Fogo e Gelo

As regras do jogo



–- Como você se chama, querida ? - perguntou a garota quando saímos da biblioteca.

–- Shizuka.

–- Um belo nome Shizuska. - ela deu um sorrisinho – bem falso por sinal – e eu revirei os olhos.

–- É Shizuka. - ela deu de ombros.

–- Eu me chamo Ambre. Um belo nome não é ?

–- É... - ela seguiu em silêncio até chegarmos á uma sala identificada como “clube de

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música”. Depois que entramos, ela virou para me encarar e cruzou os braços.

–- Você sabe onde você está não é, Shizuska ? - não resisti e ri.

–- Shizuka, caramba. Na escola ? - e ainda ergui uma sobrancelha e fiz uma expressão de “não me diga”. Ela deu outro daquele sorrisinho.

–- Imagine como se tudo isso fosse um Reino – ela começou a andar em volta da sala. - Reinos precisam de Rainhas. E nesse Reino, eu sou a Rainha.

–- Rainha sem um rei ? - ela me encarou, incrédula.

–- Claro que tenho um Rei ! - eu apenas apontei para a mão dela sem aliança. Ou seja, sem namorado, sem Rei. Ela deu de ombros. - Ele ainda não sabe disso. Mas não mude de assunto. Só quero alertá-la que eu tenho recursos e capacidade de tornar a sua vida um inferno se você me incomodar. E já incomodou muito por hoje, arrastando asa para o Castiel e para o Nathaniel, que á propósito, é meu irmão. E não quero vê-la com graça pra cima dele. - eu a encarei, incrédula.

–- Hã ? Eu só trombei naquele garoto que á propósito é um mal educado, e o Nathaniel é representante de sala ! É óbvio que vou falar com ele !

–- Gostei – disse ela dando outro sorrisinho – Você aprende rápido. Sempre que fizer algo que me desagrade, terá de se justificar. Olhe como sou compassiva. - eu dei uma risada irônica, e me xinguei de idiota por ter me justificado. Não devia ter feito isso. - Mas se sua justificativa for falha querida, você estará muito ferrada.

–- Não tenho medo de você, Amber.

–- Eu teria se fosse você. E é Ambre. - dei um sorrisinho semelhante ao dela – tá vendo como é bom pronunciarem seu nome errado de propósito ? Depois me virei e ia saindo, quando ela interveio. - E olhe só... - Eu virei o rosto. Ela andou em direção á uma bateria no canto da sala, onde havia também um baixo e alguns amplificadores. Ela passou os dedos de leve pelos pratos da bateria e me encarou. - Esses equipamentos são da banda do Castiel. Ele costuma ensaiar aqui ás vezes. Eu já vi algumas apresentações, é uma banda muito boa... sabe o nome ? Winged Skull. Eu sinceramente acho meio tosco, mas ouvi rumores de que é provisório...

–- Deve ser uma ótima banda, mas onde você quer chegar ? - cruzei os braços, esperando. E ela sorriu. Aquele sorrisinho.

–- O sonho do Castiel é ser um músico promissor. Fazer o que gosta, realmente impactar o mundo com suas canções. Ele quer aparecer, quer deixar sua marca. Ele quer fazer sua parte em mudar esse mundo, nem que seja um pouco. - claro, porque ele está infectado com pessoas como você, pensei. - Mas é um sonho tão frágil, tão tênue quanto as cordas desse violão. - ela foi até um violão que estava pendurado logo ao lado da bateria, e puxou uma das cordas com vontade. Até tive um sobressalto com a ação dela e o barulho da corta ao estourar. - Eu sou capaz de fazer o mesmo com esse sonho bobo. Eu sou capaz de tudo para ter ele pra mim. - ela jogou a corda no chão e saiu andando. Minha vez.

–- Well, there's a million other girls who do it just like you... - eu comecei a cantar um trecho de uma das músicas que eu mais gosto, Misery Business do Paramore. Enquanto cantava essa frase, andei a bateria e comecei a tocar as notas do trecho correspondente. E segui com a letra. - Looking as innocent as possible to get who they want and what they like, It's easy if you do it right... Well, I refuse, I refuse... I refuse. - finalizei com uma improvisação nos pratos – ficou legal, me superei – e saí de lá, com um sorrisinho e ela com cara de what the hell. Mas valeu a pena. Ela jamais sonhava que eu sabia alguma coisa de bateria – e também piano, mas não foi necessário – e menos ainda que eu não jogaria o jogo dela. Ah, se tem uma coisa que não gosto é mostrar tudo sobre mim de uma vez só.

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–- Então é guerra. - pude ouvi-la dizer enquanto deixava a sala. Nem sequer me virei; a ignorei completamente e voltei para minha sala, até me lembrar que não sabia onde estava. Era uma escola cheia de corredores estranhos. A entrada, minha sala e a biblioteca eram fáceis, num corredor só. Mas ela havia me levado á uma extremidade da escola e fiquei completamente perdida, mas continuei andando como se soubesse o caminho até ter certeza de estar fora da vista dela. E então me rendi e resolvi perguntar para alguém.

–- Com licença – eu disse para uma garota que estava passando um tanto rápido, com passos curtos e segurando uma pasta em frente ao corpo. Ela olhou para mim.

–- Sim ?

–- Poderia me dizer onde fica o 2° A ? Sou nova aqui e me perdi...

–- Ah claro – ela se virou a ia apontar a direção, mas deixou os ombros caírem e voltou a olhar para mim. - melhor eu te levar lá. - assenti e comecei a segui-la.

–- Me chamo Shizuka, e você ?

–- Iris. Gostei do seu nome, tem algum significado ? Nomes asiáticos em geral tem significados – perguntou, ajeitando os óculos. Eu sorri.

–- Algo como silenciosa...

–- Hm, interessante. Está gostando da escola ? - eu assenti, apesar de não querer. Mas não iria encher a pobre garota com tudo o que eu estava pensando. Comecei a prestar atenção nela, já que tenho tendência á observar pessoas, suas manias. E ela tinha de enrolar a ponta da longa trança lateral dos cabelos castanhos. Era engraçado, ela tinha habilidade. Se eu fizesse isso, iria embaraçar tudo.

–- Enfim, chegamos.Ah, você já participa de algum clube ?

–- Ainda não... quais são ?

–- Bom... temos o de jardinagem, música, basquete, teatro, karatê, desenho... são muitas opções – ela sorriu. Nem pensei para responder.

–- Gostaria de entrar no de música ! - ela abriu a pasta que segurava e pegou um papel. - ok, o de música... vou anotar seu nome aqui. Amanhã você aparece lá para confirmar. - assenti, super feliz. Até que enfim uma coisa boa, até esqueci aquela bit... idiota da Ambre. - vou indo Shizuka, espero nos vermos mais vezes ! Até mais !

–- Até ! - Acenei e entrei na sala. Estava mais aliviada agora, me lembrando de que ainda haviam pessoas legais na escola e que eu poderia fazer alguns amigos, e ainda assim continuar invisível. Mas logo me lembrei da parte ruim quando entrei na sala e ali estava Castiel, sentado no fundo da sala com seus fones de ouvido, me encarando com um sorriso que era tudo, menos amigável. Ignorei e fui para o meu lugar.

Por incrível que pareça consegui ficar acordada nas três últimas aulas e evitei de olhar para trás, até mesmo quando fui embora. Mas ele passou por mim e me entregou um folheto.

–- Pra me ver tocar de pertinho – e deu uma risada maliciosa. Que vontade de jogar aquilo nele, mas não iria adiantar nada. Olhei para o folheto enquanto caminhava para a saída; era sobre o show que eles fariam dali três dias, no sábado. Quem sabe... mas desviei a atenção do folheto quando alguém me cutucou.

–- Ei, você que é a Shizuka ? - era uma garota, asiática como eu, de cabelos pretos, beem lisos e compridos. Assenti.


–- Sim, porque ? - ela sorriu, um sorriso muito amigável que me fez sorrir também.

–- Vai ter uma festa... no sábado á noite, e como você é nova seria bom pra se enturmar... vá, vai ser muito legal. É uma festa em uma casa enorme em Mahattan. É imperdível, e é inadimissível passar noites de sábado em casa, sendo que você mora em NY. - parecia realmente muito sedutora a proposta, mas ao mesmo tempo perigosa. Ok, o que teria de ruim em uma festa, era até milagroso alguém me convidar para alguma coisa. E parecia que ia ser legal, qualquer sinal de exageros eu pediria para o meu pai me buscar. Agradeci o convite e disse que iria fazer o máximo para ir. Ela sorriu e saiu.

–- Vai aceitar ?

–- Meredy ! - exclamei, quase encostando na parede com o salto que dei devido ao susto. Ela riu, mas só depois de engolir um pedaço da bolacha que estava comendo. Resolvi reparar no corpo dela, que era perfeito ! Como alguém poderia comer assim e ser magra ? Filha da mãe.

–- Não sei...

–- Hm... ir ou não ir, eis a questão - ela fez um gesto dramático ao dizer isso, e me fez rir. - você tem três escolhas... show, festa ou casa. Mas casa parece muito monótono. Você está em NY, e precisa de emoção. Mas cuidado, as emoções dessa cidade muitas vezes são traiçoeiras... faça uma escolha sábia. Até mais Shizuka – e me deixou ali plantada na escada enquanto corria para o carro do pai, ou mãe, sei lá. Suspirei e sentei em um dos degraus, para esperar minha mãe. Enquanto esperava, olhei novamente os convites que havia recebido. Ambos pareciam muito inofensivos... mas as aparências enganam. Qual escolher ?