Meu Bônus Infernal

Criando problema


Aquela ia ser uma das maiores brigas que o mundo já viu.

Minha mãe colocou as mãos na cintura, e meu pai endireitou a postura ficando completamente reto. Os olhos dois encaravam-se profundamente, até que mamãe quebrou o silêncio com uma pequena risada sarcástica.

- Levar sua filha embora? Sua filha? – Repetiu ela rindo um pouco – Hermes, você não tem mais o que fazer não?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Eu poderia chutar o traseiro do idiota do William Hanks, mas vou me contar em levar a minha filha embora. – Respondeu meu pai cruzando os braços – E sim. Minha filha.

- Não. – Negou minha mãe – A minha filha vai ficar aqui para o aniversário do padrasto dela, e você faça o que quiser, mas não vai mudar isso, meu bem.

- Ora, não era você que disse que eu tinha que passar mais tempo com ela? Temos planos. – Rebateu Hermes.

- Planos, Hermes?! Que planos? – Minha mãe estava impaciente. Meu pai tirou do bolso dois pedaços de papel vermelhos.

- Vamos assistir a terceira edição das corridas de carro em Jersey. – Respondeu ele. Meus olhos brilharam.

- Vamos?! – Exclamei feliz. Ele sorriu para mim, mas minha mãe cortou toda a felicidade do momento.

- Não, não vão. – Negou ela. Atrás dela, subindo a escadas, Apolo e Ares entraram no quarto. Eles notaram o clima um pouco pesado entre ela e meu pai, por isso permaneceram parados no canto, curiosos.

- Francamente Jenny. – Riu Hermes olhando para ela, mas depois ficou sério. Eles começaram um tipo de disputa para ver quem tinha mais direitos que o outro – Eu sou um Deus. Eu tenho muito o que fazer, mas eu consegui esse tempinho para levar a minha filha...

- Sua filha nada. E não vem com esse desculpa velha de “sou um Deus importante”. Eu não ligo se é um dos doze olimpianos. Na situação agora você é tão mortal quanto eu. – Rebateu ela.

- O que faz você pensar que está acima de mim? – Retrucou ele irritado.

- O fato de eu ter carregado a sua filha na minha barriga por nove meses. – Respondeu minha mãe – Depois de tudo que eu aguentei, eu posso muito bem ter minhas exigências. Afinal, não foi você que vomitava tudo que comia e tinha que usar roupas GG.

- Ah, e você gerou ela por divisão binária? – Retrucou ele – Pelo que eu me lembro, eu que tive que ficar do seu lado aguentando as crises de bipolaridades, e correndo atrás das comidas mais esquisitas. Ou você já se esqueceu do pudim de leite com mostarda?

- Argh! – Fiz com nojo, e Ares e Apolo riram. Minha mãe apontou para mim com um olhar mortal.

- Pode ficar quieta porque a culpa foi sua, Alice Kelly! – Exclamou ela. Ergui as mãos dizendo que não era culpada, e Ares e Apolo riram novamente. Jenny encarou-os e eles pararam imediatamente, desviando os olhares.

- Ahm... Acho que ela tem razão. – Comentou Ares apontando para Jenny – Acho que Kelly devia ficar, e você dar o fora.

- Quem perguntou para você?! – Perguntou ele com raiva.

- Cara, ela comeu pudim de leite com mostarda. Ela pode qualquer coisa. – Comentou Apolo assentindo. Eu revirei os olhos, e resolvi agir antes que minha mãe ganhasse.

- Eu acho que não é todo dia que o meu pai vem passar um tempo comigo. – Comentei olhando para ele – E acho que devia ir com ele, porque é uma oportunidade única.

- E ninguém perguntou o que você acha. – Rebateu Ares.

- Ninguém te perguntou também, mas você não manteve a boca fechada, né? – Retruquei. Minha mãe negou com a cabeça.

- Ela fica. – Disse olhando para Hermes.

- Ela vem comigo e ponto final. – Ele bateu o pé no chão e foi como se a casa toda chacoalhasse por alguns segundos. Um pequeno terremoto – Sinto muito, Jenny. Mas quem manda sou eu. Alice faça suas malas.

Eu levantei-me com um pulo feliz e olhei para ele com meus olhos brilhando.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Eu te amo tanto, pai. Já disse isso? Amo você. Amo, amo, amo! – Exclamei feliz. Apolo e Ares começaram a protestar e reclamar, mas minha mãe agiu diferente. Seu tom de voz foi baixo e um tanto desanimado.

- Hermes, já chega desse jogo. Vamos falar sério. – Pediu ela. Ele olhou-a erguendo uma sobrancelha – Em particular.

Ares e Apolo suspiraram desapontados por não poderem ouvir, mas meu pai deu de ombros.

- Não importa o que diga. Eu tomei minha decisão. – Falou ele sério, acompanhando minha mãe escada abaixo. Eu estava pegando todas as minhas roupas e jogando na mala novamente. Apolo tentava me atrapalhar jogando-as de volta no armário.

- Para com isso! – Reclamei – Apolo, larga!

- Não! – Respondeu ele – Você não pode ir embora! Nós nem nos divertimos! Mal chegamos aqui!

- Não ia ter diversão em momento nenhum. Esqueceu o que eu disse? Esse lugar é uma droga! E eu vou embora sim. – Disse pegando minha camisa das mãos dele. Ares fechou minha mala e olhou para mim com raiva.

- Não pode ir! Temos uma aposta, sua...! – Eu o interrompi.

- Acho que isso foi um empate. – Dei de ombros sorrindo. Eles tentaram reclamar, mas eu os interrompi – Não adianta, tá bom?! Eu vou embora assim que meu pai voltar.

E Hermes entrou no quarto com minha mãe. Seu cabelo estava bagunçado, sua camisa estava amarrotada, e seu rosto estava manchado de batom. Ele passou a mão tentando esconder, e olhou para minha mala.

- Então? Vamos? Está tudo pronto. – Disse animada.

- Alice... Eu conversei com sua mãe, e... Acho melhor você ficar. – Disse ele um tanto desajeitado. Meu queixo caiu, e Ares e Apolo começaram a comemorar. Minha mãe tinha um sorriso vitorioso no rosto, e piscou para Hermes, que sorriu bobo. Eu neguei com a cabeça.

- Você caiu nessa?! – Perguntei incrédula – O Deus dos ladrões e dos mercadores, que pode convencer qualquer um de qualquer coisa, foi enganado assim?

- Não fui enganado. Eu só penso de outra maneira agora. – Disse ele indo para minha cama. Hermes sentou-se e olhou para Jenny enquanto falava comigo – Sua mãe acha melhor você estar por perto para o aniversário do Will. E eu acho também.

- Ótimo. – Assentiu minha mãe feliz, mas meu pai lançou um olhar malicioso. Soube que aquilo ainda não tinha acabado, e que Hermes não era idiota.

- E como ela disse, eu tenho mesmo que passar mais tempo com você. E tenho que aprender a ser mais maduro com as decisões dela. – Falou ele calmamente, e minha mãe assentiu. Ela quase teve um enfarto quando ele disse... – E é por isso que eu também vou ficar.

- O que?! – Exclamou Jenny chocada. Hermes riu tanto que se jogou para trás, deitando-se na cama – Não, não vai! Hermes, você vai embora! Embora!

- Eu vou ficar com a minha família. Não foi isso que você conversou comigo? – Falou ele sorrindo.

- Não tem espaço para você aqui. – Disse Apolo negando com a cabeça – É sério. Ares e eu pegamos o último quarto vazio.

- Não tem espaço para mais uma cama no quarto? – Perguntou Hermes. Jenny, Ares e Apolo negaram com a cabeça. Ele sorriu torto para minha mãe – Não tem espaço no seu quarto, Jenny?

- Não. – Rosnou ela. O sorriso do meu pai morreu, e ele deu de ombros.

- Então eu durmo aqui mesmo. – Disse ele – Não vai se livrar de mim, Jenny.

- Nesse caso, tem o sofá da sala. – Respondeu minha mãe pouco simpática.

- Eu sou um Deus! Não pode me colocar para dormir no sofá. – Disse ele cruzando os braços – Alice, é magra. Dá para dividir a cama.

- Não, não dá. – Neguei com a cabeça – Você sozinho ocupa a cama toda!

- Uhm... Tem como montar uma cama no chão com lençóis, não tem? – Perguntou ele, e eu assenti relutante – Problema resolvido para você.

- Como é que é?! Além de me dar falsas esperanças, você ainda vai roubar a minha cama? – Perguntei chocada – Eu não vou dormir no chão!

- Ah, e você vai fazer o seu pobre pai com problemas na coluna dormir no chão? – Perguntou fingindo-se de chocado. Eu assenti com raiva, e ele pareceu ainda mais chocado – E cadê todo aquele “te amo papai”? Morreu?

- Morreu e eu não tenho vergonha de dizer! – Respondi.

- Está de castigo! – Ele apontou para mim – Vai dormir no chão por causa disso! Pronto. Resolvi o problema de todo mundo.

- Você está sendo o problema de todo mundo, pai! – Exclamei irritada. Minha mãe assentiu, e ele fez uma careta para mim.

- Não vai me fazer sentir mal e ir embora, não adianta. Você vai montar uma cama muito boa para você aí, e eu vou te vigiar de noite. – Falou ele cruzando os braços.

- Droga... – Murmurou Apolo despontado, e Ares também fez uma cara triste. Hermes, minha mãe e eu olhamos para eles com olhares fuziladores.

- Vocês ficaram tristes com isso? – Perguntou minha mãe devagar – Tinham outros planos?

- Ahm... Ares não pode usar magia, porque fez uma aposta com a Alice! – Exclamou Apolo apontando para ele – Por que não rouba a cama dele, faz ele dormir no chão e o vigia? É mais fácil, e seguro. Afinal ele que é o tarado que está namorando sua filha.

- Está me chamando de tarado?! – Reclamou ele – Porque você não cede a cama para ele então?!

- Porque é de você que a Alice precisa se proteger. Eu posso até ficar de olho nela por você, Hermes. Acho que vai ajudar... – Meu pai lançou o travesseiro em Apolo.

- Se é para alguém ficar de olho nela, eu é que fico. – Riu Ares de Apolo, mas minha mãe lhe deu um tapa no braço – Ai! O que foi que eu disse?!

- Vocês dois vão ficar bem longe desse quarto de noite. Podem ter certeza disso. - Disse Hermes.

- Ainda acho maldade a fazer dormir no chão. – Disse Apolo calmamente.

- Tem espaço sobrando na sua cama? – Perguntou Hermes calmamente, e Apolo assentiu sem notar – Então fica para mim.

- Não! Saí fora! Não divido a cama com homens. – Hermes jogou outro travesseiro nele.

- Você precisa de um banho bem gelado. Alice vai ficar aqui comigo, e vocês podem ficar juntos no quarto de vocês. – Falou Hermes. Apolo e Ares fizeram uma careta um para o outro. Meu pai se levantou e suas roupas mudaram. Ele estava usando uma camisa quadriculada, uma calça jeans surrada, um boné com a águia do Alabama e um pedaço de feno na boca – Agora... Tenho trabalho para fazer. Vou bater um papo com o Edgar.

Minha mãe impediu o caminho dele. Meu pai segurou o queixo dela.

- Você pode até fazer essa cara, mas no fundo gosta de eu estar aqui pertinho de você. – Hermes piscou, e driblou ela. Jenny o seguiu reclamando e eu bufei. Mais uma tentativa de escapar jogada no lixo.

- Ok... Isso vai ser chato. – Disse Apolo revirando os olhos – Eu vou cuidar desse papel, e depois...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Vai tomar um banho gelado? – Perguntei para implicar.

- Só se você esfregar as minhas costas nele. – Ele piscou para mim e saiu do quarto. Ares sorriu torto para mim.

- O que posso dizer? – Falou ele rindo – Parece que o feitiço virou contra a feiticeira.

- Só porque a minha mãe resolveu conversar com ele. – Rebati revirando os olhos. Ares ia dizer alguma coisa, mas então ele parou e sorriu malicioso – O que? O que foi?

- Uhm... Quer dizer que sua mãe conversou com ele? – Disse ainda malicioso. Meu rosto ficou vermelho e eu lhe dei um empurrão.

- Não fala isso! Pelos Deuses, é a minha mãe! – Exclamei sem querer imaginar a cena. Ares começou a rir, e deu de ombros.

- Eu só repeti o que você disse. Com todo o respeito. – Falou ele rindo.

- Sei. Com todo o respeito... – Repeti em um resmungo. Eu saí do quarto, e Ares me seguiu. Ele começou a perguntar se eu ia mesmo dormir no chão, e depois começou a reclamar da presença de Hermes ali, até que...

- Alice? Ah, ótimo. – Disse Trisha, a mãe de Thomas e Ruby. Eu e Ares paramos de andar e olhamos para ela. Com o celular no ouvido, e Ryan em uma mão, ela veio até mim falando – Não, não, não tenho para isso. Você precisa fazer ele adiar isso para mais alguns dias. Só um minuto.

Ela mexeu o ombro, habilidosa, e tampou o celular para que a pessoa não a ouvisse.

- Pode cuidar do Ryan para mim até de noite? Obrigada, querida. – Disse entregando para mim o bebê. Eu o segurei desajeitada, e olhei para ela como se fosse louca.

- O que? Trisha, ele é muito novo! É melhor ficar com você. – Falei incrédula.

- Besteira. Se você toma banho, pode ficar com ele. – Respondeu me ignorando e voltando a falar no celular.

- Mas eu nem sei tomar conta de um bebê! Eu não posso...! – Ela me interrompeu. Trisha abafou o telefone mais uma vez e olhou para o Ares. Depois para mim.

- Acho que está na hora de você aprender. Nunca se sabe quando vai chegar sua vez. – Disse ela em um tom firme, e foi embora pelo corredor falando no celular. Eu olhei para o bebê mole, pequeno e rosado nos meus braços. Eu nem sabia como segurar ele direito.

- É... Parece que você se ferrou. – Comentou Ares rindo e indo embora. Eu olhei para ele e neguei com a cabeça.

- Eu me ferrei? Quer dizer que não vai me ajudar? – Perguntei incrédula.

- Não. – Respondeu sem culpa.

- Ares, eu não sei cuidar de um bebê! Não pode me deixar sozinha com ele...! – Ele se virou e sorriu.

- Você aprende. É um ótimo treino. – Eu ia dizer alguma coisa, mas permaneci parada por alguns minutos e olhei para ele. Ares notou que algo estava errado, pelo menos uma vez na vida, e franziu o cenho para mim – O que? O que houve?

- Nada. Vai. – Disse simplesmente entrando no quarto. Ele negou com a cabeça e me seguiu.

- Nada não. Esse olhar é sempre alguma coisa. – Comentou olhando-me. Eu coloquei Ryan no berço que Trisha montara, e virei-me para ele um tanto irritada.

- Quando tivermos um filho você vai fazer isso? Vai me deixar com um bebê e ir embora? – Perguntei. Ele abriu a boca, mas não conseguiu responder – Se for, vai logo. Como você disse... É um ótimo treino.

Ele permaneceu parado por alguns minutos, e depois balançou a cabeça tentando acordar.

- Espera... O que quer dizer quando tivermos um filho? – Perguntou ele confuso, mas entendendo a mensagem que eu queria passar. Me mantive em silêncio, e ele arregalou os olhos de leve – Você está dizendo que...?