Canela E Menta

O começo da minha vida


Rolei na grama úmida, observando o céu. Não havia nada mais delicioso que ver as nuvens com seus diversos formatos, tão brancas e fofas. O céu era tão belo, mas ele não tinha graça se estivesse limpo. Nuvens faziam toda a diferença, que graça teria minha vida sem elas? Queria ficar ali pra sempre, observando aquele céu nublado, tão nublado quanto a personalidade dele.

Ele, que sumira da minha vida há 6 anos. Nossa história para mim parecia um sonho distante, como se nunca tivesse vivido nada aquilo. A única coisa que me fazia ter certeza de que não era uma alucinação era o meu irmão. Já era rotina vê-lo passear por ai como Shinigami, e eu já havia perdido a conta de vezes que ele me salvara de algum Hollow idiota. Eles pareciam ter um desejo especial pela minha reiatsu. De qualquer jeito, iria voltar a contemplar as nuvens, pois meu instinto masoquista gostava de me fazer relembrar dele.

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-Karin-chan, vamos jogar bola!Olhei para o lado, sentindo uma leve irritação. Odiava ser interrompida quando estava nesse estado de contemplação, mesmo que fosse pelo meu melhor amigo.

-Makoto, você sabe que não jogo mais bola. Makoto se tornara meu melhor amigo e fora meu segundo namorado. Era um garoto muito bonito, moreno dos olhos amendoados. Seus braços fortes enlouqueceram muitas garotas. Infelizmente nosso namoro não durara muito, depois de Hitsugaya Toushiro não conseguira me envolver com mais ninguém.

-Ah vamos Karin-chan, o time precisa de você.

-Já discutimos isso mil vezes, Baka!

Não jogava mais futebol, era uma tortura para mim pois toda vez que olhava para uma bola me lembrava dele. Não importava o que eu fizesse, não conseguia esquecê-lo.

-Karin-chan, você está voando outra vez...-Eu? Claro que não, estou ouvindo tudo!-Sobre o que eu estava falando?

-Sobre o time de futebol.

-Resposta errada, estava te chamando pra tomar um sorvete e como você demorou de responder, isso vai ser considerado um sim.

Abri a boca para dar uma resposta relutante, mas desisti. Não custava nada acompanha-lo para tomar sorvete, depois iria para casa estudar.

-Queria saber o porquê de sempre nessa época do ano você entrar nesse estado depressivo. Será que é algum tipo de TPM prolongada?

-Claro, e a menstruação que vem depois dessa TPM dura seis meses e é bem forte.

-Argh, que nojo Karin-chan.

Makoto fingiu um vômito o que me fez chamá-lo de fresco e logo estávamos em uma brincadeira de discussão, o que me rendeu boas risadas.

-Olha Karin-chan, vamos sentar aqui.Estávamos em um lindo parque. Grama bem aparada, com bancos de cor branca meio acizentados pelo uso, flores de todas as cores desabrochando ao redor, passarinhos voando por todos os lados. Parecia o Eden.

-Aqui é muito bonito...

-Não mais do que você Karin-chan.

-Makoto, essa é velha, você precisa se atualizar em suas cantadas.

Ele me deu um belo sorriso, já estava acostumado a receber foras meus.

-Vou comprar um livrinho de cantadas e gravar todas pra usar com você. Quero ver se não vai gostar de nenhuma.

-Provavelmente não.

-Ah vamos, deixa de ser chata. Olha o sorveteiro ali, vai querer sorvete de quê?

-Flocos.

Enquanto Makoto corria para comprar o sorvete, voltei a examinar o parque. Fora ali mesmo o lugar que eu vira Hitsugaya pela última vez. Ainda me lembrava perfeitamente de tudo. Quando nos conhecemos, nosso primeiro beijo, os seis meses que passamos juntos... A Soul Society proibindo-o de me ver e ele indo embora para sempre da minha vida.Meu celular tocou alto, e reconheci o número de Yuzu.

-Alô?-Karin-chan, venha para o ensaio da banda. Estamos esperando você.

-Estou tomando sorvete.

-Venha logo, já estamos começando sem você.

Desliguei o celular e olhei para Makoto que estava trazendo os sorvetes.

-Vou ter que ir ensaiar.

-Ah, vou com você, quero assistir ao ensaio. Você fica perfeita cantando.

-Haha, até parece. Já estou indo.

Eu era cantora e guitarrista de uma banda de Rock, junto com Yuzu e algumas amigas dela, Yuki, Moka e Haruhi. Fui conversando com Makoto sobre futilidades até chegarmos em casa. Cantar era uma das poucas coisas que me dava prazer, por isso formara aquela banda. E agora, enquanto ensaiássemos, eu poderia esquecer tudo.

Mais tarde...

-Ichi-nii, sai da frente.-Karin, eu to ocupado então fica quieta.Fechei a cara e levantei do sofá. Ichigo estava com Rukia na frente da televisão, conversando algo secreto, provavelmente da Soul Society. Os dois estavam bem misteriosos de uns dias para cá, me lançando olhares e falando baixo quando eu estava perto. Ichigo não desgrudava mais de mim, chegando ao ponto de me levar na escola.

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-Estou saindo.

-Onde você vai Karin?

-Andar por ai, e não se atreva a me seguir. Não preciso de guarda costas.

-Mas...

Bati a porta e ignorei os gritos dele. Garoto irritante, eu já tinha 19 anos, não precisava dele me levando aos lugares. Andei sem rumo, deixando meus pés me levarem, mas terminei exatamente onde eu não queria. Naquele maldito campo maravilhoso. Deitei na grama, evitando pensar que estava tarde para estar ali. Já era noite. As estrelas estavam brilhando bastante, e eram tão belas...

De repente senti um arrepio e tive um mal pressentimento. Sabia o que era aquilo, um Hollow estava por ali. Olhei para o lado e vi um buraco se abrindo no céu, uma garganta. Levantei de um salto e me preparei para correr quando o Hollow pulou para cima de mim.

-Kurosaki Karin?

-Q-Q-Que você quer comigo??Nenhum Hollow antes soubera meu nome ou falara comigo. Ele era enorme e prateado, sua máscara tinha tons verdes e azuis. A saliva escorria de sua enorme boca que não fechava graças aos seus enormes dentes. Seu rabo tinha espinhos e as patas, garras imensas. Parecia com um lagarto em tamanho gigante.

-Não é nada pessoal garotinha, fui enviado para matá-la.

Dei as costas a ele e corri com todas as minhas forças, sem nem tentar imaginar quem o havia enviado para me matar. A única coisa que eu conseguia pensar era em fugir, como um instinto animal. Eu ia morrer, ia morrer... Não, Ichi-nii iria vir me salvar como sempre fez, já devia estar a caminho. Eu só precisava fugir por tempo o suficiente.

-Não adianta fugir, nenhum humano é páreo para minha velocidade.Para ilustrar o que acabara de falar, no segundo seguinte ele apareceu na minha frente, me fazendo cair no chão ao tropeçar para não encostar nele.

-Me deixa em paz!Senti que estava tremendo de medo. Era algo que eu não conseguia controlar, e me amaldiçoei por ser covarde como qualquer outra pessoa perante a morte certa. O Hollow gargalhou.

-Prometo que não vai doer muito garotinha.

No meu pânico, consegui notar um tronco relativamente grosso e pesado a alguns metros. Se eu conseguisse pegar e bater na máscara dele com força, estaria salva. Levantei, sentindo as pernas tremerem ridiculamente.

-Você disse que foi enviado para me matar... Como assim?Ele riu, e eu fui andando lentamente em direção ao tronco. Ele não me atacaria enquanto eu estivesse mantendo-o falando. O Hollow me achava fraca demais para representar ameaça.

-Meu mestre me enviou para te comer. Ele disse que é um desperdício você na forma humana.

-Quê? Isso é maluquice!-Não me importa, ele me deixou comer você... Sua alma deliciosa hehehe.Ele voltou a se aproximar. Desesperada, tentei pensar em alguma coisa que o mantivesse falando.

-Por que vocês Hollows sempre me perseguem?

-Sua reiatsu é muito boa garotinha, depois de te comer não vou precisar me alimentar por um mês.De um salto peguei o pequeno tronco e saí correndo. O Hollow veio atrás de mim se divertindo, sem notar que eu estava me dirigindo para uma escada. Subi correndo e sem pensar duas vezes me atirei do alto, brandindo o tronco. Ele abriu a boca para me engolir, mas bati com toda a minha força o tronco na máscara dele, que quebrou.

-S-Sua maldita!

Caí no chão e rolei para longe, sentindo meu braço doer pois caíra por cima dele. Provavelmente o quebrara. Vislumbrei um vulto ruivo aparecendo ao meu lado e me amparando.

-KARIN, VOCÊ ESTÁ BEM?!

Ichi-nii segurou meu rosto, com Rukia ao seu lado.-SEU BAKA! Eu podia estar morta...Olhamos para o Hollow que sumia, e meu irmão me encarou com admiração.

-Nem eu quando humano consegui ganhar de um Hollow. Parabéns Karin.

Corei, era raro ele me elogiar.

-Não foi nada, SEU BAKA! Vê se não demora muito da próxima vez, qual é o seu problema?

-Bem, é que eu e a Rukia estávamos... Conversando e ai não vimos o alerta.

-Conversando? Vocês estavam é se pegando, e se eu tivesse morrido o que você ia fazer, só queria que...

Antes de terminar a frase enquanto me levantava senti algo afiado transpassar meu peito. Observei como que em câmera lenta o olhar de Ichi-nii se transformar de alívio em completo horror, e Rukia puxar sua espada. Olhei para trás, um Hollow muito maior do que o de antes estava parado, com um sorriso sádico. Foi então que notei que com uma de suas enormes garras me perfurara de um lado a outro do corpo.

Senti meu sangue jorrar, me deixando fraca. A dor chegou subitamente, ardia tanto que eu queria gritar até ficar rouca, mas não conseguia mais mover os lábios direito. O monstro me atirou em uma árvore para livrar as garras, porém não senti dor quando meu corpo bateu e estalou todo, provavelmente quebrando vários ossos...

-Karin!

-Meu mestre sabia que o outro era um fracote, então me mandou esperar ele morrer para terminar o serviço. Serviço terminado.

-O Hollow falava com um enorme sorriso de satisfação, como se esperasse um prêmio pela sua inteligência.

-GETSUGA TENSHOU!O Hollow desapareceu, voltando a aparecer atrás de Ichigo. Provavelmente tinha a habilidade de ficar invisível e esconder reiatsu, por isso não o notamos se aproximando. Rukia o destruiu rapidamente com um gesto de sua espada branca, e os dois correram para me ver.

-Karin, Karin! Você está bem? Ah meu Deus, o que eu vou fazer? Rukia, vá chamar Orihime!

-Ichi-nii, não estou sentindo meu corpo. Que cansaço... Eu quero dormir.

-Não Karin, você não pode. Ah meu Deus, a culpa é toda minha...

-Não Ichi-nii, eu quero que você fique orgulhoso de mim porque ganhei do Hollow, não que chore...

Tossi, e para meu choque saiu sangue da minha boca. Tentei levantar a mão para limpar, mas não conseguia mover nada. A dor estava passando aos poucos, a sensação agora era de sono, uma paz muito boa. Entendi que devia estar morrendo. Ichigo estava com os olhos vermelhos, prendendo o choro, eu queria abraçá-lo e dizer para ele não sentir culpa, que estava tudo bem, todavia minha visão estava escurecendo e eu mal conseguia vê-lo. Forcei voz a sair para dizer as últimas palavras.

-Ichi-nii, diga ao papai e a Yuzu que eu os amo. Eu amo você demais... E ao Hitsugaya, por favor fale a ele que eu...

-KARIN... Não consegui mais falar nada, minha visão se turvou completamente e o estranho sono tomou conta de mim. Estava morta.