profundo. A pele fria. A presença suave.

Mas o que eu estou pensando ?

Suspirei fundo e comecei a tocar, afastando aqueles pensamentos. Uma garota como todas as outras, pensei, igual á todas as outras. Mas quando dei por mim, estava tocando a introdução de Sweet child O'mine. Preciso parar com essa mania de associar pessoas á músicas...



Shizuka POV



–- Como ele pode ser tão... tão... - Murmurei á mim mesma enquanto voltava para a sala, tentando achar um adjetivo que se encaixasse perfeitamente com aquele idiota. Além de mal-educado, vem falar mal do Lysandre ? Descontava toda a minha raiva nos meus passos rápidos, que me faziam trombar em algumas pessoas no meio do caminho, mas que nem ousavam me xingar, já que eu devia estar com uma expressão bem desagradável.

Por um momento pensei que ele não fosse tão ruim assim... quando o vi, ele estava com aquele olhar, aquele jeito livre, como quando ele toca... sem máscaras, sem nada. E aqueles olhos cinzentos... guardavam um certo mistério, daqueles que dá vontade de desvender á qualquer custo. Aquele jeito de mexer as sobrancelhas enquanto me encarava... ele as juntava e ás vezes erguia uma, junto com aquele sorriso de canto, ora malicioso, ora divertido. Aquele perfume marcante, uma fragância meio amadeirada...

SHIZUKA ! O que você está pensando ? Me condenei por ter aqueles pensamentos. Ele é um idiota ! E não posso ficar pensando em perfumes masculinos alheios, sendo que o do Lysandre é maravilhoso. Falando nele, recebi um sms e ao verificar, era dele. Abri um sorriso enorme e li.



“ Shizu, só agora que li seu e-mail. Me desculpe.

Que horrível o que essas garotas fizeram ! Você está bem ? Entre ás dez hoje no Skype para conversamos, vou dar um jeito de entrar.

E fique bem, não se deixe abalar assim, você é forte que eu sei.

PS: Sinto sua falta.”



Meu sorriso foi aumentando á medida que eu lia. Respondi dizendo que iria entrar com certeza e que já estava melhor e sentia falta dele. Muita.

Já estava até mais calma. Quando fui guardar o celular no bolso novamente, passei em frente á biblioteca... será que Nath estava lá ? Seria bom pedir para que ele fosse falar com a Iris comigo, já que ele também a magoou. Abri a porta delicadamente, não havia ninguém lá, mas talvez ele voltasse logo. Adentrei e andei até uma mesa com alguns livros. Me sentei ali e um deles me chamou a atenção, “O mágico de Oz”. Lembro que era um dos livros que minha mãe costumava ler quando eu era criança, antes de dormir. Peguei o livro e comecei a folheá-lo, e parei para ler um trecho que me chamou a atenção.


“ -- E você, meu amigo homem de lata! você quer um coração… você não sabe o quão sortudo é por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não deixava de estar certo... e me lembrei do homem de lata, aquele que buscava incansavelmente por um coração. Que queria sentir, e as consequências disso não importavam... comecei a encarar o nada, pensando... Castiel se parecia tanto com ele. Mas sua busca por um coração talvez fosse silencionsa, meio inconsciente... talvez ela tenha medo de sentir. Talvez ele já o tenha encontrado, mas o medo de usar é maior. Acha que pode viver com um buraco dentro do peito... até quando vai se enganar ? Até quando vai esconder o que poderia ser bonito em ser mostrado... talvez você esteja andando em círculos, homem de lata. Talvez você procure algo que já está dentro de você.

Meus devaneios foram interrompidos pela voz do Nathaniel.

–- Shizu ? - Eu fechei o livro e me virei.

–- Oi Nath... então, a sua irmãzinha me deu uma cópia do vídeo que elas fizeram... e o que a gente fez não foi nem um pouco legal. - Ele sentou do meu lado e eu comecei a narrar tudo o que fizemos. Depois que terminei, ele estava me encarando com uma expressão de culpa.

–- Coitada da Iris... ela é uma ótima pessoa, não merecia isso... - Ele suspirou fundo e passou a mão direita pelo cabelo, acho que era uma mania de quando ficava nervoso.

–- Temos que consertar isso. Vou procurar ela e o Dajan pra pedir desculpas, na hora da saída. Vem comigo.

–- É, eu vou...

–- Você pode aproveitar e chamá-la pra sair... eu acho que vocês combinam. - Pisquei e ele riu.

–- Mas ela gosta de mim, é o que parece. - Eu ri.

–- Justamente por isso ! - Ele sorriu, um sorriso meio triste.

–- Eu sou aquele cara que não liga no dia seguinte...

–- Seu heartbreaker ! Pobres garotas que caem na sua rede...

–- Haha – Ele riu, uma risada bem irônica, e bagunçou meu cabelo enquanto se levantava. - Não tenho culpa se sou irresistível.

–- Vai se achando... - Eu disse, ajeitando os fios bagunçados pelas mãos dele.

–- É sério... e eu que devia ser uma romântico nato, já que sou descendente de franceses... a maior parte da minha família vive em Paris. A cidade do amor – Ele deu uma risada, e começou a recolher os livros que estavam na mesa. - Mas eu não consigo sentir nada... profundo entende ? Eu saio com uma garota, ela é legal, nos divertimos... mas não sinto nada. No máximo a acho interessante, mas não tenho vontade de vê-la no outro dia, não sinto falta. Faz um bom tempo que uma garota não me prende assim... talvez seja por isso. Não existe outra como ela. - Nisso um silêncio imperou no ambiente, enquanto ele ia até uma estante guardar alguns dos livros que estavam na mesa. Fiquei esperando ele continuar, mas quando vi que não falaria mais nada, perguntei.

–- Mas o que aconteceu ? - Ele parou por um instante o que estava fazendo, mas logo voltou, e nem olhou pra mim ao responder.

–- Desculpe, mas prefiro não falar sobre. - Pela primeira vez, vi um lado mais frio dele... parece que eu pisei em um território perigoso. Assenti, mesmo que ele não estivesse vendo, e me levantei. Um pouco frustrada, confesso... queria muito saber. Mas insistir seria pior.

–- Bom, vou voltar pra sala... vou te esperar na porta, quando o sinal de saída tocar ok ? - Ele olhou pra mim e assentiu, sorrindo. Devolvi o sorriso e saí.

Nathaniel não era grosso como Castiel, mas era tão misterioso quanto. E essa coisa de não sentir parecia estranha... talvez ele estivesse preso á alguma garota, como ele mesmo disse. Será que ela o abandonou ? Ou... morreu ? Fiquei pensando nisso por um bom tempo, mas não cheguei á conclusão nenhuma.

Nem olhei para o garoto alto e ruivo que entrou na sala atrasado. Não queria mais olhar para a cara dele por um bom tempo. Fingir que ele nem estava ali. É, o melhor a fazer.

Enfim as aulas acabaram por aquele dia e eu fui uma das primeiras á sair, indo diretamente para a porta esperar pelo Nath. Eu já tinha visto os garotos do clube de basquete andando pelo pátio, e Dajan estava com eles. Me senti aliviada ao vê-lo. Logo o loiro apareceu, meio apressado, se desculpando por demorar. Eu disse que tudo bem e nos aproximamos dos jogadores, mas enquanto íamos na direção deles, iam se afastando um a um até sobrar apenas Dajan e mais outro que não conheço. Logo o outro também foi embora e só restou Dajan.

–- Melhor assim – Comentei. Mas quando o chamamos e ele se virou pra nós, Iris apareceu para falar com ele. Quando ela nos viu, sua expressão endureceu de uma forma que eu julgava impossível. Sua expressão era sempre tão serena.

–- Olá – Eu disse, um tanto nervosa. Dajan arqueou uma sobrancelha.

–- Nathaniel – Ele disse, me ingorando completamente. - Eu ia mesmo te procurar... Você sabia que a Iris é minha prima ? E não gosto quando mexem com ela. - O moreno alto e musculoso, que poderia quebrar Nath inteiro sem esforço, deixou a mochila no chão e se aproximou de Nath, o olhar furioso e os punhos cerrados. - Vamos, me dê um bom motivo pra não te quebrar inteiro agora mesmo.



Vish.