Cap. 1 - Uma briga

Era uma manhã de sábado e, se não estivessem distraídos com uma pequena discussão doméstica acerca da festa daquela noite, com certeza Harry e Gina perceberiam que seus filhos acordaram.
Lílian era a mais velha. Ao ver seus olhos verdes e uma fina penugem ruiva em sua cabeça, Harry não tinha dúvidas quanto ao nome. Tinha oito anos e uma inteligência precoce, na opinião dos avós. Harry dizia que puxava a teimosia da mãe, Gina dizia que era a coragem do pai e não era muito diferente de seu irmão, Paul. Tinha cinco anos e uma aparência tranqüila, que escondia o verdadeiro diabinho que era. Muito peralta, armava mil e um planos para suas brincadeiras. Seus cabelos pretos e olhos castanhos foram uma tentação para Harry chamá-lo de James, mas preferiu ceder aos caprichos de Gina e dar o nome do avô paterno dela ao menino.
As duas crianças desceram as escadas devagar, ainda de pijamas. Mesmo nos fins de semana gostavam de acordar cedo, afinal teriam mais tempo para brincar. Das escadas ouviam as vozes de seus pais. Estavam acostumados com discussões, mas aquela parecia realmente grave - pelo menos para eles. Correram e ficaram escutando detrás da porta.
- Uma mousse de limão seria mais prático, Harry - era a voz de Gina, um pouco irritada.
- Mas mousse não é sobremesa? - perguntou Harry, pela sua voz estava um tanto desgastado pelo cansaço da discussão, que parecia ter se iniciado há um bom tempo - É uma festa, não um jantar.
- Bem, você tem de concordar que é uma solução razoável. - retorquiu Gina - E também não ouvi nenhuma idéia melhor.
- Que tal cookies? - ele sugeriu, esperançoso. - Rony gosta.
- Para o chá da tarde, talvez. Não para uma festa - Gina replicou, imitando o tom de Harry.
- E se fizéssemos um bolo? - Harry perguntou, como se tivesse descoberto a América.
- Mamãe vai fazer mais de um bolo, com certeza - Gina respondeu de prontidão. - Talvez Rony prefira uma mousse de qualquer forma...
- Ah... Sinceramente, não. - Harry falou sem rodeios, as crianças viram pela fresta da porta Gina lançar um olhar zangado a ele - Se vai ter tantos bolos... E quanto a brigadeiro?
- Fred e Jorge se prontificaram em fazer assim que souberam da festa surpresa - Gina resmungou e seus filhos tiveram que segurar o riso com as mãos, devido à careta que ela fizera por ser seu doce preferido nas mãos de seus irmãos.
- Bem, podemos levar mais... - Harry tentou ajudar - Sabe, para o caso de levarem pouco, ou terem enfeitiçado os brigadeiros...
- Não acho que eles fariam isso. - disse Gina, sem muita certeza - Bem... não sei fazer beijinhos, não consigo dar o ponto certo nesse doce...
- Ah, a Fleur sabe. Com certeza ela deve levar esses doces, camafeus, algo do tipo. Eu já provei um desses beijinhos, não lembro onde... Mas estavam muito bons - Harry falou, sem ter noção do perigo.
- Ah, é? - Gina elevou a voz, suas orelhas estavam vermelhas - Quer dizer que ela cozinha melhor que eu?
- Não foi bem isso que eu disse, Gina... - ele tentou corrigir - Você mesma disse que...
- Não foi bem isso? E foi o que? O que mais você provou que ela fez? Talvez ela faça um almoço melhor que o meu!
- Querida, não tem que se incomodar tanto com isso... - apesar de aborrecido, Harry tentava acalmar Gina, mesmo estando aborrecido. Ela não tinha motivos para tanto escândalo. - A Fleur cozinha bem alguns pratos e você outros. Que há de errado?
- Acontece que eu cozinho muito melhor que ela, com todos aqueles temperos estranhos! - Gina elevou ainda mais a voz.
- A verdade é que você nunca gostou da Fleur! - Harry desabafou - E estamos desviando do assunto... Podíamos fazer uma torta salgada, que tal de atum?
- Phillip é alérgico, a menos que você queira que Hermione saia correndo com o filho para o St. Mungos, não vamos fazer essa torta - disse ela, ainda zangada.
- Então... sei lá, podíamos encomendar algo, pelo menos teríamos mais opções... - as crianças perceberam que Harry já estava de saco cheio daquele assunto.
- Encomendar? - Gina estava indignada - Você acha mesmo que com toda a minha família sabendo cozinhar, eu vou encomendar algo? Seria motivo de riso para os gêmeos e minha mãe ficaria me dando sermão sobre preguiça de cozinhar!
- Tudo bem, idéia ruim... - as crianças viam o mau humor do pai crescer.
- Idéia péssima, Harry! - Gina estava muito mais mal humorada - Ah, quer saber? Vou preparar a mousse.
- Rony vai preferir outra coisa...
- Escuta, Harry - Gina estava a ponto de ter um ataque -, o irmão é meu, quem vai cozinhar sou eu e vou fazer uma mousse! Resolvido!
- Se você ia resolver sozinha, porque afinal de contas me pediu opinião? - ele perguntou, elevando a voz pela primeira vez.
- Oh, já entendi! Talvez você queira pedir opinião para a Fleuma... - ela ironizou.
As crianças contiveram novos risos. Foi difícil acostumá-los a dizer Fleur e Harry arranjou a desculpa de que eles ainda não conseguiam pronunciar direito seu nome, até que perdeu a graça para elas e começaram a chamá-la normalmente.
- Gina, está sendo infantil...
- Talvez seja melhor encomendar algum doce pra ela de uma vez. É, uma boa idéia - tornou a ironizar.
- Pois na minha humilde opinião, ela já tem obrigações demais para hoje - Harry começou a provocar. Se ela queria guerra, teria guerra.
- Quer dizer que você prefere mesmo a comida da Fleuma? - Gina perguntou, aturdida e ao mesmo tempo furiosa. - Então devia almoçar lá todo o dia!
- Pare de exagerar! - Harry berrou. As crianças se encolheram. Nem sempre seu pai ralhava com eles, achava graça quando aprontavam, mas quando fazia sabia impor respeito.
Gina ia revidar, quando ouviram um choro de bebê. John tinha apenas nove meses de vida e, diferente dos outros, tinha cabelos castanhos e olhos azuis. A explicação era que ele foi adotado, depois de ter sido encontrado por Harry numa casa em ruínas. Seus pais verdadeiros eram bruxos que foram atacados por um maníaco, que foi preso dias depois.
A princípio Gina ficou apreensiva ao receber o bebê, mas quando o colocou no colo se viu desarmada. Os papéis definitivos foram entregues há algumas semanas, portanto John podia ser considerado um legítimo Weasley Potter, que naquele momento chorava.
- Satisfeito? Acordou o bebê! - disse Gina, cruzando os braços.
- Talvez não tivesse acordado se não tivesse feito uma cena de ciúme estúpida! - disse Harry, indo em direção à porta - Eu vou lá, enquanto isso, sirva o café a esses dois pequenos espiões - acrescentou, abrindo a porta e revelando Lílian e Paul.
- Como o senhor soube? - perguntou Lílian.
- Vocês precisam treinar muito para me enganar - Harry falou, piscando e saindo.
Restou aos dois o olhar fulminante de Gina, que deu um sermão que durou todo o café. Harry desceu com John e o entregou para Gina sem trocar palavra. Ficou evidente que ambos estavam irritados um com o outro e sendo orgulhosos demais para dar o braço a torcer e quebrar o gelo, precisariam de ajuda. Em outras palavras, era uma missão para Lílian e Paul.

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