VIOLET

O trem entrou em movimento, e Violet apoiou a cabeça no vidro gelado da janela a seu lado. A plataforma sendo deixada para trás era uma visão com a qual já devia estar acostumada, mas sempre lhe deixava com a sensação triste de que deixava uma parte de si em casa quando ia para Hogwarts. Esse sentimento geralmente passava quando chegavam ao castelo, mas a viagem em si era, na maior parte das vezes, bastante melancólica por isso.

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Sentiu o peso dos braços de Leonard a seu lado, e a melancolia abriu espaço para algo mais leve entrar. Gostaria de poder voltar no tempo e dizer a si mesma, no começo do verão, que tudo se acertaria em relação a Leo, mesmo que não estivessem namorando oficialmente.

O bater da porta de correr chamou sua atenção, e desencostou olhar Jack, que se sentara com um sorriso sugestivo de curiosidade. “Tá, acabei de ir ver se Adhara tinha trazido o suéter, e sabem o que eu ouvi? Eu desafio vocês a perguntar o que eu ouvi!”

“Conta logo, Jack.” Leonard cortou. Jack mostrou a língua para o irmão, e se inclinou para, em tom de segredo, começar a falar.

“Pega essa: o pai falou a Adhara hoje de manhã, disse que tava preocupado, que deu rolo no ministério e que é capaz, isso mesmo, de ele ou a mamãe rodarem.”

“Putz!” Richard balançou a cabeça, mas Violet não tinha entendido nada do que Jack falara. Será que ele podia falar decentemente uma vez na vida?

“O ministério não os perseguiria por nada, Jack, não seja tolo.”

“Aí que tá, Leo,” Jack espalmou as mãos do lado da cabeça e depois as afastou, como se sua cabeça estivesse explodindo, “James também conversou com Harry, e disse que tem ‘forças das trevas’ trabalhando no ministério. Eu disse que tinha alguma coisa acontecendo!”

“Mas vocês não estavam pesquisando?” Violet franziu a testa. Não era cega, claro que tinha notado a atmosfera tensa que estava em sua casa, e ficou meio desapontada por seu pai ter ido falar só com Harry sobre isso, mas não ia se ressentir naquela hora. Leonard voltou a se sentar ereto, e seu rosto se contorceu numa expressão que Violet conhecia bem. Leonard sempre fazia aquela cara quando não conseguia entender um livro, ou não acertava uma pergunta do professor rápido o suficiente.

“Estive pesquisando durante pelo menos um mês, e devo dizer que fiquei intrigado, mas conclui, e Jack sabe disso porque eu disse pra ele, que o material necessário para decifrar um vira-tempo se encontra em posse do Departamento de Mistérios, ou seja, inacessível para mim.”

“Não achamos nada.” Jack explicou. Violet olhou para Leonard, tentando decifrar o silencio dele.

“Sabe, não faz mal não ter encontrado nada,” disse finalmente, “pode ser que quem está querendo procurar por isso para fazer o mal também não tenha, e isso é positivo. Não se puna por isso.”

Leonard a olhou de relance, e a frustração em seu olhar se acalmou um pouco. “Só gostaria de saber em que pé essas tais forças estão trabalhando. Mamãe poderia ter dito alguma coisa...”

Violet crispou os lábios, e deu um tapinha solidário nos ombros de Leo. Quando se voltou para Richard e Jack, no entanto, percebeu algo estranho na expressão deles. Rich estava pálido, e olhava para os próprios pés, enquanto Jack se ocupava inutilmente em puxar a mesinha da cabine para cima e para baixo, parecendo tão concentrado naquilo que deixou uma pulga atrás da orelha da ruiva. Violet limpou a garganta alto, e puxou a mão de Jack da cordinha, fazendo a mesa bater com um barulho oco na parede do trem.

“O que está escondendo, Jack?”

Richard assustou com o barulho mais do que devia, e soltou um guincho nervoso. Leonard estreitou os olhos para o irmão, que colara as costas no assento, respirando como um cão acuado.

“Jacques.” Leo falou sério, e Violet sentiu o estomago dar uma volta com o tom sério dele, “você fez alguma besteira?”

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“A culpa foi dele!” Richard chorou, e Jack o olhou com raiva. “Eu disse pra gente ir embora, esse teimoso não me ouviu, agora o mundo vai acabar e nós vamos pra Azkaban!”

“Quê?”

“Pare de exagerar, Rich,” Jack balançou a cabeça, e respirou fundo antes de erguer as mãos para acalmar Violet e Leonard. “Escuta, o que houve foi que tivemos um pequeno imprevisto, e fomos parar na Travessa do Tranco naquele dia no Beco. Sem querer.”

“Como alguém vai parar sem querer na Travessa do Tranco, Jack?”

“A vida nos surpreende, Violet, você nem imagina como.” Jack abanou as mãos, “O fato é, nós estávamos lá, e eu posso, potencialmente, ter ouvido uma conversa meio suspeita de um grupo igualmente meio suspeito, entendeu? Veja bem, são coisas que a gente escuta por aí, tinham nomes que eu conhecia, James Potter e tal, achei bacana se pudesse escutar, sabe...”

“Jack.” Leonard estava vermelho, e enterrou o rosto nas mãos, “me diz que você contou pra alguém isso. Por favor.”

“Eu ia contar pra você, mas estava ocupado...”

“Como alguém pode ser tão burro?!” Leonard exclamou, e fez menção de levantar para esganar o irmão. Violet o conteve, e logo os dois se encaravam a distância, Leonard muito irritado, e Jack com um sorriso amarelo estampado no rosto.

“Ei, vocês dois, agora não é hora! Além do mais, podemos estar enganados, ou exagerando, ok? Rich, ninguém vai para Azkaban por entrar na Travessa do Tranco. Leo, matar o Jack não vai fazê-lo descobrir mais nada, e Jack, por Merlin, você precisa contar essas coisas, e não é para a gente, é para o Ministério! Agora eu digo o que vamos fazer, e o que vamos fazer é mandar uma carta comentando o que você viu e ouviu, e nos concentrar em Hogwarts e nas nossas lições de casa, tá legal? Parou de trabalho investigativo por agora.”

Sua fala se seguiu por um silencio desconfortável, e Violet voltou para a posição de antes, focando o olhar para os campos esverdeados pelos quais o trem passava. Apesar do vento frio que entrava pela janela entreaberta, o céu estava menos cinzento que em Londres, e os carneiros pastavam pela extensão de fazenda.

Não percebeu ao certo se tirara um cochilo, ou se simplesmente fechara os olhos para esquecer da tensão que estava sentindo no fundo da consciência, evitando pensar em como seu pai e sua mãe ficariam sozinhos em casa. Algum tempo depois, no entanto, sentiu um solavanco no trem, e quando tentou respirar, sentiu uma onda de frio percorrer seu corpo todo. Balançou a cabeça, levemente atordoada, e abriu os olhos, mas não viu nada.

O trem parara, e estava subitamente, tudo escuro.