21st Century Girls

V: O Risco Que Vale A Pena (Parte 3)


Mali encarou Taehyung por longos segundos, ainda sem acreditar no que seus olhos viam. Ele estava muito perto, fazendo-a erguer a cabeça para olhar em seus olhos, ouvindo sua respiração. O sorriso dele se desmanchou, enquanto seus olhos observavam cada detalhe do rosto dela, pensando que sentira falta de vê-la. Mesmo que só a tenha visto uma vez, mesmo que não soubesse quase nada sobre ela, e mesmo aue parecesse impossível.

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Os dois se perderam nas feições um do outro, até que uma das meninas pigarreou. Marina e Taehyung deram saltos para trás e, de olhos arregalados, ela agarrou o braço dele e o arrastou, atravessando a sala e entrando em um provador improvisado com cortinas. Ela os fechou lá dentro e voltou a encará-lo. De alguma forma, aquela cena, os dois apertados em um espaço pequeno, era familiar de uma jeito bizarro.

— V... - ela conseguiu dizer, voltando a reciocinar - Tae Oppa! O-o que está fazendo aqui?!

Ele bagunçou o próprio cabelo com uma mão.

— Ah, eu... - começou - Vim te ver e...

— Sabia que eu ia participar do campeonato?

Ele negou.

— Na verdade, eu vim só porque o Jiminnie me chamou...

— Jimin também está aqui?! - o tom animado de Mali fez Tae se arrepender de ter mencionado o amigo, mas ele decidiu continuar:

— Eu só percebi a sua presença quando eles anunciaram os semifinalistas. E... tive que vir até você.

Marina sentiu as faces quentes, o coração acelerado de tal forma que ela poderia ter um ataque do coração a qualquer momento. Diante de seu silêncio, Taehyung não conteve as perguntas:

— Quando você chegou? Por que não me ligou? Esse tempo todo... Já faz mais de um ano! Estive esperando, e você poderia ter me ligado a qualquer momento, mas...

O olhar incrédulo e surpreso de Marina o fez interromper a fala.

Mais uma vez o silêncio predominou, até que ela abrisse a boca em um murmúrio:

— Eu quis... Por muitas vezes eu quase disquei o número, mas... Eu prometi, não foi? Prometi que ligaria se viesse à Coreia.

Ele fez que ia responder, mas o toque inesperado de seu celular soou. Ele meteu a mão no bolso, tirou o aparelho e verificou o nome do contato. Era Jimin.

— V-ssi! - o tom de bronca do amigo era óbvio - Onde você está? Vamos nos atrasar para a reunião com o PD-nim!

Tae fixou o olha em Mali. Ele não queria ir embora agora, mas sabia que precisava.

— Eu te encontro em 5 minutos. - e desligou sem esperar resposta.

Ele colocou as mãos nos bolsos.

— Eu... tenho que ir... - falou, e sentiu um aperto ao ver a tristeza nos olhos dela - Mas eu volto!

Marina arregalou os olhos.

— Vou tentar vir te ver lutar amanhã, okay? E, depois que terminar.... Vamos fazer alguma coisa juntos, colocar a conversa em dia.

Marina não tinha coragem de responder, e involuntariamente levou a mão ao braço para beliscá-lo novamente. Antecipando o movimento, Taehyung se adiantou e apertou a pontinha de seu nariz pela segunda vez naquele dia.

Babo. — murmurou, sua voz rouca - Já te disse que não está sonhando.

—__***___

E agora Marina não consegue pregar os olhos. É muita coisa num dia só. Bom, talvez não muita coisa, mas com certeza duas coisas grandes. Semifinais do mundial e Taehyung.

O coração dela ainda não desacelerou.

Depois de dizer as palavras que poderiam fazê-la desmaiar ali mesmo, V a fitou por alguns segundos e então a deixou sozinha, penando para acreditar que não estava de fato sonhando.

E a única coisa que lhe dá essa certeza é o fato de que suas colegas de equipe não calam a boca sobre o assunto.

— Quer fazer o favor de explicar de uma vez o que foi aquilo? - uma delas exige, puxando o travesseiro sob a cabeça de Marina.

— Aish! - Mari exclama, já cansada da insistência - Caramba, vocês enchem o saco, visse?

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Duas delas, baianas, soltam um risinho diante do sotaque pernambucano dela.

— Que coisa mais fofa, gente. - dizem.

— Tá, fofo e lindo. - uma carioca interrompe - Mas quero ouvir esse sotaque fofo contando o que foi aquilo lá no vestiário!

Marina revira os olhos, mas senta na cama.

— Tá, sossega o facho que eu vou contar!

As outras fixam o olhar nela.

— Taehyung é... um amigo que encontrei uma vez em Recife. - diz - Nós combinamos de nos encontrar caso eu viesse para a Coréia, então eu ia ligar para ele depois da competição, mas como vocês sabem, a tapada aqui perdeu o celular junto com o número, então eu já havia me conformado. Por um milagre, ele acabou estando lá e... deu no que deu.

Os olhares incrédulos indicam que elas não acreditam em alguma parte daquilo, embora Mali pense consigo que não contou exatamente uma mentira. Ela dá graças a Deus por ninguém ali ser ARMY, ou estaria encrencada.

— Amigo? - uma se manifesta primeiro, o que serve de gatilho para a algazarra que vem a seguir.

— Olha só, aquela intimidade toda não é só amizade nem aqui nem no Brasil!

— Ele apertou seu nariz!

— E vocês estraram no provador sozinhos!

— A louca! Você é só amiga daquela criatura?!

— Querida, não quer? Passa pra cá!

Marina fica alguns segundos encarando-as com surpresa, até que, aos poucos, não consegue mais se segurar... e explode em gargalhadas. Com certeza sentiria falta da mundiça brasileira no tempo que passaria em terras coreanas.

O que não quer dizer que se sente menos nervosa com o dia seguinte. Ao contrário, quando ela é finalmente deixada em paz, passa algumas horas fitando o teto e torcendo o lençol, até finalmente ser tragada pelo cansaço e cair no sono.

—__**___

Mali segura o lado do corpo com a mão esquerda, tentando atenuar a dor insistente, mas aquilo não ajuda muito. Apesar disso, ela consegue manter o sorriso enorme do rosto. É bronze no mundial de Taekwondo.

Aquela foi uma manhã difícil. Ela acabou deixando o nervosismo atrapalhar uma das lutas, perdendo a oportunidade de disputar a prata. Não quer nem lembrar sua distração inevitável: o fato de seus olhos percorrerem a platéia à procura de um certo rosto coberto por máscara. Acabou se atrapalhando nas defesas. A garota havia perdido as expectativas, frustrada e chateada consigo mesma depois disso. Mas algo não a deixou desistir. Afinal, subir no pódio sempre fora um grande sonho, e ela tinha a chance de realizá-lo ali mesmo, ainda que não com o ouro. Melhor ainda, diante de um par de olhos bem especiais.

Taehyung chegou atrasado. Mesmo com as horas livres devido aos trabalhos dos outros membros, ele ainda tivera coisas para resolver antes de sair. Mas agora está ali, com o olhar cravado no rosto satisfeito de Marina.

Ela tem um pequeno corte no lábio inferior, uma mão machucada e, ao que parece, também sente dor nas costelas. Esse conjunto o incomoda profundamente. Tudo dentro de si tem vontade de ir até ela, verificar se não havia quebrado nada, enfaixar aquela mão e... bom, prefere não alimentar de mais o pensamento sobre o que gostaria de fazer quanto ao pequeno corte.

Após o anúncio sobre os primeiros dois lugares, a cerimônia de premiação começa, e Mali sobe no terceiro degrau do pódio, usando uma bandeira brasileira nas costas como quem dissesse: "vê esta bandeira? Isso mesmo, tem uma brasileira vencendo no taekwondo coreano". Ela parece bem orgulhosa disso.

Taehyung abre um sorriso sob a máscara ao vê-la receber a medalha, e então se levanta da cadeira, sem nem mesmo esperar pela premiação das outras duas, mesmo sabendo que a cerimônia e as entrevistas ainda durarão algum tempo. Ele segue pelo caminho que sabe ser aquele para os vestiários, entrega ao segurança um cartão de liberação dado por Ren no dia anterior, e se põe a procurar pela porta de Mali.

— Você não devia brincar com meus sentimentos dessa forma. - é a primeira coisa que ela diz ao vê-lo esperando-a escostado junto à porta.

Ele ergue as sobrancelhas e ela fecha a porta, fazendo um biquinho.

— Quase não dormi por sua culpa! - acusa.

Taehyung leva a mão à nuca, sem saber bem como reagir. Mas seus pensamentos são preenchidos por frases soltas do tipo "ela fica fofa fazendo biquinho", o que não ajuda em nada.

Marina suspira, desfazendo a atuação que realizava apenas para não explodir em um fangirling que sabe ser um tanto... estranho? Incômodo? Ela não sabe definir. Mas ainda pretende manter uma imagem mais equilibrada. Ao menos consegue se controlar relativamente bem por algum tempo.

Os dois se encaram, mergulhados em silêncio. V é o primeiro a falar:

— Parabéns. - ele aponta para a medalha que pende em seu peito - Foi incrível.

Ela segura o disco bronzeado entre os dedos, fitando-o por alguns segundos. Não gosta muito daquela cor, meio apagada e sem vida. Sendo sincera consigo mesma, ainda está chateada por não ter se saído melhor.

— Obrigada - ela se força a responder - Acho... que é incrível ter uma estrangeira no pódio.

— Não estou falando de nacionalidade, Mali. - V retruca - Estou falando que você foi incrível.

Ela fica alguns segundos sem resposta, mas então seu rosto escancara a vergonha ao ficar vermelho, apesar do tom chocolate de sua pele.

— Ah, é... Obrigada, eu... acho.

Taehyung se diverte com a expressão embaraçada da garota e, querendo constrangê-la ainda mais, aperta sua bochecha com os dedos, exibindo um sorriso quadrado.

Ela torce o nariz e se afasta. Mas que diabos ele está querendo? Desse jeito vai acabar provocando-lhe um enfarte. Mali acha que ele na verdade sabe disso muito bem.

Ela sacode a cabeça numa tentativa de pensar mais claramente, e tenta ajeitar o rabo de cavalo para ganhar tempo, mas sua mão lateja ao fazer força para puxar os fios e ela recolhe o braço.

— Droga. - murmura em português, segurando o pulso com a outra mão. Ela lança um olhar a Taehyung, que está prestes a comentar algo sobre seu machucado e começa antes mesmo que ele possa falar: - Olha, espera aqui, tá bem? Vou tomar um banho e já volto.

O garoto fecha a boca e assente, sentando no sofá e pegando o celular.

Marina corre para o banheiro, que fica no fim do corredor. Deixa a mochila com sua roupa no armário e entra debaixo do chuveiro. Ali, dá todos os pulinhos, gritinhos e sons estrangulados que uma fangirl precisa fazer ao se encontrar com seu idol.

Enquanto isso, Tae mexe no celular com a cabeça meio longe. A reunião que tiveram com o PD no dia anterior volta à sua mente insistentemente, o que é estranho. Ele não costuma se preocupar muito com coisas como aquela, já que sabe que Namjoon e os outros sempre resolvem tudo de forma perfeita, mas desta vez a conversa persiste em sua cabeça. Ele se pergunta o motivo. Afinal, tem coisas muito mais... imediatas para pensar. Como o fato de que em alguns minutos estará saindo com Mali e...

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É como se uma lâmpada se acendesse em sua mente, fazendo-o dar um pulo do sofá justamente na hora em que a garota abre a porta. O resultado é cada um com o coração acelerado pelo tremendo susto.

— Ah! - Mali solta um gritinho - Oppa, o que está fazendo?! Quase me matou do coração!

Taehyung abre um sorriso empolgado e a segura pelos ombros, assustando-a novamente.

— Mali! Eu tive a melhor ideia do mundo! - ele faz uma pausa para suspense, fazendo a garota abrir ainda mais os olhos amendoados, sem entender nada - Você pode ser a nossa nova tradutora!

Marina fica com o olhar vidrado por alguns instantes, gagueja alguma coisa, e, no fim, tudo o que consegue dizer é:

— O que?!