Consultas.

Capitulo 1.


Consultas


I was alone thinking I was just fine, I wasn't looking for anyone to be mine.


Ele não gostava de crianças. Na verdade, ele odiava crianças.


E isso se devia ao simples fato delas acumularem todas as características ruins que um ser humano poderia ter: eram barulhentas, agitadas, persistentes e geralmente choravam por qualquer coisa inútil. Em especial, aquela criança que mais parecia um projeto de novo Naruto parecia ter energia de sobra e acumulada além de não se deixar abater por uma doençazinha qualquer.


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...Mas ele não poderia ter dito não a Naruto, certo?


Bem, na realidade poderia – e deveria – mas estava o devendo um favor e o simples fato de estar em débito com ele o estava deixando maluco... Então quando essa oportunidade infeliz de quitar sua dívida surgiu, tratou de aceitá-la sem medir as conseqüências horríveis às quais seria levado.


E agora ali estava ele, perdendo seu precioso tempo (que efetivamente era dinheiro), sentado na sala de espera do consultório pediátrico com um pirralho ranhento e hiperativo que corria de um lado para o outro e que infelizmente estava sob sua responsabilidade e cuidados.


Durante os últimos quinze minutos que perdera ali sentado diversos pensamentos passaram por sua mente: pensara primeiramente em matar todas as crianças presentes... Depois cogitara a possibilidade de amarrá-las no sofá e amordaçá-las... E na seqüência pensou em colocar fogo no consultório e acabar assim com todos os problemas ali concentrados de uma só vez. O problema era que todas as soluções imagináveis o levariam a julgamento e a uma eminente prisão no mais tardar, o que acabaria com a sua carreira e conseqüentemente com o seu dinheiro.


"-Tio Sasuke!" – desviou os olhos do diabrete à sua frente e suspirou. Quem sabe se ignorasse ou se fingisse que era surdo – ou que estava morto – ele esqueceria sua presença ali? Esperava que sim. – "Tio Sasuke?"


Talvez o lado mais terrível de crianças fosse mesmo a insistência. Elas não desistiam nunca e pareciam acreditar veementemente que poderiam vencer tudo e todos pelo cansaço... E aquilo o fazia querer do fundo do coração que elas fossem como adultos mercenários, pois um pouco de dinheiro bastaria para fazê-las ao menos calar a boca – e aquilo ele tinha de sobra, o que o tornava perfeitamente capaz de forjar um mundo mais silencioso e isento de uma série de problemas.


"-Tio Sa-su-ke!"


Uma pena que a maldita propaganda do cartão de crédito estivesse certa quando dizia que há coisas que o dinheiro não compra... Realmente lamentável.


Baixou os olhos para o pulso enquanto erguia a manga da camisa para observar as horas. E lá se iam mais dez minutos do seu precioso tempo...


"-Senhor Uchiha?" – fitou a secretária com desinteresse. Provavelmente estava vindo lhe oferecer mais daquele café passado há cerca de 24 horas atrás, ou avisar pela enésima vez que sua vez estava quase chegando... – "-Pode me acompanhar?"


Abriu a boca em um estático 'oh' e levantou-se, segurando o afilhado pelo colarinho enquanto praticamente o arrastava pelo corredor até a tal sala da pediatra. Quanto mais rápido aquilo acabasse, melhor.


"-Boa -" – antes que a tal médica pudesse terminar de falar ele entrou e sentou-se na cadeira em frente à mesa dela, finalmente soltando a blusa do garoto e soltando um breve suspiro. Era melhor que aquilo tudo fosse rápido. – "...tarde."


Só então se permitiu fitar a pessoa que teve a audácia de fazê-lo esperar por quase quarenta e cinco minutos em uma salinha entupida de crianças que mesmo doentes insistiam em fazer barulho o tempo todo. Ah sim, ali estava ela... O observando com uma sobrancelha arqueada enquanto mantinha uma mão suspensa no ar, certamente esperando por um cumprimento que jamais viria da parte dele.


Demorou alguns segundos até constatar que ela não era normal... E não se referia ao fato de ela não ter desfeito o sorriso mesmo quando não foi cumprimentada ou por não ter desviado o olhar do dele por um segundo se quer, mas sim pelo fato daquela sala ser ridiculamente... Infantil.


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Tudo bem que ela era uma pediatra, mas precisava ter tantos ursinhos estúpidos espalhados pelo cômodo? Céus, aquilo era uma profissão séria! E ainda pela mesa havia várias fotos de um Pug mais ridículo ainda... E como se fosse possível tornar tudo pior, o estetoscópio dela era verde limão. Que tipo de pessoa em sã consciência comprava alguma coisa – qualquer coisa – com uma cor daquelas?


E aquilo não era, nem de perto, o mais gritante em relação àquela mulher... O cabelo dela também era rosa.


Rosa.


Um rosa que ficava em contraste com o verde dos olhos, o rosa das bochechas e o branco da pele.


"-Sakura-chan!" – estava tão entretido em analisar todas as características do lugar e dela que seu reflexo não fora rápido o suficiente para evitar que o projeto de Naruto grudasse no pescoço da garota, e quando estava prestes a murmurar qualquer coisa parecida com um pedido de desculpas, ela abraçou o pirralho em retorno.


O que diabos...?


"-É bom ver você também!" – ela sorriu, afagando os cabelos loiros do pequeno enquanto o erguia para colocar em uma espécie de maca com lençol de ursinho. – "O que pegou você dessa vez, hein?"


"-Nada! Eu falei que não precisava vir aqui, mas papai brigou comigo e me mandou com Tio Sasuke como forma de castigo!" – ele arqueou uma sobrancelha diante daquela informação. Castigo?


Quase arqueou a outra também quando a dita doutora Haruno riu, o observando de soslaio por um instante para em seguida voltar a ignorá-lo e consultar o garoto.


Os quinze minutos que se seguiram foram quase tão entediantes quanto os vinte e cinco que perdera na sala de espera, só que dessa vez ouvia volte e meia uma pérola de seu afilhado e achava graça na maneira como a pediatra ria daquelas besteiras.


Até que o sorriso dela era bonito, talvez a única coisa que havia o agradado naquele lugar até agora...


"-Muito bem..." – ela voltou-se para ele e suspirou. Suspirou. E não da maneira 'oh como esse cara é lindo' que ele estava acostumado, mas sim da maneira 'droga, agora vou ter que lidar com esse idiota'. Ele conhecia bem aquele suspiro... Era o mesmo que fazia quando tinha qualquer assunto para tratar com Naruto. – "Esse garotinho aqui não tem nada demais, não há com o que se preocupar. É só uma gripe, vou receitar dois remédios e caso ele não melhore preciso que o traga de volta..."


Sasuke meneou a cabeça levemente, não haveria próxima vez. Ele não voltaria ali nem por decreto de lei, muito menos por um pedido de Naruto.


Pegou o papel que ela estava o estendendo e tentou ler o que estava escrito, em vão. Médicos e suas malditas letras ilegíveis... Parecia que aquilo era um pré-requisito para exercer a profissão ou qualquer coisa do gênero.


"-Precisa de um atestado?"


Atestado? Baixou os olhos para o afilhado, como quem pergunta se aquilo seria mesmo necessário.


"-O que é um atestado, tio Sasuke?"


Girou os olhos.


"-Não." – respondeu então, lançando um último olhar para a médica esquisita. – "É só isso?"


Ela riu. Riu. Exatamente quando não havia absolutamente nada de engraçado ali.


...E por mais que devesse ter odiado aquilo, gostou do tom da risada dela.


Droga, talvez estivesse começando a pegar qualquer que fosse o vírus que seu afilhado tinha e aquilo estava dando início a uma série de pensamentos estúpidos em sua mente... Ou talvez fosse apenas hora de ir embora.


"-É só isso." – ela finalmente parou de rir e então sorriu, bagunçando os cabelos do projeto de Uzumaki enquanto passava para abrir a porta para eles. – "Até mais!"


Sasuke olhou para trás uma única vez, apenas para encontrá-la ainda sorrindo, parada na porta.


Até nunca mais, provavelmente era o que ela queria ter dito... E ele também.


Até nunca mais.