Flake olhou para os lados, para se certificar de que ninguém estava por perto. Talvez o “pai” estivesse dormindo, então ele tinha que aproveitar. Caminhou silenciosamente até o piano e abriu a tampa com cuidado. Ele não entendia como não haviam jogado o objeto fora ainda, mas ele se sentia feliz por aquilo estar lá ainda. Era como um amigo, porque Flake não tinha nenhum. Se sentou ao piano e começou a pensar. Talvez ainda se lembrasse das notas, não tocava aquela música há meses. Suas mãos flutuaram em cima das teclas, até que ele as apertou finalmente. E aí pronto; o resto da música veio por sentimento, ele tocava quase que automaticamente.

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Ele sorriu enquanto seus dedos dançavam sobre as teclas, tocando perfeitamente. Ele queria ser pianista, era verdade. Mas isso era mais um sonho dele e de sua mãe. Estava tão concentrado tocando, que nem ouviu a porta se abrir. Seu coração foi parar no estômago quando ele ouviu a característica grossa e masculina voz:

Por que você está tocando isso?

Flake fechou a tampa do piano com um barulho alto e se pôs de pé. Seu coração batia rápido e ele empurrou nervosamente uma mecha de seu cabelo loiro e comprido para trás da sua orelha desproporcionalmente grande.

–Pai... – a voz de Flake ondulou – Eu não estava...

–Não minta para mim, seu projétil esfarrapado de ser humano. – Dirk rosnou para ele, agarrando o “filho” pela orelha. Flake não emitiu um barulho, como sempre. – Eu disse que não queria mais ouvir esse barulho, não é? E o que você fez?! Continuou tocando! – ele puxou Flake para mais perto de si – Por que você é assim, Christian?

–Por que você continua cuidando de mim, se você nem é meu pai? – Flake arriscou e tomou um tapa em seu rosto, seguido de um soco no estômago. Ele respirou fundo, tentando se manter de pé ainda.

–Você sabe o que eu quero de você. – a malícia saltava da voz de Dirk e ele agarrou a virilha do rapaz, que se contorceu.

–Porra... – Flake sussurrou, empurrando a mão do homem. Imagens saltaram à sua cabeça. Se lembrou, involuntariamente, de como essa criatura nojenta que ele foi obrigado a chamar de “pai” por anos entrou silenciosamente em seu quarto, quando ele tinha 16 anos, e tirou sua virgindade enquanto ele dormia. Depois disso, as sessões de estupro foram cada vez mais freqüentes, e nelas Flake estava acordado, sentindo a dor lhe consumir gota a gota.

–Não quero você assim. – o homem grunhiu, tirando Flake de seus pensamentos – Quero você submisso, embaixo. Entendeu, sua bicha?

–Acho que eu não vou mais ficar embaixo. – Flake sentiu as lágrimas queimarem seus olhos e mandou um soco no queixo de Dirk, que voou e caiu no chão. Flake correu para fora da casa, mas Dirk, apesar de gordo, o alcançou sem muita dificuldade, agarrando-o pelo braço – Me solta, filho da puta! – ele gritou, tentando se debater.

–Fica quieto. – o homem disse, arrastando-o até seu carro, estacionado do lado de fora da casa. Com dificuldade, enfiou Flake, que se debatia com força, dentro do carro e afivelou o cinto nele. Depois, andou calmamente até a outra porta do carro, entrou, ligou o carro e saiu andando.

–Para onde você está me levando? – Flake disse, entre soluços. Ele estava chorando de medo. Sim, um menino de quase 18 anos chorando de medo.

–Se você não me obedece mais, vai obedecer a outra pessoa, até que fique bonzinho novamente e possa voltar. – a mão de Dirk foi voando na coxa de Flake, que deu um pulo.

–Eu não quero mais ser o brinquedo sexual de um gordo frustrado... – Flake mal conseguiu terminar a frase, pois a mão de Dirk, que antes estava em sua coxa, foi voando em sua boca e lhe acertou um tapa. Ele sentiu com a língua o gosto de sangue do cortezinho do lado de dentro de seu lábio.

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–Geme igual sua mãe, o problema dela era esse.

Flake tentou dar um soco no homem, mas ele foi mais rápido e segurou sua mão, torcendo-a até o limite. Flake engoliu um gemido de dor e respirou fundo.

–Você realmente acha que eu ligo? – ele disse corajosamente – Minha mãe era a melhor pessoa que eu já conheci...

–Dava pra todo mundo, por dinheiro. Era o que ela fazia da vida. Aliás, você é apertadinho igual ela.

Flake grunhiu com ódio.

–Não fala nada da minha mãe, tá? – ele disse, com raiva.

–Você tem sorte de que ela não pegou a doença enquanto tava te carregando na barriga, ah, quantos meses sem receber você custou a ela...

–Ela me amava. – mais lágrimas desceram dos olhos azuis, como os de sua mãe.

–Ela não parou de dar depois que ela te teve, você acha que isso é amor?

Aí Flake percebeu, repentinamente, que estavam atravessando uma ponte. Era sua chance. Ele morreria, mas levaria consigo o nojento que nem seu pai era. Flake era sim filho de uma prostituta com um alemão qualquer, e o homem a seu lado era o “namorado” desprezível da mãe.

–... Gravidez indesejada. Você não é meu filho, e nunca vai ser.

Flake ignorou as palavras de Dirk e empurrou suas mãos no volante. Teve o resultado esperado, o carro perdeu o controle e voou para fora da ponte, para cair no rio. Era o fim. Flake fechou os olhos, enquanto ouvia o grito de horror de Dirk, e não pôde deixar de sorrir.