Jack não estava acreditando na própria sorte. Adhara, que normalmente o impedia de fazer coisas muito estúpidas, estava morta de sono e cambaleava perto dos amigos, e Sirius, o segundo a cumprir essa função, se distraíra numa conversa com James e vagara para longe, abrindo a janela perfeita de oportunidade para o garoto fazer o que sempre sonhou: entrar na Travessa do Tranco.

A ruela obscura que cortava a agitada rua principal descia serpenteando para baixo, e Richard já estava ofegante quando chegaram, finalmente, numa área mais estável dos paralelepípedos empoeirados. Jack olhou para os lados, e logo notou a diferença entre as famílias cheias de sacola que andavam pelo Beco e os tipos que se encostavam pelos cantos daquele lugar, o que fez os pelos de sua nuca arrepiarem. Atrás dele, pode ouvir Richard engolindo em seco, e não muito mais tarde os dedos do amigo cutucaram suas costas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Vamos ficar aqui mesmo?”

A pergunta era muito boa, na verdade, mas Jack não estava muito disposto a desistir. Passara muito tempo tentando se desvencilhar da família e entrar naquela área para simplesmente dar um passo para trás e fugir (apesar da vontade ser forte). Pensando nisso, simplesmente negou, puxando a varinha e sinalizando para o amigo o acompanhar.

Cada passo que dava adiante parecia ressonar como um órgão sinfônico. A rua principal da Travessa parecia um labirinto, e se insinuava como uma cobra para lugar nenhum, escondendo, entre suas paredes irregulares, bruxos e bruxas encapuzados que os ignoravam completamente, fosse por estarem ocupados em seus afazeres bizarros, fosse por pura arrogância.

Andaram um pouco mais à frente, e logo um grupo maior chamou a atenção de Jack. Virou a cabeça procurando por Richard, e percebeu que o amigo tinha parado muito mais atrás de si, paralisado com a varinha erguida na direção daqueles homens e uma expressão assustada no rosto. Jack quis correr para junto dele também, mas os encapuzados conversavam em sussurros altos, deixando escapar algumas palavras. Curioso, deu um passo estupidamente para frente, colando as costas na parede para tentar ouvir alguma coisa. Algumas palavras não faziam sentido nenhum, como “areia” e “Junior”, mas algumas Jack se lembrava de ouvir algumas vezes na conversa dos pais. “Aurores”, “Regulamentação”, “James Potter” ...

Espera. James Potter? Jack arregalou os olhos, e logo o nome de sua mãe surgiu entre os múrmuros. Precisava falar com Leonard, e precisava ser naquele momento. Saiu de seu esconderijo o mais discretamente que pode, e quando deu o primeiro passo para trás, ouviu o som de uma pedra rolando. A conversa parou instantaneamente, e um dos bruxos virou para trás. Era um cara alto e magro de nariz pontiagudo, e Jack podia jurar já tê-lo visto antes quando visitou sua mãe no trabalho. As grossas sobrancelhas negras se juntaram quando ele notou Jack, e o garoto desistiu do silencio e começou a correr.

Passou por Richard derrapando, e o loiro começou a correr atrás dele assim que percebeu o grupo suspeito lançando feitiços para paralisá-los. Subitamente, a Travessa parecia ter muito mais ruas do que eles viram ao entrar, e o coração de Jack começou a subir pela garganta enquanto tentava, em meio a corrida, descobrir um jeito de sair dali. Richard soltou um grito alertando-o da ladeira, e os dois escalaram a subida, que também parecia muito mais íngreme agora, escorregando e arranhando as mãos e joelhos na pedra até a luminosidade abençoada do Beco, onde ele e Richard se sentaram.

“Eu...” Richard apertava o peito, a varinha deixando marcar vermelhas na palma da outra mão, “odeio tanto você, Jack.”

Naquele momento, ele também se odiava. Parecia que seu peito iria estourar, não tanto pelo coração que insistia em martela-lo por dentro, mas o medo do que ouvira. Devia contar para os pais o que ouvira, e admitir que contrariara tudo o que lhe disseram para saciar uma curiosidade idiota dessas? Decidiu que não. Mas podia contar a Leonard, que ainda pesquisava para ele algo sobre vira-tempos, e era isso que faria.

“Vamos, tenho que achar Leonard, Rich.”

“O que?!”

“É sério, Richard, anda!” Jack se ergueu apoiando as mãos na parede irregular da loja atrás de si e puxou o loiro a seu lado pela gola da camisa, “Preciso achar Leonard!”

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Eu vou ter um ataque do coração, Jack!”

“Depois você tem isso aí, agora eu preciso achar Leonard!”

Começou a caminhar adiante, sem ousar olhar para trás e arriscar encontrar aquele homem de novo. Ignorou as reclamações de Richard durante a procura, o pensamento de que precisava avisar alguém do que tinha ouvido dominando completamente sua lista de prioridades, e assim que virou a esquina viu a parte detrás da cabeça do irmão, que ria junto de Violet. Talvez Samantha e Mary estivessem falando sério, e eles realmente estivessem juntos, mas aquela não era a hora para especulações.

“Leonard,” chamou, mas Leonard não escutou. Jack acelerou o passo, quase empurrando um grupo de crianças de seu caminho, mas não chegou a tempo. Antes que pudesse interromper a conversa para avisar o que tinha visto, Leonard se aproximou de Violet, e os dois se beijaram.

“Nossa, Mary e Sam não estavam brincando!” Rich riu nervosamente atrás dele, e Jack não precisou olhar para saber que ele devia estar com um sorriso congelado no rosto. Relaxou os ombros e virou-se para voltar, decidido que aquela tragédia anunciada podia esperar pelo irmão. “Anda, vamos comprar umas bombinhas e tomar um sorvete, Rich.”