A Confissão de Naraku

Capítulo Único


Era de noite, Kikyou caminhava solitária por uma floresta, sentindo seu corpo bastante debilitado pela contaminação do miasma de Naraku, quando percebeu uma presença maligna se aproximar e logo pensou:

Naraku!

Eis que o vilão apareceu diante da sacerdotisa, desfazendo sua barreira.

— Kikyou...

Logo ela reagiu com um tom de voz agressivo:

— O que quer aqui?

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Ele respondeu:

— Há algo que preciso lhe falar.

Então, se aproximou calmamente da moça, fazendo-a se posicionar de forma defensiva.

— Fique longe de mim – repreendeu-o.

O meio-youkai ignorou a rispidez da sacerdotisa e tentou lhe tocar, mas ela se retraiu e ele logo cessou seu gesto e recolheu a mão. Depois, a estendeu como se pedisse para que Kikyou a segurasse. Ela negou. Ele ficou estável. Após um tempo, ela decidiu aceitar, apesar do receio de que fosse uma armadilha, curiosa para saber o que pretendia. Então, ele segurou com suas duas mãos a da moça:

— Ah... – suspirou. – Como está fria!

Ela arregalou os olhos, espantada. Em seguida, Naraku soltou a mão de Kikyou e a segurou pela lateral do pescoço e pelas costas, encostando a boca em seu ouvido esquerdo. Logo, ela tentou se soltar.

— Me solte! – ordenou.

— Calma! – disse com firmeza, mas delicadamente. – Eu não vou feri-la. Quero lhe dizer o porquê de eu ter estado esse tempo todo a caçando e lhe atacando de todas as formas possíveis.

Apesar de muito irritada com a situação, a morena se aquietou, surpresa com a maneira que ele se dirigiu a ela, e prestou atenção nas palavras de Naraku, que falou com a voz baixa e rouca:

— A verdade é que eu sempre a desejei profundamente!

Ela se espantou ainda mais. Naraku continuou:

— Mas eu a desejo como Naraku e não como Onigumo, da forma que pensava! No entanto, eu sinto nojo de mim mesmo por querê-la tanto assim. Por isso me conforto mais a violentando do que a abraçando como agora!

Kikyou mal pode crer no que ouvira. Pensava: Não! Ele é meu inimigo e o odeio! Não quero aturar ouvir isso!, mas não conseguia afastá-lo.

E Naraku prosseguiu:

— E esse querer não é apenas físico, é mais! Por falar nisso, se eu pudesse escolher uma parte de seu corpo para ter pra mim – nesse instante, ele pressionou o seio esquerdo da moça contra seu corpo –, eu escolheria seu coração! – Os olhos de Kikyou se arregalaram mais ainda e começaram a tremular. – Ah, como gostaria de poder senti-lo agora! Mas ele está morto! Seu corpo está morto! Mesmo me odiando tanto por isso, estar tão próximo de você como agora, acalma o meu coração! – Naquele instante, Kikyou se encontrava completamente imóvel, sem saber como agir ou o que pensar. – Sei que sente um desprezo execrável por mim. Entretanto... Eu não me importo! – A moça então deixou escapar um baixo gemido.

Então, ele retirou a mão de seu pescoço, olhou para seu rosto e o tocou suavemente, dizendo:

— Sua pele é tão branca! É a cor mais linda de todas que já vi. É tão pura que tenho medo de sujá-la ao encostar! – Retirou a mão, mantendo-a bem próxima do rosto da moça. – Sua cara de boba faz você parecer tão frágil – disse sorrindo –, crescendo em mim uma ânsia arrebatadora de lhe tomar nos braços e protegê-la! Protegê-la de tudo que eu pudesse e de que não pudesse. – Novamente colocou a mão em seu pescoço e a boca em seu ouvido. – Eu queria entrar no seu corpo! Queria que ele fosse meu! Queria que seu coração fosse meu, que sua alma fosse minha, que sua mente fosse minha... – Ela se espantou ainda mais, e começou a pensar que homem nenhum jamais lhe dissera tais palavras, nem mesmo InuYasha, que sempre a amou. – Mulher misteriosa, que rouba meu fascínio, desperta meu cio e se faz onipresente nos meus pensamentos, bela e cálida. – A sacerdotisa ficou paralisada, não conseguia reagir e não se conformava em se deleitar com as palavras de seu tão odiado inimigo. Seu corpo não conseguia reagir aos comandos de sua razão, não conseguia se quer a ouvir. – Ah... Mas como me sinto mal por isso... E você também. Pois despreza-me! Entretanto, eu não lhe culpo por sentir isso. Afinal...

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"Quem não haveria de evitar com horror, como a um monstro, como a um espectro, um homem desses, avesso a qualquer sentimento natural, incapaz de se permitir uma emoção, alheio ao amor e à piedade, duro como uma pedra ou como um rochedo de mármore, homem a quem nada lhe escapa e que nunca se engana, que tudo vê como um lince, que tudo mede com exatidão, que nada perdoa, que só está contente consigo, que se julga o único rico, o único com saúde, o único rei, o único em tudo, que não precisa de amigos, que não tem a ninguém como amigo, que sem escrúpulos insulta até os deuses, que julga todos os atos humanos insensatos, condenando-os e ridicularizando-os!" ¹

Kikyou permaneceu incrédula. E Naraku continuou:

— Eu me condeno por desejá-la tanto! Por isso, enveneno esse sentimento com a acidez de minha mente! – Pausou. – Eu queria vê-la nua! Nua não só de corpo, mas também de alma! Queria vê-la como és em sua essência! Queria poder admirá-la... Tenho certeza que isso me traria prazer máximo! Sem encostar-lhe um só dedo! Você é como um artefato sacro que merece devoção! – Aspirou o pescoço da moça e acrescentou: – Seu cheiro faz minha cabeça girar... Kikyou, eu... – Nesse instante, a sacerdotisa já imaginava que palavras sairiam da boca do meio-youkai. – Eu... – suspirou. – Eu amo você! – Ela sentiu o que restara de suas forças esvaísse enfim.

Então, ele segurou o rosto da moça com firmeza, mas delicadamente, deixando-a sentir todo o calor e a tensão que seu corpo emanava, pondo seus olhos fixos aos dela:

— Permita-me fazer algo que sempre quis! Por favor, não se mova. – Ele foi aproximando seu rosto do de Kikyou bem devagar. Ela sabia o que iria fazer. Porém, não pode resistir. Ele encostou seus lábios nos da moça e a beijou gradualmente, o fazendo cada vez mais incisivo. Ela lhe retribui inconscientemente. Cada vez mais o meio-youkai a beijava com febre, intensidade e concupiscência, sugando com força os lábios e a língua da moça, docemente. Ele alterava a energia do beijo recolhendo sua língua e penetrando, a boca da sacerdotisa, com ela. Kikyou nunca se sentiu tão querida e desejada antes. Estava percebendo-se dominada pela volúpia e pela vontade de se sentir amada, viva, embora em sua mente soubesse que não deveria permitir aquilo.

Quando a excitação se tornou sufocante demais para continuarem simplesmente aos beijos, eis que ele a soltou agressivamente, com extremada respiração ofegante e desviando o olhar, tentando se recompor para encará-la novamente, enquanto ela observava o peito dele se movimentar com rapidez. Naraku segurou o queixo de Kikyou com a mão esquerda e, erguendo um pouco a cabeça da moça, disse olhando-a fixamente:

— Eu não posso! Eu não tenho coragem de tocá-la!

Ela o olhou assustada, sem saber o que fazer. Então, ele a abraçou com desespero, apoiou o rosto no ombro esquerdo da moça e começou a deixar escapar um choramingar contido e angustiante, na tentativa de se controlar ao máximo, falhando. O corpo de Naraku tremia abrasivamente, parecia que uma erupção iria explodir de seu interior. Eis que um grito insano surgiu, rasgando o silêncio na escuridão da floresta:

— Kikyooooooooou!

Era InuYasha, que sentiu o cheiro dos dois e foi ao encontro de sua amada, temendo o que poderia encontrar. Naraku desapareceu em uma nuvem de miasma, fazendo Kikyou se assustar e cair no chão. Ela olhou para o céu e presenciou o moreno desaparecer em meio às constelações. InuYasha chegou e, desconcertado, levantou a moça, indagando:

— Kikyou... Tudo bem?! Aquele maldito a machucou?!

Ela mentiu:

— Não se preocupe! Ele só veio aqui para me ameaçar mais uma vez, só isso.

Eles permaneceram desajeitados, enquanto uma confortante garoa desmaiava aos seus pés. A sacerdotisa mais uma vez olhou para o céu, no ponto exato onde Naraku desaparecera, e pensou nas palavras que ele proferiu que mais foram chocantes para ela: “Kikyou, eu me sinto mais confortável torturando-a do que amando-a”.

FIM

¹ Trecho adaptado do capítulo XXX, do livro “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.