Esgotos perto do Royal Quarter.

Imladris havia se pendurado de ponta cabeça em uma das pontes. Sorena se arriscava na beirada dos esgotos de água esverdeada e levemente malcheirosa. As duas estavam munidas de uma redinha de insetos e a clériga segurava uma orbe translúcida de cor clara e tentava chamar atenção da imensa mariposa que vivia debaixo da ponte.

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- Calminha... Calminha... – sussurrou Imladris se aproximando a mariposa e mostrando o orbe. O inseto se sentiu atraído pelo feixe de luz hipnotizante e planou perto da clériga. – Isso menina...

- Vai Immie...! – pediu Sorena entediada por estar na mesma posição há minutos.

- Calma...! – murmurou a clériga tentando laçar a mariposa com sua rede de pesca singular. – Oh porcaria!! – a clériga perdeu a concentração, pois uma outra mariposa havia espalhado pó para se proteger da intrusa. – Oh porcaria!!

- Se você cair, eu te seguro?

- Mas é claro que sim!! – a clériga tentou içar seu corpo para cima, mas ficou pendurada novamente.

- E se cairmos nos esgotos aqui?

- Não iremos. – dando um bote imperfeito e recebendo mais pólen nocivo no rosto da mariposa em questão.

- Eu posso derrubá-la com uma Shadow-Bolt?

- Não?

- Por que não?

- Por que você pode me atingir acidentalmente?

- Minha mira é boa! – a mariposa saiu de seu lugar e voou por toda extensão da ponte. Sorena correu até Imladris e a ajudou sair do lugar.

- Vamos! Vamos! – exclamou uma.

- Tou indo! – exclamou a outra.

- Caçar mariposaaaas!! – Imladris saiu pela ponte balançando a cabeça para que seu rabo-de-cavalo se movesse livremente.

- Ebaaaaa!! – exclamou Sorena indo atrás dela como se fosse uma criança.

- Que barulho infernal é esse? – disse um Abandonado que ficava ali perto com uma vara de pescar.

- Estamos caçando mariposa, senhor Boyle... – explicou Immie com as bochechas ruborizadas pela corrida. O inseto voava para bem alto e Sorena tentava pegá-lo com a rede de pescaria que a clériga tinha guardada. Ela lançou a rede para cima e acertou na captura. A mariposa foi descendo lentamente até atingir o chão. Imladris e Sorena a rodearam por alguns instantes e depois olharam uma para a outra. A mais nova levantou a rede e deixou o inseto escapar.

- Quem pegar ela primeiro, ganha um doce de Brill!! – gritou Sorena já aprontando a rede e correndo atrás da mariposa gigante que fora para o outro lado da ponte.

- Vai pensando!!


Mais tarde.

O cubículo em que Imladris dormia era estreito e cheio de memorabilia e livros. Sorena encostou a cabeça no travesseiro fino em sua cama improvisada no chão e suspirou alto. Suas pernas estavam doloridas depois de correr tanto por todos os cantos de Undercity na caçada a mariposa. Imladris estava sentada na cama, coberta cobrindo as pernas, concentrada em um livro de capa grossa.

- Foi um dia e tanto... – comentou Sorena. A resposta da clériga foi um:

- Arrãm...

- Está lendo sobre o quê?

- Aplicações de ungüentos volume 3.

- Parece interessante...

- É uma porcaria, mas me faz dormir...

- Ah... – o bocejo de Sorena fez Imladris rir.

- Alguém aqui disse que ficaria a noite toda conversando comigo...?

- Eu agüento sim! Quer apostar?

- Não, eu já ganhei o doce de Brill na caçada...

- Você teve sorte, conhece o terreno em que pisa.

- Você está aqui há 2 meses e ainda não acostumou?

- Eu tenho medo deles... – a clériga baixou o livro nas pernas e a olhou com a sobrancelha erguida. – Ora! Olha só pra eles! Dá para ver os intestinos de fora!
- Alguns de nós não se importam mais com a moda ocasional... O grotesco é belo, novata... – Sorena soltou um grunhido e se virou para encará-la.

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- Você não é um deles...

- Sou sim.

- Não é não. Ainda está viva...

- Tenho a incrível capacidade de manter um estado latente de “vida” em meu corpo para enganar novatos bobocas como você...

- Você respira ar...

- Impressão sua...

- Sua bochecha fica vermelha quando você corre.

- Consigo irrigar os vasos sanguíneos de minha epiderme para tal efeito.

- Você come doce de Brill!! – a clériga pensou um bocado e não pode rebater. – Vai me dizer que você é canibal? – Immie se contorceu em uma careta horrenda.

- Éca! Nem pense nisso! Odeio o gosto de carne!

- Viu? Você é uma elfa como eu...

- Sou uma Abandonada e você não vai me convencer do contrário.

- Não queria te convencer de nada, só te mostrar a realidade...

- Por que sinto essa necessidade absurda de lançar esse livro grande e pesado em sua cabeça-oca?

- Porque você sabe que eu tenho razão, deve ser isso... – a clériga ameaçou jogar o livro contra a mais nova, Sorena se escondeu debaixo dos lençóis e riu bastante.

- Você sabe como deixar alguém irritado não?

- Minha especialização desde que nasci... – silêncio das duas. Sorena deitou de barriga para cima e ficou cutucando uma das orelhas.

- Você a curou? – A pergunta foi feita bem baixinho, quase em um sussurro.

- Eu lá tenho cara de clériga...? Eu não curo, eu remendo coisas mortas.

- Não chame a Dama Sombria disso!! – exclamou Immie dando outra livrada nela. – O que quero saber é se ela está bem!

- Acho que sim... deve estar...

- Você acha?!

- Eu lá tenho cara de clériga...? - Immie voltou à leitura com a cara emburrada. – Ela está morta, todos estamos e é assim que vai ser...

- Do que você está falando Sorena...?

- Eu quero a minha Soul Shard de volta... Tou sem mais nada agora, porcaria... – a clériga deu uma espiada para a cama feita no chão e Sorena se ajeitava com o travesseiro fofo. Discretamente, Imladris tocou seu pulso por algumas vezes para se certificar que estava morta mesmo.

- Já chegou a pensar sobre aquela história toda de ser filha de Vereesa Windrunner...? – ela puxou conversa para o chão, e foi recebida com um ressonar baixinho vindo da mais nova. Sorena caíra no sono instantaneamente sem avisar. Immie se esgueirou em sua cama e cobriu a mais nova com a própria coberta, pois sabia que ela sentiria mais frio do que ela ali em cima da cama. – Bons sonhos, querida implicante... – e voltou para seu livro desinteressante, mas não dormiu como previsto.