Linha Vermelha

Capítulo 5


• Usui PDV •

Abri os olhos; as imagens do sonho ainda eram nítidas em minha cabeça. Será que um dia imagens como as do sonho estarão em minha memória também? Suspirei.

Levantei-me da cama, ainda sonolento. Quando saí do quarto para me dirigir ao banheiro, encontrei com Ayuzawa. Sorri.

– Bom dia – murmurei. Lembrei-me da tarde anterior, quando ela desviara de assunto quando perguntei sobre o caminho, o incômodo óbvio que dias chuvosos lhe proporcionavam... Os beijos em seu pescoço. Mordi o lábio ao vê-la sorrir para mim. – Dormiu bem, Ayuzawa?

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– Bom dia – parou ao meu lado, apoiando-se na parede. – Sim, dormi. Você?

Dei de ombros. Não conseguia desviar a atenção de seus lábios.

Lembrei-me do sonho e não pude deixar de pensar se beijá-la seria tão bom quanto fora no meu subconsciente.

– Usui...? – voltei à realidade ao escutá-la me chamar. – Você está bem? Parece incomodado com algo.

Ri e ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

– Como você consegue me ler como se eu fosse uma página tão clara e interessante, Ayuzawa?

– H-hã? E-esquece – e se afastou, mas eu a segurei antes que tivesse tempo de fugir.

– Eu preciso falar com você, então, por favor, não desapareça – murmurei, sério, fitando-a nos olhos.

Ela pareceu fascinada com a mudança súbita em meu tom de voz, mas concordou.

– Estou voltando para o quarto das garotas. Quando terminar o que tem que fazer, passe por lá e me chame – e foi embora.

• Alguns minutos mais tarde •

Novamente, parando em frente à porta do quarto das garotas, dei duas leves batidas, mas dessa vez não entrei no quarto, apenas aguardei que abrissem a porta.

Uma garota que eu não sabia o nome abriu a porta e ficou me encarando, os olhos arregalados. Ela soltou a maçaneta e sorriu largamente para mim.

Arqueei uma sobrancelha. Por que ela está sorrindo?

– A Ayuzawa está? – perguntei por fim. Seu sorriso foi desfeito no mesmo momento. Ela fez uma careta e resmungou alguma coisa, virando as costas para mim e entrou no quarto novamente. Em alguns instantes Ayuzawa estava parada em minha frente, emburrada.

– O que houve? – ela parecia com um excelente humor quando a vi no corredor... Por que a mudança?

– Parece que a garota que abriu a porta gosta de você... E me culpa por você ter vindo falar comigo, e não com ela – suspirou. – Ela disse algo sobre se declarar enquanto dizia que você estava na porta – bufou. – Como se a culpa fosse minha.

– Ah, sobre isso... – sorri. – Venha, por favor – segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos, e comecei a andar.

Ela ainda parecia irritada, mas nada disse, apenas me seguiu.

Saímos do hotel. Eu a levei para a entrada, apenas um pouco afastado de ouvidos e olhos curiosos.

– Hey, quando te conheci – ela me encarou com cautela, esperando –, eu achei você uma pessoa realmente interessante. Por algum motivo, eu queria ficar ao seu lado. E, fazer você corar, eu acho particularmente engraçado – ri. Ela fez uma careta, mas suspirou.

– Usui...

A interrompi, fazendo um sinal pedindo para que me deixasse prosseguir.

– Eu sei que você gosta de mim – ela cruzou os braços e se encostou no muro, me fitando. Ela não rebateu. Arqueei a sobrancelha. – Ok, eu farei sem brincadeiras – sorri e me aproximei. – Eu gosto de você, Ayuzawa – coloquei as mãos em sua cintura -, e eu sei que você gosta de mim também.

– Está enganado – respondeu. A voz soara distante e seu rosto estava sem expressão.

– E você está mentindo – sorri. – Namora comigo? – ah, ela vai surtar.

Negou com a cabeça.

– Você sabe que eu não vou desistir, certo?

– Eu sei – suspirou. – Vamos voltar para dentro.

– Ayuzawa... – antes que ela tivesse a oportunidade de se desvencilhar de minhas mãos eu a puxei. – Desculpa, mas eu não agüento mais – e prensei meus lábios contra os dela.

Soltei uma mão de sua cintura e a levei a seu pescoço, enroscando meus dedos em seus cabelos, aprofundando o beijo. De princípio ela estava surpresa, estática, mas a senti puxar minha camisa e seus lábios exigirem mais, insatisfeitos com o ritmo lento que eu havia começado.

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Apoiei a mão livre na parede e me inclinei. Quando as costas dela voltaram a encostar no muro, aproximei meu corpo do dela, deslizando meus dedos por seu pescoço, sentindo-a estremecer, então ela me afastou.

Seu rosto estava vermelho. Desviou o olhar rapidamente para o chão, como se fosse a coisa mais interessante do mundo naquele momento. Ri.

Rapidamente ela virou-me as costas e fugiu para dentro do hotel.

Sentei em uma poltrona no hall, pensando.

– Os sonhos não chegam sequer perto da realidade, Ayuzawa...

• Misaki PDV •

Bati a porta atrás de mim, encostando-me à mesma. Yui, a garota que abrira a porta mais cedo veio olhar o que havia acontecido. Quando me viu fez uma careta e me virou as costas, sentando em sua cama.

– Por que esse semblante, Ayuzawa-san? – perguntou de forma maldosa.

Lembrei de alguns momentos atrás, a declaração meio atropelada de Usui, e o beijo... Principalmente o beijo.

Sem perceber, toquei meus lábios com a ponta dos dedos, tremendo. Quando me dei conta, desencostei-me da porta e a abri, saindo logo em seguida.

Desci as escadas que levavam ao hall do hotel, deparando-me com um Usui adormecido em uma das poltronas. O que esse garoto está fazendo dormindo em um lugar desses?

Dei de ombros e saí do lugar rapidamente.

Melhor assim. Se ele estivesse acordado, provavelmente me seguiria, e no momento, eu preciso ficar sozinha.

Olhei para o céu nublado enquanto andava pela cidade. Sempre acontece alguma coisa em dias chuvosos... Suspirei.

Fui andando sem direção, até perceber que parara no pequeno desfiladeiro que eu costumava brincar quando me mudei para essa cidade.

Fechei os olhos e por alguns momentos a visão daquela época preencheu minha mente. Lembrei-me de como era a sensação de correr por esse gramado, lembrei-me do vento e de um boné voando para longe... E alguém brigar comigo por ser descuidada demais. Lembrei-me da risada leve e despreocupada que deixei escapar naquele momento. Lembrei-me de um pedido sussurrado e lábios quentes encostando-se aos meus. Lembrei-me de alguns meses mais tarde, e senti lágrimas quentes escorrer por meu rosto.

Senti pingos pesados e frios atingirem o meu corpo enquanto um trovão exigia atenção para o céu que ficava cada vez mais escuro. Outro trovão soou, longe, e a chuva se intensificou.

Em meio a toda aquela chuva gelada, lágrimas quentes escorriam por meu rosto. Mordi os lábios, reprimindo a vontade de gritar e cerrei os punhos.

Por que dói tanto? Essas lembranças, esse lugar... Por quê?

Sentei em uma pedra que havia perto do desfiladeiro, e observei. Observei novamente a grama, e a chuva que a atingia; senti o vento bagunçar meus cabelos, jogando-os em meu rosto. Suspirei.

– Do que chorar vai adiantar? – murmurei. Cruzei os braços em cima de meus joelhos e escondi o rosto entre eles.

Apesar de não gostar de chuva, ela me acalma. As gotas geladas atingindo meu corpo trazem um efeito sem igual.

Escutei um leve farfalhar atrás de mim, então parei de sentir a chuva em meu corpo, apenas o vento que insistia em bagunçar meus cabelos.

Olhei para o lado e vi Usui estendendo um guarda-chuva sobre mim; seu rosto estava sério, e ele estava ensopado.

Levantei da pedra e parei em sua frente. As únicas alterações que houve com ele foi de seu braço que me seguiu com o guarda-chuva e seus olhos, que pareciam ligados aos meus. Ele continuou a me encarar sem dizer uma palavra. Seus olhos transmitiam algum tipo de sentimento que eu não soube identificar.

Em meio aquilo tudo, lágrimas voltaram a escorrer por meu rosto. Sem que eu sequer percebesse, estiquei a mão em direção ao seu rosto. Quando encostei em sua pele quente, um arrepio percorreu meu corpo, então eu o abracei, enterrando meu rosto em seu pescoço e agarrando sua camisa.

Ele soltou o guarda-chuva no chão e me abraçou forte, afagando minhas costas.

– Vamos voltar, Ayuzawa, você precisa se secar – se afastou com cautela, depositou um beijo em minha testa e segurou minha mão.

Apenas o deixei me guiar sob a chuva.

– Como você me achou?

– Eu a vi sair – sequei as lágrimas de meu rosto, suspirando. – Quando começou a chover e você não retornou, pensei que seria melhor trazer um guarda-chuva para você, para que não ficasse doente.

Concordei com a cabeça. O resto do caminho foi feito em silêncio e rápido.