O Vale dos Suicidas

Capítulo 1: O suicídio


Capítulo 1: O suicídio

Desde que me vi desprezada por meu marido não mais desejei viver. Decidi não mais afligir-me com minhas lágrimas amargas e ir de encontro à solene paz do sono eterno. A morte traria o tão desejado esquecimento.

No dia em que Dante Gabriel Rossetti, meu marido, despediu-se de mim com um rápido beijo na testa e foi ao encontro de sua amante, senti meu mundo interno desmoronar de vez e a idéia de suicídio realmente tomou-me por completo.

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Escrevi o bilhete de suicídio ao meu amado. Sorvi então todo láudano que encontrei em casa de um gole só. A dor lancinante percorreu todo o meu corpo e senti-me morrer sem, no entanto, morrer. Fui sacudida por convulsões terríveis e não sei como, mas soube que Dante estava chegando em casa. Tentei pedir-lhe ajuda, mas não consegui. Fiquei cada vez mais confusa, porque os empregados não tinham me socorrido?

Dante entrou contente em nosso quarto e então parou. Vi seu rosto ficar amedrontado.

“Lizzie?” ouvi ele me chamar com a voz incerta. Aproximou-se agitado. Sussurrou um “porque você não se mexe?” e abaixou-se. Como eu não me mexia?Estava em convulsões! Gritei desesperada, mas ele não me ouvia. Dante abaixou-se e tomou meu pulso. Do nada o vi levantar-se e, pondo as mãos no cabelo gritar como um louco:

-Morta! Minha Lizzie está morta!

Como morta?Do que ele estava falando? Os criados entraram correndo em nossos aposentos, finalmente vindo me acudir, mas também não notaram meu sofrimento. Eu praticamente urrava de dor, mas eles nada faziam.

Conseguia ouvir toda a confusão ao meu redor, mas com o sofrimento que as dores me afligiam não conseguia compreender coisa alguma. Fui carregada e posta em uma mesa ou coisa que o valha, mas era um lugar gelado.

Dois homens aproximaram-se e pude reconhecer os amigos Abraham e John, ambos médicos. Meu corpo contorcia-se e eu rugia em terríveis lamentos, sem qualquer consideração por parte desses dois amigos.

Esforcei-me em vão para implorar-lhes a devida assistência. Arrependi-me do meu ato impulsivo. Dante podia ter sido um canalha, mas e quanto aos meus pais que sofreriam por esse ato impensado? Assim que eu melhorasse pediria desculpas de joelhos à minha mãe, se necessário fosse.

Então eles desnudaram-me.

Abraham afastou-se como quem esquecera-se de algo. John tocou-me o corpo e indignei-me. Como ele ousava? E como Dante o permitia? Aliás, onde estava ele?

Abraham voltou com uma maleta de onde, para meu pavor, tirou um bisturi e abriu-me o abdome com uma incisão em forma de y.

- O que vão fazer? Matar-me? O que te fiz, Bram? – bradei, agonizante.

Ambos prosseguiram a operação. Ouvi suas vozes, mas não distingui bem o que diziam, até que entendi John exclamando:

-Porque matou-se, Lizzie?

-Não – bradei em total desespero –eu tentei o suicídio, mas ele não funcionou, você não vê? Terminem logo essa operação! Não vê que tenho pressa?Preciso tranqüilizar meus pais, preciso tranqüilizar Dante!

Não me ouviram. Ou não se importaram. Além do turbilhão de sensações que me atormentavam, senti que continuavam a cortar-me.

Aterrada, de súbito vi-me separada de meu corpo e até que enfim compreendi: Meus amigos estavam realizando minha autópsia.

Mas como podia ser isso se eu estava ali, de pé ao lado deles, sentindo todas as dores que senti momentos antes?

Esforcei o máximo que pude para tentar entrar em meu corpo e ergue-lo novamente, mas sem sucesso.

Continua...