Capítulo Único

Dizem que a deusa da lua, bela e graciosa e a mais amada das deusas, é protegida pela deusa do poder e da guerra e suas servas. No início, o protetor da lua era o deus da guerra, mas ele se apaixonou por sua protegida e tentou fazê-la sua. Por este ato ele foi punido, exilado e privado de sua imortalidade e status divino.

A deusa do poder então recebeu o poder e a posição do deus da guerra, e tornou-se protetora da deusa da lua. Sendo ambas mulheres, pensavam os outros deuses, não haveria perigo da história se repetir.

A deusa da lua confiava na deusa do poder como em mais ninguém, e era comum vê-las andando juntas pelo mundo dos deuses. As duas, uma forte e uma delicada, uma grande e uma pequena, ambas belas de sua própria forma, eram uma visão ao mesmo tempo estranha e perfeita.

Elas sabiam que não poderia haver amor nessa relação tão próxima. Todos sabiam, até mesmo o pequeno e travesso amor. Mas quando foi que ele deu a mínima para proibições?

As deusas se apaixonaram, um amor tão forte que ultrapassava qualquer outro. É claro que elas tentaram negar a si mesmas e a esse amor, sabendo da proibição. Mas seu amor era forte demais, e logo tornou-se impossível de esconder.

Se amaram em segredo por muito tempo, mais tempo que qualquer mortal poderia imaginar. Seu amor era forte e verdadeiro, e seu único desejo era a eterna companhia uma da outra.

Nenhuma felicidade é eterna, nem mesmo a dos deuses. E a das duas deusas se esvaiu quando uma das servas da deusa do poder traiu sua mestra por amor a um deus. O deus dos raios soube do amor secreto das duas deusas, e sua ira foi implacável. Duas deusas! Com certeza seria culpa daquela deusa do poder que nunca agira como a mulher que era!

Irado, o deus invadiu o templo da lua e encontrou juntas as duas deusas. Convicto de que a deusa do poder era a culpada, fulminou-a com seus raios diante dos olhos da deusa da lua, antes que qualquer das duas pudesse reagir.

Vendo sua amada desaparecer diante de seus olhos, a deusa da lua gritou e chorou em desespero, chamando o nome da deusa do poder que só os deuses conhecem. O deus dos raios observava a cena em choque; pensou que a deusa da lua se atiraria em seus braços, agradecida por ser salva da influência maligna da outra... mas ela chorava! Como seria possível?

Com um único olhar de ódio, tristeza e dor dirigido ao deus dos raios, que destruíra sua amada, a deusa da lua deixou o mundo dos deuses chorando, e a lua sumiu aos poucos do céu.

Dizem que todo mês a deusa da lua volta a seu templo para chorar a perda de seu único amor, só para depois voltar a seu exílio auto-imposto.

É por isso que a lua vem e vai dos céus, ou pelo menos foi o que ouvi dizer...