Contra Todas As Probabilidades

Stick to the status quo


A turma toda estava reunida na casa do Cebola. As garotas e os rapazes também. DC só havia comparecido porque Nimbus praticamente o arrastou e também porque ele queria saber o que aquele careca pretendia aprontar com a Mônica.


– Muito bem, pessoal. Deixem eu falar.


O burburinho cessou e Cebola pode iniciar a reunião.


– Bem, eu não preciso explicar muito o que está acontecendo. A situação é simples: a Mônica nos abandonou. Ela está namorando outro rapaz, andando com outra turma e nem liga mais para a gente.

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– E o que você sugere? – Cascão perguntou já ficando preocupado com o rumo que as coisas estavam tomando. O que aquele careca maluco estava tramando daquela vez?

– Eu percebi que ninguém aqui está falando com ela, todos a ignoram e ela ficou totalmente isolada. Vamos continuar assim por um tempo, mas também seria bom acrescentarmos mais algumas coisas.

– Que coisas?

– Vocês sabem que a Mônica sempre foi movida a provocações. É isso que a faz notar a presença das pessoas. Afinal, funcionou comigo durante anos, não foi? E quando eu parei de provocá-la, deu no que deu: ela me deixou de lado e arrumou outro. Sendo assim, vamos provocá-la ao máximo para fazê-la voltar para nós.


Magali levantou-se, indignada.


– Isso não, tá doido? A Mônica é nossa amiga! Sempre que a gente precisou, ela nos deu a maior força!


Por instantes aquilo pareceu fazer efeito no resto da turma, mas o Cebola foi mais rápido.


– Eu concordo plenamente com você.

– Concorda? – ela assustou-se.

– Sim. A Mônica que conhecemos nunca nos deixou na mão, sempre foi ótima amiga, que nos ajudava e apoiava em tudo.


Outro burburinho começou. Sim, todos concordavam com aquilo.


– Só que aquela ali não é a Mônica que a gente conhece. Ela mudou e se a gente não fizer nada, vamos perdê-la! – Cebola enfatizou a ultima parte da forma mais eloqüente que pode, causando grande impacto em todos.


Tikara levantou a mão.


– Você não acha que está exagerando? Acho que seria melhor a gente procurar Mônica-chan e pedir desculpas. Fomos muito cruéis com ela naquele dia!

– Ela foi cruel com a gente ao namorar com aquele Felipe!

– Correção: cruel com você que, aliás, vivia deixando Mônica-chan de lado!

– Não seja bobo, Tikara! Desde que começou a andar com o Felipe, a Mônica deu para inventar idéias malucas de patinação e até cismou de participar de um concurso de patinação no gelo! Isso é um absurdo! Ela nunca foi de fazer isso! E agora, com essas idéias malucas na cabeça, ela nem pensa mais na gente!

– Pois eu acho que está é acontecendo o contrário! A gente é que tá afastando a Mônica porque não consegue respeitar a decisão dela. Olha, na hora eu fiquei com raiva mesmo, mas pensando bem... a vida é dela, não é? E o Tikara está certo. Você demorou demais!


Ele apertou os lábios com força para se controlar. Se continuasse daquele jeito, Magali poderia acabar estragando tudo.


– É o status quo, Magali.

– Status o que?

– Status quo. É o jeito que as coisas são.

– Não entendi....

– Nem eu.

– Explica direito!


Diante de todos, Cebola começou a andar de um lado para outro com as mãos atrás das costas, peito estufado e olhar fixo em algum ponto a sua frente. Como futuro governante do mundo, ele precisava aprender a convencer e manipular as multidões.


– Durante muitos anos, nossa turma sempre foi de um jeito. Cada um de nós tem sua personalidade, seus gostos, manias, qualidades e defeitos. A Mônica sempre foi teimosa, briguenta e mandona. A Magali a comilona. O Cascão o sujinho e eu o cara que bolava planos infalíveis.

– Ei, a gente mudou, lembra?

– Nós amadurecemos, mas nossas personalidades e preferências continuam as mesmas. Magali ainda gosta de comida, Cascão ainda tem certa aversão a banho e eu ainda gosto de usar o cérebro e bolar estratégias. Cada um de nós aqui ainda tem seu jeito de ser e o seu lugar na turma. Sempre foi assim.


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O pessoal acabou concordando. Ele estava certo.


– Nós sempre fomos assim e é mantendo esse status quo que nossa turma tem dado certo. Vocês já ouviram falar que não se mexe em time que tá ganhando. Não é Titi?

– É...

– Quando o time está muito bom, você e o treinador Átila ficam mudando os jogadores e a estratégia?

– Claro que não!

– Pois bem. Com a gente é a mesma coisa. Se nossa turma está dando certo do jeito que é agora, por que mudar? Por que querer fazer coisas diferentes? Não se trata apenas de mim ou de ela ficar comigo e sim de manter as coisas do jeito que elas são, porque é assim que nossa turma tem funcionado!

– Sei não... achei que ser criativo fosse bom. – Marina observou e foi apoiada pelo Franja.

– Ela tem razão, Cebola. Os grandes avanços a humanidade só foram possíveis porque houve pessoas que pensaram diferente!


Outro burburinho começou e dessa vez Cebola teve trabalho para conseguir silêncio novamente.


– Eu sei disso Franja e Marina. Acontece que essas inovações vieram para melhorar algo que não estava dando certo, entende? Havia coisas que precisavam mudar e melhorar, por isso foi necessário pensar diferente. Só que esse não é o nosso caso. Não há nada em nós que precise ser mudado ou melhorado.


Ele tomou fôlego e continuou vendo que todos estavam prestando atenção.


– Mudar nem sempre é bom. Criatividade sem limites e sem controle só serve para criar o caos e a desordem. Nós conhecemos a Mônica há muitos anos e ela sempre foi de um jeito. E sendo do jeito que é, ela nos ajudou, nos apoiou quando precisamos e sabia usar sua força para resolver muitos problemas. Só que agora ela mudou, inventou de fazer outra coisa diferente, virou a cabeça por um rapaz que nem é nosso amigo de infãncia e isso pode afastá-la de nós.

Aquilo pareceu assustador para todos. O que eles iam fazer sem a Mônica para lhes dar apoio? Afinal, aquela era a turma da Mônica.


– Pois eu não concordo. – DC levantou-se.

– Novidade.

– A Mônica está tentando fazer uma coisa diferente. E daí? Eu faço coisas diferentes o tempo inteiro e nem por isso abandonei a turma.

– Acontece, DC, que você já faz isso o tempo inteiro. Estranho seria se eu te visse fazendo algo igual a todo mundo. Só que no caso da Mônica é diferente. Ela mudou e com isso afastou-se de nós. Por acaso vocês esqueceram que na hora e escolher entre nós e o Felipe, ela preferiu ficar com ele?


DC fez uma careta, para alegria do Cebola. Ele sabia que por mais que o amigo não concordasse com seu ponto de vista, a idéia de ver a Mônica com o Felipe era suficiente para ganhar o apoio dele. O resto da turma também mostrou desagrado. Quando Mônica teve que escolher, ela escolheu deixar de lado seus amigos de infância, que cresceram junto com ela para ficar com um sujeito que tinha se mudado para aquele bairro há menos de dois anos.


– Agora vocês entendem o perigo. Ela nos trocou por aquele sujeito, virou a cabeça pra outras coisas, esqueceu de nós e se não fizermos algo, vamos perder a Mônica para sempre! Não podemos deixar!


Todos concordaram. Ninguém ali estava preparado para abrir mão da Mônica. Não assim tão fácil.


– Então tá, Cebola. Você nos convenceu. O que a gente precisa fazer?


Ele sorriu de forma maldosa ao ver que todos estavam em suas mãos como marionetes sem vontade própria. O medo de perder a Mônica era tão grande que eles mal sabiam no que estavam se metendo. Por que ele não tinha pensado nisso antes? Se ele conseguisse dominar a Mônica, acabaria dominando a turma também. E com o tempo, o mundo seria todo seu!


– Vamos seguir com o meu plano. Continuem agindo como se ela não existisse. Mais tarde eu vou planejar vários planos e travessuras que faremos com ela nos próximos dias.

– Isso não, é cruel demais!

– Magali, não temos outra escolha. É isso ou vamos perder a Mônica.

– Será que não tem outro jeito? Por que vocês não me deixam conversar com ela?

– Ela nos abandonou, esqueceu? Não vai te ouvir!

– Podemos falar com jeitinho...

– Escute aqui! – ele alterou a voz e logo procurou se controlar. Perder as estribeiras naquele momento poderia estragar tudo. – Você está com a gente ou contra a gente?


Com aquilo, todos a olharam diretamente esperando uma resposta e ela logo encolheu de medo. Somente Quim estava ali para apoiá-la e ela não queria perder todos os seus amigos.


– Eu estou com vocês... – ela falou num fio de voz e sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.

– Beleza. Quim, dá um lenço pra ela. E fica fria, Magá. Quando a Mônica desistir de tudo isso e voltar ser o que era antes, a gente vai ficar numa boa com ela de novo. Se isso te faz sentir melhor, podemos até dar uma festona de boas vindas, o que acha?


A idéia foi aplaudida e Magali acabou concordando. Tudo para ter sua amiga de volta.


– Agora prestem atenção porque só vou falar uma vez. O plano é o seguinte:


Ele traçou detalhadamente o plano, dizendo a cada um o que fazer enquanto todos escutavam atentamente. Aquilo ia ser doloroso para todo mundo, mas não tinha jeito. Era isso ou perder a Mônica para sempre. E ninguém ali estava preparado para abrir mão dela.