- Imladris?

- Sim, sim e sim?! – a garota estava atarefada ordenando a biblioteca do Culto em ordem alfabética. Mas na metade da tarefa percebeu que alguns livros estavam faltando, então decidiu fazer um levantamento de livros que estavam emprestados, esquecidos, roubados, afanados, e os que estavam ali mesmo pegando poeira nas estantes. A banshee Aelthalyste sabia o que isso significava. Drenar mana fazia isso com os Elfos-do-sangue.

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- Sossega. – disse somente, a menina obedeceu sentando rapidamente em uma cadeira. – De quem foi dessa vez?

- Paladino. – ela respondeu rapidamente e em um tom esganiçado. Seu coração estava batendo muito rápido e ela queria fazer alguma coisa, qualquer coisa para gastar aquela energia que a preenchia por dentro. – Escarlate. Tinha uma aura estranha e cheia de estilhaços e acho que tinha um pouco da Luz também e ele... – o gesto da Mestra a calou.

- Como sua mestra devo te ensinar a certas coisas da... ahn... vida...

- Sim, sim e sim!

- Nada de drenar paladinos. Nunca mais, ouviu bem mocinha? – Imladris concordou vigorosamente, uma cara séria e resoluta. – Eles têm uma coisa chamada aura de julgamento, é como reabastecem sua energia vital e mágica... Isso pra você é como tomar mais de quatro copos de café puro...

- Isso faz mal! – a menina pontuou no mesmo tom.

- Então...

- Nada de paladinos. – repetiu a garota com toda certeza do mundo.

- Longe de paladinos.

- Nunca mais. – já em um tom ofendido.

- Nem chegue perto...

- Sim senhora!

Undercity atualmente.


- Castores e patinhos vermelhos!! - gritou Sorena acordando de um pesadelo. Estava no antigo quarto de Imladris, tudo na mesma desordem organizada de livros, pergaminhos e vidros de diversas cores. Encolheu-se no mesmo instante pela dor aguda em sua costela fraturada. A cama era pequena, mas bem aconchegante, tanto que o corpo de Sorena foi envolvido pelos lençóis e sua dor acalmando pelo quentinho do lugar.

- Você tem problemas, sabia? - disse Imladris sentadinha em sua escrivaninha com um grosso livro de magia aberto. A clériga tinha os olhos esverdeados marejados. - Sabe que fez? Sabe o que poderia ter acontecido se você continuasse nessa idéia insana de desafiar a nossa tão querida e benevolente Rainha? - Sorena não se mexeu do lugar, na verdade queria ficar pra sempre ali deitadinha.

- Ela que provocou... - disse apenas ajeitando o corpo encolhido na cama.

- Você atirou uma arma pontiaguda nela! Não tem juízo?!

- Ela que provocou... - repetiu sonolenta enfiando a cara no lençol quente por seu próprio calor.

- Bem... pelo menos ela me deixou ficar... Sabe? Silvermoon mandou emissários, querem reatar as amizades, duas bases em Ghostlands foram restauradas e... - mas Sorena pegou no sono segundos depois.


O taverneiro Norman recolheu o dinheiro dado pela jovenzinha desconhecida, mas que curiosamente estava ali sempre no mesmo horário. Ela mordeu o doce com gosto e se sentou no chão com as pernas cruzadas. Tinha a cabeça machucada e o cabelo bem rente ao cocuruto em um corte irregular. A armadura de couro batido negra e emborrachada trazia um ar guerreiro, mas não se importou por ela estar ali todos os dias. Dando o dinheiro e não o incomodando estava ótimo. Um grupo de Elfos do Sangue passou pelo Trade Quarter e a jovem observou bem eles. Norman percebeu em como ela se levantara e se ajeitara a postura. Até chegou a imitar um Elfo guerreiro que explicava a Gordon Wendham como sua espada havia sido quebrada. O taverneiro achou isso estranho e caminhou em direção a um dos guardas que passavam por ali em vigília e indicou a menina.


Cutucada ferozmente na costela fraturada, Sorena levantou com uma shadowbolt já faiscando pela sua mão. Imladris a sacudia agora e apontava para uma carta que recebera mais cedo.

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- Oxkhar me mandou carta!! – a elfa mais nova se recuperando do susto, sentou-se na cama e olhou para baixo. Sua cabeça tonteou levemente como se algo muito pesado houvesse sido tirado de suas costas. – Ele me mandou carta!! – circulando pelo quarto e abraçando o pedaço de pergaminho. Sorena estava tão fora de órbita que ficou abobalhada olhando a clériga cantarolar e abrir e fechar a carta, lendo seu conteúdo de tempos em tempos.

- Legal... – se levantando fracamente e abrindo a porta do quarto. Deu de cara com um outro mensageiro com outra carta.

- Milady Imladris?

- Ahn... não... – Sorena apontou para Immie ainda entretida lendo a última carta.

- Milady Imladris, você foi convidada a ser a embaixadora de Undercity em Brill para as comemorações do Hallow’s End. A Dama Sombria demanda sua partida esta manhã e que faça as apresentações aos embaixadores da Horda assim que chegar.

- Oh pela Luz!! Claro que sim!!

- O evento pede trajes especiais, milady... Espero que se divirta... – deixando-as ali. Imladris corria pelo quarto, abria gavetas e baús.

- Aonde está minha fantasia?!

- Ahn? – disse uma Sorena sonolenta.

- Hallow’s End!! É Hallow’s End!! Como eu tinha esquecido disso?

- Eu não anoto mais os dias no meu braço... – bocejando e indo para fora. Sentou-se pesadamente em um parapeito e encostou a cabeça em uma gárgula.

- Vamos, acorde! É Hallow’s End!! – e voltando para o quarto empolgada, deixou Sorena divagando a situação.

- O que é Hallow’s End?! – perguntou ela alto para ser ouvida.

- Festa mais importante de Undercity!! É quando comemoramos o dia em que a nossa Rainha Banshee libertou os primeiros para dar rumo aos Abandonados.

- Ew, resposta errada. Ela não os acordou. Eles já estavam acordados. Eles foram dominados mentalmente pelo irmãozinho do ex-mordomo e ela só fez o favor de tirar essa dominação deles...

- Como você sabe disso?

- Eu li em algum lugar...

- Onde está esse livro?

- Você acha que eu inventaria uma história dessas? – a cara da clériga na porta foi de desconfiança. Sorena suspirou alto. - Está na terceira estante atrás da biblioteca do Bauhaus... Ele me deixou ver os registros...

- Irei verificar isso depois... – pulando no lugar para calçar alguma coisa. Sorena fez um barulho esquisito com a boca e voltou seu olhar entediado para a movimentação lá embaixo. Enfeites de Hallow’s End estavam por todo lado, nos lustres, nas aberturas e até os morcegos que serviam de transporte entre os Abandonados estavam com guirlandas alaranjadas e/ou caveirinhas penduradas aos pés.

- Porque eu minto muito, né?

- Porque você costuma inventar coisas pra me fazer questionar a minha fé.

- Se eu não fizer isso, ninguém faz. E se ninguém fizer, alguém vai pisar em você. – murmurou Sorena trocando de braço e apoiando o rosto na outra mão.

- O que você está resmungando aí? – Imladris saiu do quarto com uma fantasia inusitada. Era um longo manto aveludado de cor indefinida e um chapéu de cabeça de abóbora.

- A sua cabeça virou uma abóbora... – apontou Sorena tediosamente. – Isso quer dizer que estou delirando?

- É a minha fantasia, oras! Sou o Cavaleiro-sem-Cabeça que assola as cidades de Azeroth...

- Quem?

- Você não sabe da lenda do cavaleiro-sem-cabeça?

- Algo me diz que ele não tem cabeça e é um cavaleiro?

- Por que está assim? Muxoxa?

- Porque eu tou com sono.

- Desculpa te acordar daquele jeito, mas é Hallow’s End!! Anime-se! – descendo as escadas. – Você não vai vir? – Sorena bocejou novamente e indicou a carta na mão da clériga.

- Leia novamente. – Imladris ficou na dúvida. – Não a do meu irmão, a da convocação...

- Sim, e daí?

- É milady Imladris, não? Tem alguma coisa aí com Sorena Atwood ou... ahn... qual é o meu nome mesmo?

- Myrtae Windrunner... – disse a clériga entediada.

- Então, tem alguma coisa aí citando algum dos meus dois nomes?

- Não...

- Então... – saindo de seu lugar e voltando para o quarto e pegando seu brinquedo de engenheiro favorito, um mini-helicóptero que coletava coisas com uma garra de metal abaixo.

- Eu volto logo e você trata de se vestir adequadamente! Use aquela touquinha de gato, fica perfeita em você! – Sorena só acenou e voltou sua atenção ao brinquedo. Fez ele voar por alguns metros acima do chão e beliscar um imp que estava ali esperando o seu Mestre terminar de convocar um Voidwalker. O imp tentou pegar o brinquedo voador, mas não conseguiu alcançá-lo. Sorena não riu da provocação, na verdade estava se sentindo um buraco invisível de absoluto nada. Voltou ao seu quarto e colocou a touquinha de gato e vestiu uma roupa mais estranha, um uniforme do Apotecário velho deixado pelo seu Mestre Derris e botas de viagem até a canela. Achou um retalho de pano escuro e amarrou em volta do rosto. Pegou sua mochilinha de viagem e colocou atrás das costas. Faria o seu Hallow’s End funcionar como era lá em Goldshire. Contou as moedas de cobre que tinha e trancou bem a porta do quarto das duas. Seu brinquedo voador vinha atrás dela, soltando vapor mágico e fazendo barulho.


- Parada aí! Isso é um assalto! – exclamou Oxkhar do lado de fora das ruínas de Undercity. Imladris apenas colocou as mãos na cintura e sorriu para ele.

- Piratas não assaltam viajantes, Ox... – o humano usava roupas maltrapilhas de pirata, em cores berrantes de vermelho, amarelo e preto.

- Nunca se sabe! – o ex-paladino levantou as mãos, uma delas com um gancho de ferro, e a espada curvada. – Os dias estão difíceis, até piratas virariam ladrões... – a elfa se aproximou do humano e deu-lhe um beijo demorado. A comitiva que esperava do lado de fora presenciou a cena com espanto. Um deles era Bragor Bloodfist, novo comandante do exército Abandonado a mando do Warchief Thrall. – Nossa... Vi estrelinhas agora... – um papagaio de pano balançou a cabeça em seu ombro. Imladris viu o bichinho e riu.

- Era mais fácil a gente ter comprado aquele lá em Dalaran...

- Mas é difícil de treinar! E eu não estava tendo muito tempo livre e...

- Quero ver como vai ser com os nossos filhos, paladino ocupado... – Oxkhar piscou várias vezes e seguiu a elfa pela estradinha para Brill.

- F-filhos...? Mesmo?

- Só é uma hipótese, Ox... Não me leve muito a sério hoje, é Hallow’s End.

- Nossa, eu não sabia que vocês comemoravam também... Será que terão doces e travessuras?

- Ahn?

- Ganhar doces... fazer travessuras...? Vocês não fazem isso aqui?

- Nós comemoramos o dia mais importante dos Abandonados, querido... O dia em que nossa Dama Sombria livrou os Abandonados do poder do Flagelo e os nomeou assim... Não há doces...

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- Ah... – o irmão de Sorena encolheu os ombros e suspirou desapontado. – É que lá em casa tinha muito doce e abóboras com brinquedos e... – Immie cutucou o tapa-olho que ele usava.

- É claro que tem doces, bobão! – subindo no cavalo esquelético dado a ela. Oxkhar ficou no chão guiando o cavalo. – Você realmente é irmão dela, nunca vi pessoa mais bobona pra acreditar no que eu falo!


- Quatorze moedas de bronze? Está maluco?!

- É pegar ou largar...

- É um doce, cara! Não uma barra de ouro maciço! – Sorena reclamava ao ver a barraquinha de doces ali perto da “taverna” de Undercity. Ela já havia gastado parte de seu dinheiro em peças de engenharia para poder construir esquilinhos mecânicos. Saiu chutando o chão e sem o seu doce. – Que roubo! – andando mais pelo Trade Quarter e se misturando a multidão que ia e vinha no espaço circular de venda e troca de mercadorias. Uma fila estava ali perto do banco e muitos estavam perto da lojinha de guloseimas. Uma imensa abóbora estava estacionada na frente da taverna e ninguém parecia se importar com ela.

- Posso dar uma olhada, senhor Norman? – o Abandonado grunhiu um sim, já que estava ocupado amarrando esqueletos de papel nas paredes da taverna. Sorena abriu o tampo da imensa abóbora e só viu uma vela bruxuleante lá dentro. Ela olhou sem graça para o taverneiro e depois para a menina Anya que cuidava dos estábulos lá fora. – Posso fazer uma coisa?

- Pode fazer o que quiser, menina elfa... – disse Norman entediado. Sorena vasculhou sua mochilinha e achou o que queria. Uma pedrinha oca. Pegou a lamparina em cima de uma mesa e colocou a pedrinha dentro. Com uma palavra de poder, fez a pedrinha eclodir em uma nuvem multicolorida dentro do vidro da lamparina. Retirou a vela e a apagou com um sopro mínimo, ao colocar o objeto dentro da abóbora ficou satisfeita com o efeito multicolor que a magia fizera. A abóbora agora chamara atenção de todos.

- Detroid, fique aqui e colete os brinquedos e doces, sim? – ela ordenou a um esquilinho mecânico. – Senhor Norman, ele vai ficar aqui pra cuidar dos doces e dos brinquedos, okay? – o taverneiro a olhou estranhando.

- E por que isso?

- Doces e travessuras?! Qualquer pessoa que passar por aqui deve comprar um doce ou um brinquedo e depositar dentro da abóbora.

- E pra quê isso?

- Dar para as crianças?

- Não tem crianças em Undercity, menina elfa.

- Mas em outros lugares sim? – e virando para o esquilinho mecânico. – E se alguém ousar roubar da abóbora, você morde! – o esquilinho fez um barulho de geringonça e tremelicou todo, mas ficou agarrado ao tampo da abóbora. – Tem doce aí?

- Mashmallow e pirulito colorido, menina Atwood... – anunciou Anya mostrando as mercadorias. Uma tina cheia de maçãs estava atrás dela.

- Eu quero um pirulitão! E depois vou tentar a maçã... Eu sempre me afogava lá em Goldshire... – dando o dinheiro para Anya, pegando os doces e depositando alguns dentro da cara da abóbora enorme. Saiu pelo corredor circular mordiscando o pirulito de cores variadas e gosto bem doce de morango. Muitos visitantes estavam por ali, Elfos do sangue como ela, Taurens de Thunderbluff, Orcs de Orgrimmar e Trolls em uma comitiva exótica trajando vestes muito coloridas e mascarados com tábuas secas pintadas a mão.

- Walla walla bang bang! – diziam eles a qualquer um que acenava.

- Heeey vocês são doutores-bruxos?! – ela exclamou já bem perto deles. Um dos trolls retirou a máscara e sorriu com seus dentes salientes.

- Bruxos-doutores.

- É, isso, sempre confundo...

- Sim, somos sim... Gostaria de se juntar ao nosso clã, menina elfa?

- Ahn... gosto muito do que vocês fazem... Papai falava muito de vocês... – o troll tombou a cabeça.

- E quem seria seu pai?

- Derris do Apotecário...

- Oh! Derris do Apotecário!! – exclamou um troll mais velhaco. – Você sabe onde ele está?!

- E-eu devo dizer que Mestre Derris está ahn... morto...

- Mas ele é um Abandonado...

- Não, morto mesmo. Assim, morto. Sem volta. – o grupo de trolls se ajuntou ali para ouvir a conversa.

- É uma pena, uma notícia triste... Mestre Derris era amigo de armas de nosso Clã. Um excelente bruxo-doutor...

- Meu pai era um bruxo-doutor?

- O único, eu acho... Os Apotecários não costumam zelar por esse tipo de tradição primitiva...

- Bem, eu tenho uma tia que adoraria ouvir isso...

- Filha de Derris, quer ser nossa guia-mirim? Pode nos mostrar a cidade?

- P-posso sim... – um dos trolls puxou uma das tábuas pintadas a mão e colocou em volta do rosto de Sorena. Ela se sentiu assustada no começo, mas depois gostou da sensação de estar vendo o mundo atrás de uma máscara de madeira.

- Você será Irecine, aquela com Olhos Brilhantes.

- Legal!

- Walla walla bang bang! – exclamaram todos ao mesmo tempo. – Walla walla bang bang! – nos próximos gritos, ela se juntou ao coro e foram andando pela cidadela subterrânea.