- Lynn Snow. Esse sim é o nome de uma vencedora. – ouço uma voz. É do meu avô.

Sigo o som de sua voz ao passar por um corredor branco, está tão frio, gostaria de ter trago um agasalho. Risadas enchem o espaço vazio. Abro uma porta. A sala é branca, percebo que é um hospital, meu avô, meu pai e minha mãe, deitada na cama com um bebê no colo, riem enquanto meu irmão brinca com um carrinho.

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Meu avô estava rindo. Não que eu esteja tão surpresa, ele nem sempre era uma pessoa fria, às vezes ele ria e brincava, mas era raro. Um ponto de interrogação imaginário surge na minha cabeça, quem era aquele bebê?

- Eu gosto desse nome, combina com o rosto dela. Tão tranquilo. – Meu avô fala me pegando no colo.

Sinto a sensação de estar no seu colo e isso me dá segurança. Não entendo o motivo.

- Eu te amo pequena Lynn. – ele dizia enquanto brincava com o meu nariz.

BOOM!

BOOM!

BOOM!

BOOM!

Acordo com o barulho de quatro canhões seguidos. Busco Dan no escuro e ele agarra os meus braços me fazendo sufocar um grito.

- Calma, provavelmente morreram por bestantes. Ninguém aqui é tão forte a ponto de matar quatro tributos tão rápido. – ele tenta me acalmar

Sento, me endireitando e começo a pensar sobre o meu sonho. Ele parecia tão real, sinto que, se quisesse, poderia ter tocado em todos ali. Meu avô dizendo que me amava? Isso me deixou atordoada. Eu também o amava, apesar de tudo. Às vezes queria que ele estivesse vivo e que pudéssemos voltar a nossa vida antiga, tirando os jogos vorazes. Gostaria que eles nunca tivessem começado, assim, eu e todas as pessoas a minha volta teriam uma vida normal. Todas essas mortes poderiam ter sido evitadas. Kyra e Silena não estariam mortas. Se não tivesse acontecido eu não teria conhecido Dan, Kyra, Silena e Hasse.

Mas para que conhecê-los se eu iria perdê-los? Eis uma questão que eu não consigo responder sem ficar pensando por horas. Sinto saudades daqueles que perdi e daqueles que nem ao menos conheci.

Como estava de noite, e eu só tinha cochilado, o hino de Panem começou a tocar e os rostos dos tributos mortos começaram a aparecer no céu.

Halley, uma garota morena e alta.

David, um menino igualmente alto e loiro.

Uma menina que eu não conhecia com cabelos avermelhados.

e...

Adrien.

Eu não conhecia Adrien, mas a única vez que falei com ele já nos fez íntimos. Eu sentia a perda dele, com certeza ainda teria pesadelos com seus cabelos ruivos, suas sardas e suas mãos inquietas de nervosismo. Um garoto tão pequeno e frágil. Mais uma vida desperdiçada.

Pergunto-me como é ser mentor e ver sua criança morrer, como estaria Johanna Mason? E Hasse? Como ele ficaria quando eu morresse?

Começo a estalar os dedos de preocupação. Faltam apenas 4 tributos, contando comigo. Vinte adolescentes já morreram, como pode?

- Dan? – pergunto para o espaço escuro a minha frente.

- Sim? – ele responde em forma de pergunta.

- Faltam só 4. Qual é o plano?

- Tentar não morrer, creio que é a única coisa a fazer.

Não respondo. É claro que esse é o plano. Dois tributos de um lado, dois de outro. Eu não queria lutar com Dan, mas também não queria perdê-lo. Eu estava em um impasse.

- Eu não quero lutar contra você. – eu digo.

- Nem eu. Estamos em uma rua sem saída, Lynn.

Sinto que ele precisa dormir, mas antes disso decido lhe contar meu sonho e ver o que ele achava disso. Não era a mesma coisa que contar os sonhos para o Hasse, ele sempre tinha uma piadinha e alguma ironia na manga. Mesmo sem ver seu rosto, percebo que Dan está franzindo a testa. Ele sempre fazia isso quando estava ouvindo algo atentamente.

- Provavelmente isso aconteceu no seu nascimento. Lynn Snow, não duvide nenhum milésimo de segundo que o senhor Coriolanus Snow não te amava. Com certeza te amou até o ultimo suspiro de vida, afinal, ele era o seu avô, vocês possuíam o mesmo sangue e, apesar de tudo que ele fez contra as crianças dos distritos, ele sempre foi um presidente amoroso e creio que um bom avô também. Não estou defendendo as atrocidades que ele cometeu, mas não acredito que o velho não tinha sentimentos, pelo contrário, acredito que ele tinha sentimentos até demais, e principalmente por você, a única netinha menina, a menina que se parece física e até psicologicamente com ele. Você pode não ter maldade no coração, mas convenhamos que você é fria quando quer. Talvez na mente dele ele era o herói. – Dan diz sem fôlego.

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Não sei nem o que dizer, o discurso de Dan me fez pensar e repensar tudo que eu tinha dito sobre o meu avô, sobre o jeito como eu fingia não me importar com seu afeto. Eu me importava, é claro que me importava, eu só era uma garotinha procurando a atenção do avô. O dia que fiz biscoitos de chocolate pra ele e o dia que lhe dei um desenho de presente. Eu sempre me importei com ele e ele comigo, eu só não sabia disso. Apesar de todas as coisas, ele era meu avô. O vovô Snow.

Eu chegava da escola e ia abraçá-lo, ele sempre retribuiu meus abraços, ele podia não sorrir tanto, mas esse era o seu próprio jeito de demonstrar afeto. Agora tudo estava claro na minha mente. Lembro então do presente de aniversário que ele me deu há 3 anos. Uma grande cobra de pelúcia, um cartão escrito com sua letra, um colar e um par de brincos. Todo aniversário foi marcado, pois era sempre nesta data que ele se esquecia do país inteiro para se preocupar apenas comigo. com a pequena Lynn dele.

- Que dia é amanhã? – pergunto.

- Acho que dia 5. Por que?

- É o meu aniversário.

Eu não conseguia acreditar que só agora percebi isso tudo. Meu avô me amava e eu nunca tinha percebido. Eu era tão burra em acreditar cegamente nas palavras das pessoas que o odiavam. Elas podiam ter motivo, e eu nunca aprovei nem aprovarei os jogos vorazes, mas ele era da minha família, e mesmo fazendo coisas terríveis como essas, eu o amava.

- O que acha de acabarmos com esse jogo de uma vez? - pergunto, botando um fim ao meu monólogo mental.