Real or not real?

Capítulo 20 - Tordo


- Quem é você? – indagou Dondarion, separado de Katniss apenas uma mesa.

- Katniss Everdeen – murmurou a morena de cabeça baixa.

- Não Kat, não assim. Quem é você? – perguntou o ruivo novamente.

- Eu sou... Katniss Everdeen. Apenas Katniss Everdeen.

Dondarion soltou um pesado suspiro.

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- Tudo bem, Apenas Katniss Everdeen, o que mais você é?

Katniss se encolheu. O que mais ela era? Forçava sua mente a lhe trazer a resposta, não deveria ser assim tão difícil. Mas a resposta não vinha, estava escondida em algum lugar obscuro de sua mente, do qual Katniss perdera a chave de acesso.

- Eu não sei – murmurou ela, mas no momento em que as palavras escapuliram de sua boca, Katniss arregalou os olhos e levou ambas as mãos a boca.

Sem aviso prévio, a mente de Katniss se transportou para uma sala escura, com uma baixa e tênue iluminação que apenas a permitia ver a sombra de um homem encostado de forma descontraída a parede. Outro á seu lado, com ambas as mãos em alavancas, aos seus ouvidos chegou o som de seus próprios e agoniosos gritos: Eu não sei! Ouvia a si mesmo tão bem, e quase sentia a mesma dor.

- Não, não, não! – berrou Katniss pressionando as pálpebras uma contra a outra, na falha intenção de que a lembrança se dissipasse.

- Katniss! – Darion não tardou em saltar de sua cadeira e se colocar ao lado de Katniss, ajoelhar ao seu lado e colocar ambas as mãos no rosto da garota – Katniss, olhe para mim – pediu ele da forma mais branda que conseguia – Para mim, Katniss, em meus olhos.

- Não! – Katniss balançava a cabeça de um lado para o outro – Não!

- Katniss, olhe para mim!

Os olhos de Katniss queimavam, e estavam marejados, foi com custo que ela se permitiu abri-los e colocá-los em um Darion visivelmente preocupado abalado.

- Está tudo bem – disse ele à medida que via Katniss se acalmar – Eu estou aqui.

- Darion – sussurrou ela – Dondarion.

O ruivo sorriu e assentiu:

- Sim, sou eu.

Tão inesperado quanto podia ser, Katniss se ajoelhou de frente a Darion, jogando seus braços em volta do ruivo, e apertando-o em um abraço. Dondarion que não sabia como reagir, apenas ficou ali, ajoelhado ao lado da morena, devolvendo o abraço com toda intensidade, fitando o reflexo que a cena projetava no enorme espelho fixado a parede.

Do outro lado do espelho, Peeta virou o rosto diante da cena. Doía de mais ver isso.

Snow soltou um pesado suspiro ao seu lado e colocou uma das mãos em seu ombro.

- Vocês a estragaram – sussurrou Peeta.

- Não, meu caro, nunca – respondeu Snow – Olhe para ela Peeta, olhe.

Peeta não olhou, continuou com o rosto virado, sem forças para ver o que fizeram com sua Katniss. Aquela garota encolhida ao chão abraçada com um curandeiro não era o tordo que começou e acabou com a revolução em Panem. De longe sua garota em chamas era aquela. Aquela, não era nem a sombra do que Katniss fora um dia. Sim, Katniss já teve seus momentos de fraqueza, os momentos em que ninguém podia ajudá-la, os momentos que se entregara as lástimas e lamúrias, mas nenhuma de suas crises anteriores foram iguais essas.

- Olhe Peeta – pediu Snow – Veja, Katniss pode ficar assim para sempre. Ou...

Peeta se colocou em alerta e grudou seus olhos em Snow. É claro que tinha um “ou” por trás disso tudo.

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- Ou? – perguntou Peeta.

- Ou podemos lhe dar a cura.

- Cura? Não a cura para o que fizeram. Vocês ferraram com a cabeça dela, assim como já ferraram com a minha.

Snow soltou outro suspiro.

- Qual foi à cura que encontraram para você Peeta? – perguntou Snow.

Peeta o fitava intensamente. Sua cura fora o tempo, fora Katniss, fora Delly, fora o Distrito 13, fora Katniss, fora o fim da rebelião, fora Katniss, fora um intenso tratamente, fora Katniss.

­- Tempo – disse Snow – O tempo foi sua cura. E Katniss estará curada com o tempo.

- Está me oferecendo tempo? – indagou Peeta, confuso.

Snow assentiu.

- Tempo, em qualquer lugar que você escolher Peeta. Na savana mais distante, na praia mais bela, no pântano mais sombrio. A onde você quiser, você poderá ir com Katniss, e ter o tempo a seu favor, e assim curar ela.

- Por que me daria isso? – perguntou Peeta. Ele era um Snow, e um Snow nunca faria nada de graça.

- Os Distritos fizeram suas escolhas... – murmurou Snow coçando a barba, ainda fitando Katniss e Darion do outro lado do espelho – O 13 está ao nosso lado, sempre esteve. O 12, bastou ver a sombra de seu rosto para se curvar diante de nós. Com o 11 foi a mesma coisa. Mas os outros se mostraram relutante em aceitar minha generosa oferta. O 2 está em conflito e a Capital virou um ponto de caos. Terei de começar a tomar drásticas medidas para conseguir o que eu quero.

- Poder – supôs Peeta.

- Uma nação Peeta, formada por todas as antigas civilizações. Reconstruir e renascer. Ao fim das contas, não é preciso ninguém sofrer com isso. Você é um cidadão sensato, sabe que o que eu proponho é o melhor. Mas Paylor não vai abrir mão de seu poder para que eu ajude sua população, terei de tomá-lo a força, assim como terei de tomar outros nove Distritos com mão de ferro. E claro, sua ajuda.

- Não sou sua peça Snow – murmurou Peeta vendo Darion retirar Katniss da sala.

- Não vejo isso como um jogo.

- Tudo é um jogo – rebateu Peeta – Você me prometeu Katniss, me prometeu que ela ficaria bem. Você a estragou.

- Concerte-a – sugeriu Snow – Terá tempo, mas antes, um último aviso que você passara a Panem.

- Ultimo? – perguntou Peeta em duvidas.

- Ultimo – prometeu Snow.

Katniss vagueava a esmo, pela base geral. Darion disse que ela precisava de um tempo para ela, precisava pensar, e assim a deixou numa espécie de jardim de inverno, que havia no interior da base. Porém, assim que se viu sozinha, Katniss entrou e começou a explorar o lugar.

A garota estava andando em qualquer recinto grande e aberto, mas escuro, pensando na pergunta que Darion fazia constantemente: Quem é você?

Katniss pensava em quem era ela, quando um turbilhão de claridade surgiu, vinda do nada, a fazendo pressionar os olhos.

- Aparentemente os Distritos tomaram cada um sua decisão – uma conhecida voz começou a falar, e semicerrando as vistas, Katniss viu que não muito longe dali, estava alguém muito familiar, bem trajado de terno negro, com um dourado cabelo bem penteado de lado, e feições sérias bem colocas no lugar – Alguns tomaram a sabia e esperada decisão, aos outros, eu quero agradecê-los por me mostrar o quanto o ser humano preza sua integridade. O oferecemos a vida. Um futuro, uma nação. E vocês simplesmente a negam. Obrigado por me mostrar o quanto se preocupam com suas crianças que passam tantas dificuldades, obrigado por me tirar o peso da consciência, pois ao fechar os olhos saberei que fiz minha parte, tentando ajudá-los. Obrigado Panem.

Quem sou eu? Se perguntava Katniss ao ver o garoto, e adiantando-se alguns passos até atrás das câmeras que o cercavam, prestando atenção em suas palavras.

- Em momentos de crise, a revolta é esperada, mal saímos de uma para entrar em outra? – revolta, aquela palavra também era familiar a Katniss – Perdemos familiares, perdemos amigos, perdemos tempo, perdemos vida, querem perder mais? – Perca? Katniss também sabia alguma coisa sobre perca. O garoto loiro balançou a cabeça em negação.

- Obrigado Peeta- agradeceu uma voz e Katniss notou em uma poltrona ao lado da de Peeta um homem, de olhos azuis e cabelos grisalhos, ele também lhe era familiar – Vocês me conhecem por atuar ao lado de meu irmão, Snow...

Os lábios do homem continuaram a mexer, mas Katniss já não ouvia.

Quem sou eu?

- Eu sou Katniss Everdeen. Tenho 18 anos. Nasci no Distrito 12. Fui para os Jogos Vorazes. Sobrevivi. Me apaixonei por Peeta Mellark. Voltei para arena. Sobrevivi. Pegaram Peeta. O distrito 13 me resgatou. Começamos uma rebelião. Devolveram Peeta. Prim morreu. A rebelião acabou. Panem entrou crise. Seqüestraram Peeta. Eu me entreguei. Eu sou o tordo. Eu sou o tordo. Eu sou o tordo – sussurrou Katniss enquanto via os lábios do irmão de Snow se mexerem, e sentia sua mente clarear – Eu sou o tordo.

Olhou para o lado de Snow e reparou mais uma vez no garoto. Não era apenas um garoto, era Peeta.

E sem pensar ou mesurar suas atitudes, Katniss correu por entre as câmeras, e se jogou em cima de Peeta, apertando-o entre seus braços, em um apertado abraço.

Katniss não sabia, mas toda Panem assistia a cena através da imagem projetada ao céu, e na sala de estúdios, tudo se apagou.