Meu Bônus Infernal

A teoria da conspiração


- Edgar! Edgar! – Exclamava tia Katharine completamente em pânico, enquanto sacudia o braço de seu marido freneticamente – São eles! Eles voltaram! Eu disse que voltariam!

- Corram! Corram por suas vidas! – Berrou ele olhando para nós chocados, mas ninguém compartilhou do mesmo pânico que ele – Pa-para os fundos, Kat! Rápido!

Os dois saíram correndo como se a casa estivesse pegando fogo, e Apolo olhou para nós sem entender. Eu passei a mão pela testa e tentei melhorar a situação.

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- Olha, Apo... Tyler. É melhor você ficar um pouco longe deles. – Pedi, mas ele pareceu ainda mais confuso.

- Eu fiz alguma coisa de errado? – Perguntou ele sem entender, e Ares encolheu os ombros.

- Sua cara não é lá das melhores. – Respondeu, mas Apolo só revidou com uma careta. Ele andou até a porta da cozinha de modo determinado, mesmo eu tentando impedi-lo.

- Calma! Eu quero pedir desculpas. Fique tranquila, Alice. Vai tomar café. – Disse ele desviando de mim facilmente e entrando na cozinha. Apolo andou pelo lugar e procurou-os, enquanto eu o seguia tentando fazê-lo desistir – Olá! Sinto muito pelo transtorno! Vocês estão aqui?

- Apolo, é sério. Volta para lá! – Pedi em um tom sussurrante para ninguém ouvir do outro cômodo.

- Por que? Mas que bobagem, Alice! Eu só quero... – Minha tia apareceu na porta que dava aos fundos e arregalou os olhos para ele, com medo. Apolo sorriu de seu jeito simpático, e deu um passo em sua direção – Ah, oi! Eu não sei muito bem o que houve, mas eu queria me apresentar, e...

- Chucrute! – Gritou ela olhando ligeiramente para trás – Rota três! Rota três!

Apolo franziu o cenho, e deu mais um passo para sua direção. Ela entrou em desespero aparente, e começou a gritar ainda mais alto do que antes.

- Edgar! Venha logo! Ele está chegando perto! – Berrou ela em pânico. Apolo recuou um passo, e franziu o cenho sem entender. Eu tentei puxá-lo para longe, mas já era tarde. Tio Edgar aparecera ao lado da porta, perto de tia Kat.

- Você! Fique longe da minha mulher, escória humana! – Exclamou ele em um rosnado. Seu pânico havia passado, e agora ele só mostrava raiva. Apolo cruzou os braços.

- Escória humana? Você me ofende desse modo. – Comentou incomodado – E eu só vim aqui para pedir desculpas!

- Jogue suas desculpas para algum outro palerma, ariano! – Exclamou ele sacando uma escopeta. Apolo arregalou os olhos para ele, e eu o empurrei para o lado. Nós dois fomos para o chão, quando tio Ed disparou o tiro. Ele atingiu a parede, e não feriu ninguém.

- Wow! – Exclamou Apolo de olhos arregalados – O que...? Ei, paz e amor! Eu não...!

- Se afaste dele Ally! – Ordenou ele preparando a arma para outro tiro e a apontando para a cabeça de Apolo – Eu vou estourar os miolos desse ariano miserável!

- Ele não é ariano! – Exclamei para ele – Calma, eu posso...!

- Corre, Alice! – Berrou Apolo colocando-se de pé e correndo em direção aos tios do Will. Eles ficaram com medo que ele fizesse alguma coisa, por isso deram passagem por instinto. Quando tio Edgar notou o que tinha acontecido (que Apolo fugira pela porta dos fundos), ele piscou os olhos, chocado.

- Tio Ed! – Exclamou Will correndo para a porta que dava para a cozinha, e olhando a cena horrorizado e acompanhado de minha mãe e Ares. Eles estavam igualmente incrédulos – Por Deus, guarde essa arma! O que pensa que vai fazer?!

- Vai acabar machucando alguém, ou pior. Deixe isso de lado! – Exclamou minha mãe.

- O que eu penso que vou fazer? O que eu faço desde 1945! Proteger minha propriedade dos espiões! – Exclamou ele preparando a arma e correndo para o lado de fora da casa. Ares olhou para mim sem entender nada, e revirei os olhos.

Levantei-me e olhei para meus pais.

- Alice, calma. Ele é louco á ponto de... – Will tentou, mas eu o interrompi.

- Ele não é louco?! Pai, ele pensa que os comunistas trabalham para as operadoras de celular como espiões! É claro que ele é louco o suficiente para chegar á esse ponto! – Exclamei correndo até a porta dos fundos junto de todos eles.

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Tio Ed corria como um atleta no auge da idade. Nada contra gente idosa, e nem mesmo contra o tio do Will, mas será que aquele homem nunca iria sentir o peso da idade nos ombros? Ou... Nas pernas?

Apolo desviava dele, e tentava voltar para casa. Quando conseguiu driblá-lo, acabou tropeçando e rolando uma pequena colina que tinha no campo gigante dos fundos da casa. O Deus da medicina podia ter quebrado todos os ossos do corpo, pois rolou do jeito mais inadequado existente. Quando parou por fim, Tio Ed já o tinha alcançado.

- Peguei você agora! – Exclamou ele apontando a arma para Apolo.

- Para! – Pediu Will indo em sua direção. Tio Ed apontou a arma para ele, e depois para nós – Quer abaixar essa coisa? É melhor conversarmos como pessoas civilizadas.

- Dane-se as pessoas civilizadas! – Exclamei, pois sabia que Tio Ed não iria estar nem aí para isso. Eu peguei a arma lhe dei um empurrão para o lado, e ele caiu na grama. Levantei Apolo rapidamente, e me coloquei na frente dele – Você não vai atirar em ninguém.

- Traidora! – Berrou ele tentando colocar-se de pé, mas nisso ele não era tão bom. Tio Ed ficou rolando para frente e para trás na tentativa de pegar impulso e ficar em pé para discutir – Amiga dos alemães! Antipatriota! Democrata cretina!

- Nossa, eu vou chorar. – Murmurei em sarcasmo. Tio Ed colocou-se de pé finalmente com a ajuda de Tia Kat. Ele trincou os dentes e olhou para mim fixamente – Ele é nova-iorquino. Não é alemão, nem ariano. Só... Tem olhos azuis e cabelo loiro.

Tio Ed estava vermelho de raiva. Ele olhou para todos nós e apontou um de seus dedos ossudos e enrrugados.

- Para a sala. Todos vocês, crianças! – Ordenou ele, como se todos nós tivéssemos por volta de sete anos de idade. Olhei para Apolo, que respirava fundo tentando recuperar o fôlego por ter corrido tanto.

Ares olhou para mim prendendo o riso, e com um olhar que dizia “Isso vai ser interessante”. Nós começamos a andar de volta para a casa, e eu cheguei perto de Apolo.

- Está tudo bem? – Perguntei, e ele assentiu. Uma pergunta passou por minha cabeça – Se ele te desse um tiro... Você ia...?

- Morrer? – Perguntou ele prendendo o riso, mas logo negou com a cabeça – Não, claro que não. Só acho que seria difícil explicar porque eu sangro dourado. E você também, não é?

Assenti lembrando desse detalhe.

- Sinto muito por isso. Mesmo. – Murmurei com vergonha.

Nós entramos em casa e fomos para a sala de estar. Nós tivemos que sentar no sofá enorme que ficava logo de frente para uma poltrona sozinha. A de tio Ed.

Ele sentou-se ali e rosnou para mim.

- Sabe o que acontece com gente de mente fraca? – Perguntou ele limpando a arma. Eu revirei os olhos. Ele sempre perguntava isso.

- Elas são manipuladas pelo inimigo. – Respondi em um murmuro envergonhado. Tio Ed assentiu e apontou para o Apolo.

- Não se pode sair por aí confiando em qualquer um que aparece na sua frente, porque a pessoa diz que você pode confiar nela! – Exclamou tio Ed – Vou te dar um exemplo. Semana passada, pela décima quarta vez, um daqueles atendentes de TV á cabo veio aqui e disse que eu podia confiar na política deles, e nos canais combo, e máster, e blá blá blá. Sabe o que eu fiz?

- Assinou? – Perguntou Ares com um tom suplicante.

- Não! Eu expulsei aquele pilantra daqui! TV á cabo máster-combo-paltinum uma ova! – Exclamou tio Ed – Isso tudo é coisa dos governos para controlarem você por satélites! Eles te observam, estudam, e manipulam! Acha que eu sou idiota de cair em uma dessas?! Isso é coisa dos comunistas!

Ares respirou fundo e passou a mão pela testa em leve desespero.

- Quer dizer que aqui não tem TV á cabo? – Perguntou em uma voz de preocupação. Olhei para ele fixamente, e neguei com a cabeça. Ares tampou o rosto com as mãos, e tio Ed ignorou.

- Vocês, gente nova, acham que tudo é muito seguro. Mas não é! Não sabem os perigos que vem com essas tecnologia idiota! – Disse tio Ed, e depois apontou para Apolo – É gente assim que aparece quando você caí nas armadilhas, ou você acha mesmo que essa cara é de nova-iorquino?!

- Ele é americano. – Confirmei revirando os olhos.

- Bem, minha família tem traços gregos, então... Vai ver isso explica alguma coisa. – Tio Ed parou para refletir se aquilo fazia ou não algum sentido, mas logo ignorou o assunto e voltou a olhar para mim.

- E você, sua democrata miserável, trouxe um desses arianos para a minha casa! – Exclamou ele – Isso deve ter a ver com esse seu trabalho com um pé comunista! Com toda a certeza!

- Se chama tradução de textos, tio Ed. E só porque é em espanhol, não quer dizer que seja comunista. – Disse em um resmungo.

- Diga isso aos cubanos! – Exclamou ele – Vai aprender o que depois disso? Russo? Coreano?

Revirei os olhos. Ele era o velho mais louco que eu já conhecera. Tio Ed sempre tratava as coisas de três únicas maneiras: coisas politicamente corretas na filosófica republicana, coisas de comunistas e coisas de nazistas. Só uma delas era a categoria certa.

Desde TV á cabo até carros importados, tudo isso era projeto dos comunistas ou dos alemães para começar uma terceira guerra mundial se vingando dos EUA pela última vitória. Era ridículo, é claro, mas ele não via desse modo.

- Olha, tio. Esqueça isso, tudo bem? Entendemos seu ponto de vista, mas o amigo de Alice não é nazista. Nem alemão. – Disse Will em um tom de voz calmo – A única coisa que o senhor fez foi assustá-lo. Pare com essa história de matar o inimigo, certo?

- Não me diga o que fazer. – Disse ele em um resmungo de velho, e cruzou os braços. Tia Kat olhou para Apolo e tocou o ombro de tio Ed.

- Edgar, acho... Acho que o garoto pode ser grego mesmo. Lembra aquele nosso amigo na Europa? – Perguntou ela.

- Não. – Respondeu tio Ed. Ele estreitou os olhos para Apolo – Eu estou de olho em você, seu anti-judeus. E em você também, Ally democrata.

- Pensei que eu fosse comunista. – Murmurei.

- O que disse? – Perguntou sem ouvir.

- Nada, tio Ed. – Respondi olhando-o – Agora pode, por favor, guardar a arma?

Ele olhou primeiro para Apolo, que ficou sem entender.

- Eu tenho facas. E granadas. E pistolas. – Comentou ele ainda fitando-o – Estão escondidas. Nunca vai achá-las, mas eu vou.

- É, ele entendeu. – Confirmou minha mãe inquieta – No caso de ataque nazista, senhor está preparado. Resistir é inútil.

- Exato, exato. – Disse ele levantando-se e indo com tia Kat guardar a arma nos fundos. Eu passei a mão pelo rosto e olhei para Apolo.

- Eu sinto muito, muito, muito mesmo. Você não tem nem ideia. – Disse com real vergonha. Apolo olhou para mim e encolheu os ombros.

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- Que isso! Não foi nada demais. Foi só... Um pouco surpreendente. – Disse ele tentando me fazer sentir melhor. Apolo me abraçou e riu no meu ouvido – Mas você devia se desculpar mesmo. Sou um ariano superior.

- Ah, cala a boca. – Disse revirando os olhos e prendendo o riso. Will olhou para Apolo, e prendeu o riso.

- Rapaz, você teve um azar muito grande, hein? Olhos azuis, e cabelo loiro. – Comentou ele – Acho que foi bem corajoso. Deveríamos te dar uma medalha.

- Acho que ele precisa de ar, Will. – Disse minha mãe colocando a mão no ombro dele. Meu padrasto olhou para ela, e sorriu – E acho que alguém precisa ir para um asilo.

- Ah, Jenny. Asilo são lugares criados pelos facistas, você não sabe? Os nazistas ficaram com os fast-foods, e os comunistas com os cinemas. – Riu Will brincando. Jenny riu também, e os dois subiram as escadas deixando-nos sozinhos.

Ares choramingou alguma coisa, ainda parecendo incrédulo. Apolo olhou para ele, e sorriu.

- Nossa... Não precisa ficar preocupado. Eu estou bem. – Ele esticou a mão e tocou o ombro de Ares, consolando-o. O Deus da guerra desviou-se da mão dele, e o empurrou com força.

- Saí para lá! Por mim você poderia ter levado um tiro nos miolos, se fosse para eu ter TV á cabo, sua anta! – Exclamou ele revoltado – Nem mesmo um canal. Nem um canal de TV! Sabe o que é isso?!

- Sei. Que você é um idiota. – Disse puxando Apolo em direção á porta da casa – Eu já tinha te dito que não tem TV aqui. Pare de descontar tudo nos outros.

- Você não vem me dizer o que fazer, Ally. – Rebateu ele em deboche. Eu o ignorei e segurei a mão de Apolo, levando-o para a porta novamente.

- Vamos andar por aí, enquanto ele bate a cabeça na parede de raiva. – Disse.

- E para onde você pensa que vai com ele?! – Perguntou Ares irritado – Se é para você sair com alguém, é para sair comigo!

- E você lá quer sair comigo? – Rebati.

- Não, não quero. Mas antes comigo do que com ele. – Disse Ares segurando minha outra mão e me puxando para a porta – Você vem comigo.

- Ah, eu acho que você chegou tarde. – Disse Apolo puxando-me contra si – Ela já disse que vai sair comigo. Eu que fui o cara que quase levou um tiro na cabeça.

- Vai ser o cara que vai realmente levar um tiro na cabeça, se não largar a mão da minha garota agora mesmo. – Rosnou Ares. Eu já sabia que seria usada como cabo de guerra, por isso empurrei os dois para trás e fui até a porta sozinha.

- Eu vou andar. Quem quiser, me acompanhe. – Falei irritada.

Claro que os dois acompanharam. Ares reclamando sobre uma lista infinita de coisas, e Apolo tentando me puxar para perto dele o tempo todo. Os dois paravam de vez em quando para discutir entre si, até que eu parei de andar.

- Ah, droga... – Murmurei em decepção – Esperava que eles demorassem para chegar...

- Quem? – Quis saber Apolo.

- A família do Will. – Respondi, e Ares abriu um sorriso para mim.

- E eu achando que não tinha como ficar melhor. Diga para mim, eles são piores que um velhinho paranoico com uma espingarda? – Perguntou ele maldoso.

- Veja com seus próprios olhos, amor. – Respondi irritada.