Jolly Roger

(Des)conhecido


—Não se preocupe, querido. Pelo que posso constatar, sua masculinidade continua intacta.”

Sakura Haruno:

—Homens não atingem outros homens abaixo do umbigo.—Resmungou Sasuke.— O golpe pode ser retribuído em alguma luta futura, e ninguém quer correr esse risco...

—Caso não tenha notado, eu não sou um homem.—Disparei e o moreno lançou um olhar nada puro para o meu corpo.

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—Como eu poderia esquecer?—Murmurou enquanto eu me afastava, desconfortável com a olhada do Uchiha.

—Além do mais.—Continuei.—Eu não queria realmente feri-lo. Minha intenção era colocá-lo em movimento.

O mosqueteiro sorriu como uma criança travessa, e disse:

—Nesse caso, beije-me para fazer parar a minha dor, e tudo estará tudo bem.

Arqueei uma de minhas sobrancelhas, que raio de pedido patético é esse?!

—Soldados não beijam os ferimentos que causaram em outros soldados!—Exclamei cruzando meus braços.

—Mas esposas beijam seus maridos para melhorar a disposição do pobre homem ferido em batalha.—Disparou o homem e eu me senti encurralada como um rato, sem saída, sem nenhum contra-argumento.

Eu olhei em volta e infelizmente não havia ninguém no pátio, e aproveitando esse raro momento de privacidade, eu me inclinei e enquanto eu fingia examinar as bandagens, beijei rapidamente o ventre dele.

Depois, antes de sucumbir á tentação de beijá-lo mais uma vez, eu amarrei a calça de Sasuke da melhor forma possível e dei a prestação de socorro por encerrada.

—Pronto. Satisfeito?

O moreno cruzou as mãos sob a cabeça e a fitou com um certo ar de triunfo.

—Ora, ora, você ficou preocupada quando percebeu que havia me ferido de verdade. E até beijou-me para me fazer sentir melhor. Sabia que ainda havia uma mulher de verdade sob essas roupas de homem...

Temi que eu rosto estivesse vermelho, mas antes que o constrangimento viesse eu retruquei:

—Temi ter incapacitado meu mentor, só isso. Quem mais poderia me treinar com a espada?—Apesar da minha fala, o conde continuava com aquele sorrisinho metido de lado, como se não acreditasse em nada que eu dizia.— Agora chega. Levante-se daí, preguiçoso imprestável. Já terminei o curativo. Foi só um arranhão, e temos trabalho esperando por nós.

O Uchiha não se moveu.

—Antes me beije mais uma vez.—Pediu sussurrando, me provocando, debochando de mim e o pior e que eu não sabia ao certo como deveria agir!

—Porque eu beijaria?—Disparei.

—Porque você me machucou!—Exclamou, visivelmente ofendido com a minha indiferença.

—Já dei um beijo. Agora já chega!—Neguei.

—Porque é minha esposa, então?—Sugeriu.

—Apenas aos olhos da lei.—Sibilei.—Nunca se esqueça disso...

—Então, por que você tem os olhos mais belos que já vi, e adoro olhar para eles até me sentir tragado por esses poços límpidos e profundos?

—Poético...—Suspirei e o mosqueteiro sorriu.— Para sua infelicidade, detesto poesia.—E assim seu sorriso desapareceu.— Devia guardar essas suas palavras às mulheres da taverna. Elas saberão tirar melhor proveito de seus poemas.

—Enfim, eu só queria dizer que você tem belos olhos. São como os de seu irmão, mas em um tom mais profundo.

Eu o encarei com desconfiança, mas a sua voz declarava sinceridade, e sem perceber, eu também comecei a prestar atenção em seus olhos. Negros como uma ônix. Negros como o céu noturno de Konoha.

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—Você tem olhos negros como os de um gato...—Murmurei sem querer e só tive noção do que eu disse quando vi meu esposo sorrir, mas não era um sorriso pervertido ou arrogante, era simplesmente um sorriso e eu não tive coragem de retrucar algo.

—Então formamos um belo par. Eu tenho olhos de gato, e você tem garras de uma felina.

—Uma felina enfurecida pode ser uma assassina cruel.—Lembrei enquanto eu me levantava e estendia a mão para ajudar o conde.—Lembre-se disso no futuro, antes de pedir um beijo.

Apesar da ameaça, Sasuke aceitou a mão estendida e se levantou num salto, sem demonstrar o menor sinal de desconforto por conta do corte.

—Você já me deu prova de sua ferocidade duas vezes.—Disse passando a mão pela roupa, a limpando, ou pelo menos tentando limpar.—Não ousarei me esquecer novamente, ou serei um homem morto.

Eu levantei minha espada, ansiosa.

—Então... Você vai esquecer que você é mulher e vai lutar comigo adequadamente?

—Jamais poderei esquecer que você é uma mulher, mas lutarei como se fosse homem.—Respondeu ele manejando a espada na mão, como se quisesse logo lutar, assim como eu.—Francamente, prefiro não correr mais riscos.

Eu o ataquei antes mesmo que Sasuke terminasse sua frase. Dessa vez o moreno defendeu-se vigorosamente, testando as minhas defesas sempre que era possível. Em poucos minutos o Uchiha me desarmou com um movimento rápido de braço que me sacudiu da cabeça aos pés.

Apesar do desconforto, eu sorri triunfante quando me abaixei para recuperar minha espada. De certo modo, eu venci a batalha. Agora o mosqueteiro me veria como um perigo, uma ameaça, e me trataria como todos os outros soldados.

Após meia hora de treino, eu baixei a espada e me dobrei ao meio para recuperar meu fôlego.

—Assim é melhor.—Disse.—Não gosto de ser tratada como criança.

De súbito, um movimento chamou a minha atenção em um canto do pátio e eu me virei para olhar. Uma figura coberta por um manto longo e negro e com a cabeça oculta por um chapéu acenava para mim com certo desespero, mas mesmo assim sua atitude era furtiva.

Eu suspirei, a minha lição de hoje estava muito boa, mas, como mosqueteira, eu havia jurado ajudar aqueles que necessitassem de minha ajuda.

—Desculpe-me por um momento.—Murmurei, não tirando meus olhos da pessoa de manto.—Parece que algo reclama a minha atenção...

O conde seguiu a direção do meu olhar e viu a figura nas sombras.

—Algo... Ou alguém? Ele?

—Parece que sim.—Respondi.

—Que assuntos pode ter para tratar com outros homens, esposa?—Indagou e eu o ignorei, principalmente a última palavra, que fora sussurrada.

—Volto logo.— Disse partindo na direção do visitante, mas Sasuke me seguiu, sério.

—Quer falar comigo?—Perguntei ao chegar perto do desconhecido, e o mesmo empalideceu ao ser abordado tão diretamente.

Ele puxou o chapéu sobre o rosto e fechou o manto em torno do corpo.

—Quero falar apenas com você, não com seu companheiro.— Falou o desconhecido.

Eu olhei para o moreno, mas o Uchiha balançou a cabeça, em um claro sinal de que ele não sairia dali.

—Onde você for, eu também irei. Até as mais furiosas felinas precisam de alguém que proteja sua retaguarda.

Eu olhei para o desconhecido e disse:

—Atesto que esse homem é confiável e muito discreto. Se tem algo para me dizer, seja o que for, pode dizer a ele também. Fale.

O homem olhou de soslaio para o conde, como se tentasse tomar uma decisão. Após um momento de reflexão, ele encolheu os ombros, como se quisesse se esconder ainda mais debaixo do seu manto negro.

—Se insiste, suponho que não tenho escolha...

—Eu insisto.— Respondeu o conde.

O visitante passou a ignorá-lo, dirigindo-se exclusivamente a mim.

—Você esteve na guarda ontem á noite?—Sua voz era baixa, mais uma indicação de que ele não queria ser ouvido.

Eu não conseguia ver seu rosto e eu não gostava de ter que conversar com um estranho envolto em um manto escuro em plena luz do dia, como se tivesse algo a esconder.

—Estava.—Respondi.

O desconhecido apontou para rua.

—Então, venha comigo, por favor.—O desconhecido pediu mas eu não saí do lugar.

—Para onde? E por quê?—Questionei, na defensiva.

—Vamos, eu tenho pressa.—Pediu com urgência.— Não me importo com o nosso destino, desde que encontremos algum lugar onde possamos falar com privacidade.

Olhei ao meu redor, não havia quase ninguém ali, e os poucos presentes estavam muito afastados eles, compenetrados em seus assuntos.

—Porque não aqui?—Insisti e o homem olhou em volta, desesperado.

—Há muita gente aqui, gente que pode nos ver juntos. Por favor, venha comigo. Qualquer lugar privado serve. Juro que não desejo fazer-lhe mal algum. Pode me revistar, se quiser. Estou desarmado. Além do mais, tem seu cão de guarda particular para protegê-lo.

Ele não parecia capaz de fazer mal a uma mosca, mas, ainda assim, eu o segui com grande relutância. Era bom saber que um mosqueteiro guardava as minhas costas. Não tenho o hábito de buscar o sigilo das sombras para cuidar de meus assuntos, mas o desconhecido se mostrava tão desesperado, tão aflito por sua ajuda, que não tinha coragem de se negar a atendê-lo.

Uma vez na rua, fora da área do regimento, o homem olhou para um lado e para o outro como se não soubesse onde ir, ele estava visivelmente perdido.

—Você conhece algum lugar próximo daqui onde possamos conversar? Estou acomodado em um local distante daqui, e não quero ser visto andando pelas ruas com você.

Eu considerei todas as possibilidades. As acomodações que divido com Sasuke é a minha única opção, embora eu não goste muito da idéia de levar até lá alguém que nem conheço. Entre aquelas paredes eu viva como uma mulher, não como um soldado. Não quero que um estranho misterioso descubra meu segredo.

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Mas... Não havia outro lugar. Irritada e com pressa, eu comecei a andar a passos largos e rápidos, decididos. Sasuke me seguia de perto, e o homem misterioso praticamente corria para conseguir nos acompanhar. Assim que nós entramos na casa, o homem se deixou cair numa cadeira próxima e massageou os tornozelos como se sentisse dor intensa.

—Vocês andam mais depressa do que um cavalo pode cavalgar!—Queixou-se.—Meus pés devem estar cobertos por bolhas...

Eu me abstive de dizer que seus pés estariam em melhor estado, se seus sapatos não tivessem o salto tão alto...

—Muito bem, pode falar agora.—Suspirei me jogando no sofá, sem me importar com o desconforto de meu “hóspede”.

O moreno se acomodou ao meu lado, sem desviar o olhar do desconhecido.

—Você prendeu uma mulher ontem á noite?—Indagou e eu me mantive em silencio, o rei me aconselhara a guardar segredo, mas eu também não podia mentir...

—Não posso lhe dar informações sobre esse assunto.—Respondi mecanicamente.

—Então a prendeu. Oh, pobre Karura!—Exclamou o homem pousando a mão sobre a testa, desesperado.

—Quem é essa Karura a quem ele se refere?—Sussurrou o Uchiha para mim.

—Ela é minha irmã.—Anunciou o desconhecido, retirando o chapéu.

Eu não contive a minha surpresa e o meu espanto ao ver o rosto do homem, tão parecido o da rainha Karura de Suna.

—Duque... Yashamaru?—Sussurrei, como que pude estar na presença da realeza durante todo esse tempo sem me dar conta disso?!

—Sim, eu sou o duque.—Respondeu, como se seu porte elegante e a “áurea nobre” que o cercava não fossem respostas o suficiente.

Eu me inclinei, me apoiado sobre um joelho e abaixei minha cabeça. Ofender a realeza deixando de honrá-la devidamente era a maneira mais rápida de ter a cabeça separada do corpo.

—Perdoe-me se fui rude, meu senhor. —Falei.— Não sabia que era o senhor...

Ao meu lado, meu esposo retirou o chapéu sem nenhum sinal do antagonismo de antes.

—Ao seu dispor, meu senhor.—Disse o mosqueteiro.

Sem se preocupar com desculpas, Yashamaru fez um sinal para que ambos se levantassem e nós obedecemos.

—Esse era meu objetivo.— Falou.—Eu não queria ser reconhecido. Terei mais sorte do que mereço se mais alguém me reconhecer. Agora, vai me contar o que aconteceu com minha irmã?

O duque não parecia feliz com as notícias da detenção da irmã, apesar dos rumores darem conta de que os dois não suportavam olhar um para o outro.

—Eu a detive e a levei pessoalmente ao governador da prisão ontem á noite.

—Com que autoridade?—Perguntou, me encarando com firmeza.

—Recebi ordens diretas do rei. Ele escreveu de próprio punho a carta que entreguei ao governador.—Respondi, incomodada com aquele olhar penetrante do nobre que ao saber o que rei ordenara a prisão da própria esposa, os olhos azuis se tornaram sombrios.

—Traição.

—O rei de Suna é um bastardo mulherengo e hipócrita. Que Deus faça sua alma apodrecer no inferno!—Exclamou o homem, irado de raiva.