Sunshine e Poison se entreolharam, cada uma com um olhar diferente. Enquanto Sunshine tinha um olhar feliz, Poison tinha um olhar nervoso.

A pequena saiu correndo na frente, com um sorriso enorme no rosto. Poison Heart foi atrás, um pouco incerta. Ela bateu na porta levemente, até ouvir uma voz fraca e rouca dizendo “entre”. As duas obedeceram e abriram a porta.

A luz que vinha de dentro da pequena casa estava fraca, mas era possível ver os móveis velhos e empoeirados. As paredes eram de uma cor amarelada, e estavam enfeitadas com várias fotos de uma mesma menininha de cabelos encaracolados e olhos cor de chocolate, com um grande sorriso no rosto. Porém, havia uma foto, a maior entre todas elas, de uma menina com longos cabelos lisos e negros e olhos azuis. Parecia ter entre sete e nove anos, mas seu rosto era de uma adolescente Sua pele era extremamente branca e ela tinha uma raygun de brinquedo em seus dedos. Um leve sorriso brincava em seus lábios vermelhos.

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Era Poison Heart.

Poison soluçou baixinho ao ver aquela foto, mas sua atenção voltou-se para os móveis. No centro, havia um tapete com uma mesinha de café em cima. Uma pequena flor enfeitava a mesa e também a parte de cima da lareira que havia no lado direito da casa. Perto da mesa, havia uma poltrona vermelha onde estava sentada uma senhora aparentemente velha, com a mesma pele pálida e cabelos longos de Poison. Possuía rugas em volta dos olhos e usava um vestido florido e sapatilhas brancas. Quando a tal senhora abriu os olhos, ambas puderam ver os mesmos olhos cor de chocolate de Sunshine.

A menor, que se segurava para não correr em direção à mãe, não pôde conter seu sorriso. Poison deu passos incertos até a velhinha.

–M-mãe? – chamou ela. A senhora pareceu confusa – Sou eu! P-Poison Heart! Lembra-se de mim?

A senhora permaneceu confusa. Poison Heart suspirou.

–Não reconhece meu nome Killjoy? Talvez se lembre de mim através do nome... Megan? – ela fez uma careta ao se lembrar de seu nome verdadeiro. Sunshine lançou-lhe um discreto olhar assustado ao ouvir o nome de Poison.

A mulher sentada na poltrona arregalou os olhos.

–M-Meg... É você? – gaguejou ela, com sua voz fraca. Poison assentiu, com um de seus raros sorrisos brotando em seu rosto – Ah, minha linda! Você voltou! – a mulher sorriu, abraçando Poison fortemente. A Killjoy sentiu os olhos arderem ao sentir o abraço tão reconfortante da mãe. Era como se a BLI não existisse, como se ela não estivesse sendo perseguida.

–Ah, Sunshine! – disse Amy, ao soltar Poison. Sunshine correu para os braços da mãe, murmurando o quanto sentiu falta dela e tudo o mais – Eu esperava que viessem! – disse a mulher. Ela tossiu um pouco antes de continuar – Como me acharam? Aliás... Por onde andou todos esses anos, Meg? Da última vez que a vi, você foi levada pelos... – a voz de Amy falhou. Poison suspirou tristemente.

–Eu sei, eu sei. Eu lembro. – ela mordeu o lábio inferior – Aconteceram várias coisas durante esse tempo, mãe. Sinto muito.

–Não foi culpa sua. – ela balançou a cabeça negativamente – Mas conte-me o que houve.

Poison contou o que aconteceu com ela, cortando as partes sobre Party, Kobra, Jet e Fun.

–Ah, meu bem, você sofreu demais! – disse Amy, com lágrimas nos olhos–Eu sinto muitíssimo! Não deveria ter deixado você ir!

–Não, mãe, fui eu que escolhi ir. Por favor, pare de se culpar.

–O-ok... – gaguejou ela, de má vontade.

–Mas o que aconteceu com você, mãe? – indagou Sunshine.

–Ah... Eu consegui escapar dos Draculoids. – Amy deu de ombros – Eles não são tão inteligentes quanto parecem. Porém, seu pai... – a voz da mulher falhou novamente.

– ... Está morto. – completou Sunshine. A mãe assentiu e sorriu tristemente.

–Eu tenho uma sorte com maridos... – ela balançou a cabeça negativamente – Mas e você, Sunny? O que aconteceu com você?

Sunshine contou resumidamente o que aconteceu com ela após fugir dos Draculoids. Amy ouviu a tudo atentamente e suspirou.

–Meu descaso com minhas próprias filhas é impressionante... – ela tentou rir baixinho, mas isso lhe causou um acesso de tosse. Sunshine e Poison foram para o lado da mãe, com expressões preocupadas no rosto.

–Mãe? T-tá tudo bem? – indagou Sunshine.

–Sim, claro... – ela sorriu fracamente. Poison fez que não com a cabeça.

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–Não, não está tudo bem. Mãe, o que você está escondendo?

–Eu est-tou bem! S-sério!

–Eu aprendi um pouco de medicina na Base. É óbvio que você não está bem. Está pálida demais e está suando frio. Anda, fala o que aconteceu.

Amy suspirou profundamente.

–Eu não queria dizer isso, mas... Eu vou morrer hoje. – confessou ela. Sunshine e Poison arregalaram os olhos. A menor ofegou e encarou os móveis à frente, enquanto Poison mordeu o lábio inferior.

–Por quê?

A mulher sorriu.

–Estou velha, Megan. Você sabe disso. Uma hora, eu ia ter que morrer.

Por que, mãe? – repetiu Poison. A mãe suspirou.

–Eu... Acabei contraindo uma doença e... Preciso tomar um remédio todos os dias. Só que eu não tomei hoje...

–Por quê?! – gritou Poison, visivelmente alterada. Amy sorriu novamente, dessa vez parecia ser um sorriso sincero.

–Porque estou cansada, meu amor. Não tenho mais porque viver.

–Como não?! E nós?!

–Você já está bem grandinha para cuidar de si mesma. E tenho certeza de que cuidará de Sunshine melhor do que eu cuidei.

Sunshine ainda estava encarando os móveis velhos, visivelmente chateada.

–Sunny? – chamou a mãe. Ela não respondeu.

–Sunshine. – Poison chacoalhou a pequena – Está tudo bem?

–Claro. – respondeu ela, secamente.

–Minha pequena, me desculpe... – começou Amy, mas Sunshine a interrompeu.

–COMO VOCÊ PODE SER TÃO EGOÍSTA?! – Sunshine tinha lágrimas nos olhos.

–Sunny, por favor, tente ver do meu lado... Eu já estou velha e não tenho nada mais a fazer nesse mundo!

–AH NÃO? E NÓS?

–O que eu poderia fazer por vocês? Lutar contra Draculoids? – respondeu ela, ironicamente, tendo um acesso de tosse logo depois.

Tanto Poison quanto Sunshine ficaram quietas. Infelizmente, ela tinha razão.

–Pois é... – disse Amy, quando se recuperou, pigarreando para fazer a voz funcionar direito – Não tenho mais nada a fazer aqui.

Sunshine correu para o colo da mãe e começou a chorar.

–M-mãe... Não deixa a gente... – implorou Sunshine. Poison observou a paisagem desértica pela janela, visivelmente desconfortável com aquela situação, e triste ao mesmo tempo.

–Não tem mais volta, Sunny... Sinto muito...

As duas continuaram conversando e Poison desligou-se da conversa e continuou observando a paisagem, até que ouviu a própria mãe lhe chamando.

–Meg?

–Sim?

–Está tudo bem?

Ela suspirou.

–Eu sei que não passamos tanto tempo juntas, mas... Eu não quero que você se vá. – disse ela, se aproximando da mãe. Amy sorriu tristemente, deixando Sunshine sair de seu colo.

–Não importa quanto tempo passamos longe uma da outra, mas isso não muda o fato de que eu te amo. E é claro que eu também não queria ir... Mas eu tinha esperanças de que vocês aparecessem ainda hoje. – ela sorriu.

–Como sabia? – indagou Poison. A mãe deu de ombros.

–Não sei. Acho que era intuição.

Poison Heart assentiu e abraçou a mãe.

–Vou sentir sua falta...

–Oh, acho que isso é o efeito do remédio se esvaindo... – disse ela, com uma cara de leve surpresa. Sunshine arregalou os olhos e abraçou ainda mais a mãe – Sinto muito, Sunny.

–T-tudo bem... – gaguejou ela.

–E me desculpe, Meg, por estar tão ausente na sua vida...

Ela balançou a cabeça.

–Culpa minha. – respondeu ela, afastando as lágrimas que teimavam em cair de seu rosto.

Amy sorriu amigavelmente antes de fechar os olhos lentamente.

–Adeus, minhas lindas... Obrigada por me visitarem... – ela sorriu ainda mais antes de apagar totalmente. Sunshine começou a chorar ainda mais, gritando para a mãe voltar. Poison simplesmente deixou as lágrimas rolarem pela sua face, observando o rosto sereno da mãe, que parecia estar dormindo. O resquício de seu sorriso ainda estava em sua face. Poison suspirou profundamente, tirou uma florzinha do buquê que ficava em cima da lareira e pôs no colo da mãe. Depois, Poison se curvou e beijou a testa da mãe.

–Vamos, Sunshine. – disse ela, sem emoção alguma na voz. Sunshine suspirou profundamente e beijou a face da mãe. Enquanto as duas andavam em direção ao carro, o rosto da menor assumiu uma expressão de seriedade, como se tudo aquilo a tivesse feito pensar muito.

Sunshine estava mais parecida com a irmã do que nunca.

Poison riu baixinho com esse fato e fez carinho nos cabelos da menor.

–Segure firme e não olhe para trás. – assegurou ela. Sunshine fungou e assentiu, limpando os olhos vermelhos e entrando no carro.