Meu corpo estava dormente por causa da anestesia, mas eu mantinha meus olhos bem abertos. Isso não significava nada - minha visão estava toda embaçada. Eu podia sentir o sangue sendo injetado para dentro de minhas veias, mas ainda assim me sentia vazia. Muito distante, senti alguém afastar uma mecha de cabelo do meu rosto e acariciá-lo gentilmente. Olhando para cima pude ver um par de belos olhos azuis. Ainda não acreditava que não me lembrava do meu marido.

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Se esse era apenas meu primeiro dia no hospital, e a primeira transfusão de sangue... Imagine o que viria pela frente.

Quando, meia hora depois da transfusão ter acabado e de os médicos terem saído do quarto, minha visão começou a voltar ao normal assim como grande parte dos meus outros sentidos, percebi que apenas Erik tinha ficado no quarto comigo, e Luigi e Michelle já tinham saído de cena. Ele ainda acariciava meu rosto com carinho, me olhando ligeiramente preocupado. Sentir o calor de suas mãos no meu rosto era ótimo, e se mostrou útil para me ajudar a ficar menos tonta.

Pisquei algumas vezes, deixando minha visão clara como de costume.

-Está se sentindo bem?- ele perguntou.

-Ainda estou um pouco tonta, mas melhor.

Erik suspirou.

-O que foi?- perguntei.

-Nada. -ele disse, desviando o olhar. Continuei a encará-lo firmemente. -Eu tentei convencer seus pais de que seria melhor voltar para a França depois que você pudesse sair do hospital. Acho que talvez te ajude.... a se lembrar.

-O que eles disseram?- perguntei, esperançosa.

-Eles não querem. Luigi e Michelle estão pensando em morar aqui por um tempo. Acho que querem te re-apresentar para o resto da família deles.

Fiz uma careta ao ouvir isso. Eu nunca me lembraria de nada se não tivesse nada para me lembrar. Precisava voltar para casa.

-Tem alguma coisa que a gente possa fazer?-perguntei, ignorando a dor pulsante em minha cabeça.

-Tem. - ele sussurrou, os olhos brilhando.

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Uma semana e várias transfusões de sangue depois, eu finalmente tive alta do hospital. Erik arrumou as malas de nós dois e nós saímos do hospital antes que Michelle e Luigi resolvessem aparecer.

-Tem certeza que quer fazer isso?- Erik me perguntou.

-Absoluta. Preciso tentar me lembrar de quem eu sou. - E de quem você é, acrescentei em pensamentos.

Ele assentiu brevemente.

Pegamos um táxi, e partimos em direção ao aeroporto. Ele tinha comprado as passagens por Internet, de modo que nós só precisariamos fazer o check-in no aeroporto, esperar uma ou duas horas e, com sorte, voltaríamos para casa.

Assim foi. Embarcamos no avião, com inúmeros desconhecidos e tomamos assento, lado a lado. Em breves segundos, eu acabei dormindo no ombro de Erik, cansada de minha estadia no hospital.

–Olá, Bela-Adormecida! - eu estava com a cabeça pousada sobre o peito de Erik, seu rosto queimando com um sorriso estonteante. Por um momento, meus neurônios começaram a queimar rápida e insuportavelmente - o que eu tinha feito ontem à noite? -, mas um segundo depois, ao constatar que nós dois estávamos devidamente vestidos, eu me acalmei. "Que ridículo. Eu sou uma criança", repeti pra mim mesma.

–Oi, Erik! - inconscientemente, minha voz saiu mais animada do que o normal, e com uma nota meio melosa.

Me levantei de repente. Que dia era? 20 de janeiro, não é? Era o pior dia do ano, porque era...

–Feliz aniversário, Catherine. - Erik me deu uma de suas rosas vermelhas, delicadamente ornada com uma fita de cetim preta. Fiz uma careta. - Ah, Cathy, eu sei que nem todo mundo gosta de aniversários. Não vamos comemorar, se você não quiser, mas quero te dar algo. - Ele empurrou minha cabeça gentilmente, levantando-se, e pegou algo numa pequena escrivaninha de ébano. Era uma dessas pequenas caixinhas de jóias. Ele a abriu, se sentando na minha frente, e eu vi um anel de aro fino, ouro, enfeitado com um discreto coração de diamante. Ah, meu Deus!

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– Não quero que pense nesse anel como símbolo de compromisso, Catherine. - disse ele, lendo minha mente. - Mas é lindo, não é? Não pude deixar de pensar em você, quando o vi. E agora você tem catorze anos...

Acordei ligeiramente tonta. Erik, que estava usando os fones de ouvido do avião,se virou para mim.

-O que foi, Cathy? - ele perguntou, tirando os fones.

Não consegui responder no momento. Desviei meu olhar para minha mão esquerda, onde jazia o anel de ouro com um pequeno coração de diamante. Quantos anos eu tinha? Com certeza não me sentia com catorze.

Percebi, afoita, que Erik me encara, eserando por respostas.

-E-eu... Eu me lembrei do dia em que você me deu o anel, Erik. - eu sussurrei, e percebi lágrimas ameaçando escapar de meus olhos. Ele parecia estar no mesmo estado do que eu.

-Cathy, isso é ótimo. Sua memória deve estar voltando.

Ele sorriu para mim. Um sorriso esplendoroso.

Alguma coisa estava me incomodando, ainda.

-Erik, quantos anos eu tenho?

-Quinze-, ele respondeu. - dois meses.

Eu assentei.

E então, a vozinha chata da aeromoça anunciou que estávamos entrando numa zona perigosa de turbulência.

-Não tinha percebido que estava chovendo. - Erik comentou, olhando para fora da janela.

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Chegamos no Teatro Abeau mais tarde do que previmos. Já eram quase seis horas da tarde.

-Então nós moramos no Teatro Abeau? - perguntei, observano a construção estranhamente familiar.

-Embaixo dele.- Erik me ofereceu um sorriso e pegou minha mão.

Entramos na construção incrivelmente gigante, andando pelos corredores um pouco mal iluminados e então num quarto vazio, mas que devia pertencer a várias garotas porque tinha inúmeras camas.

Erik me observava a todo momento, como se esperasse que de repente eu me lembrasse de tudo que já acontecera comigo.

Apertando alguma coisa na parede, Erik fez o espelho de corpo inteiro se abrir, deixando à vista um corredor longo.

-E esse é o caminho de casa?

-Sim, pequena. - ele sorriu mais uma vez, mas os olhos não sorriram. Pareciam desesperados.

Ele me conduziu por túneis e corredores escuros, até chegarmos a um lago, para o qual ele inteligentemente tinha um barco. Ele remou até chegar ao outro lado e o que vi fez meus olhos saltarem das órbitas.

Era um lugar extremamente adorável. Era...a minha... a nossa casa?!