Sea Sick

Sea Forms The Colour Of Space


Eu não fazia ideia do que Dona Ruby estava falando. Como Sarine poderia ter pernas? Até onde eu sabia, isso não era impossível.

Mas não era o que Dona Ruby achava.

Ela nos mandou esperar e saiu com sua bengala de volta para casa.

- Você acha que ela vai conseguir achar um jeito de eu ter pernas? – Sarine me perguntou e eu assenti. Na verdade, nem eu acreditava naquilo. – Como é ter pernas?

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- Hm... Normal. – Eu não sabia o que responder. Então, eu tive uma ideia. – Sarine, se apoia em mim, ok?

Ela me olhou, confusa. Mas fez o que eu pedi.

Eu passei meus braços pela sua cintura e a levantei lentamente até que ela ficasse na ponta de sua cauda.

Ela ficou um pouco menor do que eu e sorriu para mim quando viu que estava de pé.

- É meio irritante te ver deitada o tempo todo. – Eu ri.

Ela riu também e segurou firme no meu pescoço – Não me deixa cair, hein.

- Claro que não. – Sorri para ela.

- Obrigada.

Ficamos um tempo em silêncio olhando um para o outro e quando eu ia me inclinar para lhe dar um beijo, Dona Ruby voltou.

- Cheguei!

Coloquei Sarine cuidadosamente no chão e ajudei Dona Ruby a se sentar na areia.

Ela nos mostrou um pequeno frasco transparente com um líquido rosa dentro.

O analisei, mas ela logo me mandou largá-lo.

- Isso aqui é uma poção muito valiosa, Sarine. – Ela apontou para o frasco em suas mãos. – Eu sempre fui fascinada por sereias, e depois de muitas pesquisas, consegui achar uma poção que poderia fazer uma sereia ou um tritão ter pernas.

- Tudo isso por causa da sua paixão da adolescência?

Ela me lançou um olhar aterrorizador

- Deixa de ser hipócrita, garoto.

Arregalei os olhos e fiquei quieto. Ela estava certa, na verdade. E também, ninguém gostaria de brigar com a Dona Ruby.

- Eu pensava que poções não funcionavam. – Mudei de assunto.

- Querido, se sereias existem, todo tipo de mágica e seres mitológicos também podem existir. Você nunca parou para pensar nisso? – Ela levantou uma sobrancelha. – Bom, chega de papo e vamos ao que interessa.

Dona Ruby deu uma sacudida no frasco e o entregou à Sarine.

Ela olhou para o frasco e depois olhou para mim, hesitante.

- Vai em frente, querida. Não vai te fazer nenhum mal. – Dona Ruby respondeu.

- Mas... Eu vou deixar de ser sereia para sempre? – Sarine arregalou os olhos.

- Não se preocupe. O efeito da poção é temporário. Teremos tempo o suficiente para resolver seus problemas.

- E dura quanto tempo?

- Aí você já está perguntando demais, querida.

- A senhora tem certeza de que isso é seguro? – Perguntei.

- Elliot, será que depois de tanto tempo você não confia em mim? Depois de tudo que eu fiz? Eu praticamente te criei, menino! – Dona Ruby argumentou.

- Ok, ok. Me desculpe!

Sarine olhou pra mim, me puxou e me deu um longo beijo. De língua e tudo.

- Mas que indecência é essa na frente de uma senhora?! – Dona Ruby se irritou, separando Sarine de mim. – Chega de enrolação e toma essa poção logo!

Sarine respirou fundo e tomou tudo em um gole só.

Ela olhou para nós dois e depois para sua cauda, esperando algum resultado.

Alguns segundos se passaram e eu comecei a indagar o poder da poção de Dona Ruby.

- E então? – Perguntei.

- Calma, menino! O resultado não é instantâneo, não! Tenha um pouco de paciência, pelo amor de Deus.

Esperei e alisei a cauda de Sarine, vendo se algo de diferente estava acontecendo.

- Você está sentindo alguma coisa? – Perguntei a ela.

Sarine negou com a cabeça.

- Quantas vezes a senhora já usou essa poção? – Ela perguntou à Dona Ruby.

- Hm... Nenhuma...

- O QUÊ?! – Gritei, desesperado.

- Não é culpa minha se o tritão para quem eu criei a poção não quis experimentá-la e me deixou sozinha! – Ela gritou de volta.

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Bufei e fechei os olhos, tentando me acalmar.

Mas, de repente, ouvi um grito agudo.

Abri os olhos e vi Sarine se contorcendo de dor.

- Ai, Elliot! Pelo amor de Deus, faz essa dor parar! – Ela gritou, caindo na areia e se contorcendo ainda mais.

Sem saber o que fazer, peguei sua cabeça e a coloquei em meu colo, tentando acalmá-la.

- O que está acontecendo?! – Gritei para Dona Ruby. – Deu alguma coisa errada? Faz isso parar! Ajuda ela, por favor!

Ela me olhou desesperada e depois olhou para Sarine, ainda se contorcendo de dor.

- E-Eu não sei, Elliot!

- Como assim você não sabe? Você fez isso com ela!

- Deve fazer parte da transformação, eu não sei. – Dona Ruby continuava olhando para o desespero de Sarine.

Ela deu mais um grito agudo e perdeu a consciência em meus braços.

- Não, não, não. – Entrei em desespero. – Sarine! Pelo amor de Deus, não morre!

Sacudi seu corpo e senti lágrimas rolando pelo meu rosto. Ela não podia ter morrido. Simplesmente não podia.

- FAZ ALGUMA COISA! – Gritei para Dona Ruby.

Ela olhou a sua volta, sem saber o que fazer.

- Sarine, volta pra mim, por favor! – A sacudi de novo, desesperado.

- Calma, Elliot! Deve ter alguma coisa que a gente possa fazer!

- Não tem! Ela morreu e a culpa é toda sua!

Dona Ruby se revoltou e, do nada, me deu um tapa na cara.

- Se acalma! – Ela gritou. Fiquei encarando-a sem saber o que fazer.

Dona Ruby pegou o pulso de Sarine e o apertou com os dedos.

- Ela não está morta, só está desmaiada. Ainda tem pulsação.

Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo meu coração se acalmar.

- E o que a gente faz?

- Isso faz parte da transformação. Então tudo o que nós temos que fazer é esperar. Porém, está ficando tarde.

- Você quer que a gente deixe a Sarine aqui? Desmaiada e sozinha? – Perguntei.

- Não, a gente poderia colocá-la naquela pequena caverna. Lá, ninguém iria encontrá-la. – Ela sugeriu.

- Você quer jogá-la lá como se ela fosse um pedaço de peixe morto?!

- Elliot, sem drama, por favor.

- Ok, vamos deixá-la lá, mas eu não vou sair do lado dela. – Falei.

- Elliot, você precisa voltar para casa. A Sarine vai ficar bem.

- Não, eu não posso deixar ela lá. Fala pro meu pai que eu volto de manhã e leva a Daisy pra sua casa, por favor.

Ela olhou nos meus olhos, provavelmente preocupada com a minha sanidade.

- Tudo bem.

Dona Ruby me ajudou a levar Sarine até a caverna e deixá-la confortável atrás de uma pedra onde ninguém poderia vê-la.

- Você tem certeza que não precisa que eu lhe traga nada?

Neguei com a cabeça e olhei para Sarine ainda inconsciente.

Eu ainda ficava chocado com sua beleza. Todos os seus traços eram perfeitos.

Seu longo cabelo caía perfeitamente sobre seu corpo e seus lindos olhos fechados deixavam seus longos cílios à mostra.

- Elliot, eu sei que você realmente gosta dessa menina. Mas, ela não é humana. Esse relacionamento não tem como dar certo. Confie em mim, eu já passei por isso. – Dona Ruby me disse, ainda preocupada.

- Eu sei que vai ser difícil, Dona Ruby, mas eu não posso desistir dela. Eu não “gosto” da Sarine. Eu estou completamente apaixonado por ela. – Respondi, ainda olhando para Sarine. Sua cauda azul brilhava no escuro da caverna.

- Bom, se não tem nada que eu possa fazer para tirar essa ideia maluca da sua cabeça... Eu acho que vou embora, então. – Ela disse, se levantando. – Amanhã voltarei aqui com Daisy. Não se preocupe, cuidarei bem da sua irmãzinha.

- Eu não duvido nada disso. – Sorri para ela. – Obrigado.

- Pelo que, meu filho?

- Por tudo o que você sempre fez por mim.

- Não há de que, querido. Você sabe que é como um filho para mim, certo? – Ela acariciou minha bochecha.

Assenti.

- E você é como uma mãe para mim.

Dona Ruby sorriu deixando todas as suas rugas aparecerem, me deu um beijo na testa e foi embora.

Me ajeitei do lado de Sarine e fechei os olhos pronto para dormir. Tudo iria dar certo no dia seguinte, eu tinha certeza.