Here Without You

Capítulo Único


Here Without You

Nezumi rolava inquieto pela cama, a expressão cansada e irritada era clara no rosto de feições finas, as mãos agarraram-se a fronha do travesseiro, apertando-a com força, o rosto sendo pressionado contra o objeto.


Conteu-se.

Conteu-se para não gritar, conteu-se para não chorar, conteu-se, principalmente, para não sair dali, do jeito que estava; sem planos, sem medos, sem precauções e simplesmente tomá-los em seus braços, sem nunca mais soltá-lo. Fungou, suas unhas arranhando com força o travesseiro, o tecido fino da fronha quase sendo rasgado.

O rosto, sua voz, seu riso, seu olhar, a suavidade de seus lábios e a sensação de tê-los junto aos seus, estavam todos ali, todos os sentimentos, todos os medos; assombrando-o. E , por mais que quisesse fugir, por mais que quisesse evitar, por mais que soubesse que o melhor era esquecer, não iria. Sabia disso.

Seu corpo esguio tremeu da cabeça aos pés, os dentes arranharam-se, os lábios crispados. Levantou-se subitamente da cama, os olhos acinzentados sendo abertos então, furiosos, mas claramente machucados. As olheiras arroxeadas abaixo deles atestavam o que era óbvio para seu coração, não conseguiria mais dormir corretamente... Não, sem ele ali.

Suspirou pesadamente, abriu a porta de casa, saindo desta e sentando-se em frente a porta. Olhou para o céu escuro, a grande lua amarela e cheia lhe parecia ter perdido seu belo brilho diante de suas lembranças dele. Diante do sorriso encantador, diante de suas expressões fascinantes, diante de seu espírito radiante.

Um sorriso tanto sarcástico quanto nostálgico apoderou-se de seus lábios finos. Não importava mais; estivesse de olhos abertos ou fechados, sonhando ou acordado, o único dono de seus pensamentos, de seus sonhos, de seu coração, era Shion. E era somente com ele que seria realmente feliz.

Refletiu sobre suas escolhas, os olhos voltados para a lua, embora a expressão vaga neles fosse clara. Geralmente não se arrependia de nada, como a vida lhe ensinara a fazer. Tinha orgulho de dizer que seu discernimento sobre o que fazer era excelente, em qualquer situação... mas naquela, diante do que lhe acontecia agora, será que realmente havia tomado a decisão correta, para todos? Certamente - pensou consigo, amargo - para todos, menos para ele próprio.

Quase riu com a ironia.

E onde estava seu egocentrismo quando decidira voltar sem ele? Onde estavam as promessas, então? Seria assim, no final... sabia que seria. Afundou o belo rosto nas grandes mãos, juntando este as pernas, agarrando-se por inteiro, a fim de se segurar... manter-se no lugar, como sua alma não conseguira fazer.

Sentia-se vazio, mas nunca como se sentira antes. Tudo dentro de si, realmente tudo, havia ruído. Não tinha um propósito, não tinha Shion. Valeria a pena sobreviver? Ou melhor, valeria viver somente de lembranças?

– O que estás a fazer aqui fora Nezumi? – suas alucinações estavam tão lúcidas assim? Surpreendeu-se. Seu Shion imaginário o ergueu, segurando com firmeza sua cintura magra. – Está uma noite fria, e nem casaco você vestiu! Nezumi!

– Talvez eu devesse tomar algum remédio... – Sua voz era vaga e ele não resistia aos cuidados do outro.

– Por quê? – a voz do outro soou preocupada – Está se sentindo mal, Nezumi?

Sorriu torto para o outro. – Ao contrário... com você aqui me sinto mais vivo. Mas é exatamente por isso, que provavelmente devo estar enlouquecido. – O outro balançou a cabeça colocando-o sobre a cama, a porta fechada.

– O que quer dizer? – a voz de Shion demonstrava sua confusão, os olhos carmins o observando com atenção, próximos ao seu.

Suspirou, mas não resistiu, nem por mais um segundo. Abraçou o menor com força, mas ao mesmo tempo delicada e suavemente, com um afeto infinito. Para sua surpresa, a ilusão não desapareceu como deveria. Seus olhos acinzentados arregalaram-se, em um gesto de surpresa. – V-você está realmente a-aqui? – gaguejou, os lábios se repuxando num leve sorriso.

Shion sorriu também, acariciando a face do outro. – E pretendo nunca mais sair.

A resposta lhe foi mais que suficiente.
Seu sorriso tornou-se mais pronunciado, e seus lábios tocaram os dele, desta vez, sem reservas, sem preocupações. Afinal, naquele momento, não era um beijo de despedida. Não, ali, naquela noite fria e particularmente encantadora, os dois trocavam beijos de boas-vindas.

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