Recomeçar

Prólogo - A Carta


PDV Bella


As minhas pernas tremiam e tinha vontade de me sentar no sofá de couro que ocupava o seu lugar no meio da grande sala de estar da mansão Swan, mas quase podia ouvir os gritos de Alice se entrasse e me visse sentada em cima do imaculado vestido que ela idealizou para este dia tão especial. Era melhor mesmo ficar de pé. O meu estômago dava voltas e uma sensação de enjoo preenchia todo o meu corpo, um arrepio percorria a minha pele e reforçava a sensação de que algo não estava bem.

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Eu recapitulava todo o planeamento na minha cabeça, estava pronta há mais de meia hora, Charlie estava à minha espera no carro e Alice apesar de um pouco atrasada já estava a caminho. Ela não era mulher de atrasos, mas com toda a ajuda que me deu não podia cobrar-lhe que chegasse adiantada, não podia cobrar-lhe nada depois de ela se ter mantido comigo, mesmo apesar de tudo…

Ouvi passos no hall e pensei na ironia do momento, como é que diz o ditado? Falando no diabo… Alice entrou na sala e ostentava uma expressão séria e um semblante fechado. Não posso dizer que estivesse à espera disso sendo que a minha madrinha era das pessoas mais alegres e sorridentes que já tinha conhecido. Algo estava errado… eu sabia.

Deu três passos até ficar frente a frente comigo, puxou-me para um abraço e não precisei de ver o seu rosto para perceber que ela estava a chorar, pois pude sentir uma lágrima repousar no meu ombro descoberto pelo vestido. Agarrou-me a mão e lá depositou um pequeno envelope, e quando se afastou uma humidade abundante iluminava os seus expressivos olhos azuis. Os olhos azuis dele…

– Ele pediu-me que te entregasse isto.- foram as suas únicas palavras antes de sair limpando as lágrimas que agora lhe desciam pela face, deixando-me entregue à minha sorte. Eu sabia quem era ele, só não sabia o que significava tudo aquilo. Abri o envelope, ignorando o salto que o meu estômago deu ao ver na sua caligrafia fina e elegante o destinatário daquela carta “Para a mulher da minha vida”, e li…



Isabella

Quando esta carta chegar até ti eu vou estar sozinho, encostado no capô do meu volvo prata a observar o modo como as ondas do mar se desfazem contra a areia da praia de La Push. A imensidão do horizonte à minha frente lembrar-me-á de ti e do quão perto estivemos do nosso felizes para sempre. Tão perto mas tão longe, a uns exactos 3km de ti, a distância que separa a praia da igreja de Forks. Uma curta distância que eu não consigo vencer, um curta distância que marca a fronteira entre as lembranças do passado e uma promessa de futuro. A linha que divide a vida e a morte da felicidade dentro de mim.

Quando esta carta chegar até ti, não maltrate a tua madrinha, pois como já diziam em Roma o mensageiro não tem culpa. A Alice ama-te e só vai entregar-te esta carta porque tem comigo um laço que nada nem ninguém pode quebrar: O de sangue. É um laço eterno e que eu sei que vai partir-me o coração quando eu deixar a cidade. Mas laços mais fortes impedem a minha presença aqui, ameaçam a sanidade do meu coração e cravam-se bem fundo no meu peito. Até ao último dia da minha vida, até ao momento em que as suas forças não forem suficientes para que ele continue a bater, o meu coração vai bater por ti. A cada lenta passada do tempo marcada pelo constante andamento do ponteiro dos segundos, dentro do meu peito ele vai impulsionar a vida sempre na dolorosa esperança de um dia voltar a ver-te, voltar a ter-te...

Quando esta carta chegar às tuas mãos, não te revoltes! Pára e lembra-te de todas as noites que passamos ao relento no meu alpendre, lendo poesia pela noite fora. Lembra-te das palavras que sussurrava no teu ouvido cada vez que fazíamos amor, tendo como únicas testemunhas o céu estrelado de uma noite de verão e duas cadeiras de baloiço."És linda! Nem toda a beleza do Mundo me seduz a deixar a visão do teu rosto corado, do teu cabelo selvagem e dos teus profundos olhos cor de chocolate imersos em amor." Lembra-te e sorri, pois elas são hoje tão verdadeiras como eram nessas mesmas noites. Aqui encostado, enquanto observo o pôr do sol sobre o mar, vou deixar a minha imaginação voar até ti. Vou imaginar-te num elegante e sumptuoso vestido branco, com o mais leve traço de maquilhagem e com os cabelos presos deixando o teu pescoço exposto. E apesar de nesse momento poder repetir-te todas aquelas mesmas frases que referi, só uma delas faria jus à tua beleza e te deixaria saber da mais profunda das verdades do meu ser "Amo-te...mais do que a minha própria vida."

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Não sejas muito dura contigo mesma, eu não te culpo pela escolha feita pelo teu coração. Não posso mentir, tu sabes que sou um péssimo mentiroso, a minha vida quase acabou. Não entendi de imediato porque me abandonaste e na minha cabeça só surgiam imagens de todos os momentos felizes que vivemos, todos os beijos que trocamos, todas as noites que dormimos abraçados, todos os sonhos que partilhamos, todas as vezes que fizemos amor... Tentei destruir o mundo, tentei destruir-me a mim mesmo deixando que todos os vícios me consumissem e me dragassem para a completa ruína. Isso quase acabou com a minha mãe, Esme. Mas parei, quando percebi que podias ser feliz, que ele podia fazer-te feliz. O Charlie aceitou-o e com certeza no futuro a tua família será grande e feliz com lindas crianças de pela morena e olhos castanhos a correr por esta mesma areia aqui aos meus pés. E a promessa da tua felicidade era tudo o que eu precisava para partir em paz.

Minha Bella, quando esta carta chegar até ti pensa em mim com um sorriso. Lembra-te que a tua presença na minha vida será eterna e cada gesto, cada olhar, cada passo que eu der será apenas por ti e pensando só em ti. Agradecendo a tua entrada na minha vida, relembrando a tua passagem por ela e esperando eternamente o teu regresso. Sempre à espera de te ver voltar... num pôr do sol em La Push, numa noite fria de Londres, numa vida inteira de solidão.

Sempre e para sempre teu...

Edward Cullen



Ignorando tudo o que me rodeava caí sobre os meus joelhos enquanto grossas lágrimas salgadas corriam pela minha face. Levei o sobrescrito aos lábios tentando sentir o seu perfume uma ultima vez, mas foi em vão.

Prostrada no chão, em frente à grande lareira da casa de Charlie que tantas noites de amor testemunhou, de punhos cerrados e com o meu coração na iminência do abismo, chorei. Chorei desesperada, relembrei um passado agridoce e gritei como se disso dependesse a minha vida. Ele não estaria à minha espera à entrada da igreja, ele nunca voltaria a confortar-me com o seu olhar carinhoso, nunca mais poderia correr para os seus braços quando o Mundo me maltratasse. Edward Cullen tinha deixado a minha vida para nunca mais voltar.

Ouvi Charlie correr para dentro da sala enquanto gritava e não esperei pelas suas perguntas. Não queria, não sabia explicar as minhas lágrimas. A escolha tinha sido minha.

– Vamos, não quero perder mais tempo! Pede à Alice que me arranje lenços de papel. Tenho um homem à minha espera!

– Bella… Charlie disse com incerteza na voz.

– Vamos pai! Já o fiz esperar tempo demais.”