Infelizmente isso não aconteceu, eu voltei e agora estou incubido da tarefa que eu mais temi, procurar Helena, tenho uma vaga idéia de onde ela está, ela sempre quis conhecer a Albânia, as florestas de lá sempre a fascinaram, talvez por aquelas florestas serem isoladas, longe de qualquer civilização, seria o lugar perfeito para se esconder, com meu cavalo eu parto o mais leve possível, tenho pressa, pois Rowena pode não resistir, com o coração dividido, entre o pesar e a euforia eu cavalgo pelos campos, repassando em minha mente todas as lembranças que eu trancafiei, aquelas que estavam relacionadas a ela, minha amada Helena.

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Decidi atender ao pedido de Rowena, mais por causa de Helena do que por ela própria. Não que eu fosse ingrato para com aquela mulher que havia sido uma grande e leal amiga para mim, mas sabia que Helena nunca se perdoaria se sua mãe morresse sem que ela tivesse tido a chance de se despedir e se desculpar. Tenho certeza de que, por mais teimosa e impulsiva que ela fosse, tinha muita vontade de reatar com a mãe e o teria feito se pudesse.

Desde que a conheci tudo que fiz foi para e por ela. Nosso breve namoro pode para ela não ter passado de um passatempo adolescente, mas foi o ápice de minha existência. Posso me lembrar detalhadamente de todos os nossos encontros nos jardins do castelo, nos quais eu sempre tomava o cuidado de levar-lhe um presente e passar horas enaltecendo suas qualidades até que ela se cansasse de escutar-me. Ela reagia aos meus beijos com a mesma frieza que tinha com todo o resto do mundo e mesmo assim esses foram os melhores momentos de minha vida. Nada que eu fizesse a importava, exceto os seus caprichos que eu obedecia feliz.

A simples presença de Helena era meu sol e, por mais distante que ela sempre esteve de mim, cada segundo passado em sua companhia me era precioso como a própria vida. Está gravada a imagem dela em minha mente numa profundidade tão grande que todos os meus pensamentos acabam sempre se convertendo para a lembrança desses momentos e de como eu poderia ter agido de forma diferente e, talvez, ter mudado alguma coisa.

Posso descrever detalhadamente as tonalidades que se longo cabelo assumia sob o sol, quais flores compunham seu delicioso perfume e a maneira harmoniosa como tudo que ela usasse, por mais simples que fosse, a fazia parecer uma princesa.

Não me lembro bem de como era sentir o vendo gelado que batia em meu rosto e despenteava meu cabelo enquanto cavalgava na Albânia procurando por Helena, por um tempo que pareceu longo demais pra mim. Já nessa época eu estava bem magro e abatido, não comia nem dormia direito de tanto pensar nela… e não estava definhando apenas fisicamente, estava enlouquecido de amor!

Hoje vejo o quanto esse sentimento desesperado me custou. Se eu pudesse dar qualquer coisa, mesmo que fosse minha alma que é tudo que me resta, o faria para poder voltar atrás e devolver a vida que eu tão desgraçadamente roubei…

Nunca me esquecerei de quão bela ela estava no dia em que a encontrei na floresta, colhendo flores ao acaso. Senti-me pequeno, sujo e miserável diante de tanta beleza e infinitamente infeliz por pensar que ela não era mais minha e que talvez jamais voltasse a ser. Esgueirei-me por trás de uma moita para poder melhor observá-la, mas meu casaco ficou preso num galho de tal forma que o único modo que encontrei para me soltar foi cortando-o com meu punhal.

Quando me vi livre o barulho que fiz tinha denunciado minha localização e aquele par de olhos divinos estava sobre mim com um ar de reprovação que me fez sentir o menor dos homens.

- O que você está fazendo aqui? – ela me perguntou, com visível irritação. Naquele momento eu tive noção plena da dor que a rejeição dela me causava, era insuportável.

- Eu vim te buscar – estranhei minha própria voz, mais rouca e áspera do que me lembrava. Não a escutava há muito tempo, pois toda minha busca tinha sido no mais completo silêncio.

- Eu não vou com você – se eu não a conhecesse, diria que ela estava sentindo ódio de mim. Mas Helena era incapaz de odiar, penso que não tivesse qualquer sentimento que não fosse por ela própria. Pobre menina mimada - Nunca!

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- Você não entende, sua mãe está doente…

- Eu não acredito! Ela só quer saber do maldito diadema, sempre quis saber apenas do conhecimento. Pois bem, agora o conhecimento é meu e eu não vou devolvê-lo!

- Você não pode estar falando sério.

- Mas eu estou. E, acima de tudo, não quero ir com você – ela me olhou de cima a baixo, com tanto desprezo que me causou uma forte pontada no peito. – Olhe para você, está horrível!

- Acontece que você virá comigo quer queira ou não! Jurei para sua mãe que a levaria de volta e vou fazê-lo.

Segurei-lhe pelo braço, com mais força do que deveria e ela me olhou com um misto de nojo e medo que eu não pude suportar. Eu sentia o sangue ferver quando ela me deu um tapa no rosto e sorriu com desdém.

- Prefiro morrer! – ela gritou, tentando correr para longe de mim. Aquelas palavras devastaram a minha alma. Ali tive certeza de que nunca, nem por um só instante, ela chegou a me amar.

Puxei-a bruscamente para perto de mim novamente, nossos rostos ficaram a poucos centímetros de distância. Foi quando duas lágrimas caíram do par de olhos que governava meu mundo e eu senti um líquido quente na mão em que ainda, desgraçadamente, segurava o punhal. Mil vezes maldito seja aquele punhal!

Foi preciso toda a minha coragem para olhar para baixo e ver o ferimento que eu involuntariamente causei. As flores que ela levava nas mãos caíram no chão, manchadas de vermelho. E então eu também chorei, com mais força do que jamais fizera em toda vida.

Ela desfaleceu em meus braços, a respiração se tornando cada vez mais fraca. Nunca fui muito bom em feitiços curativos e usei todos que podia, mas o sangue continuava a escorrer do ventre que um dia eu sonhei que me daria filhos. Quantos sonhos eu ousei ter! E agora eu destruía a dona de todos eles, agora eu matava meu coração e minha esperança junto com ela. Agora eu causava o desfecho trágico da minha própria historia.

Ela olhou para mim e então para o céu e aquela boca perfeita se entreabriu, mas de lá não saíram palavras, somente um suspiro fraco e triste. Deitei-a no solo e fechei seus olhos agora sem o brilho que eu tanto amava e atirei o punhal fora. Ali, deitada na relva e cercada de flores, ela parecia um anjo ferido e eu a mais desgraçada das criaturas. Mil vezes maldito seja eu!

Olhei para minha amada tentando me convencer de que nada daquilo estava acontecendo, de que ela só estava dormindo. Mas o sangue não me deixou mentir, ele estava em toda a parte, inclusive em mim. Por dentro e por fora eu era só sangue, o sangue dela.

Gritei mais desesperadamente do que pensei que fosse capaz e abracei o corpo frio de Helena, sentindo o perfume dela misturado ao cheiro de morte. Morte: era isso o que eu merecia! Matei algo tão puro que eu já não poderia ter uma vida, por mais miserável e infeliz que ela fosse.

Como eu queria nunca tê-la conhecido! Não por meu sofrimento, porque nem ao menos de sofrer por ela eu sou digno, mas para que ela tivesse sobrevivido. Sobrevivido a mim.

Helena poderia ter conhecido outro homem e sentido por ele o amor que me negou, se casado e ter tido com ele os filhos que eu tanto desejei, ter envelhecido ao lado de alguém que não era eu, e mesmo assim eu ficaria eufórico em saber que ela estava viva e feliz. Mas eu fui mau para com ela e comigo mesmo. Destruí meus sonhos e os dela, junto com toda a pureza do único, verdadeiro e avassalador sentimento que já tive.

Olhei para o lado e vi meu punhal, junto das flores manchadas de sangue. A única coisa que eu podia escutar eram as batidas aceleradas do meu coração, implorando por paz. Eu não lhe daria paz, apenas descanso.