Os Clichês de Rosemary

Nunca tentem isso em casa


Antes de o acompanhar até a loja onde ele trabalhava, ajudei Rubem a transportar algumas coisas do seu carro antigo para dentro da casa do papai. Sr. Zeferino nos emprestou seu carro, já que o do Rubem estava pra lá de Bagdá.

— Eu quero meu carro aqui, inteirinho assim que acabar o seu expediente, ou eu tiro seu couro. Ouviu bem, Rubem? — meu pai falou, autoritário, ao entregar as chaves para o meu irmão.

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—Aff, pai, quanta falta de amor no coração. — ele pegou as chaves — A destruidora de carros aqui é a Rosemary, e não eu. — ao ouvir aquilo mostrei a língua para Rubem — Pode deixar que o seu carrinho vai voltar são e salvo.

— Acho bom.

Posicionamo-nos no carro do meu pai. Era uma Land Rover vermelha, enorme e cara, que parecia valer mais do que Rubem e eu juntos. Meu irmão estava pronto para dirigir, enquanto eu terminava de colocar o cinto de segurança.

— Ok, Rubem. Pelo amor de Deus, toma cuidado com esse carro. — recomendei.

— Maninha, eu já disse quem é a destruidora de carros aqui. Não vai querer ouvir de novo, né, meu amor?! Observe e aprenda com o mestre dos mestres da pilotagem. — ele girou a cabeça a noventa graus, me esnobando, e começou a manobrar o veículo.

— É porque, sei lá, eu nunca achei que o nosso pai fosse tão rico. Talvez ele tenha dinheiro pra comprar quantos carros desses ele quiser mas... — Rubem começou a acelerar no meio da avenida principal da cidade e eu fiquei com medo, minha voz estremecia — Rubem, vai mais devagar?

— Ai, cala essa matraca, Rosemary, ou eu te jogo pela porta do carro.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, observando Rubem dirigir. Olhei no relógio (rolex) do seu pulso: já eram oito e meia da manhã. Ele estava meia hora atrasado, por isso a pressa.

Enquanto dirigia, Rubem retirou seu celular do bolso e digitou um número. Eu fiquei com medo do que poderia acontecer, já que eu conhecia os riscos de combinar celular e volante, mas fiquei com mais medo ainda de dizer a ele que aquilo era errado. Eu tinha certeza de que ele seria mesmo capaz de abrir a porta do carro e me jogar para fora.

— Alô? Dóris? DÓRIS!? — ele berrava ao celular enquanto girava o volante de maneira voraz — amiga, o que é que tu tem no ouvido que tá te impedindo de me escutar? — Rubem fez uma curva. Eu juro que pude sentir o carro se equilibrando apenas com os pneus da esquerda, enquanto a parte da direita do carro havia levantado, depois um baque que me fez pular do banco.

— Rubem... o carro. — arrisquei falar.

Shhh... — ele tirou a mão direita do volante (a única com a qual estava manobrando o carro, já que com a esquerda ele apoiava o celular no ouvido) e fez sinal de silêncio para mim. Depois, voltou com ela ao lugar onde outrora estava. — Então, Dóris... — ele continuou a falar — eu preciso que você vá até a loja agora pela manhã e me ajude a escolher algumas roupas pra minha irmã. É, sua bocó, a Rosemary. E eu tenho outra? — Rubem fez outra curva. As curvas eram as piores.

— Rubem, socorro, para o carro, eu quero descer! — implorei, quase temendo pela minha vida.

— Cala a boca, Rosemary! Não tá vendo que eu tô falando no telefone? Pô, que menina chata! — aproximou o celular novamente do ouvido — É, ela tá aqui do meu lado, a gente tá indo pra loja agora. Vai, amiga, faz esse favor pra mim? Papai deixou o cartão dele comigo, posso até descolar uma coisinha pra você, já que vai ficar tudo por conta dele. — Rubem gargalhou, ao pensar no limite infinito do cartão do nosso pai. Outra curva, achei que o carro fosse capotar. Eu achei que não iria ter mais sorte, melhor não abusar.

— RUBEM! VAI, ME JOGA PRA FORA DO CARRO! — eu comecei a bater nos vidros, fazendo barulho. Retirei o cinto de segurança e fiquei de joelhos no banco, pedindo socorro pra todo mundo que passava na avenida.

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— Dóris, vou ter que desligar. A Rosemary tá pirando aqui dentro do carro. Eu já te contei e você sabe como ela é doidinha né? Não, não precisa ter medo, ela só tem desses surtos de vez em quando. Então, te vejo lá. Beijos! — ele desligou e voltou a dirigir normalmente.

Eu parei com a minha tentativa de chamar atenção. Ponto pra mim. Pelo menos ele desligou o celular. Mas fiquei com medo de ele querer fazer o que eu lhe pedi.

— Foi mal... — me ajeitei no banco, ofegante.

— Eu só não te jogo pra fora daqui porque você é a primeira coisa, em anos, que fez com que papai abrisse a carteira pra mim. Considere-se a minha galinha dos ovos de ouro. Uma galinha muito da mal vestida, mas isso vamos resolver daqui a pouco.

Rubem guardou o telefone celular e voltou a prestar atenção no trânsito. Em cinco minutos estávamos em frente à grande Folk Basfond.