Dandelion

O esforço


7 meses depois...

Primeiro dia da primavera. Minha barriga gigante cobre até a visão dos meus pés. Dandelion estava me dando um trabalho danado, e à Peeta, e à Annie, e à Tarea, e à um grande grupo de pessoas que concordavam em tomar conta de mim enquanto Peeta estava trabalhando (à contragosto).

Minha rotina mais uma vez se tornara repetitiva. Antes eu trabalhava no caixa e nas encomendas da padaria, agora eu vou da cama para o banheiro, da cama para a cozinha ou da cama para o sofá.

Dandelion podia nascer a qualquer momento, o que me a apavorava. Tarea deu algumas dicas para acelerar esse processo como ingerir pimenta, dar longas caminhadas, olho de girassol e até soros ricos em ocitocina.

Não disse para ninguém ainda, mas estou completamente aterrorizada com o parto. Annie não ajudou muito nesse quesito pois disse que o parto era como passar uma bola de boliche por um anel. Ah, também me contou algumas doenças relacionadas ao parto como eclâmpsia e eritoblastose fetal. Muito obrigado mesmo Annie...

Neste exato momento eu estou no sofá da sala assistindo TV e acariciando a minha barriga. Por causa do peso, minhas costas estavam me acabando. Já estava tarde, eram sete e meia da noite e Peeta estava na cozinha preparando uma sopa para nós dois.

Fui surpreendida com o toque da campainha e me levantei sofregamente para atender a porta. Annie me mandou voltar a sentar e abriu a porta para mim.

As pessoas entraram e atravessaram o corredor com caixas e mais caixas de presentes. Não conti o sorriso ao ver Madge, Johanna, Lyra, Irene, Devor, Forks, Effie e Haymitch correndo até mim, cumprimentando-me com beijos e abraços. Peeta saiu da cozinha e também foi cumprimentado, mas logo adentrou a cozinha para terminar a comida.

–Haymitch, o que faz sozinho com as meninas há essa hora? - pergunto maliciosamente.

–Nada que mereça esse sorriso, Docinho. - ele retruca.

–Eu sei que você não estava muito afim de um chá de bebê, mas é quase um crime dispensar esse tipo de festa! - Annie esbraveja animada.

–Obrigada meninas! E Haymitch... Então, como estão de vida? Não nos vemos a semanas! Talvez meses! - pergunto a todos.

–Estudar, estudar e algumas vezes... Estudar! - Madge responde. Devor e Forks assentem. -Eu faço administração enquanto as duas aqui - ela aponta para as amigas ao lado - fazem medicina.

–Estamos no segundo ano. - Devor adicionou.

–Que ótimo! Eu provavelmente não sei nada sobre medicina, mas estou muito feliz por vocês. - digo. -Lyra, como vai o Taran?

–Trabalhando com a sua mãe. Ele passa o dia inteiro no hospital e nas férias semanais eu vou para a casa dele. - ela me responde.

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–Isso é bem legal. Er... Irene! Como vai o restaurante dos seus pais?

–Em obras, pois eles estão reformando a decoração.

–Legal. Vamos aos presentes? - Effie propõe já que sua provável previsão fosse de que eu iria conversar até as altas horas da noite.

Madge me entrega a enorme caixa rosa que ela carregava com dificuldade. O laçarote vermelho finalizava os detalhes super chamativos do presente.

–O meu vai primeiro, já que a madrinha tem preferência! -Madge diz animada.

–Tudo bem. - desenlaço as faixas e rasgo o papel rosa bebê. Dentro há um berço móvel de ferro com muitos botões idêntico ao de Annie. -Madge! Esse berço deve ter custado uma fortuna!

–Foi a fortuna mais bem gasta da minha vida! Esse berço tem várias funções: ele vira um berço fixo, móvel, pode encaixar as rodinhas, tem abafador sonoro... Eu me preocupo muito com a minha afilhada!

–Você é um anjo! Obrigada. - dou um abraço apertado nela comprimindo a minha barriga fazendo-a doer um pouco.

–Como padrinho, o meu é o próximo! - Haymitch declara com a voz embargada por conta da bebida. -Toma aqui e abre logo.

Pego e abro o embrulho rapidamente. Era um pacote bem grande de fraldas dentro de uma caixa de madeira decorada. Com pontos verdes e laranjas, a caixa tinha um ar infantil e meigo. Com certeza Haymitch não escolheria algo tão adequado...

–Quem escolheu isso Haymitch? - pergunto analisando a caixa.

–Foi a Effie. Não consegui encontrar nada legal para dar a Docinho Jr. então dei o dinheiro para a Effie comprar para mim.

–Como eu não pensei nisso antes... - murmuro risonha.

–Er... Katniss, nós compramos o presente em dupla porque não sabíamos o que comprar. -Lyra diz. -Por isso no cartão está escrito 'de Lyra, Irene e Taran'. Esperamos que goste.

Lyra estende a caixa mediana em minha direção e eu a alcanço com dores na barriga que cresciam gradualmente. Rasgo o papel brutalmente e encaro a caixa fechada. Abro e encontro várias roupas de bebê dobradas e empilhadas.

–Obrigada! É tão meigo. - agradeço.

–Não é nada. Inicialmente queríamos... - Irene começa a dizer mas não escuto as próximas palavras pois me concentro em uma dor forte em meu ventre, que se desenvolveu daquela dor em minha barriga . -Katniss, está tudo bem?

Provavelmente a minha careta de dor a assustou. Sinto o líquido fluir pelas pernas e silenciosamente eu peço ajuda a quem estiver escutando. Agora sei o que está acontecendo...

–Ah meu deus, a bolsa rompeu! - Madge exclamou assustada. -
Haymitch vá agora chamar o Peeta! - ela se ajoelha ao lado da minha poltrona e segura a minha mão enquanto tira os cabelos do meu rosto. Já estava suando frio de tanta dor. E, para finalizar, o frenesi começou:

–Vamos levá-la para o hospital! - Effie sugere.

–É muito longe, deve nascer antes. - Forks corrige-a.

–A sua mãe já chegou? - Madge pergunta.

–Não, ela só... Volta mais tarde. - respondo com a voz entrecortada.

–O que a gente vai fazer? - Lyra se desespera. -Eu vou ligar para a sua mãe. - ela corre para a cozinha de onde saem Haymitch e Peeta.

–Me desculpem, mas eu vou embora. É tensão demais para mim. Me liguem quando a criança sair. - Johanna deixa a sala calmamente mas visivelmente perturbada.

–Calma Katniss, eu estou aqui. - Peeta vem até mim e me dá um beijo. Me distraio observando uma discussão profissional entre Devor e Forks, então me lembro que elas são praticamente médicas!

–Katniss, a sua mãe vai demorar uma hora para chegar e ela está vindo com o Taran. - Lyra vem até a sala com o telefone em mãos. -Ela disse para você tomar um soro... Alguma coisa assim.

–Vem cá. Vamos lá para cima para você ficar mais confortável. - Peeta diz. Ele me pega no colo e sobe até o nosso quarto, me depositando calmamente na cama. Antes ele me ajuda a vestir um vestido amarelo que fica soltinho em mim e é mil vezes mais confortável que o moletom que eu estava vestindo.

Agora eu estou deitada na cama, encharcada de suor, agarrada à mão de Peeta e esperando a minha mãe chegar. As contrações começaram a ficarem constantes e fortes, junto aos meus urros de dor. Não conseguirei esperar a minha mãe chegar.

–Katniss, sua mãe não chegará a tempo então nós teremos que fazer o parto. - Devor diz. -Não se preocupe, já sabemos o que fazer! Espere um pouco. Forks pegue o que precisamos!

Devor entra no banheiro, corta as unhas, prende os cabelos em um coque alto e lava as mãos com muito sabão. Forks traz uma bacia com água, uma tesoura, toalhas e duas seringas.

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–Katniss, presta a atenção. Isso aqui - ela levanta a primeira seringa - é uma anestesia da sua mãe. Já verifiquei e você pode usar. E isso aqui - ela levanta a outra - é um soro rico em ocitocina que vai acelerar o processo. Ela já está com dilatação?

–Sim. - Devor responde enquanto massageia a minha barriga.

–Está pronta? - Peeta pergunta.

–Sim. - respondo com pouca convicção. Forks aplica as duas injeções em mim e eu me sinto um pouco melhor em relação a dor até sentir as contrações mais fortes. Com certeza um efeito da ocitocina.

As meninas cobrem as minhas pernas com um lençol e as flexionam para facilitar o trabalho. A cada contraçã, elas pedem para que eu faça força. Não posso sentir o que fazem, mas as contrações fortes e a força que utilizo para empurrá-la para fora começam a deixar a minha visão turva. Sentindo meu aperto férreo diminuir, Peeta se põe em alerta.

–Katniss, fique acordada. - Peeta diz junto ao meu ouvido.

–Eu não consigo Peeta, me desculpe. - digo com os olhos alagados.

–Já estamos acabando Katniss. Não desista agora! - Forks me incentiva.

–Por favor, eu não aguento isso! - imploro.

–Vamos Katniss, eu estou aqui com você! Vamos! - Peeta incentiva.

Permaneço um tempo áerea pensando em muitas coisas que não tinham relação com o que acontecia agora. Primeiro eu tentei me tranquilizar pensando na floresta, na época em que Gale e eu caçávamos todos os dias e depois entregávamos os morangos para Madge quando achávamos. Lembro-me da colheita e me lembro principalmente de Prim... Não percebo mas estou lentamente fechando os olhos.

–Katniss acorde! Como consegue dormir em uma hora dessas? - Peeta diz tentando me divertir um pouco.

–Se estivesse em meu lugar, você entenderia. - digo em resposta à sua brincadeira.

Continuo me esforçando para passar só a cabeça de Dandelion, mas começo a imaginar que é um esforço inútil, já que por mais que eu me esforçasse, não conseguia resultado. Por um momento eu pensei em desistir, mas lembro-me de quando descobri que estava grávida:

"-Como assim? Katniss, é uma nova fase, vamos começar uma família! - seu tom de voz começa a mudar para desespero. -Por mim! Por favor Katniss, não me negue uma nova família! - ele diz deixando escorrer milhares de lágrimas de seus olhos. Aqueles olhos me derrotam, sem mesmo cogitar em mudar a opinião."

–Katniss, última vez. Ponha força! - Devor ordena.

Seguro a mão de Peeta com mais força e, assim como ela mandou, pus muita força no empurrão que tirou a cabeça dela de mim. Respirando com dificuldade, eu finalmente consegui relaxar. As meninas conseguiram puxar Dandelion e eu podia ouvir o seu chorinho ecoando pelo cômodo.

Pude jurar que nunca, nem mesmo nos meus dias de menina, eu fiquei tão feliz. Forks cautelosamente a lava em meu banheiro e a enrola em uma toalha. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto enquanto descanso os olhos. Só os abro quando sinto a pequena bebê repousar-se em meu colo. Peeta vem para o meu lado e eu consigo ver as meninas deixando o quarto.

–Meninas! - chamo-as e ela apenas viram a cabeça. -Obrigada. Muito obrigada.

–Não foi nada. Ficamos felizes por vocês! Ah, considere isso um presente. Não compramos nada para o chá de bebê. - Devor nos responde e desce as escadas. Eu lhes direciono um sorriso como se a resposta fosse um pouco óbvia, já que elas me deram o bebê!

Volto-me para a menininha em meu colo. Minha filha. Minha Dandelion. O primeiro dente-de-leão da primavera.

–Ela é linda. - Peeta diz comovido enquanto acaricia seus cabelos ralos. -E se parece com você.

–Mas tem os seus olhos. Veja! - Dandelion já havia aberto os olhos que ainda eram negros, mas o contorno das pálpebras e sobrancelhas eram de feições idênticas as de Peeta.

Permanecemos em silêncio e pela primeira vez eu amamento Dandelion. Ajusto sua posição em meu colo e contorno suas feições com os dedos, como Peeta faz comigo, apenas guardando cada detalhe. Depois de quase meia hora com a minha nova família, minha mãe e Madge entram no quarto. Minha mãe deixa a maleta na cadeira e vem até a cama para ver Dandelion.

–Querida, me desculpe! Tive que arrastar o Taran até aqui, porque ele estava cuidando de um paciente. As meninas fizeram tudo direito? Esterilizaram? Verificaram a anestesia? - ela diz exaltada.

–Com licença Sra. Everdeen mas Devor e Forks são de minha confiança. - Madge diz indignada.

–Mas ainda estão no segundo ano de medicina!

–Atender situações emergenciais como essa se aprendem no primeiro ano!

–Parem vocês duas! Vão assustar a minha filha! - Peeta ri da discussão das duas.

–Desculpa. - dizem as duas e se aproximam.

–Acho que podemos usar o meu presente agora... - minha mãe começa a dizer.

–Que presente? - pergunto.

–A banheira de bebê.

-Ok, mas eu estou cansada... digo. Realmente, não consigo mover um músculo.

-Então eu e Madge damos banho nela, aqui mesmo na cama, enquanto você descansa. Peeta, querido, pode trazer alguma coisa para ela comer? - minha mãe indica-me.

-Claro Sra. Everdeen. - ele vem até mim e beija a minha testa. Depois, ele sai do quarto enquanto as duas forram a cama com toalhas e mais toalhas para acomodar a banheira. Minha mãe traz agua morna do banheiro e despeja cuidadosamente na banheira.

Eu levo a mão até o rostinho da minha filha e acaricio-o. Ela levanta as mãos e agarra dois dedos sacudindo-os desajeitadamente enquanto ria. Era tamanha graciosidade para alguma coisa tão pequena.

Minha mãe tomou Dandelion de meus braços com relutância. Observei o trabalho delas ainda da cama até Peeta chegar com uma bandeja de comida que não hesitei em demorar mais de cinco minutos para acabar de comer.

Quando acabam, Madge monta o berço ao lado da minha cama, para que eu a vigie durante a noite. Elas a vestem com fralda e macacão para logo deitarem-na no berço.


Para a minha surpresa, Johanna aparece quando estamos os quatro em volta do berço. Ela se aproxima com a respiração acelerada.

–Podemos conversar à sós? - pergunto para Peeta enquanto direciono meu olhar para Johanna.

–Claro. Vamos meninas. - os três saem deixando apenas eu, Johanna e Dandelion no quarto. Ela se aproxima lentamente do berço e observa minha filha com carinho.

–Ela se parece com você. - Johanna diz depois de um tempo em silêncio. -Me desculpe por sair assim, eu fiquei me lembrando de quando...

–De quando o Harley nasceu? - pergunto. Ela assente com a cabeça enquanto lágrimas escapam dos seus olhos. Euu a consolo com um abraço. -Eu sinto muito.

–Tudo bem, já faz muito tempo mesmo... Eu fico feliz por vocês.

–Quer segurá-la?

–Não, eu já perdi o jeito...

–Que nada! Venha! - eu ergo Dandelion (que pelo visto estava agitada) e a deposito nos braços de Johanna. Ela segura a minha filha com agilidade e a nina carinhosamente. -Viu, você não perdeu o jeito! Só precisa de alguém que te lembre o que é ser mãe, Johanna.

–Na verdade, eu ia jantar com um dos gerentes da madereira hoje, mas não resisti, tinha que vê-la! - ela acena com a cabeça para a Dandelion.

–Então você vem amanhã. Vá agora jantar com o... - indico para que ela diga o nome.

–Lunos.

–Isso! Agora vá jantar com o Lunos! - ela me entrega Dandelion e antes de sair do quarto ela me abraça, o que é estranho.

–Obrigada Katniss.

–De nada Johanna.

Antes que ela saia, o meu quarto é invadido pelas meninas que estavam super ansiosas para ver a Dandelion. Pelo visto a noite seria longa...

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