21st Century Girls

Jimin: Colecionadora de Histórias (Parte 2)


Park Jimin vem passando seus dias meio aéreo. Desde seu encontro com uma certa colecionadora de histórias, seus lábios vivem cantarolando baixinho a letra que ele escreveu naquele dia, em uma melodia improvisada que muda a cada vez que involuntariamente realiza o ato. O garoto chegou a pensar que nem Lie, seu novo solo, havia grudado tão intensamente em sua mente, e se perguntou o motivo.

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Claro, a resposta é bem óbvia. Mais do que tirar a letra da cabeça, o impossível mesmo é tentar esquecer Ayui. E coloca impossível nisso. Dançando, comendo, cantando, conversando, e até - constrangedoramente - no banho os pensamentos dele vão voando até aquela praça, e encontram aquele par de olhos que são capazes de expressar bem mais que as palavras de muita gente por aí.

— "Aprendeu a usar os ouvidos da alma..." - sua cantoria é interrompida por Taehyung, que solta um suspiro exasperado:

— Aigoo, Jiminnie! Você não larga de cantar isso!

O outro acaba suspirando também, bagunçado o cabelo com as mãos.

— Não adianta reclamar, Tae. Eu já tentei, mas não consigo tirá-la da minha mente.

Taehyung abaixa o celular e encara o amigo.

— Você está falando da música ou da garota que a inspirou?

Jimin puxa o ar entre os dentes. "Aí está os dez por cento gênio do Tae que Namjoon hyung fala" pensa. É difícil esconder as coisas de seu melhor amigo. Sendo da mesma idade, a proximidade entre os dois sempre foi natural, e com o grupo vivendo junto no dormitório, eles dois costumam ser a dupla imparável. Principalmente Taehyung, que arrasta o outro junto. Acabaram por se tornar bem amigos.

— Os dois. - Jimin responde, exasperado, e cruza os braços.

Taehyung revira os olhos e volta ao celular:

— Vai atrás dela, então, pabo. Tá na cara que já devia ter ido vê-la há muito tempo. Se as coisas para mim estivessem assim ao meu alcance... - ele deixa a voz morrer, sem completar a fala, mas Jimin já entendeu o que tinha que entender.

Ele experimenta alguns segundos sem reação, e então levanta e vai até o celular, rapidamente discando o número de Ren.

Moshi Moshi?— a voz do mais velho soa, em meio a uma barulheira.

— Ren hyung? - Jimin estranha - O que está acontecendo?

Jiminnie! - o outro se anima - Estou em uma competição de cosplay agora, mas já estou saindo.

— Será que é um momento ruim pra conversar? - Jimin pergunta.

Não, não. Pode dizer!

Buscando coragem no fundo de si, Jimin diz:

— Ah, eu... Estava me perguntando se haveria uma chance de eu me encontrar com a sua irmã novamente.

Oh, com Ayui? - Ren exclama, e então solta um grunhido pensativo - Na verdade, há sim.

O garoto sente o coração dar uma batida mais forte.

— Sério?

Bom, para ser sincero, você me prestaria um grande favor se pudesse acompanhá-la até em casa hoje, depois da escola.— o outro continua.

Jimin nem hesita. Ele nem considera sua vaga dificuldade de lidar com direções, nem pondera o perigo de entrar em uma escola cheia de garotas que poderiam reconhecê-lo. Simplesmente aceita o pedido, pega o endereço que precisa e ruma para fora do dormitório com um frio no estômago e apenas um pensamento em sua cabeça: finalmente vai rever Ayui.

A cena que se desenrola diante dos olhos de Jimin faz seu sangue ferver de raiva.

Ayui está do lado de fora do campus da grande escola, recuada em um muro, enquanto vários outros estudantes a cercam. A mochila da garota está no chão, suas coisas espalhadas, e um rapaz a mantém pressionada contra a parede enquanto uma outra garota tira sarro dela. Os olhos vivos de Ayui exibem lágrimas, e o quadro que ela usa para se comunicar está partido no meio aos seus pés. Ela fita o chão, o que a impede de saber o que falam com ela, encolhe-se a cada cutucão no ombro e aperta a barra da saia com força.

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Quando o grupo explode em risos ao fazer Ayui cair sentada, Jimin não se segura. A passos largos, começa a se aproximar, mas antes que chegue, o grupo se dispersa, deixando a pequena Ayui no chão.

O garoto chega mais perto dela, e segura o impulso de chamar seu nome, sabendo que ela não ouviria. Quando a sombra dele a cobre, ela se encolhe, talvez pensando que os colegas haviam voltado, mas ele se ajoelha diante dela, com o coração apertado, e estende a mão para seu rosto, delicadamente segurando seu queixo e a fazendo lhe fitar.

Quando ela o reconhece, seus lábios se movem em um "Jimin Oppa!" silencioso, e ela começa a tentar esconder as lágrimas, abaixando a cabeça novamente.

Jimin precisa de muito esforço para segurar dentro de si toda a raiva que está sentindo. Quem no mundo era tão idiota a ponto de fazer mal a alguém como Ayui? Como alguém podia rir das lágrimas de uma garota tão... frágil?

Ele desvia os pensamentos dos idiotas que machuraram Ayui e volta a tocar o rosto da garota, secando suas faces de forma delicada. Quando ela finalmente ergue o olhar para ele novamente, Jimin pergunta:

— Está machucada?

Ela nega com a cabeça, e começa a juntar as coisas espalhadas, colocando dentro da mochila. Jimin se apressa para ajudar e, uma vez terminado o serviço, coloca a mochila em seus próprios ombros, em seguida ajudando Ayui a se levantar. Ela segura a mão dele com força, enquanto ele nota que suas pernas tremem, provavelmente ainda sob a influência do medo que sentia alguns minutos antes.

Mais uma vez ele tem vontade de socar algumas caras.

— Consegue andar? - ele pergunta depois de se certificar que ela pode ver seu rosto.

Ayui assente, e, sem largar a mão de Jimin, o acompanha de cabeça baixa.

Ela se sente cansada.

Atitudes como aquela de seus colegas não são raras. As pessoas normalmente seguem um padrão quanto ao diferente: ignoram, ou zombam. É difícil aceitar. E é isso que Ayui mais odeia em ser surda. Viveria feliz sem ouvir som algum se as pessoas pudessem ao menos compreender sem discriminar, mesmo se escolhessem não se dar ao trabalho de tentar conversar com ela, mesmo se ela só conseguisse trocar poucas frases com seus colegas de classe. Mas não. Eles escolhem lançar a Ayui olhares de desprezo, preferem importunar a garota na hora da saída sempre que têm a chance, e zombar dela com sua dificuldade nas aulas.

Ela se sentia muito melhor quando morava no Japão, onde estudara a vida toda na mesma escola, e onde tinha amigos que sabiam como fazê-la se sentir parte da turma, mesmo que outros a discriminassem. Mas, desde que sua família se mudou para a Coréia, a escola se tornou seu inferno particular.

Com os olhos no chão, ela se deixa guiar pelo garoto que lhe escrevera uma música. De alguma forma, sua mão ainda é menor que a dele, já bem pequena, e ela se sente um pouco mais segura com os dedos entrelaçados daquela forma. Mesmo assim, preferia que ele nunca a tivesse visto naquele estado.

Ayui está cansada de dar trabalho às pessoas, e agora Jimin também está sendo incomodado por seus problemas. Mas ela não tem coragem de soltar a mão dele. Não quer ficar sozinha de novo, como fica todo dia na escola.

"Só mais um ano" ela repete em sua mente "Só mais um ano e esse pesadelo acaba". É seu mantra. Com o fim do ano letivo, só lhe restará mais um ano de aflição até que esteja livre. Mas talvez só fique livre para adentrar em mais outro ninho de cobras.

Ela balança a cabeça. Não quer pensar naquilo, decide. Afinal, já resolveu firmemente que será escritora, do tipo que não precisa ficar suportando as pessoas em um ambiente de trabalho.

Só quando sente a sombra de Jimin diante de si novamente é que percebe que o garoto quer falar com ela.

— Vamos parar um pouco nessa cafeteria, está bem? - ele pergunta, apontando para o estabelecimento.

Ela assente, sentindo-se aliviada. Não quer ir pra casa ainda, enquanto ainda está com a pontinha do nariz vermelha pelo choro.

Quando os dois entram e escolhem uma mesa, Jimin faz questão de sentar ao lado dela no banco, para que possam continuar de mãos dadas até que ela se sinta confiante o suficiente para soltar. Ele agora está meditando se deve ou não perguntar a Ayui o que acontece com ela na escola. Teme que aquele tipo de coisa seja uma rotina.

A garçonete traz os lanches dos dois, pedidos por Jimin, e Ayui finalmente solta sua mão, tendo em mente que ele precisará dela para comer. O garoto, antes de mais nada, tira do bolso o celular e abre o bloco de notas, entregando-o a Ayui em seguida.

Ela ergue o olhar para ele, sabendo que o mais velho está querendo inicar uma conversa.

— Quem são aquelas pessoas? - Jimin começa, direto.

"Meus colegas de classe", ela responde pelo celular.

— Por que fizeram aquilo?

Ela não digita, apenas aponta para o ouvido e Jimin entende perfeitamente: porque ela é surda.

Ayui vê a revolta na expressão dele, e percebe que Jimin já está afetado pela situação. Ela fica chateada consigo mesma, novamente envolvendo as pessoas em seus problemas.

"Está tudo bem, Oppa" ela ergue o celular "Eu estou bem".

Ele sabe que não é verdade.

— Ayui. - seu tom é sério, e, mesmo que não possa escutar, Ayui sabe muito bem disso - Eles fazem muito isso?

A garota desvia o olhar e ele tem sua resposta.

"Sim".

Se Jimin já não conseguia tirar Ayui da cabeça antes, agora menos ainda. Cada momento de seus dias é marcado por diferentes pensamentos sobre Ayui. Seu rosto esquenta ao lembrar de seus dedos entrelaçados, o cenho se franze ao pensar na cena que presenciou e os olhos fitam o relógio insistentemente quando se aproxima o horário de ela sair da escola, enquanto ele silenciosamente se preocupa com a ideia de ela estar sofrendo de novo.

Para completar, seu Maknae anda ocupado ultimamente, indo pra todo lado com uma tal de Yoora, uma garota com quem ele está trabalhando em um dueto. Esse fato deixa os dias de Jimin com menos distrações e mais tempo para gastar preocupando-se.

Depois da confirmação de Ayui de que os abusos são uma rotina, Jimin tentou a todo custo convencê-la a contar a alguém sobre aquilo, mas ela se negou, veemente. E suplicou que ele mantivesse a boca fechada, diante do que ele não pôde negar. Naquele dia, ele a deixou em casa e seguiu de volta para o dormitório. Mas, a partir do momento em que tirou os olhos dela, sentiu vontade de voltar e não a deixar sozinha nunca mais.

— De novo. - a voz grave de Taehyung o arranca de seus pensamentos - Está fitando o relógio com essa cara de ramén de novo.

Jimin desvia o olhar para o amigo.

— Cara de ramén? - exclama - Mas o que exatamente...

— Aigoo, Jiminnie. - Taehyung o interrompe - Você é idiota, mesmo, né? Sai logo daqui, vai.

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O outro o fita com cara de quem não entendeu.

— Tae está certo. - uma voz faz os dois darem um pulo, e só então eles notam a presença de Suga, deitado imóvel no sofá com um lençol e algumas roupas amassadas sobre seu corpo - Vai logo atrás dela, Jimin.

— Aigoo, até Suga hyung já está sabendo? - Jimin reclama, olhando para Tae, que ergue os braços.

— Não me acusa, não. - o outro retruca - Você é que fala enquanto dorme.

O Park aperta os lábios, preocupado. Falando enquanto dorme? É, talvez esteja na hora de ir ver Ayui.

Jimin estende para Ayui uma casquinha de sorvete de creme, recebendo um sorriso em troca, e senta no balanço ao seu lado, usando os pés para fazer o brinquedo balançar. Ele a havia ido buscar na escola novamente, com a permissão de Ren. Dessa vez, para seu alívio, não se deparou com nenhuma cena desagradável, e sim com o sorriso genuíno de Ayui ao vê-lo. Ele a chamou para tomar um sorvete, o que resultou nos dois se lambusando, sentados em balanços num parquinho vazio.

O garoto sente uma satisfação, que pensa ser incompreensível, só de estar na companhia dela, como se uma tonelada de preocupações se fossem ao ver que está tudo bem.

Quando ela termina seu sorvete e limpa as mãos em um lenço, estende a mão para a mochila no chão e tira de lá algo que parece um tablet. Liga-o e, usando aquelas canetinhas para touchscreen, escreve e mostra ao Park:

"Olha só o que meu Appa comprou pra mim! Um novo quadro, mas que dá pra usar pra várias coisas. É um tablet!"

Jimin sorri diante da animação dela, expressas seus olhos e na carinha feliz que ela desenhou ao fim da frase.

- Você disse a eles como o outro quebrou? - pergunta, embora já saiba a resposta.

Ela nega com a cabeça.

"Appa e Omma têm muito com que se preocupar. Não quero ser mais peso do que já sou. Eu já atrapalho muito a vida deles".

Jimin a fita, querendo rebater, mas ela abaixa o olhar e traz o tablet para si novamente, escrevendo:

"E a de Jimin Oppa também. Desculpa por te envolver nisso."

Aquilo quebra o coração dele, mas Jimin não se deixa convencer. É impossível para ele se conformar com o que Ayui se obriga a suportar sozinha. Ele segura sua mão, impedindo-a de voltar a escrever, e então tira dela a caneta, enlaçando seus dedos.

— Quando você está comigo, quando segura minha mão assim, me deixa feliz, Ayui. - declara - Você não é um peso. Ao contrário, o seu sorriso me faz sentir mais leve. E eu não me incomodo de ter que esperar você escrever para podermos conversar. Não me importo em me preocupar se você vai ficar bem. E eu gosto de parar no meio do dia e pensar em seus olhos. Então, por favor, não se preocupe por dividir comigo seus problemas! Eu quero que confie em mim pra isso, entende?

Ayui o fita por alguns segundos, surpresa, até que, em meio a olhos marejados, ela sorri o sorriso mais doce que ele já viu. Um sorriso que faz o coração dele bater mais rápido. Um sorriso que ele poderia transformar no sol de seus dias. Talvez um dia ele o faça.

"Eu também fico feliz quando estou com você, Oppa."

Ele não consegue mais controlar o frio na barriga. Com uma dose de coragem, Jimin se inclina. E deposita um beijo na testa de Ayui.