Sala do Trono.

- Chama a Immie!! Pelo-amor-da-luz-que-não-ilumina-esse-maldito-lugar chama a Immie!! – murmurou Sorena dando voltas no mesmo lugar. A Dama Sombria olhava para os lados, seguindo a sobrinha, tentando entender o que ocorrera, mas sentia cheiro de sangue fresco no recinto.

- Quer parar no lugar, sua cabeça-de-vento?! – reclamou Mistress Carrie a agarrando pelo braço, o gemido contido de dor que Sorena soltou fez a Rainha correr até ela, segurando seu pulso fortemente e tendo sua mão suja de sangue.

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- Eu vou sangrar até morrer!! – esperneou Sorena, segurando a mão esquerda com força e chorando lágrimas grossas. – Maldita hora em que pisei aqui de novo!!

- Não blasfeme! – disse Imladris chegando com Lady Annie, se abaixou perto de Sorena e soltou um gemido de nojo. – Sorena, como é que você conseguiu isso?! – Sylvanas não largou do pulso ensangüentado da mais nova e indicou o estrago feito pela ponta da pena.

- E-eu tava escrevendo a maldita carta, coloquei a pena no tinteiro, me virei pra selar com a gota de vela e quando fui pegar a pena de novo... – chorando muito, mas não demonstrando estar choramingando. – Ela escapou do bastão, caiu no chão e quando fui pegar, fincou aí!!

- Putz... Backstab na mão? Essa eu não havia tentado ainda! – a Conselheira Real a cutucou com uma pata fina nas costelas de Lady Annie que ria da situação – Ai!

- Dá pra ficar quieta?! – Imladris pediu pegando a mão esquerda ferida e verificando até onde a ponta da pena finíssima entrara. – Acho que atravessou o osso... – A Rainha fez uma careta de depreciação e segurou a mais nova no lugar, ela ameaçava desmaiar a qualquer momento. O sangue fluía do cotovelo da garota até pingar ao chão bem perto das botas da monarca.

- Oh que ótimo!! – exclamou Sorena com raiva.

- Sem escândalo. Segura a dor aí e vem comigo. – e sorrindo gentilmente para sua Rainha, ela percebeu no quanto Sylvanas se concentrara em ficar com a mão travada no pulso machucado de Sorena. – Com Vossa licença, Majestade...? – Sylvanas largou lentamente do braço de Sorena, como se fosse algo frágil e altamente perigoso de se tocar novamente. – Levarei ela até a senhora Mary Edras...

- Faça isso... – sussurrou Sylvanas desviando de pisar no sangue de Sorena no chão. Lady Annie deixou os ombros caírem e desceu as escadas até um buraco incrustado em um dos vãos que decoravam a Sala tão imensa e alta. Tirou um pano de chão úmido e uma vassoura quase sem pêlos.

- Tudo eu... tudo eu... – ela resmungou.

- E não reclame! – Mistress Carrie a admoestou com um tabefe de seu leque de renda. Imladris desceu as escadas com uma Sorena cambaleante.

- Oxkhar ficou lá no quarto e não quero que ele descubra o que eu guardo debaixo do meu colchão...

- O que você guarda debaixo do colchão...? – perguntou a mais nova sendo arrastada da Sala do Trono pela clériga.

- Calada! Você está sangrando demais... Isso não é bom...

- É sim! Quer dizer que estou viva!

- Como é que você consegue enfiar o bico metálico bem aí?

- Eu não sei! Estava ocupada verificando cartas e mais cartas!

- Quem mandou roubar o selo de Undercity?

- Eu não roubei! Apareceu no meu bolso do nada!

- Não sabia que você era cleptomaníaca... Deve ser coisa de elfo complexado...

- Ora, vai...!! – Oxkhar atravessou a ponte depressa e pegou a irmã no colo.

- O que houve dessa vez?

- Olha a mão esquerda dela...

- Sorena, você se superou!

- Obrigada!

- Ganhou daquela vez que pisou nos pregos soltos no estábulo!

- Três pregos no pé, um de cada vez...

- Vocês estão loucos ou o quê? – abrindo a porta do quarto e depositando a garota na cama.

- Vocês chegaram a usar essa cama enquanto eu estava lá fora? – Oxkhar a olhou seriamente e verificou a mão ferida.

- Vou ter que puxar e vai doer.

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- Me diz uma novidade?

- Não usamos essa cama do jeito que você acha que usamos! – reclamou Imladris puxando uma pasta enorme de debaixo da cama e abrindo os fechos.

- Então usaram de outro jeito?

- Tem outro jeito? – Oxkhar estava perdido, mas maravilhado pelo estojo de primeiros socorros que Imladris tinha acesso. Era um raríssimo kit com diversas ampolas de cura menor, antídotos e anestésicos. – Onde conseguiu...?

- Presente de casamento da sogrinha...

- Nossa, é um senhor estojo.

- Quando você for puxar, me avisa, por favor? Estou me preparando psicológicamente aqui para o evento.

- Ox, vou precisar de linha anestésica pra fazer os pontos, será que...

- Pontos? Vou precisar de pontos? Você deixou de ser clériga quando? Faz aquela bolinha de luz legal e pronto! Nova em folha!

- Aquilo é pra ferimentos feitos na hora, não para perfurações acidentais e localizadas. – Oxkhar se levantou imediatamente e fechou a porta. – E eu sei que você não gosta de chorar na frente de certas pessoas...

- Bem lembrado... – Imladris acertou o timing com a amiga e falou:

- No três...

- Okay... No três... – Imladris pegou a parte exposta do bico metálico e com a outra mão o encaixou em uma pinça.

- Um... dois... – já mencionando puxar a pinça rapidamente, mas Sorena caiu desmaiada antes mesmo que ela o fizesse. Abriu as pálpebras da amiga e soubera que ela desmaiara de emoção. – Aiai Sorena... – puxando o bico metálico com a pinça sem se importar se ela sentiria dor ou não. – Você tem cada coisa!


Sala do trono.


- Vossa Majestade está bem? – perguntou Mistress Carrie polidamente ao entregar o pergaminho que lia a Rainha de Undercity. Sylvanas apenas sorriu cansada para o chão e confirmou que estava bem. Lady Annie terminava de espremer o pano úmido que limpara sangue derramado ali perto em um ralo e sentara nas escadarias olhando para o corredor que levava a Sala do Trono. Suspirou baixinho e torceu um pouco os lábios como se estivesse muito chateada. Mistress Carrie percebeu no desânimo e não perdeu tempo em bofeteá-la com o seu leque. A menina não respondeu a agressão.

- Seria tão legal ter uma tia preocupada como a Senhora, Dama Sombria... – ela disse se voltando para falar diretamente a Sylvanas. A Rainha interrompeu a leitura e encarou a menina de quase 16 anos. – Sorena tem sorte de ter a Senhora por perto... – e se virando para o corredor e suspirando novamente. – Queria muito mesmo que minha mãe fosse assim... – falando mais para si do que pensava. Sylvanas trocou olhares com Mistress Carrie e a subordinada entendeu. Desceu para as escadarias e ergueu a menina em um espetar de quelíceras nas costelas dela. – Aieeeee!!

- Levanta.

- Mas que...?!

- Vamos em Brill.

- Mas pra quê? Você nunca sai daqui! – recebeu o leque na nuca.

- “Você” não! Senhora! Respeito comigo! – a menina começou a andar com desconfiança, Sylvanas acompanhava a dupla fingindo que estava lendo. – Vamos em Brill comprar doces...

- Ahn?!

- Não questione minhas ordens! – outro golpe com o leque fez Lady Annie dar um pulo para frente. – Anda logo, sua moleza! – a Rainha em seu trono sorriu para a carta desinteressante que lia e voltou aos seus afazeres um pouco mais confiante quanto sua liderança.