Capítulo 58 – Erika Foster

Respiro fundo várias vezes, tentando desesperadamente me acalmar com minha presente situação.

Eu sabia que não deveria ter aberto o bico antes do tempo.

Com medo da possível consequência desastrosa que o momento Thor X Jane X Donald poderia causar, decidi abrir o jogo com o meu pai e contar de uma vez toda a história. Contei que mamãe estava novamente casada, que eu pensei durante dezesseis anos que Donald Blake era o meu verdadeiro pai e que também Jane Foster jamais sequer mencionou seu nome para mim.

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Meu pai está sem uma expressão definida em seu rosto, apenas continua a mastigar o Hamburguer como uma goma de mascar. Não sei exatamente como, mas ele já está no quinto.

Foi minha ideia pararmos numa lanchonete antes de tentarmos tomar alguma atitude com o nosso pequeno problema. Achei que iríamos encontrar, juntos, uma solução, mas tudo o que Thor faz é enfiar mais um sanduíche na boca e fitar sem interesse algum os outros clientes do lugar.

Limpo a garganta, tentando recuperar sua atenção para mim, contudo, ele nem mesmo se dá ao trabalho de pelo menos me mostrar se está ou não me escutando. Frustrada, eu novamente pigarreio.

- Então... Não tem nada em mente que possa compartilhar? – tento incentivá-lo a sair do seu voto de silêncio.

Thor continua a mastigar por mais longos segundos antes de me soltar tudo o que está em sua cabeça.

- Asgard está destruída, heróis e asgardianos foram massacrados e a mulher que eu amo está casada com um outro homem... – meu pai solta um longo e pesado suspiro. – O que exatamente você espera que eu faça, Erika?

- Quero que apenas tente falar com ela.

- Mas você não disse que Jane está feliz? – Thor me questiona, pegando-me de surpresa. – Por que eu deveria entrar novamente na vida dela? Para arruinar a sua felicidade?

Tento achar algo para rebater suas acusações, mas nada me vem. Por mais que eu não queira concordar, eu sei que meu pai está certo. Minha mãe está mesmo feliz ao lado de Donald Blake. Nunca, em todos esses anos de convivência, Jane Foster reclamou uma vez sequer de que não estava satisfeita com a vida que levava. Na verdade, sempre deu o melhor de si para ser uma boa mãe e esposa.

- Eu não quero que as coisas fiquem mal resolvidas entre vocês. – decido falar o que realmente sinto, já que Thor também desabafou o que tanto o incomodava. – Eu não acho justo ver você passar por isso, pai, quando pode ter a chance de pelo menos tentar reconquistar a amizade da minha mãe. Acabou a guerra e nós sobrevivemos, por que não deixa o orgulho e a fúria de lado e dê uma chance pro seu coração?

- Já é tarde demais pra isso. – desconversa rapidamente, enfiando mais um pedaço do enorme Hamburguer goela abaixo.

Bufo ao mesmo tempo em que cruzo meus braços sobre o peito.

- Se se sente tão derrotado, por que se deu ao trabalho de vir para a Terra? – inquiro num tom provocativo, tentando induzi-lo a fazer o contrário do que a sua cabeça dura ordena. – Por que não ficou em Asgard?

- Não achei que seria tão difícil... – Thor não completa a frase, apenas deixa suas palavras se perderem com os ruídos de conversas paralelas enquanto observa a porta da lanchonete com atenção.

Estranhando sua brusca mudança de comportamento, eu me viro a fim de identificar a causa de tal reviravolta, e sinto minha pressão subir ao ver mamãe entrar sozinha, com os olhos cheios de lágrimas, para se sentar em uma mesa próxima da de onde estamos.

Volto meus olhos para Thor, ele continua parado, apenas observando Jane Foster com um olhar de paixão mesclado com dor e aflição.

Pasma com a infeliz coincidência, eu tento localizar o nome da lanchonete e quase me agrido fisicamente quando o encontro.

“Lola’s Burguer”, a lanchonete onde mamãe, Donald e eu sempre costumávamos vir quando eu ainda tinha uma vida normal no Queens.

Erika, como você é estúpida.

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- Pai, eu...

- Vá falar com ela, Erika. – Thor me corta na mesma hora; seus olhos continuam grudados na figura encolhida da minha mãe. – Pergunte por que ela está chorando.

- Mas...

- Apenas faça isso.

Sabendo que eu apenas gastaria saliva e oxigênio tentando falar alguma coisa, eu me levanto e, devagar, vou para onde minha mãe está sentada. Sem saber ao certo em como abordá-la de uma maneira sutil, eu me limito a dizer:

- Mãe?

Minha voz faz sua cabeça se virar rapidamente para mim, e, quando ela levanta seus olhos para me encarar, nós duas tomamos um susto.

Essa não poderia ser a minha mãe. Dá última vez que eu a vi, Jane Foster era uma mulher de quase quarenta anos com algumas marcas de expressão presentes no rosto e pequenos pés de galinha no canto dos olhos.

Não sei exatamente que bruxaria aconteceu, mas Jane está praticamente vinte anos mais jovem. Todas as marcas e pés de galinha desapareceram. Os cabelos, que antes eram compostos por algumas mechas brancas, estão castanhos e sedosos. Seus olhos, uma vez cansados, agora apresentam um brilho natural da juventude reconquistada. Eles poderiam hipnotizar qualquer um com a sua cor castanha clara se não estivessem inchados devido à choradeira.

- Erika?! – praticamente jogando-se em cima de mim, minha mãe me abraça tão forte que sinto meu ar escapar tão rápido dos meus pulmões quanto de um balão que é esvaziado. – Ah meu deus, eu não acredito que você está aqui! Achei que tinha perdido você!

Comovida, também envolvo meus braços em volta do corpo magro de minha mãe, encostando minha cabeça na dela. Fecho meus olhos e me concentro na sua respiração acelerada, feliz por enfim estar perto dela de novo.

- Você não iria se livrar de mim tão fácil, mãe. – nós duas sorrimos enquanto Jane limpa algumas lágrimas que lhe escapam dos olhos. – Mas o que está fazendo aqui? Por que está chorando?

Minha pergunta faz Jane Foster se encolher, como se eu a houvesse agredido, dando-lhe um soco logo na boca do estômago. As perguntas têm tanto poder sobre ela que Jane precisa se sentar novamente antes de tomar um bom gole d’água.

- Parece que estou vivendo um pesadelo! Hoje de manhã acordei... Desse jeito. – ela aponta para si mesma. – É claro que tomei um susto tremendo e a primeira coisa que eu fiz foi procurar Donald. Mas, quando eu o achei, ele também estava mais jovem, e ficou surpreso em me ver, dizendo que estava muito feliz por nos reencontramos depois de quase vinte anos sem nos falarmos! – algumas lágrimas voltam a brotar em seus olhos. – Achei que ele estivesse brincando... Don não se lembra de nada do que passamos! Ele me disse que já tinha uma nova pessoa em sua vida, mas que não tinha nada a ver comigo ou com você. – mamãe para por alguns segundos. – Você sabe o que está acontecendo?

Engulo seco, tentando formular alguma boa resposta para lhe dar.

Droga! Por que meu cérebro trava quando eu mais preciso dele?

- Er... Então, você se lembra do porquê de eu ter ficado na SHIELD? – questiono, incerta. – Que eu só voltaria se eu conseguisse o que eu queria?

Ela balança a cabeça em concordância.

- Claro que sim, você estava... – sua boca se transforma num grande e redondo “o”. – E-está me dizendo q-que...?

É a minha vez de concordar.

- Eu o encontrei, mãe. – viro-me para onde antes eu estava sentada, porém, meu pai não está mais lá. Meu sorriso murcha na hora. – Onde ele está?

Levanto-me da cadeira às pressas, olhando de um lado para o outro sem parar a fim de encontrar um homem de quase dois metros de altura, musculoso e bem difícil de se perder numa multidão. Amaldiçoo baixinho quando percebo que ele não está mais aqui, simplesmente foi embora enquanto mamãe e eu conversávamos.

- Eu não acredito! – resmungo, dirigindo-me para à porta com passadas pesadas de puro ódio. – O rei de Asgard enfrenta mais de mil chitauris, mas não tem coragem de falar com uma humana...

Covarde!

- Erika? – minha mãe me chama num tom confuso, tentando entender o que está acontecendo. – O que está fazendo?

Eu apenas continuo a resmungar.

- Que grande representante de Asgard, com toda a sua bravura indômita de um coelho assustado e...

- Jane! – a inconfundível voz do meu pai pega tanto mamãe quanto a mim de surpresa. Nós duas nos viramos para vislumbrar a figura parada e rígida de Thor nos encarando. Seus olhos azuis fitam a expressão surpresa, e meio assustada, de Jane Foster.

- Então você voltou mesmo.

Enquanto minha mãe permanece parada, aparentemente assustada demais para se mover, meu pai toma a iniciativa e vai ao seu encontro. Assim que os dois estão bastante próximos, ficam apenas trocando olhares.

Será que estão tentando ler os pensamentos um do outro? Não sei, mas o silêncio parece estar apenas me incomodando. Ao julgar a expressão dos dois, diria que essa troca de olhares está valendo mais que mil palavras.

- O que está acontecendo com a minha vida? – enfim, Jane quebra o silêncio. – Eu sei que você está relacionado à perda de memória do meu marido e a minha nova... Aparência. Por que toda vez que eu te vejo, acabo sofrendo?

Posso ver meu pai se retrair quando mamãe utiliza as palavras “marido” e “sofrimento”, porém, logo recupera a postura e começa a se explicar, dando-lhe cada detalhe do que passamos juntos até agora.

- ... Pelo visto, Kronos não só apagou a memória de todos quando o libertamos, mas também voltou o tempo para os humanos.

- Ele alterou o cronograma de vida de todos, mas não o tempo em si, eu entendi. – ela solta um longo e demorado suspiro. – Por que deixou que ele fizesse isso comigo também?

Meu pai desvia seus olhos rapidamente para mim, que, envergonhada por estar observando os dois terem sua primeira conversa depois de anos, miro a bela paisagem do fim de tarde em Nova York.

Eles logo voltam a falar. E eu a observar.

- Porque isso seria uma atitude covarde. – Thor responde com seu tom honroso, como se quisesse demonstrar que não pensou nem por um momento em evitar esse momento constrangedor de agora. – Eu lhe devo explicações do porquê de não ter voltado, de não ter nem sequer mandado algum sinal...

Jane estende a mão, indicando para que ele pare.

- Eu preciso de um tempo sozinha. – sinto meu coração parar por alguns segundos quando escuto as duras palavras de Jane Foster ao deus do Trovão. – A minha vida acabou de sofrer uma enorme reviravolta. Meu marido não sabe quem eu sou, minha filha está viajando pela galáxia e lutando contra alienígenas psicopatas com meu ex-namorado. – não posso deixar de esboçar um sorriso com essa sua última alegação, contudo, esse logo se vai quando lembro-me que está inserido em um contexto nada agradável. – Minha cabeça está com um nó gigantesco, e tudo o que eu consigo pensar agora é...

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Numa atitude inesperada (pelo menos por mim) de tentar fazer mamãe se acalmar, meu pai a puxa para si e lhe sela os lábios pressionando-os com seus próprios. Meu sorriso só aumenta quando eu vejo que, mesmo tentando ao máximo negá-lo, Jane ainda ama Thor.

- Que tal parar de tentar fazer da sua vida uma equação insolúvel? – o rei de Asgard sugere, beijando-a novamente.

- Não posso, sou uma cientista, cálculos fazem parte da minha natureza. – ela responde num tom um tanto quanto malicioso.

- Seguir seus instintos também. – os sentimentos e o romance crescem e, com eles, o meu desconforto.

Viro-me de costas definitivamente, permitindo que, mesmo estando no meio da rua, meus pais tenham um momento de privacidade dos meus olhos curiosos.

Continuo a sorrir que nem uma otária, não acreditando que, no final das contas, ver que tudo o que eu passei valeu a pena só por ver a minha mãe ao lado do homem que ela realmente ama.

Meu verdadeiro pai.