Leis da Noite - Mente sobre Materia

O Colecionador - Final


... Estavam novamente sentados à mesa, como no inicio da conversa. A cadeira havia sido posta novamente em seu lugar e o pintor continuava sentado nela. Nada parecia diferente. A não ser que Michael sabia a verdadeira natureza do colecionador. Ele deveria estar em pânico, sem conseguir sequer pensar no que estava fazendo, afinal, estava cara a cara com um verdadeiro monstro. Mas não parecia assustado, e tampouco inquieto. Mantinha-se sentado, sem esboçar movimentos bruscos ou mesmo olhar para os cantos. Estava completamente sereno. Não que fosse essa sua intenção. Michael Toren estava agora como um verdadeiro boneco, um fantoche. Queria correr, queria fugir e precisava gritar para expor todo o medo que sentia, mas, novamente os olhos do vampiro o impediam. O olhar sobrenatural o mantinha quieto, passava boas sensações, dizia que Claudius era amigo e não uma ameaça. Ele ainda poderia dizer o que pensava. Mas, sempre imaginando que estava tendo uma boa conversa com um amigo de longa data. Nunca pensaria em agredir o morto-vivo, mas afinal, que mal ele causaria a um ser imortal? - Michael, meu caro amigo. Digo-vos que teus quadros poderão chegar à perfeição, assim que você ganhe a experiência suficiente para adentrar na verdadeira compreensão da arte. O que era antes uma terrível ofensa, agora soava ao Pintor como um comentário qualquer, ou uma ótima sugestão feita por um amigo íntimo. - Ora Claudius, não fale assim de meus quadros, eles já são a perfeição. No entanto... – franziu o cenho, pensando a respeito do assunto – Talvez algo perfeito... Possa ser aprimorado. O que você me sugere, amigo? - O que acha de ser transformado em vampiro, virar uma criatura como eu? – Claudius sorria, expondo suas presas - Você teria a eternidade para aprimorar suas habilidades, e poderia fazer quantos quadros quisesse, sempre podendo acompanhar as inúmeras novas tendências que surgirem... E mais... Não só suas obras seriam mais que perfeitas. Você próprio evoluiria de sua patética condição humana... Para algo... Superior... Michael ouviu atentamente as palavras de seu “amigo”, sem estranhar nada, até a parte sobre vampiros parecia fazer sentido. Um minuto se passou até que ele pudesse dar a resposta. - Meu amigo. Admiro-te bastante e suas palavras pesam e tem certa influência sobre minhas idéias. No entanto eu não poderia concordar com o que me propõe. Minhas obras apenas valeriam algo se eu viesse a falecer, como todo mortal e todo artista menor que veio antes de mim. Não posso viver eternamente. Tenho que morrer um dia, e até a hora fatídica, vou pintar minhas obras perfeitas. E então, no dia em que eu partir, ninguém jamais conseguirá reproduzir. – sorriu sonhadoramente – Serei então o artista mais famoso da humanidade... – fez uma pequena pausa – Espero que me entenda, amigo, caso eu vivesse para sempre, meus quadros de nada serviriam, pois eu iria superar a mim mesmo, e tirar de mim o título que conseguirei enquanto mortal. Claudius quase perdeu as estribeiras. Aquilo não estava exatamente em seus planos. È certo que ele não podia controlar os sentimentos e opiniões que uma pessoa formou por toda a sua vida, podia apenas dar a certeza, mesmo que falsa, de que era seguro estar com ele, um vampiro. Mas, esperava que conseguisse manipular a vontade de alguém tão arrogante quanto Michael. Chegou perto de se descontrolar, não estava acostumado a perder o controle da situação. Mas, diabos, ele era Claudius Du Coudray, o colecionador, e iria conseguir o que almejava de uma maneira ou de outra! - Eu lhe entendo, esta é sua opinião... - Que bom que me compreende, Claud. – disse com certa inocência. -... Mas Michael, não me lembro de mencionar que você tinha escolha... Houve um movimento rápido. Imperceptível. Após ele, apenas trevas.

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