Cinco dias atrás...

Aquela noite possuía temperatura amena.

Sentados na varanda da casa da Bonnie, estavam ela, Elena, Caroline e Tyler. Elena usava um casaco de camurça vermelho. Tyler e Caroline trocavam carícias de instante em instante.

Eles falavam de tudo um pouco, todos sentados no chão. Era possível ouvir o canto dos grilos que vinha diretamente do gramado ao lado e sentir a brisa noturna que se espalhava de forma lenta e suave pelo lugar.

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- Tudo bem – disse Elena – Chega de falar sobre isso.

Caroline sorriu maliciosamente e apertando a mão do Tyler, perguntou:

- Qual o problema de falar sobre sexo?

Elena bufou e não conseguiu conter o riso que apareceu em seus lábios. Ela se levantou e tirou o casaco de camurça, alegando que estava com calor.

- Quer que eu guarde ele lá em cima? – perguntou Bonnie.

Elena assentiu e sorriu.

- Obrigada – disse ela ao entregar o casaco a amiga.

Bonnie levantou – se repentinamente e entrou dentro de casa.

Caroline esperou o som dos passos de Bonnie sumirem e colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha esquerda, bufou.

- O que houve? – perguntou Tyler, enquanto a encarava com uma expressão confusa no olhar.

Caroline franziu a testa e Elena a encarou neste instante, ansiando pela resposta.

- A Bonnie – respondeu Caroline – Ela está estranha, fria. As ações dela não estão fazendo muito sentido para mim.

Elena olhou através da porta entreaberta e percebendo que Bonnie não se aproximava, levantou – se e se sentou ao lado de Caroline.

- Porque as ações dela não estão fazendo sentido? – perguntou Elena olhando para Caroline que estava com a cabeça baixa.

Caroline bufou mais uma vez.

- Antes de vocês chegarem, quando ela e eu estávamos sozinhas, simplesmente do nada, ela veio até mim e com uma tesoura, cotou umas mechas do meu cabelo. Isso não faz sentido algum.

Tyler riu e abraçou Caroline.

- Relaxa. Você está se preocupando atoa. – disse ele ao beijá – la no canto esquerdo da bochecha.

Elena também sorriu.

- Daqui a cinco dias é o aniversário dela e como nós sabemos, ela sempre fica estranha na véspera do aniversário. – disse ela por fim.

Caroline sorriu de uma maneira nitidamente forçada e Bonnie chegou.

- Do que vocês estão falando? – perguntou Bonnie ao sorrir.

O corpo dos três tremeu ao ouvir aquela doce voz.

- Nada de útil. – respondeu Elena ao se afastar de Caroline.

Bonnie sorriu mais uma vez.

- Acho que já está na hora de partir – disse Tyler ao se levantar. – Estou sem carro e já está ficando tarde.

- Eu posso te deixar em casa – disse Bonnie, de forma imediata, ao sorrir para ele. – É mais fácil para mim te levar do que a Caroline ou a Elena que moram do outro lado da cidade.

Tyler sorriu e agradeceu.

Elena e Caroline se levantaram. Elena se despediu do casal e foi em direção ao seu carro. Caroline abraçou Tyler da maneira mais profunda que podia e o beijou como se aquele fosse o último instante que eles passariam juntos.

- Eu te amo. – disse ela ao olhá – lo diretamente nos olhos.

Ele não respondeu, simplesmente a beijou mais uma vez.

Caroline ouviu o motor do carro de Elena e lembrou – se de ir embora. Ela o abraçou novamente e partiu. Tyler virou – se para trás e pôde ver Caroline caminhando por entre o negro jardim. No meio do caminho, ela também olhou para trás e ao ver que ele a observava, ela sorriu e cruzou os braços.

- Te vejo amanhã. – disse Caroline por fim.

Ele assentiu e sorriu. Ela voltou a caminhar em direção ao carro.

É uma grande pena que nem sempre as histórias de amor tenham um final feliz. Eles não tinham a menor idéia de que aquele seria o último momento que passariam juntos.

• • •

Bonnie assistia toda aquela cena sufocada.

Que tipo de monstro ela havia se tornado? Como ela poderia ter a capacidade de fazer aquilo com a amiga?

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O corpo de Bonnie tremia e ela respirava de forma nitidamente forçada.

Tyler respirou fundo e virou – se para trás mais uma vez.

- Você está bem, Bonnie?! – perguntou ele ao perceber o estado emocional da jovem garota.

O corpo de Bonnie estremeceu ao ouvir a voz de Tyler. Ela o olhou assustada, mas logo em seguida sorriu.

- Tudo sim – respondeu ela – Vou pegar as chaves do carro lá em cima.

Tyler estranhou a mudança repentina de comportamento, mas logo baixou a guarda e sorriu.

Bonnie entrou em casa mais uma vez e ele pôde ouvir os passos dela sumirem aos poucos.

• • •

Quando retornou, Bonnie tinha nas mãos as chaves do carro e por algum motivo superior, o casaco vermelho de camurça de Elena.

- Vamos? – disse ela.

Tyler, que estava apoiado na parede, olhou para o casaco de Elena com uma expressão duvidosa. Ao perceber a expressão do jovem lobo, Bonnie sorriu ao dizer:

- Bem, a Elena esqueceu o casaco e eu vou levá – lo até ela. – Bonnie estendeu o casaco até o Tyler. – O que há de estranho nisso pra você me olhar assim?

Ele tremeu ao ouvir a pergunta.

- Nada – respondeu ao se afastar da parede. – Vamos? Já está tarde.

Bonnie assentiu e pondo o casaco de Elena no ombro esquerdo, foi em direção ao carro, passando pelo negro e sombrio jardim com o vento batendo levemente em seu rosto. Tyler partiu logo em seguida sem saber o que esperava por ele.

• • •

As janelas do carro estavam abertas.

A gélida ventania noturna fazia com que Tyler sentisse arrepios quando ela o atingia.

Era possível ouvir apenas o barulho dos pneus ao entrarem em atrito com o asfalto. Tyler olhava para o lado e via extensos terrenos vazios, com o gramado refletindo a luz do luar. Um turbilhão de pensamentos vieram até sua mente, mas o que predominou se denominava Caroline. Como eu pude me apaixonar tanto por uma garota?, perguntava ele a si mesmo de forma silenciosa. Olhando para o céu, assim que mirou a lua, ele pôde ver um corvo passando por ela e soltando seu canto.

Tyler bufou.

Ele percebera naquele instante que a viagem estava demorando mais que o comum. Olhando para Bonnie, ele pôde perceber que ela tremia e chorava de forma sufocada.

- Você está bem, Bonnie?

Ela não o respondeu dessa vez, simplesmente secou algumas lágrimas e continuou a dirigir.

Tyler respirou fundo e ao prestar mais atenção na estrada, percebeu algo que certamente não queria.

- Bonnie, você está indo no caminho errado. Essa estrada vai dar na floresta, tem certeza que você está bem? Quer que eu dirija no seu lugar? – perguntou ele ao tirar o cinto de segurança.

Ela fechou os olhos e levantou a cabeça.

- Estamos indo no caminho certo, logo você vai entender. – disse ela de uma forma tão sombria que provocou arrepios em Tyler.

Um tremor atingiu o corpo de Tyler ao ouvir aquilo. Um pressentimento ruim golpeou o coração dele e por um instante ele pôde sentir o cheiro da morte.

“Saia desse carro, Tyler, saia!”, disse uma voz, que vinha de dentro dele. Era sua consciência o ajudando ao perceber que Bonnie agora dirigia numa velocidade alta.

- Eu quero descer, Bonnie. Para esse carro. – disse ele enquanto o pavor tomava rapidamente conta de seu corpo.

Ela não demonstrou reação alguma ao que foi dito.

- PARA ESSE CARRO! – gritou ele ao empurrá-la, fazendo – a perder o controle do veículo.

Ele capotou três vezes e bateu numa árvore.

Aqueles foram minutos de angústia para ambos. A respiração ofegante era misturada ao movimento brusco do veículo. O cinto de segurança reduziu o impacto do acidente em Bonnie, porém, com Tyler, aconteceu o pior. Bonnie pôde ver o corpo dele bater no vidro frontal do carro e logo em seguida parar sobre seu corpo no mesmo instante em que o carro por fim se chocou contra a árvore.

Ela pôde sentir o sangue quente dele escorrendo por seu corpo. Ela pôde sentir o calor do corpo dele, mas infelizmente, não pôde sentir a sua respiração.

Tyler estava morto. Ela havia conseguido o que queria. O sacrifício de um híbrido. Klasmus seria eternamente grato a ela e cumpriria sua parte no ritual.

Quando pensou nisso, ela não pôde conter a felicidade aliada a culpa e ao arrependimento. Ela empurrou o corpo do morto para frente, tirou o cinto de segurança e saiu do carro.

O vento parecia soprar com mais violência.

Bonnie estava com o corpo levemente machucado, tudo isso graças ao cinto de segurança que a impedira de se chocar com o vidro.

Pondo o cabelo para trás, com as mãos sujas de sangue, ela retirou o corpo do hibrido do carro. Ver o rosto do Tyler foi difícil para ela, pois era impossível não lembrar do quanto aquilo machucaria Caroline, mas infelizmente era necessário.

Ela levou o corpo de Tyler até centro do asfalto. Sentou – se ao lado dele e tirou sua camisa. Ela tremeu quando pegou a faca que estava em seu bolso. As lágrimas escorreram de forma mais intensa dos olhos de Bonnie. Ela olhou para o corpo dele e por um instante, fraquejou.

Como eu pude fazer uma coisa dessas?, pensou ela.

Ela elevou a mão desocupada ao rosto e soluçou.

Respirando fundo, ela elevou a faca até o peito esquerdo de Tyler e o perfurou.

Bonnie pôde sentir o sangue dele batendo em sua mão.

Em meio a estrada vazia e azulada, iluminada simplesmente pela luz do luar, com o vento batendo ferozmente em seu rosto, Bonnie arrancou um coração ainda pulsante.

Levantando – se bruscamente, ela pôs o coração numa sacola e jogou a faca ensangüentada no chão, que se debateu até parar alguns segundos depois. Ela correu até o carro e nele pegou o casaco de Elena e uma pequena caixa com o cabelo de Caroline.

Ela olhou pela última vez para o corpo morto na estrada e correu por entre as árvores da floresta que estava ao seu lado, afim de completar a fase inicial do ritual que mudaria sua vida para sempre.