Não Pode Ser

No dia seguinte o clima entre Nico e Thalia era o mais tenso possível, sem contar que todos reparam na falta das trocas de farpas e brigas por coisas insignificantes. Os dois mal se encaravam, e isso causou um grande alvoroço na casa.

Os únicos que pareciam alheios a mudança, repentina, de Nico e Thalia, eram Percy e Annabeth que sorriam feitos bobos, na manhã seguinte.

Dias, semanas, e logo dois meses se passaram dessa forma. Nico e Thalia calados, Annabeth e Percy mais juntos que um verdadeiro casal, o que começava a causar uma certa dúvida sobre a real relação dos dois, e uma certa morena de olhos azuis era a mais desconfiada.

Sally e Poseidon estavam viajando para comemorar o vigésimo quarto aniversário de casamento, a contragosto da mulher, e esse era o argumento para que não fossem viajar:

- Não posso viajar agora, Annabeth está para dar a luz. Seria irresponsabilidade! – a mulher disse, quando Thalia perguntara para aonde iam naquele ano.

- Como assim não vai? Sally, eu me sentira muito mal se você e Poseidon não viajassem, ainda mais por minha causa. – Annabeth disse beirando o desespero. – Eu já atrapalhei demais, não me deixe atrapalhar uma data tão importante.

- É mesmo, mãe. Sem contar que vocês sempre viajam e deixam seus filhos, belos e maravilhosos para trás. – Thalia disse fingindo-se de ressentida. – Por que não podem fazer isso com a Annabeth também?

- Como se eu fosse levar vocês para comemorar junto. E eu não posso fazer isso com a Annabeth, porque ela está grávida. – Sally disse e Thalia fez uma careta.

- Urgh. Eu prefiro ficar fora dessa comemoração. – a morena de olhos azuis disse e Sally e Annabeth riram.

- E então, Sally. Vocês vão, não vão? – a loira perguntou esperançosa.

- Vou conversar com Poseidon. – a Sra. Jackson disse dando um largo sorriso.

O homem aceitou, mas também ficou com o pé atrás em deixar Annabeth beirando o oitavo mês de gestação na responsabilidade de Percy e Thalia.

- Somos capazes de cuidar da Annie, nós somos responsáveis. – Thalia disse depois que sua mãe deixara uma lista anexada à geladeira com todas as regras e cuidados que deveriam ter, enquanto estavam fora.

- É capaz a Annabeth entrar em trabalho de parto e ser mais responsável que você dois. – Poseidon disse, enquanto levava as malas para o carro de Percy. Já que seu filho os deixaria no aeroporto e de lá voariam para Miami.

- Nossa. Querido pai, a sua demonstração de confiança me deixa comovido. – Percy disse ofendido e sua irmã compartilhava a opinião.

- Eu confio em vocês. Só que separados, cada um trancafiado sem nada pontiagudo ou mortífero por perto. – Poseidon disse voltando para a sala.

- Pai, quando fizemos algo que o desapontara? – Thalia perguntou e Poseidon a olhou cético.

- Quando viajamos e deixamos vocês responsáveis pela primeira vez, chegamos e tinha trinta e duas reclamações de barulho no condomínio. Na segunda a Thalia estava com o pé engessado e o Percy estava com a perna e um corte no supercílio, na terceira vocês deram uma festa que durou um final de semana INTEIRO e na última... Na última não aconteceu nada. – Poseidon disse pensativo.

- Como não? O Percy estava detido na delegacia e eu como uma ótima irmã o deixei apodrecer lá. – Thalia respondeu com um enorme sorriso.

A última vez fora quando Percy e Thalia estavam brigados, duas semanas depois saiu o boletim da escolar e para a surpresa de todos Percy tinha repetido.

- É mesmo. – Sally disse e depois a sala entrou em um silêncio perturbador. Cada um revivia aquele fatídico mês.

Annabeth não entendera o silêncio que se instalara aquele dia, mas prometeu a si mesma que tiraria essa imensa dúvida que a atormentava.

Poseidon logo quebrara o silêncio com alguma frase engraçada e todos voltaram aos seus afazeres. Thalia, Percy e Annabeth deixaram Sally e Poseidon sob milhares de recomendações e promessas de que se algo acontecesse podiam ligar a qualquer momento.

- Como se eu fosse interromper uma reprodução humana. – Thalia disse, enquanto sorria e acenava para seus pais fazendo Percy e Annabeth gargalharem ao seu lado. – Não tragam mais filhos, vocês já têm dois. – a morena de olhos azuis gritou, fazendo seus pais desviar os olhos envergonhados.

Marta que estava responsável pelos três vivia no pé de Thalia e Percy que volta e meia queriam faltar às aulas, mas a mulher como era pulso firme não permitia. Calypso era outra que estava sendo observada, mais a responsável pela morena era Thalia que não deixava a garota ficar sozinha nem com Percy e muito menos com Annabeth.

A segunda semana de junho estava se iniciando e os irmãos mais preguiçoso da face da terra tentavam, em vão, fazer com que Maria os deixasse faltar.

- Maria, hoje as aulas nem são tão importantes assim, até porque é revisão já que a férias de verão começam daqui a duas semanas. – Percy disse tentando persuadi-la. – E eu sei tudo, de cor e salteado.

Thalia e Annabeth, que estava sentada tomando seu café, riram e o moreno as olhou severo.

- É mesmo Maria, o professor só vai ficar repetindo o que disse o semestre inteiro. – a morena de olhos azuis tentou e a mulher intercalou seu olhar ente os dois.

- Está bem, podem faltar hoje, mas amanhã vocês irão. Entenderam? – a mulher perguntou, enquanto se esquivava de Percy que tentava lhe dar um beijo.

- Maria você é a melhor. – Thalia disse abraçando a mulher e Percy a agarrou por trás dando um beijo estalado em sua bochecha.

- Para, menino. Eu tenho mais o que fazer. – a mulher disse distanciando-se de Percy e Thalia que pulavam feitos doidos. Depois do final da exagerada comemoração, a morena de olhos azuis sentou-se arfando e perguntou:

- O que vamos fazer agora?

- Sei lá. Vamos... Ahn. Deixe-me pensar... – Percy disse enquanto pensava em algo. – Vamos ao shopping? – o garoto perguntou dando de ombros. As duas garotas assentiram e logo subiram para se trocarem.

O moreno também subiu para seu quarto na intenção de trocar de roupa, quando ouviu o telefone tocar, por coincidência Thalia saiu de seu quarto com a mesma roupa de antes e estava descendo as escadas, quando Percy gritou:

- Cara de Pinheiro, atende ao telefone. – a morena bufou, mas correu para atender o aparelho, que tocava incansavelmente, na mesa perto do sofá.

- Alô? - Thalia disse olhando as unhas, prestando a mínima atenção possível ao telefone.

- Alô. É da casa da Sally Jackson? – uma voz feminina indagou do outro lado da linha.

- Sim. Quem gostaria? – a morena perguntou, mais uma vez.

- Aqui é uma antiga colega de faculdade. A Sally estaria ai? – perguntou educadamente, e a morena de olhos azuis revirou os olhos.

- Não, ela não está. No momento ela está em uma viagem para comemorar o aniversário de casamento. – apesar da pouca paciência, a morena respondeu educadamente.

- Sério? Ela ainda está com Poseidon? Meu Deus, eu sempre soube que os dois ficariam junto para sempre. – a mulher disse animada e Thalia sentiu uma imensa vontade de rir.

A mulher parecia uma adolescente que acabara de descobrir sobre o namoro de sua melhor amiga. E aquilo não passou despercebido por Thalia, que fingia tanta animação quanto à mulher, que ainda não fora identificada.

- Sim, ela ainda está com o meu pai.

- Sally teve outro filho além de Percy? – a mulher perguntou, e a morena de olhos azuis começou a perder a pouca paciência que possuía naquele momento. – Na verdade filha. Não é mesmo?

- Na verdade não. Mas é uma história complicada. – Thalia cortou e a mulher pareceu perceber o mau-humor da morena.

- Tudo bem. Você poderia avisar que a May da faculdade ligou? – a mulher perguntou.

- Aviso sim. Pode deixar. – a morena ia desligar, quando se lembrou que não tinha o contanto da mulher. – Qual o seu telefone, mesmo?

A mulher falou, e Thalia anotou.

- Seu nome, por favor. – a morena pediu, pois estava anotando o telefone na agenda eletrônica de sua casa, assim evitara infortúnios, quando sua mãe voltasse de viaje.

- May Castellan.

De repente, Thalia sentiu seus pulmões se contraírem e o ar deixou de passar por suas traquéias deixando-a sem fôlego. Quantas famílias Castellan, poderiam existir? A morena tentava, em vão, sugar o oxigênio de volta aos seus pulmões, quando May continuou:

- Milhões de desculpas. Eu sempre me esqueço. Meu nome é May Willians, sempre me esqueço que não sou mais casada. Muito obrigada... – a mulher deixou uma brecha para que a morena de olhos azuis, recém recuperada do susto, continuasse.

- Thalia.

- Muito obrigada, Thalia. – e desligou.

A Grace ainda atônica escorregou para o sofá, fitando um ponto fixo na parede a sua frente.

- Meu Deus, não pode ser. Pode? – a morena sussurrou, mentalmente.

Thalia ficou incontáveis minutos, parada analisando a parede de sua casa, mas a sua cabeça estava tentando encontrar uma explicação para tamanha coincidência. Será que aquela mulher eu acabara de ligar era a mãe do Luke?

- Não, não pode ser. – a garota murmurava como um mantra.

- O que não pode ser Cara de Pinheiro? – Percy perguntou atrás de si, e a morena pulou de susto.

- Perseu, quer me matar? – a garota já tinha voltado ao seu mau-humor habitual.

- Ei. Calma, Thalia. Só queria saber o que não podia ser. – Percy disse erguendo os braços na defensiva, e a morena o fuzilou com o olhar. – Então vai me contar, ou não?

Thalia negou com a cabeça e Percy bufou indignado.

- Está bem, se não vai me dizer, não diga. Mas vá se trocar logo, que daqui a pouco sairemos. – o Jackson disse autoritário e para a total surpresa do garoto, a Grace acatou sem objeções.

Já em seu quarto, Thalia ligou seu tablet, conectando-o a internet, para então iniciar uma pesquisa sobre o canalha que abandonara sua amiga grávida. A morena não sabia que nome colocar, por isso digitou o nome da mulher com quem acabara de falar.

May Castellan.

Para sua sorte apareceram poucos resultados, diminuindo assim seu trabalho. Clicou no primeiro link, que parecia de uma revista italiana e com a ajuda do Google Tradutor, consegui traduzir o que dizia a pequena nota.

Parece que o casal Castellan acabou de enfrentar, mas uma grande turbulência em seu casamento. Hermes Castellan, um grande magnata do ramo imobiliário, e da construção civil, foi visto mais uma vez acompanhado de mulheres mais novas que ele em um restaurante nobre de Roma. Segundo algumas fontes, May Castellan teria pedido o divórcio, nessa última sexta-feira. E hoje, 28, segunda-feira ela e seu filho, Luke Castellan foram vistos saindo de um fórum em Roma. Será que dessa vez acabou?

Pela nota, aquela noticia foi dada há exatos dois meses. E para o desespero de Thalia, May Castellan, era a mãe de Luke.

- Annabeth não pode saber disso. – a morena murmurou para si mesma, enquanto desligava seu aparelho.

Duas batidas na porta a tirou de seu estado de torpor, devido o espanto com o que acabara de ler. Annabeth pediu permissão para entrar e Thalia concedeu com um “entra” abafado.

- Já está pronta? –a loira perguntou colocando a cabeça para dentro do quarto de sua melhor amiga.

- Na verdade eu não vou mais. – Thalia disse e Annabeth estranhou.

- Por quê? – a Chase perguntou terminado de adentrar o cômodo e caminhou até a cama de Thalia sentando-se na beirada.

- Me lembrei que preciso deixar algumas alternativas em ordem, antes de entrar de férias. – Thalia deu a primeira desculpa que passou na sua cabeça.

- Você não vai ao shopping para ficar fazendo lição? – Annabeth perguntou incrédula.

- Por que eu não posso? – a morena perguntou mal-humorada, e Annabeth afastou-se um pouco.

- Claro que pode, mas eu achei estranho. Só isso. – a loira disse na defensiva.

- Desculpa Annie. Estou um pouco cansada. – Thalia disse massageando suas têmporas.

- Tudo bem, Tha. Deve estar bem corrido esse final do penúltimo ano. Não é mesmo? – Annabeth perguntou e parecia triste.

- Está bem corrido. É tanta coisa. Eu mesma preciso arranjar um estágio, antes que termine a faculdade, sabe como é que é. Estudando é mais fácil de arranjar um emprego. – Thalia disse e a loira assentiu com a cabeça, pensando que se não estivesse grávida, será que sua vida estaria tão corrida quanto à de Thalia?

- Está pensando no que, Annie? – Thalia podia estar mal-humorada, mas esse ânimo logo era abandonado, quando a Grace percebia que estavam precisando dela.

- É que começamos a faculdade juntas, e pensar que não iremos concluir juntas, me dá um aperto no coração. – a loira disse triste e Thalia aproximou-se a abraçando pelos ombros.

- Podemos não concluir a faculdade juntas, mas continuaremos juntas pelo resto de nossas vidas. Certo? – a Grace perguntou, mas não deu tempo para que Annabeth respondesse. – Certo. Sem contar que você vai concluir a faculdade depois que meu afilhado nascer. Ou seja, você ainda vai voltar para aquele inferno. Não se preocupa não. – a morena disse arrancando risadas da loira, que beirava as lágrimas naquele momento.

Meio minuto depois Percy abre a porta e vê as duas abraçadas. Então, ele corre e as abraça.

- Eu sei amiga. Ele é um canalha que não merecia o meu coração. – Percy diz com a voz fina, tentando em vão imitar uma mulher e as duas garotas gargalham com a péssima imitação do Jackson.

- Sai, Percy. – Thalia pede empurrando a barriga de seu irmão que estava na sua cara.

- Estão prontas? Ou estavam ocupadas demais com a sessão Gossip Girl? – o moreno perguntou deitando-se na cama de Thalia.

- Eu não vou. – Thalia diz e Percy a olha em busca de uma resposta. – Tenho umas lições para por em ordem.

- Você não vai ao shopping para colocar lição em ordem? – o moreno pergunta incrédulo. – Você nunca fez isso.

- Mas eu vou fazer agora. Qual o problema? – Thalia levanta-se da cama estressada. – Eu tenho responsabilidades. Beleza?

Annabeth e Percy se assustam com a explosão da morena.

- Calma, Thalia. Eu só estava brincando. – Percy diz, tentando acalmar a fera.

- Uma brincadeira de muito mau gosto. –a morena rebate.

- Então, o que a gente vai fazer agora? – Percy pergunta para Annabeth que dá de ombros.

- Como assim “o que a gente vai fazer”? Vão para o shopping, só que sem mim. Simples assim. – Thalia disse e Annabeth ergue a sobrancelha desafiando-a a dizer a verdade. Thalia sustenta o olhar, e a loira acaba desistindo de tirar o real motivo da Grace, ficar em casa, ao invés de acompanhá-los. – Se eu terminar cedo, eu encontro vocês lá. Está bem? – a morena perguntou e Percy assentiu levantando-se.

- Vamos? – o moreno perguntou estendendo a mão para Annabeth, que deu de ombros e aceitou a mão do moreno.

Thalia os acompanhou até o carro, e quando o mesmo sumiu de sua vista ela tirou o celular do bolso traseiro de seus shorts e discou rapidamente o número de Nico:

- Eu não acredito que vou fazer isso. – a morena murmurou, enquanto esperava o moreno de olhos negros, atender ao telefone. – Alô?

- Thalia? – o moreno parecia confuso.

- É Nico, sou eu a Thalia. – a morena disse educadamente, o que causou espanto em Nico. – Eu preciso da sua ajuda.

- Pra quê? – ele perguntou desconfiado.

- É só me responder algumas perguntas. – a morena disse e o moreno ainda desconfiado pediu que ela continuasse. – Você conhece a família Castellan?

- Conheço. É uma família tão tradicional quanto a minha na Itália. Por quê? – Nico perguntou confuso.

- E o Luke Castellan?

- Conheço. Ele foi meu vizinho na época em que morei em Milão. – o moreno voltou a responder.

- Eles são muito ricos?

- É uma das dez famílias mais ricas da Itália. Hermes Castellan é responsável por muitas construções civis. Uma vez a empresa do meu pai e a empresa de Hermes fecharam um contrato com o governo para a construção de linhas ferroviárias no país. – o moreno responde. – Por quê?

- Se eu estiver certa um pesadelo está para começar.